quarta-feira, 29 de junho de 2005

Administrando o Esporte

Onde está a saída, então, para a indústria esportiva no país? Afinal, já foram criadas as Leis Zico, a Lei Pelé e a Lei Piva; já foram criadas loterias para subsidiar as atividades esportivas. Enfim, o governo tenta; porém, suas ações têm se mostrado ineficazes, pois pouco mudou no setor de esportes. O futebol, carro-chefe da indústria esportiva, sofre intervenções do governo, da Confederação Brasileira de Futebol e do Clube dos 13, mas permanece com características e números insatisfatórios.


Por mais que ações sejam tomadas e leis sejam criadas, o problema é estrutural. Fora as ações tomadas com relação aos clubes, como as requeridas pelo Estatuto do Torcedor, é importante atuar na estrutura atual de Confederações e Federações. São elas quem dão, ou não, condições para uma indústria prosperar por meio de ações que beneficiem ao todo; e são elas quem devem eliminar vícios culturais de uma classe que usa o esporte para fins pessoais e/ou de seus próprios clubes.


A dificuldade, no entanto, está no fato de que todas as pessoas envolvidas nessas diversas entidades não têm interesse em mudar, em renovar. Visto que a maioria das pessoas envolvidas está no ramo há mais de uma década, é difícil implementar mudanças diretamente no topo da pirâmide onde encontram-se os dirigentes. Eles são, em sua maioria, os mais resistentes às mudanças trazidas dentro do Estatuto do Torcedor, por exemplo. Por isso, o Estatuto é interessante: ele faz cobranças e requerimentos os quais os dirigentes amadores não estão dispostos a assumir; ou seja, a conseqüência é uma mudança natural das pessoas envolvidas na área. Por enquanto, é normal que haja alguns pontos não-cumpridos por parte dos clubes, porém, com o tempo, a punição é fundamental para mostrar que a legislação foi, de fato, feita para ser cumprida.


Mexer na estrutura quer dizer ter pessoas que busquem desenvolver políticas de sustento e de desenvolvimento de agremiações esportivas, tais como:
Reverter receita de bingos ao esporte;
Isenção de impostos para investidores em esporte;
Reverter impostos recolhidos do setor à própria indústria;
“A abertura de uma linha de crédito especial através do BNDES para inversões em atividades esportivas de caráter relevante” (Ary S. Graça Filho e Istvan Kasznar, 2002);
Privatização da infra-estrutura esportiva (Ary S. Graça Filho e Istvan Kasznar, 2002);


Também faz parte de mexer na estrutura buscar administrar os torneios e campeonatos sem influências de grupos de interesse; criando leis, como já vem sendo feito, com o objetivo de modernizar e profissionalizar as gestões dos clubes; e monitorando a forma como o dinheiro público direcionado ao esporte é utilizado por meio de, por exemplo:
Exigência de demonstrações de resultado;
Auxílio com base em desempenho comprovado;
Exigência de rotatividade de dirigentes e democratização do sistema que os elege;
Continuidade de repasse apenas aos que cumprem os prazos de entrega de relatórios e demonstrações exigidos para efetuação do repasse;


O Estatuto do Torcedor é importante para o desenvolvimento do futebol, embora saibamos que ele não pode ser totalmente obedecido por todos os clubes do país devido às suas diversas realidades. O Estatuto revoluciona: ele foca na segurança dos torcedores; ele cobra responsabilidade de dirigentes com relação ao serviço prestado; ele começa, de forma gradativa, a mudar a face do esporte no país, bem como a estrutura que o administra.

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