segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Teto de zinco

minha mãe conta uma história lá de luanda:


Não me perguntem por que. Casa nova, recém construída, toda bem apetrechada – um luxo. Mas o teto é de zinco. Talvez para fazer a gente pensar nas imensas disparidades da cidade. É verdade que o zinco não é qualquer zinco. É daquelas chapas grandes, duras, com um ondeado esparço, quase quadrado, com o metal brilhando. E não daquelas pequenas, de ondulações estreitas, de metal sem brilho. Estas tão comuns nos musseques daqui de Luanda.

Pois bem, houve noites, desde que chegamos que escutamos estalos. Barulhos estranhos, secos, alto. Isto aconteceu umas 4 vezes durante esta nossa curta estadia na nova casa (estamos aqui desde o dia 6 de janeiro, com uma semana fora, neste período). Mas eram estalos altos e secos, como se algo estivesse quebrando.

Saíamos do local onde estivéssemos, à procura noutros cômodos da casa do que poderia ter ocorrido.Alma não é. Pensamos na rede elétrica, pensamos no ar-condicionado, pensamos do no-break da televisão.... Da ultima vez chegamos a colocar em duvida a engenharia angolana, e saímos a procura de rachaduras na casa. E essa idéia estava sendo nossa explicação mais plausível até esta quieta manhã de domingo!

Depois de noite bem dormida, eis que me deparo com um bichinho marrom caído, inerte no chão do banheiro. Não ouso tocar. Ajudado por minha miopia e adicionado pela fobia a baratas, cheguei mais perto: bicho miúdo, cabeça fina, arrodeado de pedaços de plástico branco. Olhei para o teto, e vi um orifício e pensei – que bichinho danado roeu o gesso! Tava lá um buraco, meio ovalado, com uma moldura amarronzada no seu entorno, quebrando a monotonia do branco imaculado do teto novinho.

Chamo depressa meu herói: Val, chegue aqui! O que será isso. Ele cochilava tranquilamente deitado no tapete da sala. Só ele ousa tocar e pegar o bichinho marron nas suas mãos... e me diz: aninha, isso é bala. Só então eu aproximo o bichinho pra melhor focalizá-lo, uuff, menino é uma bala! Uma bala perdida que veio se achar no nosso banheiro!!

Por volta da meia-noite, Val novamente ouviu o estalo e outros barulhos. Levantou-se, olhou os cômodos como de hábito. Como de hábito eu havia deixado meu computador ligado, como de hábito ele desligou, com receio que fosse algo na rede elétrica. E voltou para cama, onde eu já nem me dava conta do que ocorria.

Hoje os estalos estão finalmente explicados! A casa não cai! Mas nosso teto de zinco deve estar uma peneira!!

Seguem as fotos para comprovar.