domingo, 28 de junho de 2009

Relatos de Brasília - 8

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.


e foi-se o primeiro serviço

Mon Apr 18, 2005 9:45 am

primeiro serviço

pois é, este fim de semana ocorreram as primeira e segunda fases do
Concurso. Confesso que quando cheguei ali na frente da Faculdade de
Tecnologia da UnB, deu um nervosinho... Mas passou rápido. Lá dentro da
sala, nova sensação estranha. Ficar enfileirado feito gado, todo mundo
calado, sem poder fazer nada, olhando pra nuca da frente ou pros
fiscais mais adiante, esperando por 15 minutos (eu acho) que parecem
não acabar nunca... realmente, foi bizarro. A prova em si é cansativa.
Foram 45 questões objetivas (escolha múltipla e Certo/Errado) e 5
discursivas. A inexperiência de fazer provas de concurso pesou. De um
lado, isso é bom, porque vi que meu maior problema não foi tanto o
conteúdo. Principalmente História Mundial, eu estava tranqüilo;
Geografia, menos tranqüilo, ainda mais com os textos de Milton Santos.
Aliás, qual é a desse cara? O seu lema é "por que facilitar quando eu
posso complicar?". Já cheguei até a desenvolver teses racistas mas
melhor não entrar nisso (sarcasmo, viu galera? por favor...). Enfim,
resumindo esse dia: Não fiquei totalmente satisfeito, mas é como disse
minha mãe, quem tem que ficar satisfeito não sou eu e sim os que vão
corrigir.

O sistema é o seguinte. Dos 10,000 candidatos, os 600 melhores nas
objetivas terão suas questões discursivas avaliadas. Desses, 300 terão
a prova de português (segunda fase, realizada no domingo) corrigidas. E
desses, uns 100 passarão para a terceira e última fase, que selecionará
os 32 finais. De qualquer modo, não resta dúvida que foi um bom treino
e, talvez sendo meio Polyana, me prepara melhor para o próximo concurso.

Algumas lições importantes. Fui bem à vontade: havaianas, camiseta leve
e bermudas. Me dei bem porque não sofri com o calor intenso. No sábado
use a camisa do Iteci e no domingo a de João Paulo Prefeito. É uma
espécie de supertição pragmática. Eram as camisas de malha mais leve
que eu tinha, e ao mesmo tempo, quem sabe tragam um pouco de sorte
(tudo vale!). Outra lição - serenata do amor não é um bom lanche porque
derrete facilmente no calor e aí fica seboso. Mas o granola de mel foi
uma boa idéia porque, além de não derreter, segundo Buí é bom pro
raciocínio. Então tá.

O resultado final sairá só no dia 7 de junho... Até lá, vou ficar
estudando para a terceira fase.

***


O pior da história

Acho que JK foi o pior presidente da História. Não tinha nada que
inventar de transferir a capital do Rio (o Rio!) para um deserto
descampado, no meio do nada, inacessível, de clima instável... um
quadradinho em Goiás... Ora, não é à tôa que isso aqui não tinha
habitantes! Queria desenvolver o interior??? Faz como Nevada,
liberaliza a prostituição, o jogo, o casamento.... Seria melhor uma Las
Vegas aqui. E de quebra eu estaria morando no Rio (no Rio!!).

***

Posso até não passar no concurso, mas me sinto imbatível no Master.

***

O homem-aranha não daria certo em Brasília. Ele só iria poder atuar no
setor bancário ou no de hotéis, e entre um e outro ainda teria que
pegar um busão, porque Peter Parker é liso pra caralho.

***

CREDO QUIA ABSURDUM.
(acredito nisso justamente porque é um absurdo)

é o meu novo lema de vida.

***

Cena num ônibus.
Um cara ao lado, lendo "Dossiês de Sinceridade", de Paulo Coelho. Por
um momento pensei: "Que bom, ele está lendo!". Mas logo mudei de
idéia: "Que horror! Ele está lendo Paulo Coelho!".
Preconceito meu? É. Ou não.

***

Na exposição "História da Pré-História", no CCBB, uma mãe fala pra
filha, olhando pequenas esculturas aborígenas de figuras humanas:
- Olha, que mulher gorda. Que peito grande.
Ao que a filha, de uns 7 anos, responde:
- Parece o de vovó.

Saí de perto pra rir à vontade.


***

Hoje tem promoção no cinema ao lado da minha casa. Vou ver uns 3
filmes. Semana que vem retomo os estudos pra valer.
Ah, e semana que vem vai ter show da Mombojó por aqui. Depois eu conto
como foi.

***

abraços a todos.
BJ


Relatos de Brasília - 7

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.

Eu odeio perdigotos.

Tue Mar 29, 2005 8:20 am

nunca mais tinha mandado notícias, então aí vai um monte de megabites.

abraços-
BJ


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analogias

Eu adoro analogias. Ajuda muito a entender melhor as coisas, ao trazer
idéias abstratas para um campo mais próximo da nossa realidade.
Pra vocês entenderem melhor como estou me sentindo, com a próximidade
das provas das primeira e segunda etapas, vou usar uma analogia. Me
sinto como um candidato em vésperas do primeiro turno das eleições e
muita gente acha que ele pode passar pro segundo turno (ou seja, no meu
caso, na terceira fase do concurso), mas isso depende que não cometa
nenhum deslize perante os eleitores (ou seja, que eu faça boas provas)
para que tenha uma boa votação (boas notas).

**

Eu odeio perdigotos.

**

Rede Bobo

Na quinta-feira passada dei uma entrevista para a Globo. O tema era o
concurso do Rio Branco. O que me dá mais medo é o quão ridículo eles me
farão parecer. Bom, se bem que ser entrevistado para matérias temáticas
cujo objeto não é você, entrevistado, é algo necessariamente ridículo.
Porque você é um instrumento através do qual o jornalista vai passar o
seu (o dele!) ponto-de-vista. Você pode falar o que quiser -- mas você
vai dizer o que o cara quiser. Edição faz milagres (tem um episódio dos
Simpsons jóia sobre isso).
Mas eu topei. O filho do dono do curso estava agoniado, ninguém queria
ser entrevistado. Frescura da porra. Eu disse a ele, "olha, se ninguém
quiser ir, eu não me incomodo". Ninguém quis. Ora, tem alguém querendo
ouvir, gravar, transmitir a MINHA opinião sobre um assunto...! Ôxe, eu
não me incomodo, não... A gente vive atrás disso na vida - querendo ser
ouvido. hahaha. E ainda por cima é Renato Machado quem vai fazer a
chamada para a matéria! Se bem que eu preferia que fosse a Cláudia
Bomtempo... E eu entendo alguma coisa o assunto; essencialmente repeti
os argumentos que utilizei naquele texto que repassei pra vocês -- não
sei se era isso que ele queria ou esperava ouvir.
Nessa coisa de entrevista, me lembro da Escola Recanto, em 1986.
Primeiras eleições democráticas pra Governador ("o povo quer / aquele
que fez mais / Arraes, Arraes, Arraes / 86 só vai dar Arraes"). Teve
eleições entre os alunos e eu era candidato a Senador, eu acho. Ia ser
entrevistado por aquela morena do NE/TV, Mônica Silveira. Aquele monte
de gente, pirralhas sobretudo, mas mais velhos do que eu na época, ao
meu redor. Câmara na frente, microfone apontado na minha direção. Ela
pergunta: "Vai votar em quem?". Pensei um pouco e respondi,
taxativo: "Arraes". Risada geral, inclusive da repórter. Eu não saí na
TV. Não disse o que ela queria ouvir. Foi minha primeira experiência
com o jornalismo. Pedagógico.
O repórter me disse que a matéria sairia no dia seguinta, na sexta-
feira. Acordei com uma ansiedade danada.... que leseira. Já eram 7:55
e "minha" matéria não tinha saído ainda. Fiquei pensando em Vovô, que
devia estar puto, na frente da TV desde as 7h, pronto pra apertar o
Rec. Ia passar o último bloco, última chance...
Não saiu na sexta. Meu estrelato foi adiado. Provavelmente para a
próxima semana. Ou então desistiram da matéria. Eu mesmo acho o assunto
requentado. Aprendi que esse tipo de matéria se chama "matéria fria".
Na quinta-feira a mãe de um jogador tinha sido liberada do seqüestro.
Mais "quente" e talvez por isso minha matéria voou. Deve ficar pra
preencher uma eventual falta de notícias durante essa semana.

**

"Rebelem-se seus vermes"
(pixado num muro do DF)

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Páscoa

Ontem foi Páscoa. Fui almoçar na casa de uma amiga de uma tia minha.
Foi legal. Tinha lá uma americana eleitora de Bush (eu conheci uma,
existe mesmo!!!!). É surreal conversar com um representante dessa
espécime. A comida, preparada pelo ex-Chef do Chez Georges, Romero, foi
espetacular, indescritível em palavras. O filho da dona da casa
(Ingrid) é assessor de Cadoca na Câmara. Mais uma dose de Johnny e eu
contava sobre os muros pixados! hahaha. A noite terminou com a gente
morrendo de rir com "Pânico na TV!". "Silvío Santos" e Repórter Vesgo
prestam um grande serviço ao jornalismo brasileiro. Quem não os
conhece, não perca: domingo, às 18:30, na Rede TV! (é muito melhor do
que Faustão, eu garanto).

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"LisoTur - big surprises"

marca e slogan sugestivos de uma companhia de ônibus paraguaia ou
uruguaia de turismo, que eu vi estacionado na frente de um hotel aqui.

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Herói

Ao sair do filme "Herói", após a recuperação da embriaguez estética
proporcionada pela beleza da fotografia, a primeira pergunta que vem à
mente é: ok, é lindo, mas quem é mesmo o herói?
Nossa ignorância em relação à história e cultura oriental vai ter que
acabar. Por muito tempo, modernidade e, mais recentemente, globalização
eram tidos como fenômenos necessariamente ocidentais. Com a emergência
da Índia e da China como potências econômicas, certamente cada vez mais
estaremos expostos à produção cultural vinda de lá. Essa nova situação
trará à tona do cenário mundial, hoje predominantemente ocidental,
valores orientais.
Esse filme é sem dúvida um prelúdio de algo que se tornará bastante
normal num futuro próximo. Cada vez mais nos defrontaremos com esse
tipo de ambigüidade ou divergência moral -- como se diz "get used to
it" em mandarim?
Uma dica. A história do filme é bastante simples. Às vezes vale à pena
deixar de ler as legendas e contemplar a fotografia do filme. Talvez
você faça isso naturalmente sem nem perceber. Não vai perder muito do
filme se fizer isso, ao contrário.

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"O mito é o nada que é tudo"
(F. Pessoa)

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merda gramaticalmente correta

Na última aula do professor de gramática, ele concluiu agradecendo,
todo aquele blá blá blá típico. E no final, ele disse que torcia para
que todos ali presentes passassem no concurso.
Diante das 32 vagas oferecidas, os bem mais de 50 estudantes se
estourarem de rir com tamanha forçação de barra.
Ele se deu conta da besteira que falou, e deu um sorriso amarelo...

**

a Humanidade

No programa do Ratinho, semana passada: em que ano foi proclamada a
Independência do Brasil?
As respostas dadas pelas participantes: 1931, 1950 e 1750.
A última ganhou R$ 1,000 porque chegou mais perto.
E eu fiquei me perguntando o que a platéia estava aplaudindo.
Isso quase abala o meu otimismo na Humanidade. Quase.

**

De esquerda

Estou de saco cheio de ouvir dizer que "o PT não é mais o mesmo" ou que
o governo Lula não é "de esquerda". Não tem nada mais babaca e inócuo
do que críticas dessa natureza.

Que o PT "não é mais o mesmo" me parece óbvio. Primeiro, ele mudou de
posição no jogo político, e de oposição passou a ser situação. Seria de
surpreender , portanto, se ele permanecesse igual a antes. Aliás, muito
dos erros na condução política do PT-Federal, a meu ver, se devem ao
fato de que alguns quadros do PT ainda não se deram conta disso (muito
dos erros se devem a burrice e/ou inexperiência de ser governo,
mesmo... viva a alternância).
O PSDB e o PFL também cometem erros no papel de oposição. Normal. Estão
todos aprendendo.
Além disso, o PT completa 25 anos e seria estranho, anacrônico, se
continuassem com posições iguais às daquele tempo. O PSTU e o PSOL
preencheram essa lacuna política, representando essas posições
retrógradas, tanto que optaram pela dissidência (mais fácil que a
tentativa de construção), e têm a representatividade que merecem. O
mais curioso é ver adversários de longa data cobrando "coerência" do
PT... Como assim? Mas era supostamente dessas idéias que eles
discordavam! É sintomático ver Heloísa Helena, ACM e Artur Virgílio
juntos contra o PT.
Em relação ao segundo ponto, muita coisa me irrita. Geralmente as
pessoas que fazem essa crítica se referem unicamente à gestão macro-
econômica. Essa é justamente a área mais díficil de mudar rapidamente e
de forma segura. Qualquer decisão abrupta poderia ter efeitos
catastróficos e quem mais sofreria, como sempre na História, seriam os
mais pobres (não por acaso é nas classes populares que Lula tem mais
apoio). Noves fora os números positivos nessa esfera, me parece um
tanto limitado se restringir o "ser de esquerda" meramente à questão
econômica. Existem políticas públicas extremamente progressistas sendo
adotadas em outras áreas. O Ministério das Cidades é
algo totalmente novo -- pela primeira vez temos políticas públicas
para as cidades sendo formuladas a nível federal, para racionalizar os
investimentos públicos. A política ambiental do governo está sendo
transversalizada, em detrimento das tradicionais e medíocres políticas
verticais (fato reconhecido até pela oposicionista revista "Primeira
Leitura"). Na Sáude, questões polêmcias têm sido corajosamente
abordadas, contrariando fortes interesses conservadores:
descriminalização do aborto, instituicionalização de narcossalas,
liberalização e financianmento de pesquisas com células-tronco. Há uma
revolução silenciosa de "bancarização" do povo, processo inédito e
importante de inclusão social. Órgãos do governo devem passar a adotar
o software livre em todas as esferas, inclusive nos computadores
subsidiados a serem vendidos para famílias de baixa renda -- o que
coloca o Brasil na vanguarda virtual do mundo com essa política de
inclusão digital. Temos políticas afirmativas na Educação (que é o que
se pode fazer no curto prazo), enfrentando setores reacionários; a
Reforma Universitária está sendo discutida em público; e vem aí um
fundo para o ensino fundamental - é pouco, mas ainda estamos na metade
do mandato. Na Cultura, a grande mudança seria a Lei do Áudio-Visual
(Ancinav), que iria democratizar e descentralizar a distribuição dos
incentivos fiscais (até hoje a iniciativa privada decide como aplicar o
dinheiro público através das leis de incentivo -- uma aberração); o
projeto teve que ser postergado por conta da forte mobilização dos
interesses arraigados que se beneficiam do status-quo -- Rede Globo à
frente, Arnaldo Jabor de bedéu. Há um grande envolvimento da sociedade
civil organizada em várias esferas do governo, e muitas ações adotadas
pelo governo vêm do envolvimento direto de movimentos sociais.
Mas tem algo ainda mais fundamental. Dois anos é muito pouco tempo. Em
termos históricos, é um nada, é uma vírgula, no máximo uma nota de roda-
pé. Qualquer análise taxativa sobre esse governo agora é, no mínimo,
precipitada (no máximo, é má-fé). Tem um ex-professor universitário e
atualmente consultor da União Européia, Roger, muito amigo dos meus
pais. Ele está trabalhando aqui em parceira da UE com o Ministério de
Planejamento. Conversamos, entre outras coisas, sobre isso. Ele conta
que o que ele mais diz aos colegas dele no Ministério é: "calma, calma,
calma". Lembrando a experiência francesa com Mitterrand, ele destaca
que para se julgar o Gov. Lula, só após os oito anos de seu governo. O
Lula, o PT, o Brasil merecem e precisam desse tempo de crédito.
Finalmente, aos que criticam as alianças, só posso dizer que há, nessa
crítica, um viés autoritário, anti-democrático. Foi uma escolha do
povo, através das eleições livres, que Lula governe com as forças
políticas que estão representadas no Congresso Nacional. para o bem ou
para o mal, o Governo tem que negociais e compôr. Natural. Desejável.
Democrático. Claro, há limites. Se Ciro Nogueira entrasse na Esplanada,
eu vomitaria. Mas até agora as composições estão dentro dos limites do
aceitável. Uma das qualidades desse Governo é internalizar conflitos,
colocar no seu seio setores conflitantes (Marina e Rossetto X
Rodrigues, Furlan X sindicalistas, por exemplo). E tem saído coisas
interessantes desses atritos. Como a lei dos Transgênicos.
De mais a mais, o Governo tem aprendido com o seus erros,
aparentemente. E como já disse o Zé Dirceu: "a paciência é
revolucionária". E olhe que ele tem autoridade para dizer isso!!!
Parafraseando um famoso slogan pacifista: "Give Lula a chance" !

**

Relatos de Brasília - 6

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gramática-cinema-céu-chuva

Sun Mar 6, 2005 2:14 pm

Aproveitando a oportunidade, mando mais novidades.
Bom, novidades mesmo não... Não há muitas. São escassas já que não
faço muita coisa durante a semana fora do itinerário casa-rodoviária-
biblioteca-rodoviária-curso-casa.

Semana passada estudei a Gramática Portuguesa. É muito interessante,
mas também muito chato. ALém do que, é um pouco como saber a
composição química do diamante: tira a beleza. Por exemplo, estudando
fonética, você pára pra pensar como deve abrir o véu palatino de
Marisa Monte quando ela canta "soildãããããão..." E eu não quero nem
imaginar como deveria ter sido o véu palatino de Louis Armstrong!
Na mensagem anterior, me empolguei demais e falei que tinha me livrado
dos shoppings... Foi só empolgação, mesmo. Continuo passando lá todos
os dias, pois é lá onde janto antes do curso.

E ontem mesmo fui ao cinema. Ontem fui tomar uma cerveja depois do
curso com Marinho, meu ex-vizinho aí em Recife (é engraçado isso de
morar fora de Recife, pois saio com certas pessoas que, normalmente,
nunca sairia em Recife. Amanhã mesmo vem uma prima minha pra cá, e
vamos nos encontrar - nunca nos encontramos em Recife que não seja no
almoço na casa de vovó nos domingos!) Mas como ia dizendo, depois da
cerveja, à noite fui ao shopping, ver um filme. Fui ver "Mar Aberto".
Confesso que não estava muito animado, não. O cartaz, o título, a
temática e o fato de ter ganho o Oscar - nada disso me atraía. Mas
segui a sugestão de MAteus, e fui ver. Achava, confesso, que seria um
dramalhão, aquela coisa meio novela mexicana, com um pouco mais de
classe. Grata surpresa. QUe filme maravilhoso. É CINEMA. EMocionante,
inteligente, simples, honesto, profundamente humano. A atuação dos
atores é bem convincente. Os personagens são críveis, são pessoas que
poderiam totalmente existir. Você se identifica. È muito bom. Saí do
filme e decidi ver outro. ENtrei em "Menina de Ouro". Eu não gostei do
último filme de Clint Eastwood. E ter visto M. de ouro logo depois de
Mar Adentro foi MUITO interessante. A diferença é cruel. Mar Adentro é
tudo que Menina de ouro não é! O filme de Eastwood é uma farsa, uma
enganação. É oco, superficial, forçado, previsível, óbvio. Não
emociona. Fico me perguntando o que explica o sucesso de crítica e
público de um filme que é, na melhor das hipóteses, medíocre. Acho que
é porque o cinema clintiano é o equivalente a Jota Quest no
cinema: "Fácil, extremamente fácil..."... É acessível, e esquecível.
Mar adentro provoca, incomoda, fica na sua cabeça. O de clint, não
(ainda bem). Enfim, recomendo a todos Mar A dentro. Vale a pena. A
única coisa que presta mesmo no filme de eastwood é a fotografia. AS
paisagens são muito, tipicamente americanas. O clima criado é
profundamente americano. Lembra pinturas daquele cara (como é mesmo o
nome dele, Guila?) Edward alguma coisa: o diner, o posto de gasolina,
etc. Sò isso.

Esqueci de falar uma coisa de Brasília. Eu vinha querendo falar, mas
sempre esquecia na hora de escrever. Lin me lembrou bem - o Céu de
Brasília é algo excepcional. ALguém me disse que o céu daqui é o mar.
È imenso e contemplativo. No fim da tarde, o céu se transforma. Luzes
e cores de várias tonalidades surgem dos lugares mais inesperados. Uma
obra de arte, uma pintura.É uma das coisas que mais gosto é olhar o
céu de Brasília. Mas não posso olhar muito pra não ser atropelado.
haha. No horário de verão nesse momento eu tava no curso - no quarto
andar. Era massa. E aqui ainda tem horizonte (a PaulOOtavio ainda não
o destruiu, como Moura Dubeux fez aí né!).

Descobri uma coisa que é pior do que Brasília para o pedestre.
Brasília quando chove. LEvei uns banhos danado essa semana. E a água
vem de cima, dos lados, de baixo... É foda... Definitivamente, essa
cidade não foi feita pra pedestres.

Bom, é isso. Espero em breve poder mandar mais notícias.
Escrevam também.

abraços a todos.

BJ



Relatos de Brasília - 5

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contagem regressiva

Mon Feb 28, 2005 4:45 pm

Olá pessoas!
Finalmente, notícias.

Cheguei de Recife há pouco mais de duas semanas. E a chegada foi cheia
de novidades. Aumento no aluguel (parcelas do IPTU); máquina de barbear
pifou (estou ficando barbudo); walkman pifou (estou ouvindo menos
rádio); e comprar um celular pelas vias legais é difícil e frustrante.
Mas a notícia mais esperada e a única boa foi que o Edital tinha sido,
finalmente, publicado.

Com isso, começou a contagem regressiva. Essa informação é importante;
antes, não saber quando e como seriam as provas e as fases gerava uma
incerteza muito grande - o que, além de ser ruim psicologicamente, não
permitia um planejamento estratégico de estudo. As primeira e segunda
fases serão nos dias 16 e 17 de Abril, respectivamente, e abragerá
História Mundial e do Brasil, Geografia e Português. A lista dos
aprovados (acho que serão 300) nestas fases sairá em meados de Junho. A
terceira, e última fase, ocorrerá nos últimos fins de semana de junho,
até o primeiro fim de semana de Julho (2 e 3) e abrangerá o resto das
disciplinas: Questões Internacionais, Inglês, Francês ou Espanhol,
Direito, Economia, História. Será mais ou menos assim. A lista final só
sairá em meados de Agosto.

Cheguei aqui de volta, depois de duas semanas de Recife, e já entrei no
ritmo normal de estudo. Estou agora focando mais nas matérias das
primeira e segunda fases.

Minha estada em Recife foi muito proveitosa. Vi um monte de gente que
eu queria ver. Também foi interessante (porém cansativo) receber meus
pais de intercâmbio. Acho que Recife superou as expectativas deles.
ELes gostaram muito. QUer dizer, nos três primeiros dias, depois de
vários passeios legais (incluindo Atellier de Brennand, Olinda, passeio
a pé pelo Bairro do Recife, show de bossa nova...) eles estavam
gostando muito. Depois do quarto dia (na casa do meu tio em Maria
Farinha) eles acharam DO CARALHO. haha. As fotos, quem estiver curioso
para vê-las, é só ir na página de fotos da família -
http://br.photos.yahoo.com/bernajurema . O passeio que eu gostei que só
foi ir da casa da minha avó na Boa Vista até o Marco Zero. Foram também
minha mãe com duas amigas da Austrália e Noé - aliás, o passeio não
seria o mesmo sem Noé, um almanaque ambulante do Bairro do Recife, um
verdadeiro privilégio. As cenas do passeio de barco pelo Capibaribe
também revelam um Recife que conseguiu manter sua poética, sem ser
poluído pelos monstregos erigidos pela Moura Dubeux e quetais. (sem
saudosismo de um tempo que eu nem vivi, hein!).

Por aqui, eu sigo descobrindo a cidade, pouco a pouco. Este fim de
semana descobri a estrada dos tijolos amarelos (ahhaha) para a minha
autonomia cultural na cidade! Tem um ônibus que sai de perto de onde eu
moro e leva, gratuitamente, até o Centro Cultural Banco do Brasil.
Muito útil isso, já que o transporte público não chega até lá. Pena
que, aparentemente, eu fui o único não-funcionário o usufruir o
serviço. Mas usei bem! Só neste fim de semana vi um filme israelita
(casamento arranjado) um alemão, sobre um fim de semana de Hitler nos
Alpes, uma exposição sobre a História da Pré-História brasileira e uma
peça, Hamlet. Chega de shopping center!

Falando nisso, é um traço bem marcante da cidade. Shopping centers. A
cidade quase não tem espaços públicos coletivos de lazer. Fora o famoso
Parque da Cidade (que a partir de certa hora é um centro para
bizarrices sexuais, tarados e coisas do tipo), os espaços públicos são
privados - os shoppings. Lá as famílias de classe média e média alta da
cidade vão passear, ver peças de mamulengos e shows voz-violão (na
praça de alimentação), exposições, a maior bolsa do mundo, o mundo de
Tainá, etc. Lembra demais os Estados Unidos. Aliás, aqui há uma
americanização muito intensa, ainda que muito superficial. É um
consumismo MUITO grande de tudo - roupas, carro, religião. Não é um
americanismo na sua essência, mas aquilo que a cultura americana tem de
mais vulgar, banal. Não é à tôa que aqui há tanto fanatismo religioso,
seitas e um problema de drogas muito grande, principalmente entre
jovens de classe média alta. Na verdade os pobres só vêm pras "asas"
pra trabalhar. Em geral, moram bem longe, marginalizados nas cidades
satélites.

Eita, tenho que ir nessa. Queria continuar escrevendo mais daqui a
pouco começa minha aula.

Abraços a todos e mandem notícias.

BJ

Relatos de Brasília - 4

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.


janeiro - 2005........

Wed Jan 26, 2005 3:46 pm

Olá pessoas.

Finalmente vos escrevo. Esse mês foi de lascar. Como sabia que iria
passar o período do carnaval em Recife, estudei pra caramba pra curtir
as festas e relaxar, sem peso na consciência. Resultado: estou cansado
que só, às vezes acho que meu cérebro vai dar tilt. Mas por outro lado,
existe a perspectiva de que o concurso só aconteça lá pra Junho. Ou
seja, posso ficar mais tranqüilo e terei oportunidade de ler mais
coisas. A bibliografia é monstra, e se as provas fossem agora em Março,
eu não teria lido nem um terço do recomendado. Pelo menos agora, com
esse provável adiamento, poderei pelo menos atingir um terço da
leitura.

Boa parte do mês foi tomada pela polêmica do Inglês, que ocupou páginas
de jornais, minutos de telejornais, capas da revista, linhas valiosas
de colunas de articulistas que aparentemente estavam sem assunto para
falar. Ô polêmicazinha bêsta! Um bando de gente desinformada falando
qualquer besteira para ocupar espaço. O diplomata, dono do meu
cursinho, prevê que este ano, por conta dessa exposição exacerbada na
Imprensa, terá um número recorde de concorrentes. Há previsões, no
Itamaraty, que passe dos 10,000 o número de candidatos. Muitos dos
quais, aliás, enganados pela falsa idéia, propalada pela Imprensa, de
que o concurso "está mais fácil". Vão pagar 100 reais de inscrição e
vão quebrar a cara.

Pra vocês terem uma idéia, esse foi o grande acontecimento do mês!
Hahaha... Meu cotidiano é extremamente previsível. Ah, houve uma
mudança. Parei de comer pastel com caldo, por R$ 1,00, na Rodoviária,
devido a apelos pela minha própria saúde. Geralmente, agora tomo um
suco de laranja com pão de queijo, e às vezes acompanhados de um
capuccino, quando o cansaço tá grande - aliás, esse é um novo hábito,
tomar capuccino. Às vezes tomo até dois por dia! Enfim, do café, no
Conjunto Nacional, pego o ônibus até o Senado. Lá, fico até umas 18h.
Volto pra Rodoviária e de lá ando até o Brasília Shopping, onde faço um
lanche e sigo pro meu curso, que acaba às 22h. Chego em casa morrendo
de sono. Nesse mês, todos os fins de semana fui no sábado, depois da
aula de Direito, pra casa de Vanessa (prima do meu pai). Prefiro passar
o fim de semana lá, porque não fico sozinho na minha kit submobiliada.

Nos domingos, geralmente, vou ao cinema. Esse mês vi "O
Grito", "Alexandre", "Entreatos" e "Desventuras em Série". Este último
é muito engraçado, o elenco é genial e os diálogos espertos (Fiquem até
o final, porque a animação dos créditos é massa e conta a história dos
personagens). E "Entreatos" é obrigatório para qualquer um que queira
entender o Brasil hoje. É uma aula de Ciência Política e de História do
Brasil. "O Grito" é igual ao outro filme desse diretor, "O chamado". E
dá um medo danado -- ainda mais porque depois tive que voltar andando,
à meia-noite, pra minha kit, pela selva de concreto deserta que é esta
cidade.

Fim de semana passado fiz um passeio turístico. Fiz o tour no Palácio
do Planalto. Foi muito interessante ver onde as decisões do Governo são
tomadas, onde os chefes-de-Estado são recebidos, onde as reuniões do
primeiro escalão acontecem, como é o gabinete de Lula (tem a TV dos
meus sonhos lá... E tem um mapa-múndi lindo).

Semana que vem chego aí, bem no dia do aniversário do meu irmão, e no
dia que também chega João. Duas coincidências muito felizes. Devo ficar
até Março. Quando voltar, pretendo cuidar mais do meu conforto aqui.
Como achava que as provas já seriam a partir de Março, não comprei nada
pra me proporcionar algum conforto. Os três móveis mais a mini-TVzinha,
todos, foram emprestados por Vanessa. Em Março vou mudar isso. Preciso
de espelho, saboneteira, estantes, almofadas, som... Quero tornar meu
lugar mais meu lugar e não apenas um lugar pra se dormir, que é o que é
até agora.

Estou ansioso pra chegar logo aí, depois desse mês extenuante estava
mesmo precisando disso. Também estou curioso pra receber meus "pais de
intercâmbio" (razão pela qual estou indo pra Recife), que pela primeira
vez estão indo conhecer o Recife (e o Brasil). Passarei uns 4 dias só
de guia, tentando mostrar o que essa cidade tem de melhor, escondendo
as coisas muito feias (espero não ver nenhum tiroteio!), e tentar fazê-
los entender como é que pode essa cidade ser tão querida!

Também devo fazer um curso de Português nesse meu mês aí.
Tradicionalmente, essa é a matéria decisiva -- e com as mudanças este
ano, a disciplina teve seu peso aumentado. Preciso estar craque em
análise sintática.

Todos se cuidem, fiquem bem e espero encontrá-los quando chegar aí. Até
breve.

Um abraço,
bernardo

Relatos de Brasília - 3

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.


semana 5 - Relato 4

Sun Dec 5, 2004 5:17 pm

Finalmente, notícias...

Não tem muitas novidades não.... Meu cotidiano não tem surpresas.De
segundo a sexta é kit-Senado-Curso-kit. Arrumei um café da manhã na
rodoviária: 1 real, um caldo de cana + um pastel. Nessa rotina, se
aprende a se extrair prazer do trivial. Meus passeios, meus momentos
de lazer, são esses percursos. Ah, e também lá no Senado, no
itinerário até o restaurante da Câmara, principalmente nas terças e
quartas. É interessante ficar vendo um monte de gente que eu só lia os
nomes no jornal...
Nos fins de semana dá pra relaxar mais... Ir ao cinema e encontrar
pessoas. Hoje vim almoçar aqui na casa de uma amiga das antrola da
minha mãe. Ela e a família ficaram muito contentes de me conhecer.
Talvez volte aqui mais vezes.
Lá no curso começou o período de boatarias.... Ninguém sabe quando
começam os exames, nem se inglês vai cair fora do peneirão, nem um
monte de coisas... Mas já tem um monte de teorias...
Ontem fui ao cinema. Fui ver Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci. É
ótimo. Queria falar dele mas não dá. QUem gosta de Cinema, não perca.
Quem gosta de PAris, idem.
Semana passada foi o Festival de Cinema Brasileiro. Só fui dois
dias... E o ponto alto mesmo foi o filme de Kléber. É um curta, muito
criativo, autêntico, bem feito. Eu e a platéia gostamos muito. Quem
quiser ver, www.portacurtas.com.br. Se chama Vinil Verde.
Hoje de manhã, antes da faxina semanal, dei uma caminhada pelo meu
bloco (agora não moro em bairro... é bloco!) e achei uma lavanderia
pras minhas roupas e um lugar pra consertar minha bicicleta. Êba.

QUeria escrever mais... mas é lasca estar na casa dos outros e ficar
teclando.
Outra novidade dessas últimas duas semanas é que eu re-entrei no
Orkut...
Pronto, contei as coisas mais importantes... Ou seja: viram como minha
vida aqui é previsível e sem grandes emoções?! A menos que eu comece a
contar sobre a II Guerra Mundial, a Guerra do Paraguai, análise
sintática ou que a demanda agregada é que exerce influência sobre a
oferta e não vice-versa....

abraços a todos.
e dia 18-12 eu chego aí (e fico até o dia 03-01)

BJ



ps
obrigado aos que me mandaram emails individuais. Gostei muito. Eles
ajudam bastante, estimulam, dão uma força. E é sempre bom saber de
apesar de estar sozinho no momento, não sou sozinho e tem umas pessoas
por aí que se preocupam. Valeu. Qd der eu respondo, qd não der vai
esse email galeroso assim mesmo!


Relatos de Brasília - 2

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.


III Semana

Sun Nov 21, 2004 7:59 am

Terceira semana no DF; primeira semana morando só.

Foi mais difícil do que eu imaginava.

Domingo fui com Lia, uma das minhas primas daqui, na kitchenette fazer
uma faxina. Minha primeira faxina foi um fiasco – o chão ficou todo
manchado de branco. No dia seguinte, segunda-feira, feriado, minha
primeira manhã lá. Antes de ir fazer um simulado de Resumo e Redação
lá no Curso João Batista, fiz mais uma faxina. Nada como a prática.
Essa segunda faxina já foi bem melhor que a primeira, e deixou o
ambiente com um aspecto mais agradável, habitável.

A kit não é grande coisa... Aliás, é espaço demais pras coisas que eu
NÃO tenho. Tem um birôzinho pra estudo, uma cadeira, uma cama, uma
mesinha onde ponho as roupas e uma mini-TV/rádio. Minimalista. A
localização é muito central e razão pela qual eu optei pelo lugar.
Estou a três minutos do curso. A cinco de um shopping com cinemas,
lanchonetes e Americanas (putz, a música natalina de lá dá vontade de
se matar!). Os vizinhos são tranqüilos. Só na segunda teve um babaca
escutando música brega nas alturas. E hoje quando abri a janela depois
de uma soneca à tarde, tinha uma placa de uma loja que abriu embaixo
de mim, bem na minha varanda. Arruinou minha vista do colégio em
frente. (Será que meu aluguel pode baixar por causa disso?).

O primeiro dia sozinho foi triste, o segundo menos. Conversei com
minha mãe. E do terceiro em diante, foi melhorando. Como mãe sabe
dizer as coisas certas, hein? Também recebi um e-mail de César que me
ajudou muito nessa adaptação. Como ele disse, além de ser um momento
difícil por eu estar só numa cidade desconhecida, o é também por ser
um momento de definição profissional. Identificar essa origem da minha
ansiedade foi essencial.

Minha rotina foi estabelecida por um processo de tentativa e erro.
Experimentando caminhos até a Biblioteca do Senado, lugares pra tomar
café da manhã ou almoçar, caminhos pra voltar pro curso... Fui
adaptando. Ficou mais ou menos assim: me acordo de manhã e, depois do
Bom Dia Brasil, ando até o Conjunto Nacional (um shopping que fica no
caminho até a Esplanada dos Ministérios). Tomo um sucão e ando até a
Biblioteca. No total, uns 50 minutos de caminhada. Descobri que no MEC
tem acesso à Internet grátis (só não posso checar E-mail... Ou tenho
que faze-lo escondido), então pretendo uma vez por semana passar por
lá no caminho ao Senado pra ver e-mails e ler a imprensa internacional
(grave falha lá do Senado!). Estudo e como lá pelo Congresso mesmo. É
bom estar lá porque além de a Biblioteca ter um ótimo acervo, ar-
condicionado e jornais, há eventos como na quinta-feira, quando teve
uma palestra de uma professora mexicana sobre o Nafta para a Comissão
do Mercosul no Senado! E você ainda corre o risco de cruzar com
Heloísa Helena (argh!) e seu rabo de cavalo indo pra lá e pra cá, ou
avistar Cristóvam Buarque (uau) entrando na Biblioteca.

Lá pelas 17-18h, tomo uma lotação (um real) até a rodoviária, e ando
uns 20 minutos até o curso, que começa às 19h. Às 22h termina, volto
pra casa e durmo. Certamente deixei muitos de vocês com inveja do meu
dia-a-dia...

Essas caminhadas são os meus momentos de lazer, exercício e
relaxamento durante a semana. Desisti de fazer qualquer esporte formal
até depois das provas, porque me ocuparia um tempo precioso que não
posso desperdiçar.

Descobri lá na Biblioteca um outro cara que também está estudando pro
concurso. Primeira reação (irracional) foi raiva... (“concorrente fdp,
vá pra casa ver TV!”). Depois pensei melhor e um dia, depois que ele
saiu, fui ver os livros que ele estudava e peguei umas idéias de
estudos legais!

Uma das coisas boas dessa minha experiência é que eu estou tendo a
oportunidade de conhecer familiares que eu não tinha tido muito
contato antes. Vanessa é prima do meu pai, lá de Maceió (de onde vem
Vovó Maidy) e era, na juventude, muito próxima à nossa família. Ela e
a família (meus novos tios e primos) têm me recebido de maneira
totalmente generosa. Aliás, todos os meus móveis na kit foram eles que
me emprestaram...

Minha visão de Brasília mudou um pouco (nada como a vida real). Já
tinha vindo outras vezes de férias. Sempre gostava. Mas é diferente.
Na primeira vez vim aos dez anos, passei um mês, passeei bastante com
meus tios que moravam aqui na época, e até subi a rampa com Collor e
tal. Inesquecível. Nas últimas duas vezes, mais recentes, fiquei na
casa de Guilherme e fui sempre MUITO bem recebido por ele e seus pais –
não tinha como não gostar. Mas tem sido diferente viver aqui. Claro,
tem o lado emocional: o fato de se estar só, longe de casa, da família
e de amigos próximos; e o fato de não se saber se irei ou não atingir
o meu objetivo. Mas o fato é que a cidade (aliás, como toda
arquitetura conceitual que eu já vi) é muito burramente planejada. Pra
começar, ela é feita pra quem tem carro. Comunismo de burguês.
Pedestre se fode. Tem que andar pra cacete. E a sinalização, nessa
cidade onde as ruas não têm nomes, é toda para os carros...

Coisas de Brasília... Hoje vi um carro com um adesivo pedindo a
liberalização das informações sobre UFOs. Taí uma causa de suma
importância para o bem-estar da Humanidade.

Até a próxima semana... Ou quando der.

Abraços.
BJ

Relatos de Brasília - 1

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.



DF, segunda semana
var ygrp_ck = new yg_cookie(); var envPref = ygrp_ck.get('GMI'); function pref(){ if (envPref){ // if pref is open msgInfo(); // toggle the display, default is close } // otherwise, don't do anything default is close getDocumentCharset(); } function getDocumentCharset() { var charset = (typeof document.charset == "undefined" || document.charset == null) ? document.characterSet : document.charset; var msxml = ['Microsoft.XMLHTTP','MSXML2.XMLHTTP.5.0','MSXML2.XMLHTTP.4.0','MSXML2.XMLHTTP.3.0','MSXML2.XMLHTTP']; var http;try{http=new XMLHttpRequest();}catch(e){for(var i=0;i

Sun Nov 14, 2004 12:21 pm


Pois é, ontem fez duas semanas que estou no DF. E hoje é o último dia
de conforto de casa de parentes... Depois do almoço, já, já, levarei
uma cama pra quitenete onde irei morar pelos próximos meses. É
pequena, mas um espaço legal pra uma pessoa... mas grande demais pra
quantidade ínfima de objetos que eu tenho pra lá: roupas, livros, uma
mesinha e uma cama.... Com o tempo pretendo ir ocupando melhor o
espaço. O prédio fica no SCLRN 702/3... Assim são os endereços por
aqui. Setor Comercial Local Residencial Norte. Em baixo tem comércio,
em cima residências.

O meu curso, razão pela qual estou aqui, fica na 701 N. Ou seja, a
alguns metros. Esse foi um dos principais fatores que me fez optar por
esse local. Ontem fui lá fazer uma faxina... Inexperiência é foda.
Valorizem mais suas empregadas! Saudades de Janete. Não é fácil
limpar, por menor que seja o ambiente. Pra começar, eu nem sabia que
produto usar. No banheiro, usei três, só pra garantir que fique limpo:
detergente, sabão em pó e água sanitária. Frieira eu não pego. Depois
da faxina, fui dar uma volta na vizinhança. Tem quase tudo que preciso
à distância de alguns metros. Tem um mercadinho baratinho, um brechó
(preciso de móveis!), uma padaria, uns restaurantes... só faltou uma
academia de aikido pra ser perfeito. Mas bem em frente, no Colégio
Sagrado Coração não sei das quantas, tem aula de taekwondo... Quem
sabe começo algo novo? E tem até uma igreja evangélica (Ministério da
Fé... tem um site: www.ministeriodafe.com.br), se eu precisar apelar
pros céus pra passar no concurso.

O curso está indo bem. Os professores são excelentes, estou aprendendo
muito. Tem dias (Depende da matéria) que eu saio estimulado e
instigado da aula. Mas tem dias que eu saio totalmente desanimado:
caralho, tô fodido (geralmente Economia e Direito)... Minha turma é
bem heterogênea. Se chama Merquior (quem?!). E tem vários nordestinos
(SE, RN, PB, PE...). Um deles aliás sugeriu que o nome da turma
mudasse pra Virgulino... Mas ainda não deu pra fazer nenhuma amizade
não. As aulas são de 19h às 22h, com 5 min. de intervalo. Ocasião para
socialização é mínima.

Sexta eu já fiz uma prévia de como pretendo fazer a minha rotina. Fui
pra Biblioteca do Senado. É excelente, tem um ótimo acervo e é muito
bem equipada. Pretendo passar meus dias lá.

Depois de um canto pra morar, falta eu arrumar agora uma bicicleta e
um celular. (Acabei de arrumar agora uma mesinha e uma cadeira!).

Bom, não sei quando irá o próximo relatório, já que não terei mais
acesso fácil à internet.

Meu endereço agora é:

Bernardo Jurema
SCLRN 702/3 BL D Entr. 46 Sala 101 Asa Norte
70710-750.

O telefone para recados ou pros fins de semana:(61) 2485502.

Abraços a todos e até a próxima.
BJ

sábado, 6 de junho de 2009

Mês 1


Seguindo o exemplo de Diogo, com seus relatos mensais da experiência suíça, dou início ao meu próprio relatório mensal!

Sábado fará duas semanas que cheguei em Londres. Mas completará um mês de Europa. Dorothy e Luiz Gonzaga me vêm à mente sempre que observo as diferenças entre o lugar estrangeiro e a terra natal (a “hometown”, como dizem os gringos – no meu caso particular, sutileza semântica que faz uma diferença!). Dorothy, quando tem sua casa levada pelo furacão em “O mágico de Oz”, ao se deparar com seres e paisagens que não lhe são familiares, comenta com o seu cãozinho: “Toto, I’m afraid we are not in Kansas anymore”. Por sua vez, Gonzagão, retirante nordestino na Cidade Maravilhosa, comentava os aspectos da vida urbana do Rio da primeira metade do século 20, e pedia licença para dizer: “vocês cá da capitá, me adesculpa essa expressão: no Ceará num tem disso, não”.

Primeiro contato com a Europa, e Dorothy e Luiz Gonzaga já me aparecem, logo que saio do aeroporto de Lyon, onde entrei na Europa. Mobilidade. Para quem vem do Brasil, é sempre uma surpresa como é fácil de se locomover numa cidade européia. Cheguei cansado da farra de despedida e baqueado com as horas mal dormidas e a decalagem de horário. E, apesar disso, não tive problemas em fazer o percusso aeroporto-estação de trem (Lyon) e, de lá, trem para St-Etienne, para onde fui ao casamento da nossa “família francesa” – a família Pays, que acolheu os meus pais quando eles moraram lá, 30 anos atrás. Foi bem interessante o retorno à cidade onde nasci, tanto para mim quanto para os que estavam lá. “Eu vi você tout petit, bem pequenininho” foi uma frase que ouvi à exaustão. O casamento em si, foi uma experiência antropológica – foi meu primeiro evento do tipo na França. Casório à francesa é totalmente distinto da festa tal qual estamos acostumados no Brasil. Na terra de Mussum e de Lula, a cerimônia religiosa é só para agradar aos avós e não passa de um empecilho para começar a derrubar aquela garrafa de Red Label: o objetivo da festa é embreagar-se (assim como o de ir para praia, sair com os amigos, ir ao campo de futebol, festa de aniversário... qualquer pretexto serve para encher a cara). Na terra de Coco Channel, a cerimônia é civil (ao invés da imagem de Cristo, uma foto de Sarkozy... que, para alguns, é a encarnação do diabo!). A maior parte do tempo fica-se sentado numa mesa de lugares marcados, enquanto os pratos são servidos na ordem (entrée, salada, prato principal, queijo, sobremesa). Entrementes, homenagens aos recém-casados são oferecidas por parentes e amigos – discursos, canções improvisadas, slides de fotos, piadas hilárias e outras de mau gosto. Também tem álcool, mas a variedade vai bem além do Red Label típico do Brasil. Mais que isso: cada momento requer uma bebida específica. Vinho branco pro peixe, tinto pra carne, champagne ao final, etc.

De St. Etienne, volto a Lyon, onde fiquei entre a casa de Alvinho, amigo de Recife, e Philipp, de Berlim. Lyon é uma cidade linda, antiga capital gaulesa, cheia de história que remonta ao Império Romano. É também um modelo de urbanismo. Em Lyon, locomover-se é fácil. Lá tem metrô, tram-way, ônibus, ônibus elétrico, ciclovias, bicicletas públicas e amplas calçadas para os pedestres. Ah, tem carro e táxi, também. A beira do Rio Saône, até pouco tempo, era estacionamento de automóveis. O prefeito atual mudou isso. Transformou toda a beira-rio em área de lazer, com pista de cooper, ciclovia, piscinas infantis, pista de skate, etc. Os motoristas chiaram. Mas, hoje, a beira-rio vive cheia de gente – todo tipo de gente. Tem várias ruas exclusivas para pedestres, e outras onde a prioridade é sua e não do carro. Todas as paradas de ônibus têm um mapa. Locomover-se em Lyon não é só uma experiência agradável – é também fácil.


De lá, peguei uma carona com Philipp, que ia até Locarno e me deixou no meio do caminho, em Évian, no lado francês do Lago Léman. Peguei o barco e em 30 minutos estava do outro lado. Passei uns dias com Diogo, se apertando para compartilhar os 20 metros quadrados do seu apartamento. A gente não faz idéia do que são 20 metros quardados até que se tenta compartilhar esse espaço. Não é trivial. Não há armário na cozinha: a cozinha é no armário. O box do meu banheiro em Recife era do tamanho do bannheiro inteiro. Pelo lado positivo, Lausanne tem uma qualidade de vida impressionante. A cidade é bucólica e de um silêncio profundo. O prédio de Diogo fica ao lado do parque que margeia o lago. As árvores que circunscrevem a área em que ele mora faz com que, pela manhã, sejamos acordados ao som dos cantos de vários pássaros. Conheci alguns amigos de Diogo e pude ter uma idéia do seu cotidiano. A Suíça é tão limpa e próspera, que sente-se um contraste ao voltar para a França. De repente, Lyon me parecia meio suja, meio bagunçada, meio decadente... Em Lausanne eu procurei e não achei nem uma mísera tampinha de Coca-Cola no chão. Difícil será depois Diogo se adaptar a morar em qualquer outro lugar do mundo – exceto, talvez, o Canadá e os países Nórdicos!

Faz pouco mais de uma semana que estou procurando emprego aqui na terra de Lady Di. A oferta é impressionante. Tem muito emprego, para todo tipo de gente, todos os níveis salariais, graus de formação, áreas de atuação. E mesmo o pior deles, o salário oferecido é sempre digno. Como diria o Velho Lua, no Ceará num tem disso, não!

Com pouco mais de uma semana de busca, já estou com três perspectivas, embora nada ainda assegurado. Esse fato (não ter nada certo ainda) estava me deixando um pouco inquieto. Até que um dia desses fui fazer um lanche numa Starbucks. Comentei com a colombiana que me atendia que estava buscando um trabalho de verão (summer job). Ela recomendou o site que todo mundo me recomenda desde que soube que viria para Londres – www.gumtree.com . Eu respondi que já estava procurando lá e ainda não tinha conseguido nada. Ela levantou os braços, em sinal de reprovação, quando eu disse que estava buscando havia uma semana.


Ela tinha razão. Até então eu só havia recebido a proposta para ser piloto (será essa a melhor palavra?) de “rickshaw” (aquelas bicicletas à chinesa que carregam passageiros pela cidade). Mas um dos funcionários do cara que me contrataria sofreu um acidente no fim de semana passado, e até agora ele não me deu mais notícia. O que talvez tenha sido para o melhor. Em seguida, fui para uma entrevista para trabalhar num restaurante fast-food de saladas e comidas saudáveis. Não sei bem o que faria lá, mas se eles me contratarem para fazer salada, só digo uma coisa: nunca vão lá para comer! Eu nunca comeria salada num estabelecimento que me contrata para fazê-las! Na segunda-feira, irei para outra entrevista... para a posição de “game-tester”: são oito horas diárias de jogos que ainda nem foram lançados. O sonho de vários amigos meus. Mas uma das minhas desvantagens é o fato, justamente, de eu nunca ter sido muito de jogar vídeo game. Basta dizer que o primeiro e último console que eu tive foi o SuperNintendo! Também recebi propostas para dar aula de francês e prestar assistência social.

Não sei se ficarei em nenhum deles. O que não é um problema grave. Cada dia um sem-número de trabalhos os mais diversos é acrescentado no gumtree.com . Mas o que impressiona é o dinamismo da economia inglesa/europeia que, mesmo em recessão, tem essa diversidade de empregos. Economia dinâmica. E eu, cá com os meus botões recifenses: Toto, I think we are not in Kansas anymore! Game-tester? Ser pago (400 libras/semana) para jogar vídeo games? Definitivamente não estou mais no Kansas!

Fora isso, a Inglaterra tem me causado uma ótima impressão inicial. É clichê dizer que viajar abre a mente e desfaz clichês em relação a outros povos. Como também é clichê dizer que algo é clichê... mas o fato é que, na verdade, às vezes viajar confirma certos clichês e acaba com outros. O famoso British humour está, definitivamente, na categoria dos clichês comprovados. Andar nas ruas de Londres, às vezes, é como assistir a um episódio de Monty Python.

Cena 1 – no ônibus, neto para avó

- “Por que o seu rosto é assim?”

- “Assim como?”

- “Wobbly” (molenga, instável)

- “Ah... Porque eu sou velha.”

Silêncio (e eu prendendo o riso).

- “Então quando eu crescer eu vou ficar igual a você?”

- “Não, porque você é homem e eu sou mulher.”

Cena 2 – na rua, o celular do cara cai no chão. Ao invés de se irritar, ele gesticula como se tivesse feito de propósito e vai na direção do seu aparelho como se fosse pisá-lo para esmagar. Puro humor físico, chapliniano!

Cena 3 – Vitrine de uma loja de vinhos: “A recessão não é desculpa para se tomar vinho ruim!”.

Cena 4 – eu cheguei em Londres depois das 23h, depois que o meu voo barato da RyanAir me deixou num aeroporto a não sei quantos quilômetros de Londres. Carregado de mala, cansado, com fome... e a estação de metrô que eu tinha que descer estava fechada. Tive que pegar um ônibus, e me atrapalhei. Finalmente, peço ajuda a um inglês ao meu lado, de 30 e poucos anos. Primeiro, ele deixa que eu faça um ligação de seu I-Phone para os meus amigos que vão me receber. Depois, ele desce comigo na minha parada (tudo bem, era a mesma dele), carrega a minha mala mais pesada e me deixa na porta da casa. No caminho, eu comento que me sinto um pouco mal por ele estar se dando a todo esse trabalho. Ao que ele responde: “No problem. I have a lot of bad karma do undo... I’m a lawyer”. Que bom que tenha sido comigo! Mas achei a justificativa genial!

Outro clichê corroborado é a pontualidade britânica. A imprensa está pegando no pé do governo local aqui, porque a pontualidade dos trens e metrô aqui é de “apenas” 90% dos casos e as autoridades estão comemorando como um sucesso. É um fracasso, dizia o artigo do tablóide, porque no Japão o índice de atraso é de 1% (3 a 5 segundos de atraso) e, ainda assim, lá a meta é chegar a índice zero de atraso. O clima, desde que cheguei, tem sido agradabilíssimo. Embora hoje tenha feito um clima mais condizente com a fama londrina (cinzento, frio, com chuvisco constante)... mas esqueceram de avisar ao sistema de auto-falantes do metrô, que aconselhava os passageiros a andar sempre com uma garrafa d’água, “in this hot wheather”. É verão – summertime – mesmo se estiver fazendo 11 graus lá fora... Por fim, a comida aqui não é horrível. Primeiro, porque Londres é uma cidade cosmopolita e, portanto, é possível comer-se de tudo aqui, e a todos os preços. Segundo, mesmo os pratos tipicamente locais, podem ser bons. Provei as famosas fish & chips, delicioso. E “O” outro prato típico, salchicha com purê de batatas e molho, também é bom. Fora esses dois, tem o “English breakfast”. Fica pro próximo mês. E segunda, me mudo. Vou morar aqui.