domingo, 2 de março de 2008

O maior escândalo dos últimos tempos da última semana

No mundo bizarro da visão daqueles que tentam fabricar a narrativa oficial – a despeito da insistência dos fatos em boicotá-la – o que era para ser uma notícia positiva – o aumento da transparência do poder público – se transforma, incrivelmente, no maior escândalo dos últimos tempos da última semana – o caso dos cartões corporativos. Alguns ministérios e governos estaduais passaram incólumes da recente sanha midiática: os que ainda usam formas arcaicas de pagamentos. Outras instituições, como o Congresso, nem se dão ao trabalho de destrinchar e expor ao escrutínio público os seus gastos. Esse, sim, é o verdadeiro escândalo, não? Seria, no mundo real. No mundo bizarro em que habitam a oposição e seus trombones da imprensa, parace que moralidade pública mesmo é o uso das insondáveis verbas de suprimento... Ah, mas não nos iludamos. Esse é o pior escândalo de que se tem notícia... até o próximo – a fabriqueta sensacionalista não pára nunca! A própria efemeridade dos assim chamados “escândalos” indica a fragilidade e o oportunismo. Mas isso, no mundo real, claro.


A tática da oposição parece bizarra, mas só à primeira vista, sob uma ótica lógica (do mundo real). Sob a ótica bizarra que lhe é característica, faz sentido. A oposição conservadora não foi capaz de praticar um oposicionismo inteligente, construtivo, propositivo. Não soube como responder e reagir às políticas acertadas, exitosas do governo petista. Talvez isso tenha sido resultado do fato de que esse cenário de sucesso não fazia parte do horizonte de possibilidades oferecido pela ideologia elitista e preconceituosa, que não via como capaz um homem do povo à frente de um governo popular. Diante da total falta de idéia de como se comportar em face de um bom governo de esquerda, a oposição recorre ao único expediente que lhes parece possível de provocar algum efeito: impedir que o governo leve adiante suas políticas públicas eficientes. Só desse modo a professia se realizará, por fim: o Governo Lula se torna incompetente... tudo bem que por ação explícita da própria oposição! Mas aí a imprensa engajada se encarrega de construir uma narrativa conveniente!


Nesse sentido, os iluminados do quilate de Míriam Leitão têm em 2008 o argumento perfeito, irrefutável: é um ano eleitoral. Logo, toda e qualquer ação será eleitoreira. Qualquer ação do governo, frise-se. E do governo federal. Porque dos governos estaduais de SP e MG e da oposição, não: todas as suas ações são em cristalina e genuina defesa do interesse comum e da moralidade pública, bem entendido! Só o governo, e ninguém mais, é movido por interesses eleitoreiros! Quando Lula lança um programa, é eleitoreiro. Quando a oposição o questiona, não. Quando Lula critica o Judiciário, é antidemocrático. Quando o presidente do TSE critica o Executivo e instiga a oposição, faz parte do jogo. Tudo muito justo, tudo muito equilibrado!


Aliás, o Youtube é uma coisa fantástica por tantas razões. Uma delas é que, num país em que a classe média (mal) instruída e pretensamente culta, e irritantemente arrogante, tão avessa ao debate de idéias e tão intolerante em relação à opinião divergente, abre-se um espaço de vazão que revela de forma clara e inequívoca, desnudada, a visão de mundo de certos setores da sociedade. Veja por exemplo esse comentário do usário de YouTube diogodimambro:


“Quem defende o lula devia calar a boca e pensar mais, ele foi eleito a 1 vez em 2002 por um povo q ja sabia q ele era analfabeto mas confiando nas mintiras q ele prometia o elegeu msm assim! Ele comanda a maioria pobre no brasil dando comida e isso é bom, mas ele fode os pequenos empresários por exemplo que estão constantimente quebrando...ele só quer beneficiar a maioria para se manter na presidência, só quem é otário q num ve, ele fode os autônomos que são uma imensa porcentagem do brasil”


Muito revelador de um determinado modo de ver as coisas. Veja bem, o “problema” do Governo Lula é que por meio da montagem e institucionalização de uma rede de segurança social, esse princípio de Estado do Bem-Estar Social, algo civilizador portanto, ele estaria atendendo aos interesses da maioria da população, o que está na essência da democracia, por mero interesse eleitoreiro! Lendo algo assim, entendo melhor do que se lesse mil análises de algum fodão no Aliás! do Estadão de domingo sobre o porquê de a oposição fazer essa política tão pequena, tão mesquinha: ela representa fielmente a visão de mundo de um setor minoritário, porém expressivo e socialmente mais importante, da sociedade brasileira.


Pena que o debate se dê em nível tão raso. E tão desinformado. Outra coisa que a Internet expõe: como o brasileiro classe-média (que tem acesso à Internet...) é pouco curioso. A internet brasileira não é uma boa fonte de informação, de reflexão e debate. É um ponto de entretenimento, em primeiríssimo lugar. Nem falo do fato de sermos o país emergente de maior gasto per capta com pornografia virtual. Seria normal, se não se restringisse a isso. Pegue, por exemplo, o YouTube. Facilmente você encontrará a abertura do primeiro Jornal Nacional, de 1969. Ou trechos da melhor versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, aquela da Globo lá dos fins dos anos 70, princípios dos 80. Ou Alceu cantando no Cassino do Chacrinha, em 1983. Ou o debate Lula-Collor de 89. Ou, mais recentemente, as maiores gafes e os erros gramaticais cometidos pelo Presidente Lula. Ou uma montagem muito ischperrrta tirando um sarro maneiro da cara do Presidente Lula. Mas... a matéria do Jornal Nacional sobre a discussão entre Lula e Marco Aurélio, por exemplo, eu não consegui encontrar de jeito nenhum! A entrevista com o Embaixador Abdenur na GloboNews, eu nem me dei ao trabalho de procurar no YouTube.


Isso não é um problema intrínseco ao YouTube. O canal público espanhol, assim como a Aljazeera, O NY Times, a CBS... todos têm seus canais no site. Para não mencioanr os posts informais colocados on-line espontaneamente. Os 20 debates das primárias democratas estão todos na íntegra, disponíveis no YouTube. Com um debate plural e heterogêneo – às vezes tosco e raso, outras rico e profícuo – que sempre acompanha os vídeos nos comentários. Trata-se de um reflexo da preguiça mental da classe-média brasileira, que não gosta de ler: folheia a Veja, assiste ao JN e se dar por satisfeita. Não gosta de ler, nem muito menos de pensar (como dizia um professor meu: "pensar dói"). Aceita tudo facilmente: quantos E-mails que vão salvar a vida da menina morrendo de câncer em um hospital longíquo você já recebeu, com aquele indefectível apelo emocionado? É uma caricatura? Talvez. Mas a classe-média é muito caricaturável. Ou como você me explica que ainda tenha quem ache Jô Soares engraçado e sofisticado? (Só porque ele fala francês, cacete!)

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bem posto, berna.
1)daqui de longe, via a oposi�o a soar ridicula e pequena. mas voce tem razao ela � na medida, representante dessa faixa da populacao brasileira que voce menciona.
2)como o youtube e power-points revelam nitidamente o pensamento dessa faixa. tem cada email que recebo....

p.s. sobre j� - que � �referencia�para alguns dos nossos conhecidos daqui, foi criado uma copia angola, que por ser autentico, nos faz mesmo rir, quando de veeeeeeeeez em quando temos saco de assistir.