domingo, 20 de novembro de 2011

Debatendo Belo Monte

Um post de Jampa na sua página de Facebook gerou uma bela troca de idéias e informações entre ele e César sobre Belo Monte que vale à pena ser colocada aqui para registro e mais fácil acesso.

Tudo começou com Jampa lincando - e elogiando - esse artigo no seu mural do Facebook. Ao que se seguiu o diálogo abaixo:


Cesar Melo: Jampa, meu querido, vou discordar de você. Acho esse texto do Marcelo péssimo. De uma arrogância imensa, típica de quem acha que consultar o google é fazer "pesquisa", quando se tem um bibliografia imensa acerca do tema que o jornalista se deu o trabalho de pesquisar. Tem a arrogância digna dos colonizadores de achar que o território brasileiro, que a floresta é um "território vazio", uma coleção de árvores sem história. É muita ignorância antropológica. É impressionante que, na tentativa de ser irônico, fale das "baleias de xingu" (como que para fazer referência a espécies exóticas defendidas por ambientalistas), e não fala uma vez sequer dos seres humanos direta e indiretamente atingidos por Belo Monte: mais de 24 etnias de indígenas e seus modos de viver estão sendo ameaçados. Pra quê? Em nome de que desenvolvimento? Vejo gente dizendo que Belo Monte existe para que nós, classe média, possamos continuar usando nossos Ipods e laptops. Não é verdade. Belo Monte não está sendo construída para que a família pobre do Bolsa Família possa comprar um microondas! Belo Monte faz parte de um projeto que é resultado do lobby das indústrias eletro-intensivas, como a indústria do alumínio. Essa indústria tem como um dos principais lobistas a máfia dos Sarney, que domina a política energética do país há mais de 20 anos. Para transformar bauxita (mineral bastante abundante no Pará) em alumina, é necessário uma quantidade absurda de energia. O Brasil exporta a tonelada de alumínio primário por 1500 dólares e importa o mesmo alumínio mais trabalhado por 3000 a tonelada. Esse é o modelo de desenvolvimento por trás de Belo Monte. Nada novo. Economia neocolonial no seu estado puro, inclusive com as mesmas consequências para os povos indígenas que estão no meio do caminho.


Bernardo Jurema: césar, brigado por esse texto tão esclarecedor! Eu sabia que era contra a Belo Monte. Agora eu sei por quê sou. O único ponto com o qual concordo com o texto do Marcelo é no que diz respeito ao vídeo - é débil mental, não informa absolutamente nada, vazio, oco. Isso num tema complexo, como você apontou. Poderiam fazer um vídeo explicando, em imagens, o que você, com sua eloquência típica, colocou tão bem em palavras. Eu me recuso a usar aquele vídeo global metido a cool para mobilizar a nossa classe-merda. mas esse teu texto vale a pena sim ser distribuído.


Jampa Paulo Lima: Cesar, acato sua discordância e os esclarecimentos. Eu fui meio que na onda rápida de achar legal a maneira com que ele atacava a falta de informação do comercial. Mas ele ataca o video, sem dúvidas, com mais desinformação ainda. Para quem tiver tempo de ler algo interessante sobre Belo Monte recomendo esse documento.


Cesar Melo: Berna, acredito que o vídeo tem a função de apresentar o assunto para muita gente que sequer sabia da existência do problema. Mas concordo contigo que o vídeo é muito soft e despolitzado. É preciso politizar a questão. Não é uma questão meramente técnica. É uma questão política: que tipo de país a gente quer? que tipo de desenvolvimento a gente advoga? que futuro a gente vai querer para as próximas gerações. É importante explicitar quais são os atores políticos e econômicos envolvidos nessa briga. Jampa, obrigado pelo pdf. Vou dar uma olhada. Também te passo alguns textos, compilados pelo Idelber, sobre Belo Monte (aqui). Vale dar uma olhada, sobretudo no material dos professores Oswaldo Sevá e Celio Bermann. Gente que estuda politica energetica no pais ha anos.

Bernardo Jurema: aqui o vídeo original que esse daí imita.


Jampa Paulo Lima: Sim, obrigado Cesar. O relatório likado por mim foi indicado por Felipe, amigo que é biólogo e acompanha mais de perto essa questão. Antes de você, hoje pela manhã, ele já havia dado um puxão de orelha ao me alertar sobre a fragilidade do vídeo. Eu me sinto nesse caso muito como BJ, eu sabia que era contra sem ter muitos argumentos, porque acompanhava a questão muito por blogues como o do Sakamoto, que enfatiza a questão dos direitos humanos. Eu vou tentar ler essas coisas com mais calma depois... mas a olhada tá garantida!


Cesar Melo: Jampa, vale a pena ler esse trecho do estudo que vc me indicou. O estudo coincide com outros estudos que também li. Essa história de dizer que Belo Monte vai alagar APENAS 516 km2 é lorota para boi dormir. Segue o trecho: "Estes resultados nos conduzem a uma conclusão inevitável: seja viável ou não como empreendimento independente, o Complexo Hidrelétrico Belo Monte irá criar uma enorme pressão para a construção de mais barragens a montante. A própria Eletronorte prevê a utilização média de apenas 40% da capacidade instalada da usina. As simulações com o modelo HydroSim apontam uma taxa de utilização inferior a 20%.
Essa capacidade ociosa representa uma “crise planejada” e deve estimular permanentemente projetos de regularização de vazão do rio Xingu. Por exemplo, se a taxa de utilização fosse elevada até 80% (semelhante à situação de Itaipú), o incremento
no valor bruto da geração das turbinas de Belo Monte seria entre US$1,4 e US$2,3 bilhões/ano, justifi cando investimentos da ordem de US$11 bilhões a US$19 bilhões. Cus tos e Bene f í c ios do Compl exo Hidre l é t r ico Be lo Mont e : Uma Abordagem E conômico-Ambient a l 13
Em função disto, parece muito pouco realista o cenário de um CHE Belo Monte “sustentável”: uma única represa, extremamente produtiva e rentável, que impacte uma área reduzida e já bastante alterada.
Caso o CHE Belo Monte seja efetivado, devemos considerar um quarto cenário, mais realista no longo prazo. Esse inclui, no mínimo, a construção de uma barragem no sítio
Babaquara (agora denominada Altamira). O desenho original para esse aproveitamento indicava uma área alagada de 6.140 km², equivalente a 14 vezes o espelho d’água de
Belo Monte e cerca de 30 vezes a área de fl oresta que Belo Monte inundaria. O valor presente de emissões de gases de efeito estufa atingiria a cifra de US$547 milhões a
US$15/tonelada de carbono. Além disso, afetaria de forma direta as terras indíginas Araweté/Igarapé Ipixuna, Koatinemo, Arara, Kararaô, e Cachoeira Seca do Irirí, além da Floresta Nacional do Xingu"


Jampa Paulo Lima: Cesar, eu tinha lido essa parte do estudo. E achei bem significativo também, ainda nesse resumo executivo, o fato de se ressaltar os estudos de impacto mal feitos apresentados pelas empresas interessadas. Acho que para uma obra dessa envergadura ter estudos de impacto ambiental e social bem feitos seria o mínimo...Mas só essa nossa troca hoje aqui já valeu meu dia!


Gabrilha van der Flou: Obrigada por este debate meninos! vou tentar pesquisar um pouco mais... A energia tb tah dando pano pra manga aqui na França, em meio a campanha presidencial...

Gabrilha van der Flou: pra alimentar o debate e pros francophones ver cenario negawatts (associação francesa pra sair do nuclear) - aqui.


Cesar Melo: Acabei de ver que a maior hidroelética do mundo será construída na República Democrática do Congo. Os principais beneficiados serão os polós industriais e mineradores, além de centros urbanos da África do Sul e até da Europa que receberão energia gerada por essa hidroelética. Será uma Belo Monte africana. Eis aí um exemplo de colonialismo do século 21: veja aqui.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Lógica falaciosa na cobertura sobre diretor da Al Jazeera

O artigo da jornalista Heloísa Villela, ilustrativo de certa interpretação dominante em setores da blogosfera, peca por lógica faliciosa. Clássico caso de post hoc ergo propter hoc - A falácia está em chegar-se a uma conclusão baseada unicamente na ordem dos acontecimentos, ao invés de tomar em conta outros fatores que possam excluir a conexão. Em outras palavras, "Desde que aquele evento seguiu-se a este, aquele evento deve ter sido causado por este".

O artigo na Foreign Policy, do correspondente baseado no Golfo, chega à seguinte conclusão: "What Wikileaks Tells Us About Al Jazeera: the portrait the leaked cables paint is not evidence of any sort of conspiracy so much as an organization struggling to maintain professional standards." (O que Wikileaks nos diz sobre a Al Jazeera: o retrato pintado pelos telegramas diplomáticos vazados não é evidência de qualquer tipo de conspiração, mas o de uma organização que luta para manter padrões profissionais".

O artigo do Guardian, escrito pelo editor do Oriente Médio, levanta a preocupação, esta sim legítima, com o futuro da rede, pois o substituto de Khanfar é membro da família real.

Em entrevista à Al Jazeera, o próprio ex-diretor-geral fala sobre a sua renúncia. Entre outras coisas, Khanfra frisou:

- Sofremos pressão sempre, os EUA bombardearam escritórios nossos, houve pressão para que não levássemos ao ar as fitas de Bin Laden, mas nós nunca mudamos nossa política;
- Temos diretrizes e política editorial claras, a AlJazeera não é um reflexo de uma única pessoa, não importa quem seja o diretor-geral;
- Eu completei meus 8 anos e eu acho que isso é suficiente para que qualquer gestor dê o seu melhor;
- sobre o que ele vai fazer em seguida: "Eu tenho um projeto que irei anunciar em breve"';
- O público é a segurança para a nossa independência. Nosso público é inteligente e politizado e vai mudar de canal se a integridade for perdida.

Ou seja, a tese, propalada em certos setores da blogosfera mundial, e repetida aqui pela jornalista da TV Record, é simplesmente desinformada, baseada em ilação. Parte de um pedaço, um fragmento de informação e daí extrapola-se para conclusões, no mínimo, precipitadas.

Vamos julgar baseado na cobertura da rede. Ela continua a sua filosofia de dar voz aos sem-voz? Ela vai cessar de questionar o status-quo? Ela vai deixar de apresentar uma pluralidade de pontos de vista, mesmo os que incomodem os poderosos de plantão?

Recomendo, para todos aqueles interessados em mídia global, o programa The Listening Post - espécie de "Observatório da Imprensa" da rede, apresentado pelo jornalista canadense Richard Gizbert - que irá ao ar sexta-feira à noite: o episódio dessa semana abordará a renúncia do diretor-geral da emissora.

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Atualizando: Aqui o episódio sobre a questão.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

É preciso despersonalizar o debate e compreender o processo

Meu amigo Jampa escreveu um texto sobre a situação política do seu pai, o ex-prefeito João Paulo Lima e Silva, e, por extensão, sobre a política pernambucana na última década. Trata-se de uma análise e um convite ao debate. Atendendo ao pedido, retorno a esse blog abandonado.

No primeiro parágrafo, ele estabelece uma analogia entre as transformações da ordem mundial e a realidade política local. “A vontade de falar mal do prefeito João da Costa é hoje o grande dínamo da socialização recifense”, explica. Nessa analogia, seria o prefeito do Recife os Estados Unidos? Não me convenceu a analogia – o que ocorre a nível global, seja economicamente com a crise da dívida, ou politicamente com as revoluções árabes, são processos de ruptura com o passado. Não vejo evidências disso no Brasil ou em Recife, e nenhuma é apresentada no texto. Entendo o processo político brasileiro atual como de aprofundamento, e não de quebra, do regime democrático.

Uma interpretação equivocada da causa do isolamento político do ex-prefeito João Paulo pode ser a razão que tenha levado Jampa a conclusões, a meu ver, equivocadas.

Na sua narrativa, exposta em seu texto no blog e em comentários no Twitter e no Facebook, João Paulo seria um Dom Quixote, lutando contra monstros dentro do PT, que teriam medo de sua pureza política e de sua popularidade. Cita-se uma pesquisa que indicaria que João Paulo seria eleito o próximo prefeito, “independente do partido em que estivesse”. Pode até ser verdade, mas é mera especulação. O próprio ex-prefeito, se fosse depender de pesquisa, jamais teria sido sequer eleito em 2000 – quero dizer apenas que projetar para o futuro números do passado não é empírico; até porque em boa medida trata-se de “recall”. Em seguida, ataca o PT local, taxando-o como “neo-oligarquia”. Diante da falta de exemplo ou de alguma explicação sobre o que se quer dizer com isso, resta-me a questão: mas não são partidos políticos, em certa medida, oligárquicos por definição?

Mas vamos adiante. Ele explica que João Paulo “foi educado politicamente numa tradição de esquerda que entendia o partido como setor de vanguarda da sociedade, que munido de disciplina revolucionária e organicidade ideológica, atingiria os seus objetivos” – seja lá o que “disciplina revolucionária” e “organicidade ideológica” de fato signifiquem. O PT de Pernambuco, por outro lado, seria “um lugar sem nenhuma organicidade ideológica e cheio de interesses particulares”. João da Costa, ao afastar-se do ex-prefeito e aliar-se à cúpula do PT estadual, teria “traído” os nobres ideais do ex-mentor e isso explicaria o insucesso da sua gestão.

Diante dessa inevitável disputa entre o bem e o mal, não restaria ao ex-prefeito senão arrumar uma legenda de aluguel e lançar-se à prefeitura, para salvar a todos dos péssimos políticos pernambucanos. É uma narrativa conveniente, pois exime João Paulo de qualquer responsabilidade – seu isolamento político no PT e fora dele seria devido a fatores externos a ele, nada que estaria sob seu controle; o fiasco da gestão João da Costa tampouco lhe diz respeito. A lógica interna do texto leva inexoravelmente a essa conclusão: a única solução é ele mesmo, apesar e a despeito de todos.

O problema, a meu ver, é que a premissa mesma é que está errada. Essa narrativa da vitimização não me convence porque se João Paulo é vitima de qualquer coisa, é de suas próprias escolhas e ações políticas no passado.

A primeira eleição de João Paulo, em 2000, foi tão imprevisível quanto emocionante. Mais importante, não foi uma vitória que ocorreu no vácuo. O PT vinha crescendo eleitoralmente no Recife no decorrer de toda a década de 1990 e tinha vários setores da sociedade civil organizada mobilizados. Não foi uma vitória pessoal. Foi uma campanha auto-financiada: contribuições dos eleitores ou repasses do próprio partido. E buscou-se compor com as várias correntes do PT. Apesar das dificuldades, o primeiro mandato de João Paulo refletiu essas características de forma clara: foi um governo de cunho francamente popular e de enfrentamento ao status-quo. João Paulo compôs com vários setores do próprio PT, que ocuparam espaço na sua gestão, e de outros partidos. As grandes marcas dos oito anos de João Paulo na verdade se restringem – todas elas – ao primeiro mandato: a inversão do trânsito em Boa Viagem, a regulamentação do transporte público (o fim do transporte clandestino), a Lei dos 12 Bairros, o Programa Guarda-Chuva, habitação popular, aumento do Bolsa Família, a criação do SAMU e das Academias da Cidade.

Infelizmente, o segundo mandato não foi uma continuação do primeiro. Dessa vez, a campanha foi bancada essencialmente pelo setor da construção civil. João Paulo, prefeito bem avaliado e com acesso a financiamento, talvez tenha julgado que poderia prescindir dos aliados políticos. Ao contrário do primeiro mandato, no segundo não buscou compor com as várias correntes do partido ou com aliados de outros partidos. O primeiro mandato tratou-se de uma verdadeira frente popular; já o segundo foi estritamente de João Paulo. E as grandes “marcas” do segundo mandato estão mais para cicatrizes: a reforma da Conde da Boa Vista, a construção das torres gêmeas e o infame parque de Boa Viagem. Nada mais a apresentar.

Em 2006, João Paulo queria ser candidato a governador, mas encontrava-se isolado dentro (e fora) do PT – encontrava-se isolado, não: isolou-se. Humberto Costa foi candidato, sofrendo campanha difamatória braba, e sem o apoio de João Paulo (que diz ser homem de partido, mas fez corpo mole...). Em 2008, mais uma vez o ex-prefeito agiu de forma unilateral. Ao invés de buscar construir um consenso no partido, impôs um nome de sua estrita confiança, alguém do seu círculo pessoal. O PT estadual teve que engolir.

Sem mandato, João Paulo foi alçado à secretaria estadual, mas não durou muito tempo e logo entrou em desavença com o governador Eduardo Campos. João da Costa, constatando o isolamento, colocou o seu próprio interesse político à frente do interesse pessoal de João Paulo. Afinal, o que teria João Paulo a oferecê-lo? Que importantes setores da sociedade civil organizada, ou do sistema político-partidário, ou do próprio PT, João Paulo representa de verdade? Se João Paulo é um político tão astuto quanto Jampa gostaria de crer, o que explica sua crassa incapacidade de agregar e compor, tanto no PT como fora dele, no decorrer da última década? Afinal, política de verdade vai bem além do voto.

João Paulo, agora, sofre por seus próprios erros políticos. O fracasso da gestão João da Costa é seu fracasso. Foi sua incompetência política de fazer alianças dentro e fora do partido que o deixou isolado e que o levou a impor goela abaixo do partido seu principal ex-assessor, que parece ser bem incompetente. Mudar de partido não vai resolver nenhum desses problemas que o colocaram nessa situação. Pode até vir a ser eleito. Mas vai continuar isolado e refém dos interesses privados que ditaram o seu segundo mandato e o do seu sucessor.

A análise de Jampa personaliza a política recifense em torno da figura do seu pai. Além de levar aos erros de análise acima expostos, o mais grave é que isso despolitiza o debate. O caos urbano em que vive o Recife, hoje, não pode ser atribuído exclusivamente ao atual prefeito. É o resultado de toda uma visão de mundo hegemônica e de interesses materiais de poderosos grupos econômicos no estado. Nos últimos 30 anos, o único momento em que houve uma reação organizada e institucionalizada à força desses setores que destroem a cidade em nome de um falso progresso foi justamente na primeira gestão João Paulo. A segunda gestão já foi totalmente servil aos interesses privados. João da Costa é a continuidade da política subordinada aos interesses da construção civil e das empresas de ônibus. As gestões João Paulo diferem mais entre si do que a segunda com relação ao governo João da Costa.

Eu espero que venha sangue novo em 2012. João Paulo já teve a sua oportunidade. Fui eleitor de João Paulo e votei no candidato dele. Mas, agora, precisamos de alguém que reavive aquele 2000. O debate que precisamos não é encontrar heróis quixotescos ou buscar analogias onde não as há – devemos, isto sim, buscar entender como até uma figura como João Paulo foi incapaz de enfrentar os interesses arraigados que subvertem o poder público, corrompem-no e, ao fazê-lo, destroem a cidade em benefício do lucro fácil de uma ínfima minoria. Despersonalizar o debate e compreender o processo, eis o que proponho.