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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Wikileaks

A maioria das pessoas ainda têm uma mentalidade do século 20. Mas a era da Internet transformou, e segue transformando, substancialmente a maneira como informação é distribuída. O vazamento de documentos sigilosos revelando o que realmente está ocorrendo no campo de batalha afegão (veja aqui a reportagem do diário londrino The Guardian) é indício dos novos tempos - trata-se simplesmente do maior vazamento de dados da história do exército americano.

Entender o que é e como funciona Wikileaks é essencial para qualquer pessoa que queira entender como será, daqui pra frente, a relação entre governos e grandes corporações e a comunidade global ao lidar com controle de informação. O movimento inexorável é de maior transparência. O objetivo do site é tornar público toda informação que seja considerada como de interesse público.

sábado, 29 de maio de 2010

Compartilhamento de dados e acesso a cultura

A troca de dados on-line é uma das grandes transformações do século 21 porque democratiza o acesso à informação e a produtos culturais que, se fossem depender da lógica do mercado apenas, permaneceriam restritos a círculos ínfimos de iniciados. O acesso ilimitado a dados, em todas as suas manifestações - vídeo, música, texto, fotos - tem o poder de propagação da informação. No momento em que se cobra por esse acesso, automaticamente o alcance potencial da informação é limitado. Um consumidor mais bem informado é um consumidor necessariamente melhor.

Um estudo recente (leia AQUI artigo publico no The Independent) indicou que aquelas pessoas que costumam baixar música gratuitamente na Internet são os que mais gastam consumindo música. O detalhe é qual é o tipo de música e produtos culturais os quais eles consomem. Não são mais aquelas da cultura de massa - e isso é provavelmente o que mais incomoda as grandes corporações - não a distribuição gratuita em si. Afinal, o criador, o artista, ele só tem a ganhar com a disseminação de seu trabalho. É o intermediário que deixa de ganhar e é isso que incomoda a indústria fonográfica.

Um exemplo disso é o cineasta chileno radicado na França, Alejandro Jodorowsky - um grande diretor e roterista. E se ele fosse depender do mercado, eu jamais teria tido acesso a ele. Foi graças à Internet e ao compartilhamento de dados gratuito que eu tive acesso ao trabalho dele. Sua obra nunca iria passar na televisão, nunca iria passar no multiplex. Se não fosse pelo compartilhamento, eu não teria tomado conhecimento do trabalho dele e estaria me limitando como pessoa, cidadão e consumidor.

Jodorowsky, inclusive, é um dos grandes diretores do século 20, indiscutivelmente. O trabalho dele é essencialmente cinematográfico. As histórias que ele conta, por meio de imagens, não poderiam ser contadas de nenhuma outra forma - livro, pintura, o que for. Cada cena, cada imagem, transborda de signifcados; tem muitas leituras possíveis e só poderiam ser contadas cinematograficamente - o que é mais do que se pode dizer do que boa parte dos cineastas. Por seus filmes, ampliei minha visão do mundo, adquiri informações que me tornaram um cidadão mais crítico e um consumidor cultural mais exigente.

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quarta-feira, 25 de março de 2009

A disputa política está saindo do armário

Aos poucos, a luta política vai emergindo, vem à tona. No Brasil, desde sempre, o debate programático tende a ser posto em segundo plano, em favor de disputas moralistas ou legalistas. Desde Dom Pedro II, pelo menos, que é assim. A Monarquia caiu não porque tenha deixado de defender políticas que favoreciam a sua base de apoio (os latifundiários e os credores), mas porque seria "podre" - a República seria uma necessidade moral. Desde então, a disputas, aqui, raramente se davam pela forma do que realmente eram: a retórica moralista escondia interesses bem prosaicos. 

Enquanto boa parte do eleitorado não participava do processo (até a década de 1980), ou, depois disso, enquanto o oligopólio midiático podia repassar sua versão sem correr o risco de ser questionado, essa maneira de disputar o poder funcionou. Agora, com o amadurecimento da Internet brasileira, isso começa a se tornar impraticável. A disputa política, no Brasil, está saindo do armário.

Os pontos desse emaranhado começam a se ligar. Em entrevista recente (veja aqui), FHC elogiou Daniel Dantas e Gilmar Mendes, e criticou o Delegado Protógenes Queiroz. (Se ele fosse mais atinado aos novos tempos, jamais teria falado o que falou. Qualquer pessoa familiarizada com YouTube, teria tido mais cuidado com quem elogia publicamente!). Inspirado nas opiniões do ex-presidente, o jornalista Luis Nassif esboça uma análise da história recente do país (aqui), colocando como o foco do jogo político atual a formação do Sistema Brasileiro de Inteligência - em que se opõem os grupos ligados aos criminosos do colarinho branco, Daniel Dantas à frente, e aqueles independentes. 

Vamos ver, no desenrolar da CPI dos Grampos, como se posicionam os grupos políticos em relação ao caso. Vai ficando cada vez mais difícil esconder o posicionamento atrás de posturas moralistas (isso funcionou no caso do suposto "mensalão"). FHC já se posicionou.

Um programa da TV Câmara entrevistou os jornalistas Leandro Fortes (Carta Capital) e Jaílson de Carvalho (O Globo), sobre as investigações da Satiagraha. É o que tem de mais esclarecedor sobre o tema. Por pressão de Gilmar Mendes (defensor da liberdade de imprensa), o site da TV Câmara retirou a entrevista do ar. Mas a pressão da blogosfera (Azenha e CartaCapital), fez com que a TV do Poder Legislativo voltasse atrás na decisão tão inócua quanto burra (veja aqui a entrevista ou então baixe aqui) . Queriam repetir, com essa história de Grampolândia, uma espécie de "Mensalão 2: redux". Se esqueceram de uma coisa - o país mudou desde então... Não colou.

Essa série de artigos, entrevistas e declarações recententes (aliás, que só têm tido a repercussão que tiveram graças aos blogs e ao YouTube) começam a tornar mais nítido o campo do jogo político brasileiro. Às vésperas das eleições de 2010, tal transformação, ainda que tardia e lenta, é muito bem vinda. Embora algumas pessoas ainda tenham receio, por exemplo, o jornalista/enólogo Renato Machado, aqui.

(Em tempo, a entrevista dos dois jornalistas é obrigatória para quem quiser entender o atual cenário político nacional.)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Homenagem ao Prefeito João Paulo


Prefeito João Paulo versão South Park


Em 2004, viajei para a Europa em meados de Julho, onde passaria três meses. Iria perder, portanto, a eleição municipal daquele ano. Queria, no entanto, registrar o meu apoio à reeleição do prefeito João Paulo. Eu havia me envolvido intensamente na sua primeira eleição, quatro anos antes, e tinha muito orgulho disso, diante dos resultados obtidos por sua gestão. Escrevi um texto no qual expunha as razões pelas quais apoiava o prefeito-candidato. O texto, enviado apenas para os amigos e familiares da minha lista de contatos, aos poucos tomou proporções inesperadas. Transformou-se num fenômeno virtual, sendo passado e repassado para inúmeras pessoas. Eu não tinha noção disso, distante que estava no meu périplo europeu. Mas dois amigos me escreveram, àquela época, me contando o que estava ocorrendo.

Ao se concluir a vitoriosa gestão petista na cidade, relembro aqui aquele texto que virou uma corrente viral e que, em alguma medida, acredito ter contribuído para a reeleição tranqüila do prefeito João Paulo Lima e Silva.
Algumas coisas chamam a atenção no processo eleitoral desse ano, que talvez eu comente ao término da disputa. Um ponto é a forma como a internet ainda é subutilisada como meio de propaganda e transmissão de informação política. A TV ainda é o meio predominante e determinante. Outra coisa é como, de 2000 para 2008, as forças opositoras demonstram ter aprendido muito, muito pouco. Resta uma preocupação -- sobrará oposição de fato em Pernambuco, após 2008? Fico devendo essa análise.
Por agora, fica a homenagem aos oito anos do governo João Paulo. Parabéns, prefeito, pelo cumprimento dos compromissos assumidos em 2000.
***

De: E.C. (@hotmail.com)
Enviada:
sexta-feira, 13 de agosto de 2004 3:00:44
Para:
bjurema@hotmail.com


Berna,
Incrível! Chego a conclusão que eu ainda não tinha noção do poder da internet. Tudo bem q eu considerava q era uma grande inovação mas, daí a modificar os rumos da eleição.... Cara, o comentário é que seu artigo está rodando o mundo! Só D. já recebeu 5X, recebi de H., M. entre outros. Todos comentam q foi um texto super bem escrito (parabéns!), que vai repassar, que realmente estava sentindo falta de argumentos etc!!! Em resumo, o seu objetivo foi alcançado e ainda mais: já pensou q vc pode ser o responsável pelo crescimento nas pesquisas?!?!? (Alto poder de convencimento!) Mas estou só mandando este e-mail p dizer q vc esta fazendo falta aqui na campanha! Domingo vai ter a primeira carreata e kd vc??? Estava até pensando em ir de bike como o seu pai... Mas eu nem tenho bike e a da minha mae é daquelas q tem cestinha, hehehehe.
Mande noticias viu????Beijos, E.C.
***

Date: Fri, 3 Sep 2004 18:38:25 -0300
Subject: olá!

e ai, berna! lembrei de tu agora e resolvi mandar um email já que nunca mais nosconversamos, neh! lembrei pq teu texto tah rolando o recife de umaforma fudedora, tah ligado?! só pra dar um exemplo, meu pai e minhamãe já receberam, tiago (meu irmão) já recebeu e um amigo meu, fábio,tb recebeu. o que me dá a impressão de que nenhuma pessoa nessa cidadetenha deixou de recebê-lo. wohooooooo! o caba tá em lille e contribuindo com a campanha desse jeito! hahahahaha. n sei como tu tah informado sobre a campanha, mas tá meio ridículo.cadoca fazendo sua campanha totalmente voltada para a classe média eachando mesmo q tah botando pra fuder. hahahaha. ô mulé, dá uma pena!hehehehe. o massa é passar na rua e ver o limpadores de para-brisa, asbarraquinhas de caldo de cana, os ambulantes, cobradores, catadores delixo... todos exibindo com o maior orgulho um adesivo de joão paulo.fuderoso demais! parece q todo mundo tah fazendo questão de dizer'esse é o cara. a gente n quer trocar n, pq ele eh o cara!'. massademais!
(...)

mas o povo q eh povo tah com joão paulo, e periga de tu nem votar,do jeito que tá. 42% pra joão paulo, 30% pra cadoca e 12% prajoaquim... é, neh! hehehehe. vo nessa, berna. se cuida ai e continua na boa viagem. té mais, p.


***
Quando conceitos deixam de ser slogans eleitorais e se tornam diretrizes políticas de governo

Por: Bernardo Jurema

Na campanha de 2000, as grandes promessas do então candidato João Paulo Lima e Silva eram: a inversão de prioridades, a radicalização da democracia e a melhoria da qualidade de vida da maioria da população. As grandes ações da Prefeitura no decorrer desses últimos quatro anos foram inequivocamente voltadas para a periferia e setores historicamente marginalizados dos processos de desenvolvimento da nossa cidade.

Pela primeira vez, o grande beneficiário do poder público não foram as classes média e alta. As mortes por quedas de barreiras, drama que repetidamente assolava as periferias a cada inverno, foram praticamente extintas através do Programa Guarda-Chuva (http://www.recife.pe.gov.br/especiais/guardachuva/index.html), que institucionalizou a presença constante e sistemática do poder público nos morros durante todo o ano, e não apenas quando chove. A questão de moradia foi finalmente tratada de forma séria e humana, com a retirada da população de condições precárias, como as palafitas de Brasília Teimosa ou da beira do Capibaribe na Torre e na Madalena, assim como os moradores da Ponte do Limoeiro e os das barreiras dos morros. Essas pessoas receberam uma bolsa da PCR para alugar uma moradia provisória, aprenderam uma profissão, construíram a própria casa, recebendo um salário, e foram inclusos nos programas sociais dos governos municipal e federal. Os filhos passam a receber a Bolsa Escola, uma das maiores do Brasil graças ao complemento da administração local, além de receberem farda, sapatos, material escolar. Hoje, 500 mil famílias na cidade são atendidas pelo Programa Saúde da Família (em 2000 eram 93 mil pessoas apenas!). A merenda escolar passou a ser servida também nas férias. Isso se chama inclusão social.

Nunca esta cidade contou com tanta participação popular. Através do Orçamento Participativo (http://www.recife.pe.gov.br/op/), mais de R$ 55 milhões foram aplicados em obras que atendem a pleitos das comunidades, decididas e discutidas por elas mesmas. Esse mecanismo decisório fortalece a sociedade civil organizada, mune os oprimidos de mecanismos de influência na tomada de decisões do poder público, educa a população politicamente e acaba com o paternalismo.

Não significa que a cidade como um todo tenha deixado de ser beneficiada. O Serviço de Atendimento Médico de Urgência – SAMU atende com qualidade toda a população. Também existem agora as Academias da Cidade, que atendem milhares de cidadãos em vários bairros, valorizando o espaço público coletivo, e melhorando a saúde de todos com a orientação de profissionais de medicina, educação física e nutrição. A Praça de Boa Viagem foi revitalizada e organizada; a praça Euclydes da Cunha, projeto de Burle Marx, em frente ao Internacional, teve seu projeto original recuperado; a orla de Boa Viagem agora conta com banheiros públicos de qualidade; a Rua da Aurora vai ganhar uma área de lazer inédita no Centro.

Mas a grande marca dessa gestão é a coragem e a ousadia de se enfrentar interesses poderosos e bastantes arraigados no âmbito do poder público, acostumados a terem suas demandas atendidas. A retirada do Recifolia, acatando um anseio da população de Boa Viagem, apesar da forte pressão de setores da imprensa e do empresariado locais, é prova disso. O disciplinamento da construção civil dos bairros do Derby até Apipucos, impondo limites para conter a especulação imobiliária e o adensamento populacional e a conseqüente deterioração da qualidade de vida da população que vive nesses bairros, foi levado adiante apesar da pressão do setor imobiliário, que queria ver seus interesses privados prevalecerem sobre os interesses do bem-estar da coletividade. A regulamentação do transporte público – o transporte clandestino das kombis desrespeitava direitos elementares da população: idosos e deficientes não entravam gratuitamente, estudante não pagava meia, motoristas e cobradores não tinham direitos trabalhistas básicos, além de causarem transtornos e acidentes no trânsito e não pagarem impostos e multas. No entanto, era uma categoria mobilizada politicamente e nenhum administrador tinha tido a coragem de enfrentá-los. João Paulo teve, incorporando os ex-kombeiros ao transporte complementar, onde os direitos são respeitados e localidades que nunca antes tinham tido o transporte público agora passaram a ter, de forma organizada, planejada e respeitando os direitos dos trabalhadores e usuários do sistema. A inversão do trânsito de Boa Viagem foi uma solução simples, criativa e relativamente barata para o problema crônico e acumulado, e nunca antes enfrentado, dos engarrafamentos da Zona Sul. A administração enfrentou a pressão dos setores mais reacionários, negociou com representantes da sociedade civil, e levou adiante o projeto que hoje conta com amplo apoio, inclusive daqueles que se opuseram à idéia inicialmente.

Tudo isso nos mostra que inversão de prioridades, radicalização da democracia e melhoria da qualidade de vida da maioria da população não são, para essa gestão, meros slogans eleitorais; constituem a diretriz política da atuação dos nossos administradores. Reeleger o Prefeito João Paulo é imprescindível para que este trabalho sério, ousado e sem precedentes se consolide e gere mais frutos para toda a população da nossa cidade.

domingo, 2 de março de 2008

O maior escândalo dos últimos tempos da última semana

No mundo bizarro da visão daqueles que tentam fabricar a narrativa oficial – a despeito da insistência dos fatos em boicotá-la – o que era para ser uma notícia positiva – o aumento da transparência do poder público – se transforma, incrivelmente, no maior escândalo dos últimos tempos da última semana – o caso dos cartões corporativos. Alguns ministérios e governos estaduais passaram incólumes da recente sanha midiática: os que ainda usam formas arcaicas de pagamentos. Outras instituições, como o Congresso, nem se dão ao trabalho de destrinchar e expor ao escrutínio público os seus gastos. Esse, sim, é o verdadeiro escândalo, não? Seria, no mundo real. No mundo bizarro em que habitam a oposição e seus trombones da imprensa, parace que moralidade pública mesmo é o uso das insondáveis verbas de suprimento... Ah, mas não nos iludamos. Esse é o pior escândalo de que se tem notícia... até o próximo – a fabriqueta sensacionalista não pára nunca! A própria efemeridade dos assim chamados “escândalos” indica a fragilidade e o oportunismo. Mas isso, no mundo real, claro.


A tática da oposição parece bizarra, mas só à primeira vista, sob uma ótica lógica (do mundo real). Sob a ótica bizarra que lhe é característica, faz sentido. A oposição conservadora não foi capaz de praticar um oposicionismo inteligente, construtivo, propositivo. Não soube como responder e reagir às políticas acertadas, exitosas do governo petista. Talvez isso tenha sido resultado do fato de que esse cenário de sucesso não fazia parte do horizonte de possibilidades oferecido pela ideologia elitista e preconceituosa, que não via como capaz um homem do povo à frente de um governo popular. Diante da total falta de idéia de como se comportar em face de um bom governo de esquerda, a oposição recorre ao único expediente que lhes parece possível de provocar algum efeito: impedir que o governo leve adiante suas políticas públicas eficientes. Só desse modo a professia se realizará, por fim: o Governo Lula se torna incompetente... tudo bem que por ação explícita da própria oposição! Mas aí a imprensa engajada se encarrega de construir uma narrativa conveniente!


Nesse sentido, os iluminados do quilate de Míriam Leitão têm em 2008 o argumento perfeito, irrefutável: é um ano eleitoral. Logo, toda e qualquer ação será eleitoreira. Qualquer ação do governo, frise-se. E do governo federal. Porque dos governos estaduais de SP e MG e da oposição, não: todas as suas ações são em cristalina e genuina defesa do interesse comum e da moralidade pública, bem entendido! Só o governo, e ninguém mais, é movido por interesses eleitoreiros! Quando Lula lança um programa, é eleitoreiro. Quando a oposição o questiona, não. Quando Lula critica o Judiciário, é antidemocrático. Quando o presidente do TSE critica o Executivo e instiga a oposição, faz parte do jogo. Tudo muito justo, tudo muito equilibrado!


Aliás, o Youtube é uma coisa fantástica por tantas razões. Uma delas é que, num país em que a classe média (mal) instruída e pretensamente culta, e irritantemente arrogante, tão avessa ao debate de idéias e tão intolerante em relação à opinião divergente, abre-se um espaço de vazão que revela de forma clara e inequívoca, desnudada, a visão de mundo de certos setores da sociedade. Veja por exemplo esse comentário do usário de YouTube diogodimambro:


“Quem defende o lula devia calar a boca e pensar mais, ele foi eleito a 1 vez em 2002 por um povo q ja sabia q ele era analfabeto mas confiando nas mintiras q ele prometia o elegeu msm assim! Ele comanda a maioria pobre no brasil dando comida e isso é bom, mas ele fode os pequenos empresários por exemplo que estão constantimente quebrando...ele só quer beneficiar a maioria para se manter na presidência, só quem é otário q num ve, ele fode os autônomos que são uma imensa porcentagem do brasil”


Muito revelador de um determinado modo de ver as coisas. Veja bem, o “problema” do Governo Lula é que por meio da montagem e institucionalização de uma rede de segurança social, esse princípio de Estado do Bem-Estar Social, algo civilizador portanto, ele estaria atendendo aos interesses da maioria da população, o que está na essência da democracia, por mero interesse eleitoreiro! Lendo algo assim, entendo melhor do que se lesse mil análises de algum fodão no Aliás! do Estadão de domingo sobre o porquê de a oposição fazer essa política tão pequena, tão mesquinha: ela representa fielmente a visão de mundo de um setor minoritário, porém expressivo e socialmente mais importante, da sociedade brasileira.


Pena que o debate se dê em nível tão raso. E tão desinformado. Outra coisa que a Internet expõe: como o brasileiro classe-média (que tem acesso à Internet...) é pouco curioso. A internet brasileira não é uma boa fonte de informação, de reflexão e debate. É um ponto de entretenimento, em primeiríssimo lugar. Nem falo do fato de sermos o país emergente de maior gasto per capta com pornografia virtual. Seria normal, se não se restringisse a isso. Pegue, por exemplo, o YouTube. Facilmente você encontrará a abertura do primeiro Jornal Nacional, de 1969. Ou trechos da melhor versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, aquela da Globo lá dos fins dos anos 70, princípios dos 80. Ou Alceu cantando no Cassino do Chacrinha, em 1983. Ou o debate Lula-Collor de 89. Ou, mais recentemente, as maiores gafes e os erros gramaticais cometidos pelo Presidente Lula. Ou uma montagem muito ischperrrta tirando um sarro maneiro da cara do Presidente Lula. Mas... a matéria do Jornal Nacional sobre a discussão entre Lula e Marco Aurélio, por exemplo, eu não consegui encontrar de jeito nenhum! A entrevista com o Embaixador Abdenur na GloboNews, eu nem me dei ao trabalho de procurar no YouTube.


Isso não é um problema intrínseco ao YouTube. O canal público espanhol, assim como a Aljazeera, O NY Times, a CBS... todos têm seus canais no site. Para não mencioanr os posts informais colocados on-line espontaneamente. Os 20 debates das primárias democratas estão todos na íntegra, disponíveis no YouTube. Com um debate plural e heterogêneo – às vezes tosco e raso, outras rico e profícuo – que sempre acompanha os vídeos nos comentários. Trata-se de um reflexo da preguiça mental da classe-média brasileira, que não gosta de ler: folheia a Veja, assiste ao JN e se dar por satisfeita. Não gosta de ler, nem muito menos de pensar (como dizia um professor meu: "pensar dói"). Aceita tudo facilmente: quantos E-mails que vão salvar a vida da menina morrendo de câncer em um hospital longíquo você já recebeu, com aquele indefectível apelo emocionado? É uma caricatura? Talvez. Mas a classe-média é muito caricaturável. Ou como você me explica que ainda tenha quem ache Jô Soares engraçado e sofisticado? (Só porque ele fala francês, cacete!)