terça-feira, 26 de setembro de 2006

Não são todos iguais

Ontem eu fui para a reunião dos fiscais do PT. Lá, recebemos orientação do que esperar nas zonas eleitorais e quais os procedimentos que devemos tomar. Além disso, aprendi um pouco de história recente do Brasil. Mais especificamente, de Brasília.

Em 2002, Joaquim Roriz, atual candidato a senador pelo Distrito Federal, e virtualmente eleito, foi reeleito no segundo turno por uma margem mínima. Alguns dos acontecimentos comuns naquele ano: PMs armados, nos locais de votação, pedindo voto para Roriz; os fiscais de Roriz eram pagos e recebiam vale transporte do Governo do Distrito Federal, além de lanche preparado pelas cozinheiras das escolas públicas; ao final da votação, alguns mesários iriam digitar votações favoráveis a Roriz, quando não havia fiscais do PT por perto (como somos voluntários, há uma escassez de fiscais). Se eu não fosse a essa reunião, nunca tomaria conhecimento disso. Mas imaginem só se fosse feito por alguém do PT! Era mais uma crise.

Enquanto alguns jornalistas escrevem artigos arlamistas, preocupados com meteoros que possam cair na Terra, se esquecem da destruição cotidiana e impune. Queria ver Paulo Henrique Amorim falando dessas infrações, perpretadas por políticos com bons amigos no Judiciário, e que mudam resultados eleitorais (como aqui no DF em 2002), ao invés de se preocupar com algo hipotético. Enquanto setores da esquerda e da classe média, que se deixam levar pelo clima inquisitório imposto pelos grandes meios de comunicação, pautados pela oposição conservadora, e acham que "são todos iguais" e vota na direita, essas coisas continuam acontecendo.

Ainda que o PT de São Paulo venha demonstrando ter nos seus quadros verdadeiras almas sebosas, o fato é que na maioria dos estados o PT ainda é a força política mais séria e mais comprometida com os movimentos sociais e com políticas populares inclusivas e progressistas. Você não ouvirá histórias de compra de votos por deputados petistas, nem de fraudes nas zonas eleitorais. E, dos grandes partidos, apenas o PT tem fiscais voluntários - como eu. (Depois de domingo direi como foi a experiência).


Bom x Ótimo

Nada mais verdade do que o ditado que diz "o ótimo é inimigo do bom". O melhor exemplo histórico recente é a França, nas últimas eleições presidenciais. O Governo do Primeiro-ministro socialista Lionel Jospin era bem avaliado e tinha posto em prática algumas políticas esquerdistas, além de ter proporcionado crescimento econômico no país. Mas, nas eleições para presidente, a esquerda dividiu-se, porque não achava o Governo Jospin "bom o suficiente". Resultado: Jospin não foi para o segundo turno, que foi disputado entre o conservador Chirac e o ultra-conservador Le Pen. E a esquerda votou em massa no primeiro. Ao invés de setores da esquerda brasileira se inspirarem no maluco do Chávez, seria interessante que observassem o caso francês, e pensassem duas vezes antes de votar na Heloísa Helena e, assim, empurrar as eleições para um segundo turno nada garantido para a reeleição do Presidente Lula, o nosso Jospin, contra o nosso Chirac (até fisicamente se parecem!).

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Lobão no Faustão, 1989


domingo, 24 de setembro de 2006

Apertem os cintos!

Uma coisa é fato - a tendência das últimas pesquisas de todos os institutos é crescimento "lento, seguro e gradual" (pra citar uma expressão cara à nossa oposição!) e oscilações sucessivas pra baixo do Presidente Lula.

Daqui para o final, não devemos esperar refresco nem da oposicação (o que é normal) nem da imprensa (o que é escandaloso). A menos que um fato novo (este velho caramada que apareceu pra nos atemorizar, a nós petistas) surja contra a campanha dos conservadores, a impressão que eu tenho é que estamos indo na direção de um segundo turno. As pesquisas da semana que vem é que melhor irão refletir se a subida de Alkmin e a queda de Lula foram uma coisa do momento ou uma tendência. Mas aviso logo - apertem o cinto, que tudo indica que teremos umas semanas a mais de sofrimento... tudo por causa de paquidermes do PT-SP. (O lado bom disso tudo é que PT-SP deverá passar longe do segundo governo Lula).


O melô de Lula 2006


"Apesar do PT, amanhã há de ser outro dia"

(hahahha)

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Por uma análise equilibrada

Eu estava errado, como agora está claro. Não houve complô algum contra o PT. Há, sim, uma exploração da oposição (que cumpre, naturalmente, seu papel de oposição), por sua vez reverberada pela Imprensa (que cumpre seu papel de porta-voz da oposição) - dá-se a tentativa de generalizar-se esse crime a todo o PT e ligá-lo diretamente ao Presidente Lula.

Talvez o analista mais sensato e equilibrado na imprensa brasileira hoje seja Luís Nassif. Isso ficou claro em dois momentos recentes quando a maioria dos jornalistas tomava posições apaixonadas (o caso da Bolívia e o da Varig). Nassif sempre manteve a frieza. O blog Luis Nassif Online é sem sombra de dúvida uma excelente fonte de informação. Coloco, abaixo, o texto em que ele analisa esse escândalo. Muito bom. Não consegui mudar a cor do texto. Ou vão diretamente à página (link acima), ou então selecionem o texto com o mouse e ele ficará branco e legível... Vale a pena ler.


20/09/2006

O dossiê e as batalhas do PT

Para entender o caso da compra de dossiê, é preciso analisar dois tipos de conflito político atuais. Um deles é a disputa entre o PT e o PSDB. O outro, a disputa entre a ala paulista do PT e a ala nacional. O terceiro ponto, é entender o estilo político de Lula.

Comecemos pelo terceiro. Lula e Fernando Henrique Cardoso são irmãos siameses na arte de administrar conflitos e tendências em seus partidos ou no governo. Não tomam posição. Tentam ficar por cima das paixões, e interpretar os rumos do vento. Só quando clareia o horizonte, ou os ventos se transformam em furacões, é que assumem posições.

Muitas vezes essa incapacidade de decidir foi confundida com fraqueza, tanto em FHC quanto em Lula. Não é fraqueza, é estilo político.

Vamos ao segundo ponto: as disputas entre facções do PT. O partido é um arquipélago que se divide não apenas entre tendências, mas entre regiões que, não raras vezes subdividem-se em várias tendências.

Entre as tendências horizontais (nacionais), há a ala sindicalista, que junta militantes de São Bernardo, Campinas, o pessoal mais próximo a Lula, de Jacó Bittar e Zeca do PT a Luiz Marinho. Há a ala Dirceu, que tornou-se majoritária no Diretório Nacional depois de fincar bases no PT paulista. Na ala paulista, há uma franca divisão entre Aluízio Mercadante (tem projeção nacional, mas não tem quadros) e a militância que se formou em torno de Martha Suplicy, coordenada por Rui Falcão – originalmente do grupo de Dirceu mas que, depois, tentou ganhar luz própria. Agora, na crise, devem se reaproximar de novo. Nessas duas tendências –a sindical e a “dircelista” pontificam quadros paulistas

Mas há diversas tendências regionais, até agora pouco articuladas, e que não se meteram nas trapalhadas do “mensalão” e companhia. São quadros como os mineiros Pimentel, Dulci e Patrus, os gaúchos Tarso, Dilma, o nortista Jorge Vianna, o nordestino Marcelo Dedá.

A ala paulista começou a se perder nos escândalos do ano passado, inclusive devido a um erro estratégico de Lula –o de não querer alianças com grandes partidos—que a levou a empregar métodos bisonhos na caça de aliados. Com os escândalos, Lula começou a jogar a carga ao mar e se escudar nas alas petistas que não se queimaram. É quando começam a brilhar as estrelas de Tarso e Dilma, que começam a aglutinar as tendências regionais. Em um eventual segundo governo, o tom seria dado por eles.

A perda de espaço do grupo paulista se completaria com a derrota de Mercadante para José Serra. Sem espaço no governo, sem cargos em São Paulo, o PT paulista seria afastado definitivamente da condução do PT nacional.

É esse desespero que explica esse movimento da compra do dossiê pelo PT paulista.

Não se reduza a responsabilidade de Lula. Em direito existe a responsabilidade civil e a criminal. Quando ruiu o Shopping Osasco-Plaza, a responsabilidade penal foi do arquiteto; a civil do Shopping que o contratou. Quando caiu o avião da TAM, a responsabilidade penal foi da Fokker, a civil da TAM.

No governo, mesmo que se prove que a responsabilidade penal não foi de Lula, como chefe do governo, vai ter que arcar com a responsabilidade civil, com um profundo desgaste adicional, quando mal se curava das feridas das batalhas anteriores.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

O que está em jogo nessas eleições

Há, por trás dessa luta partidária intensa, um combate político, em que visões de Brasil e interesses econômicos feridos estão em jogo. A oposição conservadora tucano-pefelê vem tentando desmoralizar o Partido dos Trabalhadores e desestabilizar o Governo Lula de todas as formas, desde 2004.

A partir de 2004, apareceu o caso Waldomiro Diniz - que não tinha nada a ver com este Governo... Denúncias requentadas. Pululavam, sempre que possível, acusações sobre o suposto viés autoritário do PT. Qualquer espirro dado era uma atitude stalinista.

Em 2005, um ex-aliado, sabe-se lá movido por que motivações, revela um esquema de caixa dois do PT para o financiamento de partidos aliados. Prevalece a versão única dos acusadores, a grande imprensa corporativa passa a ser pautada pelos líderes oposicionistas - agora com munição de sobra para a sua campanha difamatória contra o maiore o mais orgânico partido de esquerda do Brasil. A CPI criada para investigar os fatos recebe a alcunha de "CPI do Fim do Mundo", em decorrência de sua pretensão de provar uma tal de corrupção sistêmica do Governo, que nunca se confirmou. O acusador inicial é cassado por ter mentido nas suas acusações - e o Deputado José Dirceu, militante histórico da esquerda e mentor do projeto petista de governo, sofre a mesma punição, ainda que baseado naquelas acusações que seriam falsas...

A oposição conservadora opta por não derrubar o Presidente Lula, mas deixá-lo sangrar e vencê-lo nas eleições. Faltou combinar com o povo. A despeito a fúria oposicionista mais feroz da história recente do país, com a conivência, quando não com a participação direta, dos grandes meios de comunicação, o Governo Lula - o mais investigado, aberto às pressões populares, o mais transparente da História recente do país - goza de altos índices de popularidade (62% de aprovação, segundo recente pesquisa).

Depois de uma semana de tentativas inúteis de atingir o Governo, com acusações de desvio de verba pública e de autoritarismo (sempre ele!), surge essa denúncia esquisítissima. O Presidente Lula sempre foi avesso a dossiês. Em campanhas passadas, mesmo quando nem tinha chance de vencer, recusou até ver dossiês como o Cayman ou a Pasta Rosa. Por que cargas d'água iria o Presidente, agora que é franco favorito, e com uma onda de candidatos petistas subindo nas pesquisas (em RS, SP, BA, PE entre outros), recorrer a tal recurso? A quem interessaria isso?

A oposição conservadora correu para o TSE pedindo a impugnação da candidatura do Presidente Lula. Como não conseguem ganhar no voto, recorrem a esse tipo de expediente.


Hipóteses do dossiê


Eu tenho três hipóteses para essa história bizarra do dossiê:

1. Foi uma armação de alguém da oposição que teria
a. pago os dois filiados ao PT para envolver o partido nessa história; ou
b. atraído os dois filiados petistas (e retardados mentais, porque puta que o pariu!) a uma armadilha.

2. Os dois filiados presos agiram a mando de alguém do PT paulista (pra variar, fazendo merda).


O comportamento da Imprensa


Em qualquer dos casos, é chocante o comportamento da imprensa. É sempre assim. Quando alguma denúncia tem a ver com o PT, refere-se sempre a "petista envolvido em" ou "gestão petista" etc. Mas quando se trata de alguém de qualquer outro partido, aí então as manchetes de repente se despartidarizam e se fulanizam: "fulano envolvido em" ou "gestão de fulano" etc. É gritante a discrepância do tratamento dado a um e outros. Enquanto isso, a Polícia Federal segue fazendo o seu trabalho sério, discretamente.

Por trás da luta partidária


Esse acirramento na reta final, retomando os piores momentos da campanha desestabilizadora do ano passado, é mais um sintoma de que está em curso uma forte disputa política (latu sensu). Não se trata apenas de briga do poder pelo poder. Está em jogo visões distintas de país, representadas pelos dois principais partidos, PT e PSDB-PFL. O fim do processo de desmonte e sucateamento do Estado brasileiro, que se deu durante toda a década de 90, por meio das privatizações e terceirizações do setor público assim como a valorização do funcionalismo público federal (maior número de concursos públicos, mais valorização das carreiras de Estado) é uma política claramente anti-liberal que desagrada os setores reacionários da sociedade brasileira. O aumento dos gastos públicos federais, e sua distribuição geográfica mais justa (mais investimentos no Norte-Nordeste, privilegiando a região historicamente marginalizada do processo de desenvolvimento econômico do país), assim como mais gastos para os pobres (na Saúde, com os programas de Saúde na Família, o SAMU, o atendimento bucal, remédios populares, etc.; os programas sociais inclusivos), é uma política que incomoda os que sempre se beneficiaram do modo como as coisas costumavam ser feitas.

E ainda tem gente que gostaria que o Governo Lula tivesse sido mais "esquerdista"... Se os setores reacionários agem assim contra um governo popular de centro-esquerda, imagina como seria um governo abertamente de esquerda!

A frustração dos conservadores é que o Presidente Lula, um democrata convicto (basta ver sua história de vida), não tenha se comportado como o golpista vizinho, Chávez. A nossa imprensa, a serviço desses setores reacionários, no entanto, não hesita em se comportar como a imprensa venezuelana. O segundo mandato vai ser pauleira.
Armação ilimitada

Que história estranha essa do dossiê. Quero deixar aqui registrado: Isso é armação da oposição - até que me provem o contrário, minha versão é essa. Não acredito na versão propalada pela imprensa.

Se eu estiver errado - o que veremos dentro em breve, já que a Polícia Federal segue fazendo seu bom trabalho - reconhecerei aqui mesmo. E, digo ainda, nesse caso, se ficar provado o envolvimento da cúpula partidária, defendo a prisão sumária e imediata de todos por burrice extrema. Por isso desconfio totalmente dessa história. A quem interessa todo esse auê? Certamente, não ao PT! É totalmente irracional, pois todas as pesquisas indicam a vitória do Presidente Lula já no primeiro turno; ele não precisa disso. O grande prejudicado é o próprio Lula.

Incrível como, mais uma vez, a grande imprensa corporativa trata de forma diametralmente oposta PT e PSDB-PFL. Quando se trata de acusação contra o PT, então esquece-se presunção de inocência, ônus da prova do acusador, e devido processo legal - o importante é a acusação, por mais escandalosamente inconsistente que seja. Por outro lado, quando a acusação é contra o partido dos donos das empresas jornalísticas (entre aspas), aí inverte-se a lógica - a acusação deixa de ser importante, e foca-se, agora, no acusador. As denúncias na entrevista da IstoÉ dessa semana indicam - com provas! - que o Sanguessuga começou na gestão Serra, na Saúde.

Por que ninguém fala mais nisso? É um disparate total. A atuação da imprensa, completa e descaradamente servindo ao interesse da oposição conservadora, é nojenta e criminosa. E, pelo que parece, o discurso oposicionista tende a se tornar ainda mais inflamado. Resta um alento. Trata-se, evidentemente, da retomada da campanha orquestrada pelos setores conservadores para desmoralizar o Partido dos Trabalhadores, que sobreviveu à pacandaria do ano passado. Uma coisa, no entanto, ficou clara no decorrer da suposta crise política de 2005 e dos programas eleitorais dessa campanha - a gritante irrelevância de ambas para o povão.

Posso estar errado - em breve saberemos - mas os efeitos disso nas intenções de voto devem ser mínimos. Veja o caso de Humberto Costa em Pernambuco que, mesmo tendo sido indiciado pela PF, subiu solidamente nas pesquisas... A imprensa tem a credibilidade que merece.