terça-feira, 19 de setembro de 2006

O que está em jogo nessas eleições

Há, por trás dessa luta partidária intensa, um combate político, em que visões de Brasil e interesses econômicos feridos estão em jogo. A oposição conservadora tucano-pefelê vem tentando desmoralizar o Partido dos Trabalhadores e desestabilizar o Governo Lula de todas as formas, desde 2004.

A partir de 2004, apareceu o caso Waldomiro Diniz - que não tinha nada a ver com este Governo... Denúncias requentadas. Pululavam, sempre que possível, acusações sobre o suposto viés autoritário do PT. Qualquer espirro dado era uma atitude stalinista.

Em 2005, um ex-aliado, sabe-se lá movido por que motivações, revela um esquema de caixa dois do PT para o financiamento de partidos aliados. Prevalece a versão única dos acusadores, a grande imprensa corporativa passa a ser pautada pelos líderes oposicionistas - agora com munição de sobra para a sua campanha difamatória contra o maiore o mais orgânico partido de esquerda do Brasil. A CPI criada para investigar os fatos recebe a alcunha de "CPI do Fim do Mundo", em decorrência de sua pretensão de provar uma tal de corrupção sistêmica do Governo, que nunca se confirmou. O acusador inicial é cassado por ter mentido nas suas acusações - e o Deputado José Dirceu, militante histórico da esquerda e mentor do projeto petista de governo, sofre a mesma punição, ainda que baseado naquelas acusações que seriam falsas...

A oposição conservadora opta por não derrubar o Presidente Lula, mas deixá-lo sangrar e vencê-lo nas eleições. Faltou combinar com o povo. A despeito a fúria oposicionista mais feroz da história recente do país, com a conivência, quando não com a participação direta, dos grandes meios de comunicação, o Governo Lula - o mais investigado, aberto às pressões populares, o mais transparente da História recente do país - goza de altos índices de popularidade (62% de aprovação, segundo recente pesquisa).

Depois de uma semana de tentativas inúteis de atingir o Governo, com acusações de desvio de verba pública e de autoritarismo (sempre ele!), surge essa denúncia esquisítissima. O Presidente Lula sempre foi avesso a dossiês. Em campanhas passadas, mesmo quando nem tinha chance de vencer, recusou até ver dossiês como o Cayman ou a Pasta Rosa. Por que cargas d'água iria o Presidente, agora que é franco favorito, e com uma onda de candidatos petistas subindo nas pesquisas (em RS, SP, BA, PE entre outros), recorrer a tal recurso? A quem interessaria isso?

A oposição conservadora correu para o TSE pedindo a impugnação da candidatura do Presidente Lula. Como não conseguem ganhar no voto, recorrem a esse tipo de expediente.


Hipóteses do dossiê


Eu tenho três hipóteses para essa história bizarra do dossiê:

1. Foi uma armação de alguém da oposição que teria
a. pago os dois filiados ao PT para envolver o partido nessa história; ou
b. atraído os dois filiados petistas (e retardados mentais, porque puta que o pariu!) a uma armadilha.

2. Os dois filiados presos agiram a mando de alguém do PT paulista (pra variar, fazendo merda).


O comportamento da Imprensa


Em qualquer dos casos, é chocante o comportamento da imprensa. É sempre assim. Quando alguma denúncia tem a ver com o PT, refere-se sempre a "petista envolvido em" ou "gestão petista" etc. Mas quando se trata de alguém de qualquer outro partido, aí então as manchetes de repente se despartidarizam e se fulanizam: "fulano envolvido em" ou "gestão de fulano" etc. É gritante a discrepância do tratamento dado a um e outros. Enquanto isso, a Polícia Federal segue fazendo o seu trabalho sério, discretamente.

Por trás da luta partidária


Esse acirramento na reta final, retomando os piores momentos da campanha desestabilizadora do ano passado, é mais um sintoma de que está em curso uma forte disputa política (latu sensu). Não se trata apenas de briga do poder pelo poder. Está em jogo visões distintas de país, representadas pelos dois principais partidos, PT e PSDB-PFL. O fim do processo de desmonte e sucateamento do Estado brasileiro, que se deu durante toda a década de 90, por meio das privatizações e terceirizações do setor público assim como a valorização do funcionalismo público federal (maior número de concursos públicos, mais valorização das carreiras de Estado) é uma política claramente anti-liberal que desagrada os setores reacionários da sociedade brasileira. O aumento dos gastos públicos federais, e sua distribuição geográfica mais justa (mais investimentos no Norte-Nordeste, privilegiando a região historicamente marginalizada do processo de desenvolvimento econômico do país), assim como mais gastos para os pobres (na Saúde, com os programas de Saúde na Família, o SAMU, o atendimento bucal, remédios populares, etc.; os programas sociais inclusivos), é uma política que incomoda os que sempre se beneficiaram do modo como as coisas costumavam ser feitas.

E ainda tem gente que gostaria que o Governo Lula tivesse sido mais "esquerdista"... Se os setores reacionários agem assim contra um governo popular de centro-esquerda, imagina como seria um governo abertamente de esquerda!

A frustração dos conservadores é que o Presidente Lula, um democrata convicto (basta ver sua história de vida), não tenha se comportado como o golpista vizinho, Chávez. A nossa imprensa, a serviço desses setores reacionários, no entanto, não hesita em se comportar como a imprensa venezuelana. O segundo mandato vai ser pauleira.

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