quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ho ho ho é o caralho

Nesse Papai Noel aí, eu acredito!


Eu nunca engoli bem esse negócio de Natal. Desde pequeno. Lembro-me de uma árvore que, na terceira série, eu e meus coleguinhas tivemos que decorar para a data festiva:


-- Tia Rejane, por que algodão?



-- É neve.

Como assim?! Que porra é neve? Como, se aqui está fazendo 30 graus! E pelo que aprendi no Catecismo, não havia neve nem pinheiros na terra de Jesus.


Muito provavelmente, eu não elaborei todos esses sofisticados questionamentos naquele momento, aos oito anos de idade. Mas o estranhamento, sim, já estava lá.


Todo esse espírito natalino, no Brasil em geral, e no Nordeste em particular, é totalmente descontextualizado, fora de lugar – é falso, artificial.


Neve, pinheiro, renas, trenós, chaminés, “jingle bells”... nada disso nos diz respeito, nada disso nos pertence, nada disso nos é original e por isso é tudo tão inadequado. Por que temos que macaquear o que vem de fora? Que vergonha é essa de nos assumirmos? Que tipo de colonização mental revela esse comportamento mimético acrítico? O mais lamentável é que não é por falta de matéria-prima. No Brasil-real, as classes populares têm os autos natalinos – como o cavalo marinho, o pastoril...


Tome Papai Noel. Ele não faz parte do imaginário popular (não fazia; agora, até faz); e, para que fizesse, seria necessário uma nova idumentária condizente com a nossa terra, para início de conversa! Uma crítica construtiva:



Aliás, todo o “clima natalino” precisaria passar por um banho de loja, para se adequar. Tudo isso para não mencionar que o significado real da festa – o nascimento de Jesus – se perde (embora isso não ocorra nos autos natalinos populares!) em detrimento do aspecto meramente comercial, consumista – apesar e a despeito de toda a retórica paz e amor tão comum.


Essa história toda apenas comprova um dos traços marcantes da sociedade brasileira – ou, pelo menos, daquele setor “que conta”, o Brasil-oficial: a hipocrisia. Como sempre, não se assume o discurso verdadeiro, escondendo-o por trás de uma retórica “bacana”. Nem nos assumimos como consumistas – como os americanos, por exemplo; nem nos reconhecemos como cristãos praticantes – a exemplo dos muçulmanos que realizam o Rajj, agora. Usamos a retórica cristã para vender...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Corvos e espantalhos

Assim como o espantalho do filme, a oposição precisa urgentemente de um cérebro.


No segundo Governo Vargas, o democrático, a política nacionalista imperou. Se hoje temos o maior parque industrial da América Latina e somos auto-suficientes em petróleo, muito se deve à determinação do Presidente Vargas. Não obstante, àquela época seu governo estava longe de ser unanimidade – a UDN liderava agressiva e intransigente oposição; corrupção era a principal acusação.


JK aprofundou a industrialização nacional (ainda que aliada ao capital internacional); Jango expandiu e diversificou nossas relações comerciais com o mundo e incluiu novos setores sociais no processo político. A oposição conservadora, numa sistemática campanha desestabilizadora contra esses governos progressistas, fazia do combate à corrupção sua principal bandeira.


Novamente, testemunhamos hoje os setores conservadores recorrerem à mesma tática de outrora, pondo em evidência sua inequívoca genealogia udenista. O espantalho da corrupção é levantado, ocultando-se a real agenda, para opor-se a um governo inequivocamente progressista. A quem interessa, por exemplo, que ao invés de discutir-se políticas públicas, os jornais tratem de terceiro mandato?


Faz parte do jogo. Surpreende, no entanto, que setores da própria esquerda brasileira sirvam de linha auxiliar da direita nessa estratégia tão velha. Seja por má-fé – como no caso de Roberto Freire e seu partido –, seja por ingenuidade política e falta de senso histórico e prático – caso do Psol –, ou, ainda, por puro radicalismo – MST e quetais.


Fazer dessa questão a principal bandeira, como vêm fazendo a oposição conservadora PFL/PSDB e seus prepostos (PPS, Psol), é política miúda, imediatista. É falta de perspectiva histórica porque atribui-se demasiada importância a pessoas, não levando em conta as forças profundas do processo histórico – o avanço gradual das instituições republicanas como reflexo do avanço sócio-cultural da própria sociedade brasileira.


O discurso moralista anti-corrupção, que visa tirar a legitimidade da opinião oposta, despolitizando o debate, busca, em verdade, dissimular o embate político latente, tornando a “corrupção” ou a “moralidade” meros instrumentos de luta partidária contra a situação dominante. Será isso por falta de discurso ou falta de vontade de que este seja revelado? A oposição conservadora se mostra, agindo dessa forma, atávica e sem cérebro.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Oposições

Esse lance da não aprovação da CPMF foi um golpe baixo da oposição, que colocou interesses partidários à frente dos nacionais. Ainda que o Governo precise defender-se melhor: o que os conservadores chamam de "gastos" a serem reduzidos, eu considero "investimentos sociais" inadiáveis. Me fez lembrar dois texto que escrevi no ano passado, onde diferenciava a oposição conservadora ao Governo Lula da oposição progressista sofrida pelo Governo FHC. Vale a pena ver de novo, permanecem pertinentes. Os números da economia e da popularidade do governo falam por si só e explicam melhor que qualquer análise o ímpeto radical da oposição de direita. Não funcionou no primeiro mandato; será que funcionará agora?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Em defesa do Congresso Nacional

Falar mal de político é tão fácil quanto jogar peteca: é só dar um tapa


O esporte predileto dos analistas políticos, estejam eles nas páginas de jornais ou nas mesas de bar... ou em blogues!, é meter o cacete nos nossos parlamentares. Jogo fácil, até covarde. É como jogar peteca. Duro é ter uma visão menos maniqueísta dos fatos.


O Congresso Nacional é um espaço fantástico de expressão democrática. Plural, ainda que majoritariamente conservador, ele reflete muito o nosso povo. Me preocupam as reações manifestadas por certos setores da sociedade sempre que as decisões ali tomadas não satisfazem aos seus interesses ou visões de mundo. O que determina o grau de legitimidade das instituições não é o resultado final obtido, mas que o devido processo tenha sido respeitado. Trata-se de uma visão autoritária aquela que vê como ilegítimo um resultado apenas porque este não lhe satisfaz.


Boa parte das críticas feitas ao CN parecem revelar, subjacente, um viés autoritário, um certo temor à democracia – medo de povo, que, por meio do voto direto e secreto, e em geral legítimo, escolheu estes que aí estão para os representarem. Digo isso para defender uma instituição de cuja linha ideológica preponderante entre seus membros eu discordo frontalmente.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Se eu fosse um juiz em Brasília...



É permitido proibir, se você for um juiz em Brasília! Mas, e mijar, pode?!


E se cada cidadão pudesse afixar placas proibitivas em locais públicos, a seu bel-prazer, a fim de inibir atitudes ou comportamentos tidos como indesejáveis?


Se fôssemos todos um juiz de Brasília, assim seria a realidade. Placas por todos os cantos, contra tudo. Num shopping da cidade (o Pier 21), num pátio externo, o corajoso juiz insurgiu-se contra um fumante, que estaria baforando em sua cara. O estimado juiz obrigou o shopping em questão a instalar placas – ostensivamente espalhadas – na área ao ar livre. São placas hostis, agigantadas, com ilustrações enormes e letras garrafais. Mesmo em horário de pouco movimento e, portanto, amplos espaços vazios, acender um cigarrinho ali é, certamente, um constrangimento.


Voltando ao início dessas linhas... e se cada um de nós pudesse sair por aí, a torto e a direito, ditanto o que os outros podem ou – sobretudo! – não podem fazer! Meu palpite é que não iria sobrar comportamento algum aceito. Além de tornar o ambiente público visualmente poluído (chamem o Kassab!). Eu mesmo teria uma lista de coisas que me incomodam! Ah, se eu fosse um juiz de Brasília...


Pensando bem, se eu fosse um juiz de Brasília, iria mandar pôr apenas uma placa – uma só e bastaria: “proibido babacas”. Pronto. De uma só tacada, resolvia tudo. Nem o babaca do fumante desrespeitoso que ignora o bem-estar coletivo e o direito alheio a não inalar fumaça, nem o babaca do juiz que encarna o que há de mais atrasado da tradição patriarcal brasielira, achando que o espaço público é extensão do seu tribunal. Que se vayan todos los babacas!