sábado, 24 de outubro de 2009

Porquê mudei de idéia sobre o Rio2016 e Brasil2014

Depois de uma longa troca de mensagens, num intenso debate virtual, entre mim e a minha família, e também com um amigo, terminei revendo minha posição em relação à realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, no Brasil. Um amigo meu que mora na California me perguntou o que eu achava da escolha do Rio. Posto aqui minha resposta, só pra registrar que mudei de ideia e explico os motivos que me levaram a essa revisão.


regarding this rio thing. i was VERY skeptical about it, but after discussing it over with diogo and my parents, who are totally in favor, i have changed my mind. there was also a debate on aljazeera that i found quite insightful.
i worry especially about our lack of oversight institutions. the pan-american games in rio in '07 was, in my opinion, a total disaster in its after effects. since no public debate has followed, I wonder what lessons we as a society have drawn.
Diogo and I had a heated on-line debate over this on our blog, if you want to practice your Portuguese.

here's the aljazeera debate .


so, i changed my mind, because yes, we have loads of problems, on all levels, to deal with. but who doesn't? you have good and bad examples from all places. montreal's OG were a fiasco, financially. Barcelona's was a huge success (and one would think that Canada would organize things better than Spain). Rio has this urban violence situation. England has to deal with terrorism...

I just hope that our oversight institutions will function better this time around, that less public money will be wasted, that at least some of the infrastructure will bear in mind the public good and that some sort of lasting legacy comes out of this. I think post-Lula's Brazil will be better equipped to carry out this enterprise than the pre-Lula one which carried out the pan-american games.

I think rio's choice in large measure has to do with Lula's domestic social and economic policies and his diplomacy. To a certain degree it is a political victory for him. This, combined with the good news like the oil and those coming from the economy and how we have dealt with the crisis (as compared to other countries and to how we fared in the past) has also spread a wave of pride and optimism to all Brazilian people, which is also very important.

Sorry about the long message! I got carried away I guess!

um abração,
bernardo

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outras informações que me ajudaram a mudar de idéia:


- Un nuevo Río para 2016

- Brazil aims to win right to host Olympic Games

- None of the violence I saw in Brazil has changed my view that giving the 2016 Olympics to Rio is one of the IOC's greatest ideas

- Rio de Janeiro woos Woody Allen movie project

- Obras do PAC: Urbanização de favelas - Complexo do Alemão

- Discurso do presidente Lula durante apresentação da candidatura do Rio

- O Rio deve essa a Lula



domingo, 18 de outubro de 2009

Cinco meses

Waterloo Bridge, no caminho de volta pra casa.


Eu continuo buscando entender a origem do meu prévio desprezo pela terra de Churchill. A imagem negativa no imaginário popular mundial é parte da explicação. Recentemente, me dei conta de outro motivo. A minha formação francófona. Os franceses implicam com os ingleses (e com os alemães, e com os belgas, e com os árabes, e com os americanos...). Mas talvez isso já seja sinal do progresso acelerado do meu processo de britanização: já estou culpabilizando os froggies pelos meus males... e já os estou chamando de froggies! Ui!


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Crescendo no Recife, aprendi a “jogar o lixo fora”... literalmente. Jogar fora do carro, fora da casa: em suma, fora, na rua. Tempos depois, me mudei pro Oregon, onde não se joga lixo fora. Lá, passei a conjugar o verbo “reciclar”, até então praticamente inexistente no meu vocabulário cotidiano recifense. Passou a ser prática diária. Agora, estou aprendendo outra forma de lidar com o lixo (antes de ele ser compactado e enviado pro Porto de Santos em containeres clandestinos, of course). Estava outro dia na estação de trem de St-Pancras, procurando onde “jogar fora” o lixo que segurava à mão. Perguntei a um guarda, que apontou uma mesa e disse: coloca ali naquela mesa. Claro, que pergunta besta, a minha! Aqui em Londres, nem “joga-se fora” nem “recicla-se” o lixo. Como não há cestos de lixo na cidade (consequencia de ano

s de atentados terroristas do IRA, seguidos pela Alqaeda), a gente aqui “coloca o lixo”. Em qualquer lugar – numa quina do muro na rua, debaixo do banco na estação de metrô, na mesa do café da esquina... Mas ele nunca é jogado, e sim cuidadosamente colocado.


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Brazil in London


Eu me mudei pro Borough. É um bairro bem central. Estou a 15-20 minutos de pedalada da universidade. O bairro é bem tranquilo e ao mesmo tempo central. É possível ir para qualquer parte da cidade, pedalando. Atravesso o rio Tâmisa diaramente. O mais difícil é a volta. Londres iluminada é de uma beleza incrível. É inevitável passar pela Waterloo Bridge e ficar olhando, à minha esquerda, a London Eye vermelha, brilhando no escuro; a Hungerford Bridge com seus cabos de aço iluminados, como que flutuando na escuridão; atrás dos dois, o Big Ben, imponente, elegantemente discreto com as luzes brancas destacando-o. Dependendo da hora da volta, ainda tem o céu de fim de t

arde de outono, as nuvens com diferentes tonalidades de laranja. Aprecio tudo isso em alguns segundos, porque se não prestar atenção, posso esbarroar com os carros estacionado

s na ponte (como é permitido isso?!). Mas é bom saber que no dia seguinte estará tudo lá, tão bonito quanto antes. Só o céu, que vai mudando, à medida que vamos avançando outono adentro.


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Tenho a impressão de que o outono é a segunda pior época para os garis. A primeira é o verão, com a invasão bárbara representada pelos turistas de verão, com seus hábitos anti-britânicos de jogar o lixo fora (ao invés de “colocá-lo” no canto). À medida que o verão vai acabando, também o fluxo desses bichos migratórios (os turistas) vai diminuindo. Na proporção inversa, no entanto, dá-se a queda das folhas. E antes que o gari pudesse suspirar aliviado, “ufa! Foram embora”, o gramado dos parques,

antes cobertos de embalagens de McDonald’s, já estão tomados, dessa vez, por folhas com diferentes tonalidades de laranja e vermelho. O número reduzido de turista nas ruas e as árvores totalmente desnudas me levam a crer que o inverno é a estação predileta dos garis. A conferir.


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Na primeira semana de aula, apareceu um stand no campus da universidade, Dr. Bike. Ofereciam conserto gratuito de bicicleta. Levei a minha, comprada de segunda mão e, portanto, em condições um tanto precárias. Meio com um pé atrás, porque onde venho aprendi que, de graça, nem injeção na testa! Mas estava anunciado: free bike repair. Levei meu meio de transporte para revisar. Enquanto o cara fazia o seu trabalho, eu perguntei qual o motivo daquilo. A prefeitura do bairro de Westminster (onde

está localizada a London School of Economics) quer incentivar as pessoas a utilizarem a bicicleta para ir para a aula e para o trabalho. Mas querem que os ciclistas usem bicicletas em boas condições. Por isso estava oferecendo aquele serviço, para garantir a segurança dos cidadãos. I’ve a feeling we’re not in Kansas anymore!


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Às vezes parece que eles fazem isso só pra sacanear com os estrangeiros. Porque não é possível, tem umas palavras que chega a ser criminoso. Escreve-se de um jeito e pronuncia-se de outro. Algo completamente aleatório e sem sentido. Meu bairro mesmo. Borough. Mas fala-se “bora”. Até aí tudo bem. Um que levei um tempo até aprender foi o Leicester Square. Insistia em pronunciar todas as sílabas. Erradíssimo. Fala-se “léster”. Não adianta buscar sentido. Não há. Tem que decorar mesmo. As sílabas estão lá, não para serem faladas. Só pra dificultar a vida de nós, estrangeiros, que nos esforçamos herculeamente para dominar a língua de Shakespeare. Tem o bairro aqui que se chama Southwark. Eu pronunciava direito, comme il faut: “south” + “wark”. Lógico, não? Não. Regra elementar: juntou, mudou. O jeito certo é: “só-thórk”. Outra que me embananava era uma estação de metrô que eu tinha ouvido falar... eu entendia algo como “suriquis”. Isso soava mais como praia nas Alagoas do que bairro londrino! Finalment

e vi uma placa na rua e a ficha caiu e eu quase que caí pra trás com a Eureka: Era “Surrey Quays”! Um colega inglês recentemente veio me perguntar em que “rus” eu habitava. E eu sem entender do que danado ele estava falando. Que diabo de palavra seria essa. Depois de um esforço de parte a parte, entendi. Ele estava perguntando qual era o meu “halls” (residência estudantil)!


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Continuo me surpreendendo com a polícia aqui. Eles montaram um stand vizinho ao do Dr. Bike. Minha bicicleta foi registrada, com um número permanentemente afixado. Se for roubada, basta que eu avise à polícia, que terá a descrição da minha bicicleta em seus arquivos e, encontrando-a, me avisarão por E-mail - http://www.bikeregister.com/ . O número de registro é carimbado de tal modo que não é possível retirá-lo. Ocorreram mais de 17 mil roubos de bicicleta entre abril do an

o passado e março desse ano. O bairro onde está a universidade foi onde ocorreu o maior número de roubos (436 entre abril e agosto desse ano). A ideia do registro tem o intuito de inibir a atuação dos ladrões. A polícia estava no campus para ajudar. E inserida na política mais ampla da prefeitura de incentivar o transporte limpo. Ainda acho estranho essa ideia de polícia amiga. Soa como oxímoro. Pensamento de brasileiro, I guess...


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As aulas começaram. A London School of Economics and Political Science (LSE) é um meio increvelmente cosmopolita. Não é por acaso: faz parte da política da universidade atrair estudantes de todas as partes do mundo. Assim como professores. Eu tenho um professor uruguaio (que também é o meu supervisor acadêmico), um sul-coreano, um americano e um britânico (galês). Tenho colegas do mundo inteiro. Inclusive um que se auto-intitulou de “the weird one” (o estranho): é nativo de

Londres. A biblioteca da LSE é a maior biblioteca de ciências sociais do mundo. Taí uma megalomania que não é ridícula. E, de fato, temos acesso a um acervo rico e plural. Quase todas as leituras das aulas estão disponíveis nas nossas páginas pessoais virtuais. Lá, podemos baixar os textos e imprimi-los na própria biblioteca, com a nossa senha, e dentro da lei – pagando direito autoral e tudo. Há muitos computadores para que os estudantes possam fazer o seu trabalho, e eles estão integrados em rede, de modo que eu possa guardar os meus arquivos e ter acesso a eles a partir de qualquer computador do sistema. As minhas disciplinas esse termo são: Desenvolvimento Latino Americano no Século XX: de liberalismo a neo-liberalismo; o Estado e Instituições Políticas na América Latina; Introdução a Política Comp

arada.


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Até agora, sigo adorando Londres, com clima frio e tudo. Soube que o teste de fidelidade com a cidade é o inverno. Vamos ver como me sairei. O teste do outono, estou passando: so far, so good.


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Veja aqui fotos do meu verão londrino. Reparem no mapinha ao lado direito da tela a localização exata de cada foto!




De vez em quando uns hare krishna aparecem no campus

oferecendo uma gororoba gratuita. É um sucesso.


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Mês 1


Mês 2


Mês 3


Mês 4


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Brasil e Irã

Tem gente criticando o presidente Lula por se encontrar com o maluco do Ahmadinejad, o presidente do Irã, em dezembro. Essa mesma gente criticou a política externa lulista quando o Brasil se aproximou de outro maluco, Gaddafi, da Líbia. Aí, em seguida, o outro maluco, W. Bush, ficou de bem com ele, e aí isso deixou de ser um problema para o Brasil, na visão dessa mesma gente. Só deixará de ser um problema para o Brasil relacionar-se com o Irã quando deixar de sê-lo para os americanos, de novo? Enquanto tem gente que fica com inquietações metafísicas, a China está lá no Irã, realizando comércio. Comprando petróleo. E vendendo tudo o resto. (Olha aqui nessa reportagem ).

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sem direito a estudar

Um estudante foi aceito pra estudar na London School of Economics, mas não pôde vir. O governo não permitiu que ele deixasse seu país. Trata-se de um palestino que não está frequentando as aulas porque o governo de Israel não permite que os habitantes de Gaza saiam livremente de seu país.

Os estudantes aqui em Londres da LSE estão tentando se mobilizar para ajudar a trazê-lo para o Reino Unido para que possa dar continuidade à sua formação. Quem quiser se informar mais ou participar da campanha virtual, vá no site: http://letothmanstudy.wordpress.com/campaign-statement/

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O debate que nunca houve

Essa história dos JJOO me fez lembrar do debate travado aqui no blog, entre Diogo e eu, sobre os Jogos Pan-americanos de 2007.

Diogo defendeu: aqui.
Eu critique: aqui.
E Diogo fez um balanço geral: aqui.

É interessante reler e reviver. Percebemos que nenhuma lição foi tirada da realização daquele evento, nenhum debate público o sucedeu. Mesmo diante do descalabro que foram os 4,5 bilhões de reais torrados nisso (ante uma estimativa prévia de 400 milhões de reais). Se não discutimos e ninguém foi punido, a lição dos que perpetraram o desperdício de verba pública não é outro senão: "êba!" E vão fazer tudo denovo...