sábado, 30 de dezembro de 2006

Leitura indispensável de fim de ano

A edição de fim de ano da CartaCapital. Ótimo subsídio para refletir o ano que passou e pensar o ano que vem aí.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Pensando a África

compartilho mais um e-mail (este foi o outro) enviado à família por minha mãe, por achar válido aproveitar sua condição de observadora inserida lá no meio, muitas vezes nos rincões de Moçambique, com sua típica capacidade analítica privilegiada.


"Descobri, lendo um livro [a luta pela independência. A formação das elites fundadoras da frelimo, mpla e paigc, de dalila cabrita mateus], o conceito de negritude. Isso me chamou atenção.

António Jacinto é um poeta angolano. Muito engajado, à época, na luta pela independência, é dele por exemplo um poema que expõe a dominação de uma raça pela outra: “o meu poema sou eu-branco/ montando em mim-preto/ a calvalgar pela vida”. Pois bem, ao se publicar uma coletânea de autores africanos, uma corrente tentou barrar a publicacao de seus poemas pelo simples fato de ele ser branco....[afinal seus poemas foram publicados]

No entanto, uma outra corrente de poetas concentravam a atenção no negro dos estados-unidos da américa [pra satisfazer bernardo], que apesar de serem negros e portanto com uma grande identificação física, tinha enormes diferenças culturais... [isso era nos anos 1940-60]

Quem é mais negro, um antonio jacinto, ou um negro da geórgia-ee.uu.?? é aih que entra o conceito de negritude, que não diz respeito a cor da pele, mas as apropriações culturais. A própria burguesia negra da áfrica se comportava como brancos europeus... e ainda hoje. Enquanto que os negros norte-americanos tinham valores mais brancos que antonio jacinto....[alias, diz cabrita mateus, “fora de angola, ninguém sabia que jacinto era branco...]. e a conclusão, é que existem “fortes diferenças culturais entre os diversos grupos negros, africanos ou americanos”

Outra coisa que me chama a atenção é uma citação que ela faz do autor martinicano Frantz Fanon [no livro os condenados da terra], que denuncia o fato de o povo [dos países que vão ficando independentes] estagnar “lamentavelmente numa miséria insuportável, sem consciência da traição inqualificável de seus dirigentes ... Os privilégios se multiplicam, triunfa a corrupção, os costumes corrompem-se. Os corvos são agora muito numerosos e vorazes, dada a magreza do espólio nacional”

Outro livro,que não conheço mas gostaria de ler é A África começa mal, de René Dumont.

Ele denuncia a casta privilegiada de ministros, deputados e funcionários que, nos novos países africanos equivaliam a corte de luis XVI, pela mentalidade parasitaria que ostentavam e produtividade quase nula. Referia, ao fausto, multiplicação de viaturas, recepções à européia, e reserva nos bancos suíços para velhice: “para demasiadas elites africanas a independência consistiu em tomar o lugar dos brancos e em gozar as vantagens muitas vezes exorbitantes até aí reservadas aos coloniais. Denunciava ainda a ambição de funcionários subalternos: ‘o africano arrivista diz-se obrigado a tomar conta não só da família, sempre numerosa, mas muitas vezes dos amigos e até da aldeia.”

A questao é que realmente começou mal, e ainda continua até hoje, sem mudança... os exemplos são numerosos por toda áfrica....

Prontos, foi so pra compartilhar com vocês algumas leituras, nesta minha estadia solitária em Beira.

Cheiros, aninha"

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Bate-papo político

eu e um amigo comentando a notícia da derrota do candidato do pt, paulo delgado, à vaga do tcu, para o candidato de acm. a teoria que comentamos para explicar a derrota, aliás, foi confirmada em nota no painel da folha de hoje.

(19:45:37) b j: essa base aliada comecou bem hein!
(19:45:40) b j: como isso aconteceu?!
(19:46:13) capadócio tibungando: acontecendo
(19:46:30) capadócio tibungando: pra vc ver o nivel de articulação e prestígio do pt nessa casa
(19:46:32) b j: puta merda...
(19:46:35) b j: é
(19:46:55) b j: e ainda insistem nessa BURRICEde lancar chinaglia
(19:47:02) b j: é foda é foda
(19:47:06) capadócio tibungando: exatamente
(19:47:09) b j: será que foi um se-ligue?
(19:47:25) b j: será que o aldo estaria por trás disso p. ex?
(19:47:39) capadócio tibungando: era muito mais inteligente se articular em torno de alguém do psb, por exemplo; mas o pt tu sabe como é...
(19:47:42) capadócio tibungando: num sei
(19:47:46) capadócio tibungando: mas é capaz
(19:47:52) capadócio tibungando: o pcdob é capaz de tudo
(19:47:57) capadócio tibungando: acredite
(19:48:20) b j: eu acredito
(19:48:28) b j: e, nesse sentido, até concordo com o que fizeram
(19:48:44) capadócio tibungando: ai eu num acho não
(19:48:49) capadócio tibungando: pq delgado num merecia
(19:48:56) capadócio tibungando: se fosse outro, até tudo bem
(19:48:56) b j: apesar de delgado ser uma figura excelente. pessoalmente, nao merecia
(19:49:05) b j: mas ele foiuma escolha, uma indicacao do pt.
(19:49:17) b j: que tem sistematicamente boicotado aldo, um fiel aliado de lula.
(19:49:27) b j: é uma puta sacanagem o que o pt faz com aldo
(19:49:30) b j: desde que era ministro
(19:50:46) capadócio tibungando: talvez vc tenha razão
(19:50:57) capadócio tibungando: mas como eu odeio o pcdob, quero mais é q aldo se foda
(19:51:11) b j: é foda
(19:51:51) b j: num sistema como o brasileiro, por mais partidário que eu seja - e eu sou totalmente contra personaliza política - é difícil isso no brasil.
(19:52:02) b j: aldo é um dos políticos mais sérios do país.
(19:52:05) b j: mas........
(19:52:12) b j: tem esse aspecto a que vc se refere.
(19:52:13) b j: é foda.
(19:53:05) b j: mas eu acho que o pt deveria fechar com aldo. até em reconhecimento ao trabalho dele. ele pegou um tremendo abacaxi, a camara tava numa crise danada, e normalizou as coisas. merece crédito. e o pt constrói condicoes pra daqui a dois anos.
(19:53:39) b j: pq pelo andar da carruagem, tá o maior cheiro de déjà-vu....
(19:54:57) capadócio tibungando: tá mesmo
(19:55:18) b j: a turma nao aprende.....
(19:55:32) b j: e quem seria o severino 2007?
(19:55:34) capadócio tibungando: dizem q se pt, pmdb, pfl e tal lançarem candidato, aquele ciro nogueira seria o próximo severino
(19:55:51) b j: putz
(19:56:00) b j: mas psdb e pfl fecharam com aldo nao é?
(19:56:19) capadócio tibungando: fecharam nada
(19:56:30) b j: oxe, mas no jornal saiu isso né?
(19:56:35) capadócio tibungando: sai
(19:56:44) capadócio tibungando: mas sai todo tipo de boato todo dia
(19:56:48) capadócio tibungando: ainda tá cedo
(19:56:54) capadócio tibungando: tem muita agua pra rolar
(19:56:57) b j: é verdade
(19:57:02) capadócio tibungando: inda m,ais no meio dessa confusão toda
(20:02:25) b j: po, nem vai dar pra tu vires pra pelada né?
(20:04:47) capadócio tibungando: vai nada
(20:04:59) b j: que merda
(20:05:10) b j: bom
(20:05:13) capadócio tibungando: só vou poder sair 20h45
(20:05:17) b j: looking at the bright side
(20:05:28) b j: significa que os deputados estão trabalhando!
(20:05:39) capadócio tibungando: isso pra mim é péssimo
(20:05:45) b j: hahaha



***

Enquanto isso, ouve-se por aí todo tipo de boatos sobre o ministério de lula... viver em brasília tem dessas coisas. compartilho com vocês dois. o deputado federal mais votado do piauí, do pmdb, é um médico e teria sido convidado para a pasta da saúde. já o nosso maurício rands, estaria contado para transportes. terão esses boatos algum fundo de verdade? quem sabe. mas que é divertido conviver com esse tipo de especulações, ah, isso é!

***

Hoje saiu o edital. pois é, enquanto o presidente lula segue na agúria da formação ministerial, bush come o pão que ele próprio amaçou e chávez se elege a fidel do século , minha maratona pessoal continua... ui!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Missing Berlin

by Letícia Jurema

I am here today, at the request of my brothers Bernardo and Diogo, to write about something; whatever I want to, they gave me complete freedom. All that matters is that I write. It was in ancient times when I last picked up a pen and a piece of paper to write; now I have my laptop laying on my lap in front of me, though I must admit that it has been a long time since this situation has taken place. Actually when I think about it, the last time I wrote a text for my brothers was exactly a year ago, in Berlin freezing my ass off, even though I was within the warmth of my home. An entire year has passed since then. I have lived the four seasons of the year in Germany and have had two months of readaptation period here in Salamanca. ¿What conclusions have I drawn from this experience? This is what I am going to try to illustrate in this text, however I cannot promise anything, for I am not sure I have any conclusions to make.

The first couple of months were of reflection, intellectual and emotional solitude and muteness. There was a clear barrier that separated my world from the outside world, the socially interactive world. I was missing the key that liberated me from my world to the social one, idiom. My only instruments of interaction were body language and my capacity to read facial expression. My greatest weapon was my smile; in this point I must agree with Quentin Tarantino, personality goes a long way!

(I still have no clue as to the point of this text! Just goin´ with the flow!)

Although my German eventually became better, the cultural knowledge that I was able to grasp was limited. My capacity to understand the conversations around me was limited, I was not able to make a complete analysis of each situation, though I could most of the time deduce the main idea.

However restricted my ability to communicate was, I was able to understand the Berliners a little bit better, I was able to pick up on that energy specific to Berlin, that spirit that only Berlin possesses. In order to notice this spirit one must not speak perfect English. In the beginning I did not see anything special, I refused to see it, I was too introverted, living detached from Berlin. But once I decided to open my eyes I saw with clarity the beauty of this city, its uniqueness.

The concepts of freedom and organization here work together as I have never seen in other capitals. So much was permitted and so few people took advantage of the permissive situation. At this point I cannot help but think of Spain as the paradigm of the contrary (as the complete antagonist). The year I arrived in Salamanca was the year that an unprecedented law was passed, “ la ley anti-botellón” . This law banned the people from drinking in public, in the streets. At first I could not understand why, but when I contrasted this reality to that of Berlin, I was able to understand far better. Here, in Salamanca, when they drink in the streets there is no respect for anything, vandalism takes place, it's noisy and the scene afterwards is always of broken bottles, plastic bags and garbage cans tipped over. This is a typical “botellón”. So then I think, “no wonder they prohibited it!” In Berlin, however, I can drink a bottle of beer in the metro, in the streets, in a park, almost anywhere that I please (limited to common sense that is!); in fact, the majority of the Berliners make use of this liberty and without causing trouble.

The number of policemen was also an aspect that caught my attention. At first I did not notice it, but when I thought about it, I asked myself: “Where are all the policemen?!” Once again I must compare Berlin to Spain. In Salamanca I walk everyday to my university, approximately a 10-minute walk, and in that period I may see about 2 police cars drive by (sometimes more, sometimes less). Salamanca has 90,000 inhabitants. In Berlin it took me far more time and space to see a police car. Berlin's population is of 3,4 million people. I must say that there are exceptions, for example Labour Day in Berlin is full of policemen everywhere, but there is a historical reason for that, it is known that on this date a battle between anarchists and policemen take place!

The list of examples that demonstrate the uniqueness of Berlin is too long for this humble text. I could go on and on. In Tiergarten, for instance, I saw an interesting conversation between the park's gardener and a man. They were both standing while talking, what caught my attention was the fact that the man was completely naked! And they were having a normal conversation!! I tried to imagine this situation in Spain or Brazil, but it was just too comical to imagine. The way the Berliners were natural about their bodies fascinates me, even among friends the lack of puritanism may be easily observed.

As I said, I could go on, but won´t! There are just too many great things to say about Berlin! My suggestion is for anyone who is thinking about travelling, just go to Berlin; just one thing, I would advise you to go in summer time!

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Imperialismo cultural brasileiro?

Posto aqui comentário de minha mãe a respeito de um texto que eu a enviei sobre "imperialismo cultural" brasileiro na África lusófona.

"A impressao que tenho é que isso é só mesmo tema pra encher lingüiça de congressos. Aqueles encontros em que se encontram sempre as mesmas pessoas, para se dizerem sempre as mesmas coisas. Pena é que muito dinheiro se vai nisso, que poderia, por exemplo, estar sendo aplicado para aplacar outras questões muito mais prementes em áfrica. Ou então enriquecendo os governantes corruptos [desculpe a redundância] daqui da áfrica.

Pelas minhas andanças aqui em moçambique verifico ainda uma forte predominância das línguas nativas [13]. As crianças que não chegaram a escola, só falam a lingua local. fora de maputo e ate em maputo mesmo, os jovens nas ruas falam entre si, na língua nativa.

A população em geral [não falo das atuais elites dirigentes], todos eles falam português como segunda língua—falam com sotaque nativo, mal e escrevem pior ainda [jorgen (norueguês, coordenador do projeto) fala e escreve português mais correto do que carlos roque (o gestor do projeto)]. Alguns deles são inclusive capazes de saber a procedência de tribo pelo sotaque com que se fala o português!

A ex-elite mestiça ou branca ainda residente, remanescente dos portugueses, porem, fala o português de portugal. Eles aprendem português como primeira língua, e é claro, raríssimos falam changana [a língua nativa mais falada aqui]. Fiquei chocada uma vez na casa de um desses remanescentes da ex-elite portuguesa quando ouvi a expressao ‘pretogues’ que usaram, ao referirem-se à fala dos pretos em português.– isso é mais que uma questao de influencia linguistica de tv, é sócio-linguistico, no entanto, ‘i’d bet this has not been discussed at the congress’

A grande e quase total maioria da população de moçambique não tem televisão em casa... aliás, não tem nem água nem saneamento nem luz elétrica em casa. Aliás, rádio é raríssimo nas casas... aliás...

O povo, o povo mesmo, não tem nenhuma hostilidade, são simples, ingênuos, amostrados, e tem uma dificuldade de entender e de se expressar em português, seja qual for --de portugal ou do brasil! O que faz medo é o que a globo esta a fazer com os miúdos das elites, os filhos dos dirigentes, estes vêem a globo internacional! Pelos canais abertos também, a influencia da tv, das novelas da globo, em particular, é inegável: domingo passado, estava eu no quarto do hotel em cuja entorno existem uns três prédios pardieiros cheio de gente, quando ouvi um grito, vindo de um desses prédios, de um meninote: ‘mmmmmmmmmmmiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiirrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrnnnnaaaaaaaaaaaaaaaaa” . ta passando aqui, a novela alma gêmea e este é o grito de um de seus personagens que, ao que parece, esta na moda aqui.

Esse menino provavelmente fala changana, pretogues e tem o sonho de ser ronaldinho gaúcho e de conhecer o brasil, que a globo introduz ao mundo [a globo é a hollywood das novelas, e vende para o mundo a idéia de brasil ,que os filmes americanos vendiam do american way of life],,, Essa influencia é também terrível pras crianças que falam português brasileiro ... hehehe, para adultos que falam português brasileiro também, hehehe. E disso o congresso também não deve ter tratado!


cheiros, aninha"

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Um filme necessário

Eu vi ontem o Baixio das Bestas, no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro. Ainda não defini se gostei ou não. É um filme forte, que impacta - diante do qual não se fica alheio. Houve inclusive quem saísse durante a exibição. É o tipo de filme que requer ser digerido, e ainda estou no processo. Mas é um filme necessário. O tema é importante. Me fez lembrar aquela frase de um russo, que diz que o grau de civilização de uma sociedade é medido por como se trata os seus presos. Outra maneira de medir seria observar a maneira como os seus integrantes se relacionam com o sexo - o personagem de Caio Blat é um exemplo disso, ou o do avô da menina. Seria algo tipo: "diga-me como trepas, que te direi quem és" coletivo. Do ponto de vista técnico, é um filme absolutamente bom. E a Zona da Mata canavieira é muito fotogênica, fica linda na telona do cinema - eu passava várias férias nessa região e sempre achei essa paisagem bucólica e século 19 encantadora.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

The challenges facing the new government

The re-election of President Lula da Silva puts into evidence some of the mains issues facing the Brazilian society today.

In 2002, when Lula and his Workers' Party (PT) won the elections Brazil witnessed the first genuine power change since the military coup of 1964 interrupted the country's political process, postponing its maturing.

The first term of President Lula was historic in itself. But it was al the more meaningful in the measure that it was able to keep the country's economy stable while at the same time promoting a long-needed wealth distribution by means of a series of innovative and efficient public policies.

President Lula's apporval ratings and expressive vote are all the more impressive in face of the systematic smearing and violent rhetoric to which his government and his party were subject to for over a year, by opposition parties and the big corporate media.

In his new term, President Lula will have to once again conciliate a progressist agenda in a conservative society - which is particularly well represented in the political system. Moreover, he will have to deal with an elitist media, which voices the economic interests of the hegemonic sectors of Brazilian society, while trying to stand for the unrepresented majority, who have no material means to voice their desires - except for voting.

So, in a few words, what is at stake at this point in Brazil's history, is a deepening, a maturing, of our democracy. We are back to the stage when the military seized power in the 1960's, when the social movements were more organized. President Lula's government is a turning point: from now on, upcoming governments will have to take into account the demands of the voiceless majority, with effective policies.

As for the traditional economic elite, they will have to grasp this new government. The old idea that "the pie must grow in order to be shared" no longer holds. The press failed miserably in its purpose to de-moralize PT and de-stabilize the government: society as a whole has got to reflect upon this, in face of the huge concentration of the media in the hands of a few economic groups, with particular political agendas.

President Lula has a conciliatory nature. That will come in handy, as he will need to find a common ground to democratically promote social transformation, expanding social rights for the poor; a process of democratization of the media must come in parallel to that process. Most of all, President Lula must act as a bridge between the two groups - the haves and the have-nots - and to make the former understand that the benefits of the latter are also in their best interests.

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Eu gosto de Brasília

Já me habituei à surpresa do interlocutor, sempre que perguntado se gosto de morar em Brasília, diante da minha resposta afirmativa. Tornou-se um grande clichê falar mal da Capital - principalmente por parte daquelas pessoas que não a conhecem.

Em parte, tem a ver com a questão política. Os brasileiros do resto do país com freqüência se referem, pejorativamente, "àquele povo de Brasília". O erro crasso desse tipo de comentário é que "aquele povo" são os representantes do Brasil inteiro que lhes representam.

O fato de a cidade ser nova e diferente - e no começo, de fato, não havia nada aqui - é outro motivo que embasa a crítica. Mas, trata-se de uma posição presa ao passado, que não condiz com a realidade dinâmica, cultural, econômica e social, do Distrito Federal.

Não obstante o plano original beirar o neo-fascismo e ser totalmente desumano - assunto sobre o qual escrevi anteriormente, aqui nesse texto -, Brasília surpreende justamente naquilo que "deu errado". Os seus habitantes trataram de humanizar um plano totalmente desumano, trazendo o elemento, essencialmente humano, do imponderável.

Há uma poética nessa cidade, muito específica e original. Basta educar-se o olhar, porque é uma paisagem inusitada, inesperada. As árvores são refúgios dos muitos e variados pássaros - os bonitos, os feios, os grandes e os pequenos, os exóticos, os tropicais, os triviais, os agressivos, os meigos, os migrantes, os que estão aqui desde sempre. A natureza da cidade não é parcimoniosa; todos os fenômenos naturais da cidade são exuberantes. As tempestadades são cinematográficas, com trovões assustadores e raios que rasgam o céu cinzento e pesado, quase desabando sobre nossas cabeças. O pôr do sol é algo de tirar o fôlego, com cores e formas únicas - possível de ser apreciado graças a uma legislação urbana que preservou o horizonte. O período da seca, chegando ao extremo de menos de 20% da umidade relativa do ar (menos do que o Saara!), provoca uma paisagem catastrófica e, paradoxalmente, feliz - pois há tantas pessoas fora, nas calçadas, no Parque da Cidade (o maior parque urbano do mundo), andando, passeando, namorando, pedalando, jogando, dormindo, se bronzeando.

Até as ruas têm sua poeticidade - as avenidas e ruas, sempre uniformes e simétricas, com os carros enfileirados, como formigas coloridas gigantes, indo ao trabalho, voltando para casa. As pichações nas passarelas subterrâneas que cruzam o Eixão revelam uma população criativa (está nessa cidade o maior mural de grafitagem do mundo). O silêncio profundo das noites brasilienses é algo igualmente avassalador - exceto na época das cigarras, que cantam durante uns dois meses, o dia inteiro e noite adentro, anunciando o prenúncio da chuva, antes de voltarem para debaixo da terra e lá ficarem, cumprindo seu ciclo, até setembro do próximo ano.

Tudo isso sem mencionar o lado humano. Há gente de todos os cantos do país, todo tipo de gente. Esse é o verdadeiro "melting pot" nacional. E uma passada no Conic, um centro comercial popular, onde se localizam as sedes dos partidos de esquerda, de sindicatos, o cinema pornô, uma Igreja Universal, o teatro universitário, uma loja massa de camisas estampadas, lojas de skate, lojas de cultura negra (rap, hip hop) - sem mencionar minha ex-imobiliária. Lá é a coisa mais próxima de um "centro de cidade" normal: as pessoas andando, passeando, descansando (no pátio interno). Tudo muito corbusiano, claro: concreto por todos os lados. E andar por entre os blocos, tentar identificar as particularidades das quadras, que no plano original deveriam ser rigidamente semelhantes. E a surpresa de ver surgir, pelo pilotis, uma paisagem nova do outro lado do bloco. E o Lago Paranoá, que ameniza a seca da gente em seu auge, propicia algumas das mais belas vistas da cidade, como a da ponte JK iluminada ao fundo, vista do CCBB, por exemplo. Sem falar dessa área de lazer, convidadtiva para uma nadada, como no fim do Lago Sul, na Hermida Dom Bosco....

Ok, tudo bem que isso se restringe ao Plano Piloto (quase nunca saio dessa parte da cidade), que quando chove pra valer alaga tudo, que tem quem passe mal com a seca, que a Ponte JK é super-mega-faturada, que se você reunir seus amigos no seu apartamento e falar alto demais os vizinhos de bloco não ficarão contentes e poderão xingar-lhes grosseiramente, que as cigarras às vezes encham o saco, que a cidade tem um problema grave de excesso de automóveis... Mas e qual cidade não tem problemas? Ter senso crítico não implica ser chato. E esse texto é só pra falar bem!

sábado, 18 de novembro de 2006

Onde estou me metendo? (Ou: do que eu me livrei!)

São folclóricas as histórias sobre a fofocagem, as disputas de egos e as tiradas maldosas entre os itamaratecas. Soube de uma embaixatriz uruguaia (creio) que, certa feita, classificou os diplomatas brasileiros em três categorias: neuróticos, gays e esdrúxulos. Outro dia, fiquei sabendo que cada nova turma do Instituto Rio Branco recebe uma alcunha pelos diplomatas incumbentes. O teor dos nomes das turmas calouras dos anos recentes revela bem o espírito ácido, cáustico, afiadamente mordaz, sardônico - "wry", diríamos em inglês, em uma palavra (que língua!) - prevalecente no MRE. Uma turma de uns anos passados era "Jardim Feio", em alusão aos atributos físicos dos calouros; a do ano passado, que teve a "polêmica" do inglês, que deixou de ter caráter eliminatório, é "Jardim monoglota". A desse ano, que, pela primeira vez, abriu 105 vagas, é "Turma KY", que passa fácil...

Pensando bem, acho que vou gostar disso!...

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Aproveite piauí enquanto há tempo

Eu sempre me perguntei porque não havia, no Brasil, uma publicação com textos bem escritos, como os da New Yorker ou da The Economist. Repare que o verbo "haver" encontra-se no pretérito, não por acidente: desde o mês passado, surgiu uma resposta à minha indagação. Há uma nova revista no mercado editorial brasileiro - a piauí.

Como defini-la? Perguntado por um amigo, eis minha explicação: não é sobre nada, é sobre qualquer coisa. À guisa de explicar de que se trata, nada como recorrer a comparações. É uma espécie de New Yorker brasileira, com formato da Caros Amigos (este é o seu grande defeito - ela é grande e incoveniente, aspecto em que, ademais, poderia ter se espalhado também na tradicional revista americana).

João Moreira Salles, publisher da piauí, assim a definiu, em entrevista ao Valor Econômico: "Vale qualquer assunto que não possa ser resolvido no Google, e que exija de quem escreve o trabalho de ir, voltar, e fazer tudo com a sola do sapato". Eu poderia elencar as excelentes matérias, os assuntos instigantes, muitas vezes originais, abordados... mas esse definição já se basta.

A primeira edição da revista, a de Outubro/2006, foi um primor. Esperei pela segunda, antes de confirmar a opinião: é uma grande revista (figurativa e literalmente). Uma revista mensal com textos bem escritos, inteligentes, sobre assuntos os mais variados e visualmente agradável... Parece bom demais para ser verdade, no país que detém o "privilégio" da revista de maior circulação do mundo (a Veja, com os seus mais de um milhão de exemplares semanais e suas denúncias inócuas ou "reportagens científicas" sobre dietas e quetais). Fica a dica.

domingo, 12 de novembro de 2006

Alerta

Quando você começa a achar que a horrenda W3 norte "tem seu charme", é sinal de que está na hora de respirar novos ares.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Conclusões eleitorais - desmistificações

O fim das eleições presidenciais nos permite tirar algumas conclusões. Em primeiro lugar, acho importante destacar três mitos do discurso hegemônico desfeitos:

1) O PT morreu. Esse diagnóstico taxativo foi repetido por inúmeros analistas, comentaristas, cientistas políticos e políticos. No entanto, o Partido elegeu a maior bancada da Câmara, tendo sido o partido detentor da maior fatia dos votos absolutos. Além disso, elegeu cinco governadores, incluindo aí a Bahia e o Pará. Mais do que isso, o segundo turno mostrou a força da militância petista, que contribuiu inequivocamente para as viradas como a observada aqui em Brasília - onde a votação do Presidente Lula teve um aumento de 53%. Paralelamente, PMDB, PSDB e PFL viram o número de estados que governam diminuir. O PFL sai particularmente enfraquecido, tendo perdido para o PT dois estados em que era a força hegemônica tradicional, Sergipe e Bahia. Hoje, resta-lhe o Distrito Federal - e ainda assim, sob o comando de José "Painel" Roberto "Chorão" Arruda - um oportunista, que não tem nenhum apego ao PFL ou a qualquer partido que não o seu projeto político pessoal.

2) As áreas mais eficientes do governo são as não-petistas. Apesar de esse ser o senso comum na grande imprensa corporativa, o resultado eleitoral desmente essa idéia. Os principais programas ou políticas públicas que levaram ao forte apoio popular do Presidente Lula são de ministérios comandados por petistas durante todo o governo ou a maior parte dele - Desenvolvimento Social, Educação, Cidades, Saúde, Cultura - além das políticas setoriais, como as para as mulheres e para os negros. Os dois ministérios que os setores conservadores propagavam como os mais eficientes - Agricultura e Desenvolvimento e Comércio - não figuravam entre os mais bem avaliados. Tanto que o Presidente Lula foi derrotado (ainda que por pequena margem) em todos os estados agrícolas; e a gestão Furlan, por melhor que tenha sido, não gera tantos dividendos eleitorais - tanto que o Presidente Lula não era o candidato preferido da classe empresarial.

3) A imprensa escrita e televisiva assim como as classes sociais mais altas são formadores de opinião. Houve um total descompasso entre a visão dos setores conservadores hegemônicos, expressa em seus porta-vozes midiáticos - a "opinião publicada" -, e a opinião verdadeiramente pública, do povo - expressa nas urnas. Ficou evidente o poder limitado, decadente desses setores hegemônicos. Vendo-se incapazes de exercer, paternalisticamente, a tarefa a que se acham divinamente incumbidos, os formadores de opinião dedicam-se, agora, a deformar a opinião. São os deformadores da opinião alheia. Assim, buscam várias explicações para a votação expressiva do Presidente Lula - a maior parte delas expressando viés elitista e um forte preconceito de classe. O povão mostrou sua autonomia - o caso do Maranhão é emblemático, onde o Presidente Lula obteve 85% dos votos, mas sua candidata ao governo foi derrotada. A grande imprensa, aliás, sai como uma das grandes derrotadas. Afinal, depois de mais de um ano de uma sistemática campanha de desmoralização do PT e de desestabilização do Governo Lula, tanto um quanto o outro foram consagrados nas urnas. Do lado positivo, para a imprensa, deve-se registrar a maior opção de fontes de informação disponíveis para o leitor crítico. Hoje, graças à Internet, é possível fugir ao pensamento único do oligopólio midiático, podendo-se ler desde sites abertamente esquerdistas - como o da Revista Fórum, o Blog do Zé Dirceu ou a página da Carta Maior - até aqueles mais equilibrados - como o Luís Nassif Online, o Observatório da Imprensa ou o Centro de Mídia Independente. A opção estende-se, também, à direita do espectro político, como, por exemplo, os blogs de Daniel Piza e Reinaldo Azevedo. Essa maior oferta de fontes é muito saudável e espero que se torne maior e mais acessível no futuro.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Um e outro

Há uns meses atrás, quando eclodiu a crise de segurança pública de São Paulo, Diogo postou um comentário que, além de bem escrito, toca num ponto crucial. Ele fez uma comparação entre as formas de governar petista e tucana. Ao contrário do que vêm sistematicamente propalando as grandes empresas midiáticas, existem diferenças fundamentais, sim, entre os dois partidos. Diogo poderia ter ido além, mencionando, por exemplo, a área social. Depois de 12 anos de governo tucano em São Paulo, qual o grande legado nessa área? Febem e índices educacionais dignos de Pará! Um contraste forte com os meros quatro anos da gestão petista na cidade de São Paulo, onde, em curto espaço de tempo, a administração municipal deixou marcas significativas, e deu início a um princípio de processo de redistribuição de renda na cidade. Posto esse texto só pra lembrar que, domingo, não se trata de votar no "menos pior" ou "contra Alckmin", mas sim votar a favor desse projeto político que é diferente, novo, progressista. Com a palavra, Diogo:


(...)
Independente de variáveis, podemos comparar a essência de dois governos com tempo para executar um trabalho de longo-prazo. De um lado, São Paulo e seus doze anos de gestão tucana; do outro, o Rio Grande do Sul ou o Acre, com 16 anos de gestão petista no primeiro e, em breve, o terceiro mandato petista no segundo. O combate à violência nestes três estados é simbólico e representa prioridades de cada um.

Enquanto que em SP foram inauguradas mais FEBEM's, no RS estas instituições foram extintas. Lá, em seu lugar, dois tipos diferentes de espaços foram criados: um para trabalhar a reintegração daqueles com delitos não muito graves, e outro para um trabalho de mais longo-prazo para jovens com delitos mais sérios. A grande diferença: o foco. Enquanto um enxerga a quantidade, o outro priorizou a qualidade e, sobretudo, a reinserção.

No Acre, o Governo soube lutar eficazmente contra o crime organizado confrontando interesses de uma elite político-empresarial da região. Em SP, o "combate" só aconteceu porque a fronteira [social] foi ultrapassada. Até então, SP não era uma cidade violenta; violenta era o Rio de Janeiro. Enquanto no AC confronta-se, em SP foi mais fácil ignorar... até que não deu mais.


Lá e cá


Outro comentário, dessa vez de Jorge, merece destaque, nessa véspera de eleitoral. Aqui, ele faz um paralelo entre as gestões petistas a nível local (Recife), e nacional. Muito interessante:

acho que esse exemplo do Gilmar lembra o que ocorreu em Recife na primeira gestão João Paulo. Os três primeiros anos foram voltados para mudanças muito mais significativas para a população de baixa renda, SAMU, mais de 1.500 professores na rede municipal contratados, aumento do número de equipes do saúde da família, então a classe média não sentia a diferença, embora muitas outras ações a tenham alcançado (Paralela, inversão do trânsito de Boa Viagem, regularização das vans, etc.).

A grande questão é que Lula vem trabalhando do jeito que pode para diminuir a super concentração de renda (levando-se em conta o malabarismo que é fazer isso dentro de uma economia de mercado emergente e com uma guerra política suja e intermitente, mas como tem gente fazendo barulho pra isso não acontecer, putz!

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Para avaliar o Governo Eduardo

Em 2004, o deputado federal Cadoca Pereira foi o candidato da União por Pernambuco, a coligação conservadora que governa o estado desde 1999. Queria retomar o poder municipal, recuperá-lo para o seu grupo, que havia perdido quatro anos antes.

A sua candidatura foi construída ao longo desse intervalo. Ele tinha uma marca, ("Cadoca é Recife"), azul e laranja (que mau gosto). Logo em janeiro do ano eleitoral, os muros da cidade do Recife estavam tomados por seu logotipo - em flagrante crime eleitoral (veja foto abaixo, de minha autoria). Se, do ponto de vista do marketing, o candidato fez um "bom trabalho", do ponto de vista político, foi um fiasco. Ninguém sabia nada, nenhuma idéia ou posição do candidato em relação aos grande problemas da cidade. Um dos seus "grandes trunfos" foi dizer que o Prefeito João Paulo havia prometido 40,000 casas, mas só teria construído 4,000.

Cadoca se preocupou com a micro-política. E se esqueceu da macro-política. Macropoliticamente, o governo João Paulo havia sido inovador e diferente. Ao invés de ver como "só 4,000 casas", a população pensou "ele fez 4,000 casas!" - se micropoliticamente havia falhas, macropoliticamente a inversão de prioridades redistribuidora de riqueza de fato havia ocorrido. Ou seja, a grande promessa macropolítica do candidato petista em 2000 havia sido cumprida. Cadoca foi incapaz de perceber isso, e seu discurso não encontrou ressonância. João Paulo se reelegeu com folgada vantagem, no primeiro turno.

O Governo Jarbas/Mendoncinha é um fiasco. Trata-se da gestão "competente" do status-quo. E mais - um líder "preguiçoso", sem pretensões políticas, cansado, que já havia atingido o auge, e protegido pela imprensa e pelo poder judiciário. Não liderava, deixou o governo frouxo. Ou seja, ainda que micropoliticamente seja possível encontrar coisas interessantes, aqui e ali, macropoliticamente é um desastre. Particularmente desastroso em três áreas - educação, saúde e segurança.

Os professores da rede pública de Pernambuco recebem o salário mais baixo do Brasil - mais do que o Acre, por exemplo, estado com PIB bem menor que o nosso. O único grande investimento na área foi o Projeto Avançar (telecurso 2000) - que é um bom projeto - mas foi implantado em 2001, quando Raul Henry era secretário de Educação e Cultura, e terminou já em 2002. Teve cunho meramente eleitoreiro, foi um desperdício de recursos públicos, e serviu apenas para garantir o candidato do governador como o deputado estadual mais votado daquele ano. A saúde pública estadual é um desastre, e o índices de Pernambuco não condizem com sua riqueza - sem contar as disparidades regionais. Pernambucano gaba-se de que Recife é "o segundo pólo hospitalar do país"... privado! Finalmente, temos a crise de segurança pública, e seus efeitos gerais e devastadores. Em Novembro haverá em Recife o encontro nacional de cirurgiões plásticos. Dos entre 4 e 6 mil previstos, menos de mil até agora se inscreveram - por medo de ir a Recife. Isso sem contar a sensação de medo que assola, indiscriminadamente, toda a população do estado, todas as regiões, todas as classes sociais.

Minha baliza para avaliar o governo Eduardo Campos será nessas três áreas. Se a educação, a saúde e a segurança públicas melhorarem significativamente, então este terá sido um governo vitorioso. Dado o forte apoio de amplos segmentos da população à sua candidatura e à sua juventude (fatos que contrapõem-se ao viés coronelista-esquerdista do PSB-PE), é possível supor um governo de coalizão que realize, satisfatoriamente, essas macropolíticas-chave. Só pela perspectiva de mudança concreta nesses setores, que necessariamente não ocorreriam num governo da União conservadora, já vale a pena o voto de confiança em Eduardo.


Boa notícia


César, meu "roommate", voltou a atualizar seu blog. Vale a pena visitar.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Carta a um amigo

escrito privadamente a um amigo, a 05 de outubro de 2006, sobre essas eleições,
reproduzido aqui, com
adaptações, com a sua autorização.

escrevo a respeito de seu comentário. Dizer que o voto em
Lula é "cegado pela ideologia" significa que você ou não leu os textos no
blog em que explico minha posição pró-Lula, ou leu e não entendeu.

Meu voto é o oposto de ideológico. A ideologia do individualismo, como a
de Thoreau, e do Estado mínimo ou inexistente, como a de Bakunin, faz
sentido em país desenvolvido (se tanto). Em um país cultural e
materialmente atrasado como o nosso, um país de pobres e miseráveis,
simplesmente não faz sentido, soa hipócrita, não tem embasamento na nossa
realidade (aliás, a peça "Um homem é um homem" de Brecht trata disso).

O seu voto nulo, baseado numa ideologia importada de sociedades diferentes
e descontextualizada historicamente, considera que não há diferenças
substanciais entre Alkmin e Lula. Mas as há, sim. Senão vejamos. A
candidatura tucano-pefelê tem uma plataforma economicamente
neoliberalizante (retomada das privatizações, terceirizações, arrocho
salarial do funcionalismo - em suma, diminuição do Estado em benefício da
iniciativa privada) e socialmente conservadora (contra o aborto, contra
pesquisas em células-tronco, etc). Nesta definição, trata-se de uma
candidatura de Direita.

Por outro lado, a plataforma do Gov. Lula é economicamente
intervencionista-estatal, privilegiando o Estado como condutor do
desenvolvimento econômico, e por isso fortalecendo-o (fim de privatizações
e terceirizações, mais concursos públicos, aumento salarial horizontal pro
funcionalismo). Ao Estado cabe, nessa concepção, a distribuição direta
(Bolsa-família) e indireta (Fundeb, SAMU, antendimento bucal, ampliação do
PSF, Pro-Uni) da riqueza nacional. E socialmente progressista (políticas
de ação afirmativa, defesa dos direitos da mulher, defesa de tributação
sobre herança de grandes fortunas - aliás, projeto do governo que não foi
aprovado no Congresso -, defesa dos gays - como no projeto de Marta).

Claro que os casos de corrupção me deixam com raiva. Mas existem outros
critérios, além do moralista, para se escolher o voto. E eu não voto
pensando em mim, exclusivamente, mas na coletividade (classificaria esta
posição como de "idealismo pragmático"). E de mais a mais, esse
governo é mais transparente que os outros - a imprensa com seus
interesses, é mais vigilante do que nunca, e o próprio governo fortaleceu
as instituições investigativas, como a PF e a CGU. E, falando de ética - não é
ético a redistribuição de renda? Vamos expandir o sentido de ética. Por que
restringi-lo ao gosto da oposição conservadora?

O que incomoda a pessoas como eu, é o fato degente como tu, inteligente e
com visão de mundo progressista, não perceber que existem diferenças
significativas, sim, entre as duas candidaturas. E que o voto nulo, seja por
questões moralistas ou ideológicas, é inconseqüente e inócuo. O voto no Lula
é uma escolha pragmática por uma plataforma que trouxe mudanças pros
setores sociais e regiões nacionais historicamente marginalizadas dos
processos de desenvolvimento econômico do país. Reitero o que já disse - não
questiono a legitimidade do voto nulo, mas apenas a sua eficácia como forma
de protesto.

Os diferentes jogos ao qual você se refere não são excludentes.
Lembremos Gandhi - o mais ilustre praticante da desobediência civil e do
pacifismo. Ele lutou pela independência do Estado indiano e não se esquivou
do embate político-eleitoral. Temos outros exemplos históricos de como o
voto faz a diferença (pro bem e pro mal) - Hitler e Mussolini nos anos 20 e 30,
Allende no Chile, Morales na Bolívia, o PSOE na Espanha, os Republicanos
nos EUA, Chávez na Venezuela...

Te peço, por isso, que entendas minha posição e meu apelo para que
reflitas as conseqüencias do teu voto.

Um abraço, com carinho e respeito, do amigo -

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Você não verá essa entrevista na imprensa brasileira

Está no YouTube (o canal de TV mais democrático do mundo!) o trecho de uma entrevista do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin a um programa de notícias inglês. Não acostumado com o jornalismo sério praticado naquele país, o ex-governador perde totalmente a compostura, descontrola-se, não responde as perguntas. Interessante notar duas coisas. Uma, é a diferença do tratamento da imprensa nacional - como eu já havia comentado aqui mesmo nesse blog -, totalmente parcial e não apontando o dedo para os responsáveis diretos pelo terror paulista, e a imprensa inglesa, sem rabo-preso, sem meias-palavras, colocando o dedo na ferida. Essa entrevista põe em evidência a parcialidade criminosa da imprensa brasileira - e mostra que não se trata de choramingo de petista. Outro ponto, é que essa entrevista foi feita na época da Copa do Mundo - e a repercussão dela na Imprensa nacional foi nulo, zero, nada, rien du tout! Apenas para exercício de imaginação, pensem só como teria sido bem diferente caso o entrevistado fosse o Presidente Lula! (Naquela época, "escândalo" foi o Presidente Lula ter perguntado a Parreira se o Ronalducho estava gordo... Realmente, um tema muito mais importante). Outra coisa relevante dessa entrevista é que ela confirma exatamente o que Diogo acabou de escrever aqui em baixo - ela mostra o candidato da Direita nu e crú, sem aquele sorriso plástico patético, sem o verniz do marketing, ele como ele é. Mais um vez, vale ser notado, o YouTube demonstra seu caráter revolucionário. A grande imprensa corporativa brasileira tinha tomado uma decisão editorial de não noticiar um fato de indiscutível valor jornalístico. O público brasileiro não ficou sabendo dessa entrevista. Graças ao YouTube, e seu poder subversivo, a entrevista vem à tona. E agora os jornalões dificilmente poderão evitar de falar sobre algo tão desfavorável ao seu candidato. Não percam:

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Para não parar com a Politicagem...

Debate não é luta de boxe. Ninguém, no meu ponto de vista, "ganha" um debate a não ser que seus adversários tenham desempenho tão ruim que terminem consagrando um "vencedor". Acho que num debate, aos invés de perdedores e vencedores, conhecemos atitudes.
Domingo, ao ter a primeira pergunta do Debate, o candidato Alckmin dava o tom do que seria o restante do encontro. E ele começou da forma mais baixa. Concordo que deveria ter uma postura mais agressiva, mas jamais baixa, preconceituosa e enganosa. Insistir em de quem ou de onde é o dinheiro é uma postura de quem não quer saber nada, a não, de forma leviana, acusar. Neste debate, o candidato Alckimin vestiu a máscara de PFL, de uma direita preconceituosa e hipócrita. Trouxe à tona, demagogicamente, o assunto do avião presidencial. Disse que, se eleito, venderia o avião e construiria 5 hospitais! Grande proposta! Em que condições ele manteria esses hospitais, não valia a pena explicar... Candidato Alckmin pediu que o Lula abrisse as contas de seu cartão de crédito bancado pela União. Para quê? Ele sabe que isso é aberto ao público... inclusive, não sei porque o próprio Lula não falou... aliás, imagino que saiba... mas já volto para ele. O que acontece é que Alckmin, na verdade, começa aos poucos a tirar sua máscara.
Já Lula tinha tudo para tornar ainda mais evidente a mediocridade de Geraldo. Lula poderia ter enquadrado Geraldo logo no início. Ao invés disso, entrou no jogo de Alckmin e procurou partir para agressões e acusações. No entanto, senti ele mais propositivo do que seu adversário. Mas Lula estava tenso... talvez por não saber como seria o Alckmin do debate. Talvez por não esperar que Alckmin viesse no nível que veio.
Pessoalmente, achei um bom debate. Mas esperava que Lula soubesse tirar mais de letra um adversário como o que teve.

sábado, 7 de outubro de 2006

"Previously on LOST"

Quem conhece o seriado Lost sabe o que significa essa frase aí acima: vai começar o programa! Esta semana foi ao ar nos Estados Unidos o primeiro episódio da nova temporada. Quem nunca viu, eis uma boa oportunidade de baixar a primeira temporada e começar a acompanhar o que é, sem dúvida, um dos melhores e mais criativos programas de TV dos últimos tempos. Nesse videozinho, abaixo, segue uma compilação dos três comerciais de divulgação da série. Uma curiosidade extra pros brasileiros é a participação, a partir do terceiro episódio desta temporada, de Rodrigo Santoro, que passa a fazer parte do cosmopolita casting do show. Pelo que vi no primeiro episódio, tudo indica que a terceira temporada não deixará nada a desejar em relação às duas precedentes - grande mérito, já que, em geral, mesmo as melhores séries tendem a sofrer de uma certa "fadiga material" depois de um tempo (Desperate Housewives, Six Feet Under). Pela própria natureza do enredo, não deve ser este o caso de Lost - também neste aspecto, um programa atípico. Confiram aí de que se trata o programa:

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Impressões Eleitorais
Essas eleições fizeram brotar em mim alguns sentimentos... uns bons, outros muito ruins. Desde muito antes das eleições, senti que esse Governo estava sendo massacrado. A informação transmitida jamais foi isenta de posições políticas e sempre carregada de inveja e preconceito. Um grande exemplo dessa falta de coerência dos meios de informação, para ficar apenas com um, foi recentemente, uma manchete nas páginas de política do jornal Folha de SP (de domingo, 01/10/2006). A manchete ligava o ex-ministro da Saúde Barjas Negri à máfia das ambulâncias e citava seu nome na manchete. Se formos atrás das notícias veículadas de um ano para cá, jamais encontraremos um exemplo de um petista que tenha sido envolvido em algum pseudo-escândalo cuja referência tenha sido feita por meio de seu nome, apenas. Primeiro, ele estaria estampado na capa... provavelmente, com direito a foto. Em segundo lugar, seu nome viria no corpo da matéria, não na manchete. Na manchete, haveria alguma referência da ligação do indivíduo ao PT, ou a algum ministro importante ou, como não?, do próprio Presidente. Não julgo qual a forma certa... apenas acredito que o que vale para um, deve valer para todos. Isso é propaganda negativa pesada e, aparentemente, muito eficaz.
DECEPÇÃO
Uma de minhas grandes decepções nesse processo é a figura de Cristóvam Buarque. Seu papel foi ridículo! Muito lindo seu discurso, mas ele não estava na disputa para defender, como ele dizia, uma ideologia, a revolução da educação. Estava ali para defender um projeto pessoal, sem o menor compromisso em colocá-lo em prática. Quando começou a concorrer, já avisou que não estava ali para ganhar. Patético. Ligar a falta de Lula ao debate a um ato de Corrupção é forçar a barra demais! Fazendo o jogo da direita conservadora! Sem falar, que esse cidadão foi o único candidato a dizer temer uma vitória de Lula, pois poderia significar tornar-se numa Venezuela! Logo ele vai dizer isso?! Com que objetivo? Para mim, é um frouxo, mal-caráter! Agarrado a um discurso que atrai pessoas que... pessoas que não desejo julgar... que decidi não mais julgá-las.
FALTOU POUCO...
Tivera Sarney perdido no Amapá, o coronelismo nordestino teria sofrido uma queda dupla: Sarney e ACM. Mas está bom... Uma coisa de cada vez. Vemos o PT no Piauí, em Sergipe e na Bahia; o PSB no Ceará, talvez em Pernambuco e parece que no Rio Grande do Norte (não lembro de cabeça); e em Alagoas, pelo menos no ficou nas mãos da elite usineira do estado...
É LULA, LÁ??
Sinceramente, a "esquerda" brasileira pode ter eleito um PSDB para a Presidência. Querendo ser ideológicos, terminaram cagando nos próprios pés... aliás, espero que não... mas a sensação que dá é esta. Acredito menos na vitória de Lula porque não vejo votos em Cristóvam e Heloísa sendo transferidos tão facilemente, assim. Pelo contrário... agora, vale tudo!
A PORQUEIRA DO DEBATE
Não tivessem feito tanta suspeita sobre se Lula iria, ou não, ao debate da Globo, acho que a repercussão eleitoral disso teria sido menor. Mais uma vez, essa cúpula que guia o Governo, errou e perdeu pontos importante para conseguir finalizar tudo no dia 1º.
A CHATEAÇÃO
Nunca imaginei que "não votar" me faria tão mal. Me senti impotente. A vontade que deu foi voltar para Recife no 2º turno... a vontade durou até eu ver o preço da tarifa.

Brasil 2006 repete França 2002


Essa turma que vota nulo ou na "esquerda fragmentária" bem que merece um governo Alkmin pra ver o que é bom pra tosse.

O segundo turno vai ser duro. O tal do debate que o ingênuo (?) Cristóvam tanto pede, será em verdade um "massacre", como tem sido nessas últimas duas semanas. A versão única da oposição conservadora e seus porta-vozes midiáticos.

E, assim, a pseudo-vanguarda do voto nulo traz de volta ao poder as forças do atraso.

E vejo o futuro do Brasil ameaçado pela volta da política liberalizante de desmonte do Estado que essa turma vai fazer (privatizações, terceirizações, arrocho salarial), revertendo o esforço do Gov. Lula de reconstrução e valorização do Estado brasileiro. Tudo isso com a contribuição direta de eleitores que se dizem ou crêem "de esquerda" ou "progressista".

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

"Pra pensar e pra agir 

O que você acredita que seria mais benéfico para
o processo da reconstrução
de uma esquerda sensata
neste momento (em termos de resultado da eleição

presidencial 2006), a manutenção de um Lula com a
promessa de remissão dos
seus pecados ou o retorno
da turma da direita?...ter esperança no "vou ver"

uma esquerda saneada ou deixar "volver atrás" uma
direita
maquiavélica?...Será que este pesadelo
desesperador pode acabar com um P

SÓ???..."



mensagem de e-mail repassada pelo Professor Frank Tupinambá

domingo, 1 de outubro de 2006

26/09/2006 09:00

O que está em jogo no dia 1º de outubro


http://blogdodirceu.blig.ig.com.br/



Não se trata de vencer por vencer. E não se trata do PT. O que está em
jogo é o Brasil, o futuro do país, o seu rumo. Nada pode apagar os quatro
anos de governo Lula, resultado de nossa vitória em 2002. O balanço é o
próprio povo que está fazendo. Mas ainda há muito para fazer a fim de que
o Brasil cresça e acabe com suas desigualdades sociais históricas.

A reeleição de Lula é fundamental, não só para avançar no projeto de
desenvolvimento, mas, principalmente, para iniciar uma ampla reforma
democrática no Estado brasileiro, começando pela reforma
político-eleitoral.

No início de 2004, a oposição rompeu o pacto democrático e iniciou, com
amplo apoio de grande parte de nossa mídia, uma escalada para
desestabilizar, derrotar e, se fosse possível, derrubar o governo Lula. O
uso aberto e sem pudor das CPIs para esse fim está comprovado na recusa,
sem vacilações, do PSDB e do PFL em permitir CPIs sobre seus governos
estaduais. E, agora, do PSDB de Piracicaba (SP), que acaba de arquivar um
pedido de investigação parlamentar sobre as relações de Barjas Negri
(ex-ministro da Saúde e ligado a José Serra), o empresário Abel Pereira e
a máfia das ambulâncias.

A oposição não vacilou em apelar abertamente para o golpe, como o fez pela
voz autorizada de um ex-presidente da República e seu líder inconteste. A
base de nossa democracia é o voto universal. Mas, durante toda a campanha
eleitoral, o que vimos foi uma tentativa canhestra e antiga, como aquela
praticada pela UDN nas décadas de 50 e 60, de desqualificar o voto
popular. A oposição não teve pejo de representar no Tribunal Superior
Eleitoral contra a candidatura Lula, sem ter nenhuma evidência, indício ou
prova que envolvesse o presidente e os recursos de sua campanha no caso do
dossiê Serra.

Não temos salvação fora da legalidade e da democracia, fora das
instituições. Aqueles que nos acusam de aparelhar o Estado não podem,
abertamente, politizar e partidarizar a ação da Justiça Eleitoral e nem
pretender substituir o voto pelo Tribunal Superior Eleitoral, retrocedendo
às piores práticas da República Velha.

O princípio sagrado da democracia (“a cada cidadão um voto”) não pode ser
substituído pelo veredicto de uma dezena de homens. A igualdade de
condições para a disputa do voto não pode ser desequilibrada pelo uso da
mídia na campanha, pela partidarização aberta e completa do noticiário e
pela manipulação dos fatos.

Nunca, na história recente do Brasil, assistimos uma tão despudorada ação
dos meios de comunicação contra um governo e uma candidatura, sem falar na
campanha contra o PT. Nossa vitória, no primeiro turno, será, também, uma
resposta clara e dura do povo a essas práticas antidemocráticas e
permitirá ao país avançar na consolidação de nossa recente democracia.

Como sempre, a militância do PT fará a diferença. Precisamos da
mobilização e da arrancada final da última semana, precisamos fiscalizar a
eleição no dia 1º, é isso que vai garantir nossa vitória no primeiro
turno. Com a força do povo, Lula de novo.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Não são todos iguais

Ontem eu fui para a reunião dos fiscais do PT. Lá, recebemos orientação do que esperar nas zonas eleitorais e quais os procedimentos que devemos tomar. Além disso, aprendi um pouco de história recente do Brasil. Mais especificamente, de Brasília.

Em 2002, Joaquim Roriz, atual candidato a senador pelo Distrito Federal, e virtualmente eleito, foi reeleito no segundo turno por uma margem mínima. Alguns dos acontecimentos comuns naquele ano: PMs armados, nos locais de votação, pedindo voto para Roriz; os fiscais de Roriz eram pagos e recebiam vale transporte do Governo do Distrito Federal, além de lanche preparado pelas cozinheiras das escolas públicas; ao final da votação, alguns mesários iriam digitar votações favoráveis a Roriz, quando não havia fiscais do PT por perto (como somos voluntários, há uma escassez de fiscais). Se eu não fosse a essa reunião, nunca tomaria conhecimento disso. Mas imaginem só se fosse feito por alguém do PT! Era mais uma crise.

Enquanto alguns jornalistas escrevem artigos arlamistas, preocupados com meteoros que possam cair na Terra, se esquecem da destruição cotidiana e impune. Queria ver Paulo Henrique Amorim falando dessas infrações, perpretadas por políticos com bons amigos no Judiciário, e que mudam resultados eleitorais (como aqui no DF em 2002), ao invés de se preocupar com algo hipotético. Enquanto setores da esquerda e da classe média, que se deixam levar pelo clima inquisitório imposto pelos grandes meios de comunicação, pautados pela oposição conservadora, e acham que "são todos iguais" e vota na direita, essas coisas continuam acontecendo.

Ainda que o PT de São Paulo venha demonstrando ter nos seus quadros verdadeiras almas sebosas, o fato é que na maioria dos estados o PT ainda é a força política mais séria e mais comprometida com os movimentos sociais e com políticas populares inclusivas e progressistas. Você não ouvirá histórias de compra de votos por deputados petistas, nem de fraudes nas zonas eleitorais. E, dos grandes partidos, apenas o PT tem fiscais voluntários - como eu. (Depois de domingo direi como foi a experiência).


Bom x Ótimo

Nada mais verdade do que o ditado que diz "o ótimo é inimigo do bom". O melhor exemplo histórico recente é a França, nas últimas eleições presidenciais. O Governo do Primeiro-ministro socialista Lionel Jospin era bem avaliado e tinha posto em prática algumas políticas esquerdistas, além de ter proporcionado crescimento econômico no país. Mas, nas eleições para presidente, a esquerda dividiu-se, porque não achava o Governo Jospin "bom o suficiente". Resultado: Jospin não foi para o segundo turno, que foi disputado entre o conservador Chirac e o ultra-conservador Le Pen. E a esquerda votou em massa no primeiro. Ao invés de setores da esquerda brasileira se inspirarem no maluco do Chávez, seria interessante que observassem o caso francês, e pensassem duas vezes antes de votar na Heloísa Helena e, assim, empurrar as eleições para um segundo turno nada garantido para a reeleição do Presidente Lula, o nosso Jospin, contra o nosso Chirac (até fisicamente se parecem!).

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Lobão no Faustão, 1989


domingo, 24 de setembro de 2006

Apertem os cintos!

Uma coisa é fato - a tendência das últimas pesquisas de todos os institutos é crescimento "lento, seguro e gradual" (pra citar uma expressão cara à nossa oposição!) e oscilações sucessivas pra baixo do Presidente Lula.

Daqui para o final, não devemos esperar refresco nem da oposicação (o que é normal) nem da imprensa (o que é escandaloso). A menos que um fato novo (este velho caramada que apareceu pra nos atemorizar, a nós petistas) surja contra a campanha dos conservadores, a impressão que eu tenho é que estamos indo na direção de um segundo turno. As pesquisas da semana que vem é que melhor irão refletir se a subida de Alkmin e a queda de Lula foram uma coisa do momento ou uma tendência. Mas aviso logo - apertem o cinto, que tudo indica que teremos umas semanas a mais de sofrimento... tudo por causa de paquidermes do PT-SP. (O lado bom disso tudo é que PT-SP deverá passar longe do segundo governo Lula).


O melô de Lula 2006


"Apesar do PT, amanhã há de ser outro dia"

(hahahha)

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Por uma análise equilibrada

Eu estava errado, como agora está claro. Não houve complô algum contra o PT. Há, sim, uma exploração da oposição (que cumpre, naturalmente, seu papel de oposição), por sua vez reverberada pela Imprensa (que cumpre seu papel de porta-voz da oposição) - dá-se a tentativa de generalizar-se esse crime a todo o PT e ligá-lo diretamente ao Presidente Lula.

Talvez o analista mais sensato e equilibrado na imprensa brasileira hoje seja Luís Nassif. Isso ficou claro em dois momentos recentes quando a maioria dos jornalistas tomava posições apaixonadas (o caso da Bolívia e o da Varig). Nassif sempre manteve a frieza. O blog Luis Nassif Online é sem sombra de dúvida uma excelente fonte de informação. Coloco, abaixo, o texto em que ele analisa esse escândalo. Muito bom. Não consegui mudar a cor do texto. Ou vão diretamente à página (link acima), ou então selecionem o texto com o mouse e ele ficará branco e legível... Vale a pena ler.


20/09/2006

O dossiê e as batalhas do PT

Para entender o caso da compra de dossiê, é preciso analisar dois tipos de conflito político atuais. Um deles é a disputa entre o PT e o PSDB. O outro, a disputa entre a ala paulista do PT e a ala nacional. O terceiro ponto, é entender o estilo político de Lula.

Comecemos pelo terceiro. Lula e Fernando Henrique Cardoso são irmãos siameses na arte de administrar conflitos e tendências em seus partidos ou no governo. Não tomam posição. Tentam ficar por cima das paixões, e interpretar os rumos do vento. Só quando clareia o horizonte, ou os ventos se transformam em furacões, é que assumem posições.

Muitas vezes essa incapacidade de decidir foi confundida com fraqueza, tanto em FHC quanto em Lula. Não é fraqueza, é estilo político.

Vamos ao segundo ponto: as disputas entre facções do PT. O partido é um arquipélago que se divide não apenas entre tendências, mas entre regiões que, não raras vezes subdividem-se em várias tendências.

Entre as tendências horizontais (nacionais), há a ala sindicalista, que junta militantes de São Bernardo, Campinas, o pessoal mais próximo a Lula, de Jacó Bittar e Zeca do PT a Luiz Marinho. Há a ala Dirceu, que tornou-se majoritária no Diretório Nacional depois de fincar bases no PT paulista. Na ala paulista, há uma franca divisão entre Aluízio Mercadante (tem projeção nacional, mas não tem quadros) e a militância que se formou em torno de Martha Suplicy, coordenada por Rui Falcão – originalmente do grupo de Dirceu mas que, depois, tentou ganhar luz própria. Agora, na crise, devem se reaproximar de novo. Nessas duas tendências –a sindical e a “dircelista” pontificam quadros paulistas

Mas há diversas tendências regionais, até agora pouco articuladas, e que não se meteram nas trapalhadas do “mensalão” e companhia. São quadros como os mineiros Pimentel, Dulci e Patrus, os gaúchos Tarso, Dilma, o nortista Jorge Vianna, o nordestino Marcelo Dedá.

A ala paulista começou a se perder nos escândalos do ano passado, inclusive devido a um erro estratégico de Lula –o de não querer alianças com grandes partidos—que a levou a empregar métodos bisonhos na caça de aliados. Com os escândalos, Lula começou a jogar a carga ao mar e se escudar nas alas petistas que não se queimaram. É quando começam a brilhar as estrelas de Tarso e Dilma, que começam a aglutinar as tendências regionais. Em um eventual segundo governo, o tom seria dado por eles.

A perda de espaço do grupo paulista se completaria com a derrota de Mercadante para José Serra. Sem espaço no governo, sem cargos em São Paulo, o PT paulista seria afastado definitivamente da condução do PT nacional.

É esse desespero que explica esse movimento da compra do dossiê pelo PT paulista.

Não se reduza a responsabilidade de Lula. Em direito existe a responsabilidade civil e a criminal. Quando ruiu o Shopping Osasco-Plaza, a responsabilidade penal foi do arquiteto; a civil do Shopping que o contratou. Quando caiu o avião da TAM, a responsabilidade penal foi da Fokker, a civil da TAM.

No governo, mesmo que se prove que a responsabilidade penal não foi de Lula, como chefe do governo, vai ter que arcar com a responsabilidade civil, com um profundo desgaste adicional, quando mal se curava das feridas das batalhas anteriores.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

O que está em jogo nessas eleições

Há, por trás dessa luta partidária intensa, um combate político, em que visões de Brasil e interesses econômicos feridos estão em jogo. A oposição conservadora tucano-pefelê vem tentando desmoralizar o Partido dos Trabalhadores e desestabilizar o Governo Lula de todas as formas, desde 2004.

A partir de 2004, apareceu o caso Waldomiro Diniz - que não tinha nada a ver com este Governo... Denúncias requentadas. Pululavam, sempre que possível, acusações sobre o suposto viés autoritário do PT. Qualquer espirro dado era uma atitude stalinista.

Em 2005, um ex-aliado, sabe-se lá movido por que motivações, revela um esquema de caixa dois do PT para o financiamento de partidos aliados. Prevalece a versão única dos acusadores, a grande imprensa corporativa passa a ser pautada pelos líderes oposicionistas - agora com munição de sobra para a sua campanha difamatória contra o maiore o mais orgânico partido de esquerda do Brasil. A CPI criada para investigar os fatos recebe a alcunha de "CPI do Fim do Mundo", em decorrência de sua pretensão de provar uma tal de corrupção sistêmica do Governo, que nunca se confirmou. O acusador inicial é cassado por ter mentido nas suas acusações - e o Deputado José Dirceu, militante histórico da esquerda e mentor do projeto petista de governo, sofre a mesma punição, ainda que baseado naquelas acusações que seriam falsas...

A oposição conservadora opta por não derrubar o Presidente Lula, mas deixá-lo sangrar e vencê-lo nas eleições. Faltou combinar com o povo. A despeito a fúria oposicionista mais feroz da história recente do país, com a conivência, quando não com a participação direta, dos grandes meios de comunicação, o Governo Lula - o mais investigado, aberto às pressões populares, o mais transparente da História recente do país - goza de altos índices de popularidade (62% de aprovação, segundo recente pesquisa).

Depois de uma semana de tentativas inúteis de atingir o Governo, com acusações de desvio de verba pública e de autoritarismo (sempre ele!), surge essa denúncia esquisítissima. O Presidente Lula sempre foi avesso a dossiês. Em campanhas passadas, mesmo quando nem tinha chance de vencer, recusou até ver dossiês como o Cayman ou a Pasta Rosa. Por que cargas d'água iria o Presidente, agora que é franco favorito, e com uma onda de candidatos petistas subindo nas pesquisas (em RS, SP, BA, PE entre outros), recorrer a tal recurso? A quem interessaria isso?

A oposição conservadora correu para o TSE pedindo a impugnação da candidatura do Presidente Lula. Como não conseguem ganhar no voto, recorrem a esse tipo de expediente.


Hipóteses do dossiê


Eu tenho três hipóteses para essa história bizarra do dossiê:

1. Foi uma armação de alguém da oposição que teria
a. pago os dois filiados ao PT para envolver o partido nessa história; ou
b. atraído os dois filiados petistas (e retardados mentais, porque puta que o pariu!) a uma armadilha.

2. Os dois filiados presos agiram a mando de alguém do PT paulista (pra variar, fazendo merda).


O comportamento da Imprensa


Em qualquer dos casos, é chocante o comportamento da imprensa. É sempre assim. Quando alguma denúncia tem a ver com o PT, refere-se sempre a "petista envolvido em" ou "gestão petista" etc. Mas quando se trata de alguém de qualquer outro partido, aí então as manchetes de repente se despartidarizam e se fulanizam: "fulano envolvido em" ou "gestão de fulano" etc. É gritante a discrepância do tratamento dado a um e outros. Enquanto isso, a Polícia Federal segue fazendo o seu trabalho sério, discretamente.

Por trás da luta partidária


Esse acirramento na reta final, retomando os piores momentos da campanha desestabilizadora do ano passado, é mais um sintoma de que está em curso uma forte disputa política (latu sensu). Não se trata apenas de briga do poder pelo poder. Está em jogo visões distintas de país, representadas pelos dois principais partidos, PT e PSDB-PFL. O fim do processo de desmonte e sucateamento do Estado brasileiro, que se deu durante toda a década de 90, por meio das privatizações e terceirizações do setor público assim como a valorização do funcionalismo público federal (maior número de concursos públicos, mais valorização das carreiras de Estado) é uma política claramente anti-liberal que desagrada os setores reacionários da sociedade brasileira. O aumento dos gastos públicos federais, e sua distribuição geográfica mais justa (mais investimentos no Norte-Nordeste, privilegiando a região historicamente marginalizada do processo de desenvolvimento econômico do país), assim como mais gastos para os pobres (na Saúde, com os programas de Saúde na Família, o SAMU, o atendimento bucal, remédios populares, etc.; os programas sociais inclusivos), é uma política que incomoda os que sempre se beneficiaram do modo como as coisas costumavam ser feitas.

E ainda tem gente que gostaria que o Governo Lula tivesse sido mais "esquerdista"... Se os setores reacionários agem assim contra um governo popular de centro-esquerda, imagina como seria um governo abertamente de esquerda!

A frustração dos conservadores é que o Presidente Lula, um democrata convicto (basta ver sua história de vida), não tenha se comportado como o golpista vizinho, Chávez. A nossa imprensa, a serviço desses setores reacionários, no entanto, não hesita em se comportar como a imprensa venezuelana. O segundo mandato vai ser pauleira.
Armação ilimitada

Que história estranha essa do dossiê. Quero deixar aqui registrado: Isso é armação da oposição - até que me provem o contrário, minha versão é essa. Não acredito na versão propalada pela imprensa.

Se eu estiver errado - o que veremos dentro em breve, já que a Polícia Federal segue fazendo seu bom trabalho - reconhecerei aqui mesmo. E, digo ainda, nesse caso, se ficar provado o envolvimento da cúpula partidária, defendo a prisão sumária e imediata de todos por burrice extrema. Por isso desconfio totalmente dessa história. A quem interessa todo esse auê? Certamente, não ao PT! É totalmente irracional, pois todas as pesquisas indicam a vitória do Presidente Lula já no primeiro turno; ele não precisa disso. O grande prejudicado é o próprio Lula.

Incrível como, mais uma vez, a grande imprensa corporativa trata de forma diametralmente oposta PT e PSDB-PFL. Quando se trata de acusação contra o PT, então esquece-se presunção de inocência, ônus da prova do acusador, e devido processo legal - o importante é a acusação, por mais escandalosamente inconsistente que seja. Por outro lado, quando a acusação é contra o partido dos donos das empresas jornalísticas (entre aspas), aí inverte-se a lógica - a acusação deixa de ser importante, e foca-se, agora, no acusador. As denúncias na entrevista da IstoÉ dessa semana indicam - com provas! - que o Sanguessuga começou na gestão Serra, na Saúde.

Por que ninguém fala mais nisso? É um disparate total. A atuação da imprensa, completa e descaradamente servindo ao interesse da oposição conservadora, é nojenta e criminosa. E, pelo que parece, o discurso oposicionista tende a se tornar ainda mais inflamado. Resta um alento. Trata-se, evidentemente, da retomada da campanha orquestrada pelos setores conservadores para desmoralizar o Partido dos Trabalhadores, que sobreviveu à pacandaria do ano passado. Uma coisa, no entanto, ficou clara no decorrer da suposta crise política de 2005 e dos programas eleitorais dessa campanha - a gritante irrelevância de ambas para o povão.

Posso estar errado - em breve saberemos - mas os efeitos disso nas intenções de voto devem ser mínimos. Veja o caso de Humberto Costa em Pernambuco que, mesmo tendo sido indiciado pela PF, subiu solidamente nas pesquisas... A imprensa tem a credibilidade que merece.