domingo, 3 de junho de 2007

Festa nipo-junina

Começou o mês de Junho e, com ele, as festas juninas. Elas acontecem por aqui aos montes, adaptadas às diferentes comunidades que compõem a cidade. No caminho da volta, por exemplo, passamos por uma de uma igreja evangélica. A festa junina que fui hoje foi a do Clube Nipo. É a tradicional festa junina japonesa - porque a sua 24a versão faz dela tradicionalíssima, nos padrões locais. É uma bela ilustração do nosso sincretismo, em que as diversas culturas se mesclam pacificamente, umas acrescentando-se às outras, na maior putaria antropológica.

Mas não deixa de ser um fenômeno curioso. Achei fantástica primeiro a disposição da comunidade japonesa de realizar uma festa junina. Ora, nos Estados Unidos, outro país tão diverso culturalmente quanto o nosso, cada comunidade tem suas próprias, exclusivas, celebrações. Assim, no Saint Patrick's Day só os irlandeses celebram, no Cinco de Mayo, só os “latinos”, and so on. Aqui não – é aquela mistureba. Na festa junina do Nipo, tinha um monte de japoneses. Mas tinha também todo tipo de gente – patricinhas, punks, galera “roots”, famílias, pirralhas, idosos e até uns nordestinos.

Logo que chegamos, avistei uma placa indicando “comidas típicas”. A primeira dúvida é: típica de onde? Japonesa? Junina? Dúvida dissipida: tinha as duas coisas. Só que as comidas juninas típicas daqui não são as mesmas que as do Nordeste. É preciso prestar atenção, para não se confundir na hora do pedido: aqui, canjica é munguzá e munguzá é canjica. Pamonha é coisa “de goiano” (isso não é um elogio; os brasilienses desprezam Goiás e almejam o Rio – ainda não superaram o complexo de viverem no interior de Goiás). E o pé-de-moleque deles não tem castanha! O forte da festa, mesmo, é o yakisoba. Com pauzinhos.

A música, quase não se ouve. A festa junina japonesa é um evento antes de tudo gastronômico. Ainda bem. Porque eu fiquei imaginando como seria assustadoramente bizarro uma quadrilha japonesa. As damas, com aquelas maquiagens brancas no rosto, e cavalheiros vestidos de kimono. Andando em círculo, comportadamente. E lá vai o cavalheiro cumprimentar a dama – curvando-se diante dela, as mãos uma contra a outra, em tradicional sinal de referência. E o narrador avisando: “Olha o terremoto!” e todo mundo se abaixa. “Passou”. Alegria, mas niponicamente comedida. “Olha a bomba atômica! Passou...” E como será “anarriê” e “alavantú” em japonês? No ano passado, teve uma apresentação de “street dance”... O que é melhor do que a temerosa quadrilha, mas ainda acho que a junção ideal das duas culturas seria pôr uns quiosques com caraoquê só de forró.

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