sexta-feira, 28 de julho de 2006

A lógica da esmola

A candidata do discurso da pureza na política, do messiânico Psol, a senadora alagoana, Heloísa Helena, tem, a despeito de seu discurso supostamente revolucionário, a sua base eleitoral nas classes A e B. O que, à primeira vista, pareceria um paradóxo, é, na verdade, bastante coerente com o ethos da elite brasileira. Trata-se da lógica da esmola. Eu dou a esmola ao pobre do semáforo, e, assim, cumpro minha missão, eximindo-me de responsabilidade - “fiz a minha parte”, penso, ao ver uma criança de rua, e sigo adiante com a consciência tranqüila. Esse é o raciocínio por trás de boa parte do voto na senadora psolista (a outra parte é formada pelos ingênuos). A nossa elite não participa da vida partidária, não se engaja em movimentos sociais, não busca discutir o país, fortalecer o debate público – nada disso, cada um preocupa-se exclusivamente com o próprio umbigo. Mas vota, ou diz que vai votar, na HH (H de histérica? Histriônica? Hipócrita?), e, assim, exime-se da responsabilidade da situação política do país; e, quando surgir mais um caso de corrupção, pensará, feliz, tranqüilo: “fiz a minha parte; a culpa não é minha”. Tão fácil.

O embate político

Movimentos sociais não criminalizados e livres para manifestarem-se e influirem na elaboração de políticas públicas; ampla liberdade de imprensa e de expressão; vitalidade da vida democrática; o Estado sensível à pressão popular. Esse era o contexto sociopolítico dos anos que se antecederam ao Golpe de 64. E também descreve bem a atual realidade brasileira.

O que mais em comum têm esses dois períodos históricos é o comportamento golpista e antidemocrático dos segmentos sociais conservadores. Agora, matizados pela Imprensa “mainstream” e mimetizados pelas classes médias alienadas ou acríticas. Na nossa democracia meia-boca, assim também o é a nossa liberdade de expressão – só para aqueles que detêm os meios de comunicação, bem entendido.

Portanto, o atual debate político, de fato um monólogo, onde a um só lado é concedido o direito à voz, está ceivado por inverdades, meia-verdades, omissões de verdades e mentiras deslavadas, consoante a conveniência dos interesses econômicos e ideológicos – do patrão, frise-se.

Porque a crer no discurso oficial da “opinião pública”, eufemismo inventado para legitimar as atitudes conservadoras, que consiste antes em “opinião publicada” - aliás, cada vez mais privada, como tanta coisa no Brasil de liberalismo parcial (sempre quando conveniente) –, o Governo Lula é o mais corrupto, o mais incompetente, o mais fisiológico, em suma, o pior que se tem notícia nesse Brasil. Pior para quem? Seria interessante se eles fossem um pouco mais explícitos (desconfio que, ainda assim, a nossa classe média, intelectualmente limitada, não entenderia a mensagem).

Percebe-se que o discurso do nada mudou interessa sobretudo àqueles que mais perderam com as mudanças ocorridas nos últimos anos; o discurso de que não existe mais “direita” e “esquerda” convém... à direita! E a manutenção da rota de transformação, em que se encontra o Brasil, depende da percepção por parte dos setores progressistas e populares dos interesses em jogo.

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Paliteiro

um poema em homenagem a Recife

Eu moro num paliteiro
será assim no mundo inteiro?

Prédio alto é feio
Mas na cidade não tem escolha
Eu moro num paliteiro

Privatizaram o horizonte
e pra ver o pôr do sol
tenho que viver pendurado
lá no décimo-primeiro

Eu moro num paliteiro
onde moram meus amigos,
meus colegas, minha família
e os pais e os pais dos pais

Eu moro num paliteiro
onde os palitos são feios, e iguais

Eu moro num paliteiro
será assim no mundo inteiro?


--

eu ainda hesitei antes de postar, digo isso em meu crédito!

(21:42:03) bui: hahahaha
(21:42:06) bui: ta meio mamao mesmo
(21:42:11) b j: hahaha
(21:42:12) b j: é
(21:42:16) b j: mas eu vou postar assim mesmo
(21:42:21) b j: foi espontaneo
(21:42:28) b j: voltei um dia do remo com isso na cabeca

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Em briga de marido e mulher ...

Tomar posição a respeito de eventos que não conhecemos a fundo é arriscado e, muitas vezes, nos leva a posicionamentos injustos. Não é à toa que aquele ditado popular nos aconselha a mantermos a colher longe dos conflitos matrimoniais.

Parece ser fácil, e é esse o padrão, sobretudo, daqueles que se consideram do campo progressista, acusar Israel pela maneira violenta como costuma atuar em sua vizinhança. É também lugar-comum, talvez não sem razão, qualificar essas ações de contraproducentes. O que falta a essas análises, muitas vezes motivadas pelos mais louváveis valores humanísticos, é a compreensão da complexidade do conflito. Pra começar, são dois povos com milênios de história conflituosa. De um lado, um país arrodeado de inimigos mordazes que negam seu próprio direito à existência; de outro, povos oprimidos, por elites domésticas e pelos exageros estrangeiros, que terminam por legitimar o discurso - e a prática - anti-semita.

Além de difícil de entender uma realidade complexa, a cobertura da Imprensa, sobretudo a brasileira, não ajuda. A julgar pela TV no Brasil, é mais uma guerra do Oriente Médio. Só na CNN, tem-se uma idéia mais clara da dimensão do conflito.

Quem quiser entender um pouco sobre o que está ocorrendo, recomendo a leitura de um artigo muito longo, mas muito bem escrito, publicado em 2002 na revista The New Yorker, sobre o Hezbollah. Para quem acompanha de perto essa parte do mundo, a atual guerra e suas proporções não devem surpreender. Nesse texto, o autor descreve seu encontro com autoridades do Hezbollah, os objetivos do movimento, seus métodos de ação, quem o financia - e por quê - e o que ele representa em termos de segurança nacional e de geopolítica para Israel. Como diz um general israelense no artigo: "It's not tenable for us to have a jihadist organization on our border with the capability of destroying Israel's main oil refinery." E completa, de forma bastante premonitória: "This is the Hezbollah tail wagging the Syrian dog. As far as I'm concerned, Hezbollah is part of the Lebanese and Syrian forces. Syria will pay the price. I'm not saying when or where. But it will be severe."

O texto, que tem duas partes (parte um e parte dois), é muito explicativo, e fundamental para quem quiser entender essa guerra que se desdobra e cujos efeitos são difíceis de prever.

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Em prol do banho frio


Tem me chamado a atenção a surpresa que causo nas pessoas quando lhes digo que tomo banho frio diariamente (inclusive depois da pelada semanal, após a meia-noite). O pior é que fica parecendo que sou masoquista, e que isso se trata de alguma espécie de provação. Que fique claro: eu gosto de tomar banho frio, porra!


Listo abaixo alguns argumentos, à medida que me vêm à mente, sem nenhum embasamento teórico-científico, baseado meramente na experiência empírica:

  • tomar banho frio é saudável, melhora a circulação e, ao espalhar o sangue pelo corpo, é bom antes de dormir (atividade que tende à concentração do sangue). Ok, conversei com um tio que é médico sobre esse tópico;

  • banho quente NÃO é uma necessidade biológica; ou seja, você NÃO vai morrer nem ter um treco se tomar banho frio. Banho quente é um HÁBITO que pode, como todo costume, ser mudado: é só você querer, já diria Duda Mendonça;

  • banho frio é econômico, pois o chuveiro elétrico é um dos maiores consumidores de energia doméstica;

  • banho frio é ecológico. Quando houver novo apagão, minha responsabilidade é mínima, vou logo avisando. Afinal, meu consumo médio mensal de 40 kWh é bastante razoável. Isso diminui consideravelmente meu “ecological footprint”!

  • ao não banalizar o banho quente, certamente eu, quando tomo, curto MUITO mais do que aqueles que tomam diariamente, exageradamente;

  • nada cura melhor ressaca ou gripe e não há método mais eficaz para despertar de manhã cedo;

  • É uma delícia.

Estilos de vida

Um diálogo recente entre eu (em Brasília) e Gabi (em Berlim), sobre culinária para o "pequeno orçamento e o pouco equipamento" (aliás, este é o título de um livrinho que eu comprei na França que eu achei que me seria útil, mas o meu orçamento e o meu equipamento eram ainda menores do que os autores previram, já que meu equipamento era apenas o microondas!).


(20:14:36) b j: vou nessa preparar algo pra jantar - isso sim é que é trash! hahaha
(20:14:48) b j: amanha procuro por vcs on-line
(20:15:00) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: tenho receitas deliciosas p singles
(20:15:10) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: posso te mandar algumas
(20:15:10) b j: eita! tens que me mandar!
(20:15:18) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: simples e praticas
(20:15:20) b j: de preferência que seja de microondas
(20:15:24) b j: (nao tenho forno!)
(20:15:30) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: aih tu me fode
(20:15:32) b j: hahahaha
(20:15:43) b j: po... te aviso entao quando eu arrumar um
(20:15:50) b j: agora vou comer hamburguer
(20:16:03) b j: (pao, hamburguer, catchup!)
(20:16:14) b j: e guaraná (mais saudável do que coca né?)
(20:16:41) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: creeeeedo
(20:16:45) b j: hehhe
(20:16:47) b j: gostasse nao?
(20:16:55) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: tem fogao. pelo menos?
(20:16:57) b j: ah, pra tu seria coca no lugar do guaraná
(20:17:03) b j: micro-ondas é o rei
(20:17:10) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: cebola e tal
(20:17:38) b j: dá trabalho, suja muito, e iria aumentar as coisas que eu tenho que carregar do supermercado pra casa.
(20:17:44) b j: i have to keep it simple
(20:18:24) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: creeeeeedo
(20:19:12) b j: eita que escandalo
(20:19:16) b j: né tao ruim assim nao
(20:19:20) b j: e é super prático
(20:19:48) b j: preferiria que já viesse a carne no pao no saquinho, pra ser ainda mais rapido.
(20:19:57) b j: alias, deveria patentear essa ideia
(20:20:29) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: hahahha
(20:20:45) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: aqui isso eh vendido em todos os supery
(20:20:51) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: supers
(20:20:56) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: mercado
(20:21:04) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: verstanden?
(20:21:40) b j: sério?!
(20:21:44) b j: sabia
(20:21:50) b j: isso é coisa de primeiro mundo
(20:22:18) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: hahaha
(20:22:28) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: issso eh coisa de preguicoso
(20:22:39) b j: isso é coisa de qum nao tem empregada nem fogao
(20:23:06) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: hahaha
(20:23:12) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: oia vou dormir
(20:24:14) b j: blz
(20:24:18) b j: amanha a gente se fala!
(20:24:23) b j: gutten nacht!
(20:24:30) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: blz
(20:24:35) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: ateh amanah
(20:24:47) Guardem pelo menos um milho assado p mim...: gute nacht!

sexta-feira, 14 de julho de 2006

Entre um bico (do peito?) e outro, antropólogas fazem música

A Backing Ballcats Barbis Vocals faz um dos shows mais divertidos no Recife atualmente (apenas comparados às apresentações da Le bustier en décadence). Quem não conhece a banda ainda, tem uma oportunidade de ver o novo clipe da música "Rê Bordosa", enquanto o Youtube permitir (o que, em função do conteúdo, não deve ser por muito tempo). As músicas da banda são divertidas, originais e greiantes, como fica claro nesse vídeo. O clipe, aliás, foi produzido pela Símios, outro grupo de jovens recifenses que têm feito muita coisa legal recentemente (veja outros vídeos deles aqui). Vale acrescentar que as vocalistas das Barbis são, quase todas, colegas minhas de faculdade - o que diz muito sobre mercado de trabalho de sociólogos e antropólogos!



quinta-feira, 13 de julho de 2006

A Copa da PUMA




A Puma sagrou-se campeã com a Itália derrotando a Adidas, patrocinadora oficial do evento. Ambas as empresas alemãs e, curiosamente, da mesma família: Dassler. Os irmãos Dassler brigaram na época do governo nazista e cada um seguiu seu rumo.


A Puma dominou a Copa do Mundo 2006. Foi quem mais forneceu material esportivo para seleções desta Copa, apresentou os desenhos mais inovadores com uma grande visibilidade à marca: o Puma estava estampado na parte frontal da camisa, bem como nos ombros o que permitia ser visto de vários ângulos, de todas as câmeras. Para mim, a Puma ainda fez o uniforme mais bonito desta Copa: o da seleção de Costa do Marfim.


A Adidas teve o segundo e o terceiro colocado, vestiu os árbitros e teve a bola, personagem de grande visibilidade nesta Copa. No entanto, apesar de todo o investimento, não conseguiu estar totalmente associada ao mundial nos olhos dos telespectadores.


A Nike, por outro lado, ficou em quarto lugar na Copa com a inesperada seleção de Portugal. Apostou suas fichas na equipe que mais desapontou nesta Copa, a brasileira, e teve suas expectativas de maior visibilidade frustradas. Entretanto, curiosamente, uma pesquisa indica que a Nike foi a empresa de material esportivo mais associada à Copa pelos torcedores.


Particularmente, a Puma continua tendo ganhado mais com esta Copa. Levou o título, levou o maior número de equipes, fez os melhores desenhos, firma-se como uma grande marca do meio futebol. Em 2008, na Eurocopa sediada por Áustria e Suíça, a Puma vestirá a campeã mundial e as seleções dos dois países-sede. Em 2010, na Copa da África do Sul, a Puma voltará a vestir a atual campeã mundial e, dependendo de como renovar seus contratos, poderá vestir a maior parte das seleções do continente africano. Enfim, a Copa foi da Puma. Do irmão Dassler que apoio o governo nazista.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Tenho pensado por aí ...

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Na semana passada, assisti a primeira temporada de "Desperate Housewives". Este seriado fez muito sucesso nos Estados Unidos - até Laura Bush declarou que assistia o programa. Estava curioso.

A fama é merecida, e a qualidade do programa - muito bem feito tecnicamente - comprova a boa fase da TV americana, que tem apresentado programas extremamente criativos e inovadores, principalmente na narrativa. "A sete palmos", "Família Soprano", "Lost" são todos parte dessa tendência.

A narrativa desse programa lembra "Memórias póstumas de Brás Cubas", pois é uma defunta que nos conta a história. O enredo se passa em "Suburbia", um típico subúrbio da Costa Leste americana. A história gira em torno de quatro donas-de-casa (Susan, Bree, Gabrielle e Lynnette) e suas respectivas família - e aqui se encontra seu ponto mais forte e o mais fraco. O ponto fraco: Susan, mãe solteira e solitária mais imatura do que a filha. Já vimos isso antes, e bem melhor, em "Gilmore Girls" (aliás, outro excelente seriado). O ponto forte: Bree, republicana, membro da NRA, tradicionalista, às voltas com problemas familiares (o marido sadomasoquista, o filho que sai do armário, a filha de 16 anos que usa camisinha), nos oferece momentos impagáveis. Permeando a história das quatro personagens centrais, como fio condutor, está o suicídio de uma vizinha. Sempre com um humor negro sutil.

A diversidade das personagens permite ironias e piadas em torno do estilo de vida dos subúrbios americanos. Longe de ser um programa de comédia, stricto sensu, trata-se de uma espécie de novela muito bem feita, com produção cuidadosa, que vai da abertura bonita, à música-tema legal, de Danny Elfman (o mesmo de "Nightmare before Christmas"), ao elenco competente e os diálagos bem escritos. Eu resumiria como "Sex and the City - with a life".



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O país parou para o futebol. E o futebol do país parou. Numa deturpação da lógica, explicou-se por aí que a tristeza nacional provocada pela atuação patética da Seleção brasileira é decorrente do fato de que o futebol é a única fonte de orgulho da população. E agora, que triste!, nem disso podemos nos orgulhar.

Historicamente, o povo brasileiro não se mobiliza em torno de causas, principalmente se forem positivas. Alguns setores organizados, principalmente a partir da redemocratização de princípios da década de 80, obtiveram êxito em organizar-se para defender seus interesses. O fenômeno, no entanto, é limitado ao funcionalismo público (sindicatos) e alguns outros poucos grupos da sociedade (donas de casa, movimento de sem-terra), ou é geograficamente localizado (Acre, Rio Grande do Sul, São Paulo). Temos poucos movimentos em torno de causas - a sociedade brasileira, como um todo, ainda é incapaz de se mobilizar em prol de alguma coisa. Com a devida exceção do time de futebol.

Ainda que alguns grupos saibam, muito bem, reivindicar, em geral isso se dá de forma negativa: por exemplo, quando sindicatos lutam ferrenhamente para manter privilégios. Enquanto a maioria desprotegida não tem voz. Outro caso emblemático foi quando o Governo Lula pôs em pauta a Ancinav, que iria deselitizar e descentralizar as verbas do Ministério de Cultura. Enquanto aqueles setores prejudicados (os grande conglomerados de comunicação do eixo Rio-São Paulo) não hesitaram em protestar agressivamente contra esse projeto "stalinista", a maioria difusa que seria beneficiada direta ou indiretamente não se mobilizou para garantir a mudança. A imprensa, ao reverberar a tal "crise política" de 2005, demonstrou indignação com o fato de que alguns deputados federais não tenham sido cassados (como se isso fosse resolver qualquer coisa), mas aceitou mansamente o absurdo de que a reforma política não tenha sido sequer posta em votação no Congresso Nacional (este sim, o verdadeiro escândalo).

Como país, ainda somos incapazes de nos organizar em torno de uma agenda propostiva. A única ocasião em que todos os brasileiros se unem e vestem, literalmente, a mesma camisa é a Copa do Mundo. Isso não é bonito, romântico nem pitoresco. Isso é ridículo e triste, e é um dos fatores que explicam o nosso "belo quadro social".

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Chega de Parreira!


Fiquei chateado com a desclassificação da Argentina. Time raçudo, que marca, corre, avança... mas com o Brasil de Parreira eu tive minha cota de irritação na segunda partida da primeira fase, contra a Austrália. Vi ali que estávamos sem liderança dentro e fora das quatro linhas. Parreira, líder de fora, mostrou-se um tremendo covarde; Cafu, líder no campo, mostrou que sua liderança não foi construída e, sim, imposta, pois ele é nulo dentro de campo e não energiza ninguém... mas isso não é culpa de Cafu. A culpa é de quem o nomeia.
Sim, Parreira é o maior culpado pela campanha desta equipe. Zagallo, coitado, empalhado no banco de reservas, foi assistir essa copa num assento privilegiado: à beira do campo. Para a Copa de 1994, quando o único talento era Romário, Parreira talvez fosse o técnico mais indicado. Ele e seu futebol de resultado onde show é ganhar. Mas nesta Copa, com a quantidade de talentos que tínhamos à disposição, o técnico da seleção foi muito incompetente: conseguiu tornar medíocre um grupo cheio de talentos excepcionais. Tem que ser muito ruim para conseguir isso!
Parreira conseguiu essa façanha por alguns motivos, dentre eles:
  1. Parreira não soube renovar a seleção.
  2. Ele deu cadeira cativa a atletas que não mais eram os melhores em suas posições (Cafu, Roberto Carlos, Emerson);
  3. ele usou atletas fora de suas posições de origem, queimando esses jogadores (Ronaldinho Gaúcho);
  4. ele adota discursos conservadores ao invés de, com coragem, deixar seu time à vontade para jogar bola;
  5. ele não sabe mudar a equipe na hora certa, promovendo mudanças tardias e incapazes de surtir efeitos;
O jogo contra a França foi bonito. Pela segunda vez na Copa, a França jogou com raça e sob a regência de Zidane, que chamou para si a responsabilidade e, friamente, fez o que esperávamos de Ronaldinho Gaúcho: deu show de solidariedade, de dribles e precisão. Foi bonito ver Parreira preocupado, olhando o relógio e vendo naufragar sua máxima de Show é Ganhar. Show, Zidane mostrou a ele o que é que é.
Ver a consagração do estilo Parreira de futebol, para mim, que gosto de ver futebol, seria uma tristeza... significaria, talvez, mais quatro anos de Parreira no comando da seleção. Parreira começou o jogo com uma escalação que muitos desejavam: aproveitando Juninho no meio e adiantando Ronaldinho. Mas nunca sob seu comando, aquela equipe jogou junta... acho normal que ficassem meio perdidos. Deveriam ter jogado assim desde o início da Copa! Se Parreira só se deu conta que aquela formação era ideal no jogo contra a França, então ele é um jumento que não conhece seus jogadores. Como não é jumento, é, apenas, um covarde e decidiu colocar em campo uma formação que ele sequer acreditava, mas que estava na boca de todos. É um frouxo!
Aos 20 minutos do 2º tempo ele fez algo realmente inédito: tirou Cafu e colocou Cicinho. Por que ele só fez isso neste jogo e aos 20 do 2º? Porque é um covarde, e tinha que entrar com Cicinho desde o início da Copa... como não o tinha feito, entrou para na última hora para tentar salvar a merda que sua covardia havia provocado.
Faltando 10 minutos para o fim, precisando de vida ofensiva, ele coloca Robinho. Ele só percebeu que o ataque estava mal faltando 10 minutos para o fim? Nem chutamos a gol e ele achava que estava tranquilo? Por que esperou tanto? Porque é medroso e hesitante, e achava que do jeito que estava podia ser que acontecesse algo.
Tomamos um gol por culpa direta de Roberto Carlos que já não estava bem na partida (e que não esteve bem em nenhuma das partidas anteriores!). Por que ele não substituiu o jogador? Porque é um covarde medroso e não mexeria em um de seus cativos na lateral esquerda.
Foi bom termos perdido para França. Primeiro porque fomos infinitamente pior do que a França. Mas também porque o Brasil, pela qualidade de seus atletas, não mereceria legitimar o estilo de jogo e de liderança de Parreira. Foi bom porque, assim, o povo se une a favor de uma mudança de comando. Foi bom, também, porque é importante, para o bem do futebol, que haja uma alternância de poder, afinal de contas, desde 1994 que o Brasil está nas finais de Copas do Mundo.
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As bandeirinhas começam a desaparecer... temos que pensar numa forma de redirecionar o orgulho geral que sentimos do Brasil por meio do futebol para outros canais. Política é um deles. É preciso ter tesão para refundar a cultura ideológica no Brasil. Para isso, eu, você, todos, temos que acreditar num futuro, conhecer nossos candidatos e votar para mudar. Mudar o Congresso, mudar nossa cultura do jeitinho, do tudo pode ser.
Enfim, nosso patriotismo, nosso orgulho de ser brasileiro com muito amor, deve começar por nossa própria conscientização do que fazer para iniciar um processo de refundação de nosso patriotismo. Vamos valorizar a política, porque por meio dela conhecemos e avalliamos aqueles que nos representam; vamos dar valor ao que é nosso... ruas, praias, praças, ônibus... e manter tudo isso de forma impecável de modo que tenhamos orgulho e, sobretudo, vontade de usar o transporte público. Vamos agir de forma solidária com os demais, sendo diferenciados no tratamento de co-cidadãos! E que futebol e Seleção Brasileira sejam parte de uma indústria de entretenimento forte, junto ao cinema nacional, à música, ao teatro.
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Cantar a Marseillaise antes do jogo deve ser uma grande motivação! Não sei decorado, mas quando ouço, sinto uma energia pesada. Acho que o francês sai em vantagem depois de ouvir seu hino pela instigação que ele provoca.
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Embora não tenha feito um bom jogo, foi emocionante ver Juninho chorando durante o hino nacional brasileiro. Pena que não foi seu dia. Mas deu para sentir o orgulho dele de estar naquele grupo...
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No meu bolão, coloquei a Itália em primeiro e Portugal em terceiro... Ainda estou no jogo!
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Cafu está triste porque não conseguiu bater recorde nenhum ou porque foi desclassificado? Ronaldo, pelo menos, conseguiu fazer seus gols antes da desclassificação... Seria bom se daqui para o final da Copa, Klose, da Alemanha, fizesse uns seis gols e quebrasse o recorde de Ronaldo. Nem título, nem recorde para ninguém no Brasil!