terça-feira, 25 de novembro de 2008

Carta ao Diário de Pernambuco

Pesquisando meu arquivo, encontrei uma carta que escrevi ao Diário de Pernambuco em Outubro de 2003. A carta, obviamente, nunca foi publicada... Posto aqui no blogue, porque aqui a ADEMI (ainda) não patrocina, então posso criticá-los abertamente, por enquanto (hahaha).



Prezado Editor,


O Diário de Pernambuco, que se diz um jornal sério, deveria ter
vergonha pelo encarte publicado nesta segunda-feira dedicado à
construção civil.


O encarte, que se queria “jornalístico”, mais parecia uma peça
publicitária das empresas do setor. As pseudo-matérias todas elas eram
congratulatórias, acríticas e totalmente parciais. Uma análise
superficial do encarte indica que as normas mais básicas de qualquer
manual de jornalismo foram solenemente ignoradas e desrespeitadas.


Só se registrou um lado da história – o do setor da construção civil.
Todas as fontes citadas são empresários ou “consultores” do setor. Não
se entrevistou nenhum urbanista, arquiteto, professor universitário,
sindicatos dos trabalhadores do setor, administrador público ou
representante da sociedade civil. Se pegou a opinião de um determinado
setor, e se tomou como a verdade geral.


As matérias – todas elas – ressaltam o “papel social”, os empregos
gerados, o crescimento do setor, a “luta contra o desperdício”,
a “busca pela qualidade” etc. Nada contra isso – são fatos importantes
e devem ser reportados. No entanto, é injustificável – e beira a falta
de ética – o fato de que nada, absolutamente nada, tenha sido dito a
respeito dos problemas sociais enfrentados pela cidade com a
verticalização desenfreada, os engarrafamentos cada vez mais
freqüentes, o sistema de esgoto sobrecarregado, os consumidores
prejudicados pelas construtoras incompetentes que quebram, a falta de
planejamento urbano do Recife etc. Talvez se outros segmentos da
sociedade tivessem sido lembrados pelos jornalistas que fizeram as
matérias, tais pontos tivessem sido abordados. Parcialidade em
jornalismo resulta nisso: a distorção da realidade. Também não ficamos
sabendo o que os nossos governantes estão planejando ou fazendo em
relação aos problemas apontados pelas construtoras.


Essa parcialidade escancarada seria normal se o encarte fosse um
informe publicitário. Choca e preocupa que um meio de comunicação
importante como o DP subestima a inteligência e capacidade crítica de
seus leitores e queiram vender isso como jornalismo. Ainda mais quando
a ADEMI vem fazendo uma pesada campanha publicitária multi-mídia
(rádio, TV, out-door...) a favor da verticalização do Recife.


Os jornalistas do DP foram usados como garotos-propaganda da entidade.
E os leitores foram enganados porque, ao lerem seu jornal se depararam
com uma propaganda revestida de jornalismo.


Os empresários querem lucro. É o interesse legítimo deles. Que não
venham, portanto, se passar por arautos da democracia, da justiça
social e do planejamento urbano. O trabalho de planejar a cidade cabe
ao poder público, e cabe a cada setor da sociedade pressionar por seus
interesses legítimos... Só que nenhum outro segmento tem o poder
econômico para veicular campanha multi-mídia... Ou pagar um encarte no
jornal.


Bernardo Jurema
Estudante de Ciências Sociais - UFPE

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Movimentos sociais, lá e cá

A analogia entre a eleição de Lula em 2002 e a de Obama agora é realmente muito rica. Nessa entrevista aqui, a jornalista/ativista, Naomi Klein (esposa de um dos melhores jornalistas da Al Jazeera, Avi Lewis) trata da relação ambígua entre o movimento social progressista americano e o quase-presidente Obama. Organizações como a Moveon que tinham uma agenda própria de demandas, se engajaram na campanha democrata. Como irá o movimento se comportar diante de um eventual Governo Obama?


domingo, 2 de novembro de 2008

E a esperança venceu o medo

O Lula deles.


Obama e Lula representam o melhor que os sistemas políticos de seus países são capazes de produzir, por meio de seus instrumentos, mecanismos, incentivos e barreiras, canalizando aquilo que há de mais progressista em suas respectivas sociedades.


Assim como Lula para o Brasil, Obama será o grande líder dessa época. Lá, como cá, tão cedo se verá outro líder com semelhante inteligência política e poder de comunicação. Ambos marcarão uma época não só pela carga simbólica intrínseca a suas eleições (precisamente no que se refere à questão sócio-econômica no Brasil e racial, nos Estados Unidos). Mas também porque encarnam o que há de mais novo e original em termos de políticas públicas em seus países. Ambos os casos denotam também a capacidade de renovar-se de cada sociedade. Entre a fundação do PT e a chegada de Lula ao poder, passaram-se 20 anos. Nos Estados Unidos, em 20 meses Obama saiu da condição de azarão à de franco favorito a dois dias do pleito, passando pela férrea maratona que são as primárias. Os críticos do sistema político americano deveriam parar para refletir um pouco sobre o significado dessa diferença. Também depõe a favor do projeto de reforma política empacado no Congresso. Um político como Obama jamais emergeria do nosso sistema partidário tal como ele é hoje, por exemplo.


A vitória de obama é a vitória de uma geração sobre a outra (olha aqui, por exemplo). É a contemporaneidade, com o que tem de melhor a oferecer - cosmopolitanismo, pragmatismo, tecnologia, tolerância, inteligência, racionalidade - sobre a mentalidade ultrapassada, bipolar, ideológica, arrogante dos últimos anos. Obama marcará esta época pelas suas políticas públicas imaginativas e inovadoras, colocando a favor do setor público americano o que os americanos têm de mais avançado em termos de tecnologia social. É a social-democracia à americana de volta e com força total.


Não é precoce antever o papel essencial que terá o presidente Obama em desencadear um processo de transformação em seu país e, conseqüentemente, no mundo. Sua campanha, que revolucionou nos meios assim como na mensagem, é a melhor evidência do que podemos esperar de sua presidência.


É sempre melhor acreditar na esperança a sucumbir diante do medo. Os americanos seguem o caminho brasileiro. Bem vindo ao clube.


(Embora eu prefira o Lula deles ao nosso Obama!)