terça-feira, 13 de dezembro de 2005

20 Anos de ITECI ­

discurso que proferi na ocasião das comemorações dos 20 anos de fundação do ITECI, em nome meu, de Diogo e de Letícia, em Junho passado.



É naturalmente difícil falar do próprio pai. Principalmente quando ele é avesso à auto-adulação. Muita coisa descobri dele, e da minha mãe, através de terceiros. Por muito tempo não tive a dimensão da obra construída por eles ao longo do tempo. Foi, sobretudo, por meio de conversas com seus amigos, vendo a admiração e carinho que eles nutrem por meus pais, às vezes apesar do tempo e da distância, que comecei a me dar conta. Eles não são pessoas fáceis de se compreender. São pessoas complexas que desafiam estereótipos. Eram cidadãos do século 21 já na década de 70. O Iteci é apenas uma das facetas deles, a mais visível publicamente. Mas nem de longe se restringem a isso.

Mas hoje, estamos aqui para falar do Iteci. O aniversariante. Para mim, assim como para meus irmãos, é algo importante, ainda mais porque é quase um membro da família. A empresa é a nossa irmã caçula ­ é a que deu mais trabalho e tem a festa de aniversário mais legal. Brincadeiras à parte, há muito de verdade nessa analogia. E podemos levá-la adiante.

Meu pai é como se fosse a mãe. Ele a gerou, cuidou, criou. Como uma mãe ele a trata, com carinho e de forma emocional. Minha mãe é o pai. Se ela não estivesse todo esse tempo ao lado dele, a empresa não seria o que é. E tratava de forma mais racional. A empresa é um fruto desse casamento. Minha mãe sempre esteve lá nos momentos cruciais. A empresa nasceu, cresceu, passou pela crise (e que crise!) da adolescência, aos 18 anos tomou juízo, e agora, ao completar duas décadas de vida, ela se mostra uma jovem adulta madura e responsável, com um futuro promissor à sua frente.

Mas além de ser a história do Iteci a história da minha família, é também a história daquilo que o Brasil pode ser. É uma história de empreendedorismo e de espírito capitalista que dá certo, sem que se abra mão de princípios éticos e morais. A história do Iteci é um exemplo.

Meu pai queria estudar informática quando nem existia o curso aqui. Foi para a França fazer doutorado. Poderia ter ficado e seguido uma carreira acadêmica num país onde ela é valorizada. Seria seguro, tranqüilo,­ fácil. Voltou, empolgado com a redemocratização pela qual passava o país. Mesmo depois que abriu o Iteci, seguia preocupado com as questões nacionais. Por exemplo, participou de discussões públicas sobre a reserva de mercado de informática. Um empresário que tem plena consciência de seu papel na sociedade: o de criador de empregos, financiador do Governo (através de impostos) e da inovação tecnológica soberana. E nunca se esquivou dos debates, porque também é esse uma de suas responsabilidades como empresário. Também é ele um intelectual, nunca abandonou a Academia, ainda que estivesse lá menos por necessidade do que por convicção, até que esta o abandonou.

Num país injusto, que não premia sempre aqueles que produzem e oferecem valores que deveriam ser os reconhecidos pela sociedade, ele conseguiu se destacar. Aqui prevalece o caminho do enriquecimento pela política, e não pelo mercado. Há uma linha tênue entre o público e o privado. Não para o meu pai. O Iteci é uma empresa privada e que compete, legitimamente, no mercado. Ainda que este mercado seja distorcido por falhas, falta de concorrência, falcatruas e privilégios. Mas ele segue aí, porque acredita neste país. Capitalismo sem risco, como preferem alguns, tira a sua essência geradora de inovação tecnológica e aperfeiçoamento do serviço. Justamente o que o capitalismo tem de melhor para a sociedade, ao liberar a força motriz criativa e criadora dos indivíduos, base fundamental, aliás, da democracia liberal (o aspecto político do liberalismo), que, como o Iteci, também comemora duas décadas este ano no Brasil. Na contramão da tendência neoliberalizante da década de 90, não levada a cabo graças à mobilização dos movimentos sociais, o Iteci permanece 100% nacional -­ um centro de criação e propagação de conhecimento e tecnologia. Sua amplitude social só não é maior devido a outras deficiências nacionais ainda por resolver, que são um entrave para o progresso econômico e científico autônomos no Brasil; ­ refiro-me aos nossos sistemas jurídico e fiscal.

A empresa que envolve seus funcionários e lhes delega responsabilidades, cresce; e com ela, crescem também as pessoas. Aos 20 anos o ITECI preza por mudanças que venham a agregar à empresa, e que, hoje, acontecem de forma planejada, responsável e, sobretudo, compartilhada. Crescemos todos com esse processo. O respeito e a solidariedade entre todos fazem com que os trabalhos internos sejam reconhecidos externamente, por clientes e parceiros. São 20 anos de conquistas pessoais, por meio de amizades, novos conhecimentos; e conquistas profissionais, por meio de, por exemplo, promoções internas de pessoas que agarraram a oportunidade que lhes foi dada. O ITECI é o reflexo das pessoas que o compõe: pessoas com objetivos próprios, entretanto em sintonia com os da organização; pessoas com ambições, em busca de superar seus limites. Pessoas que, com todas suas particularidades e diferenças uns dos outros, formam uma comunidade harmônica, uma família ITECI.

Como um autêntico empresário, meu pai não é movido pelo lucro puro e simples, que por si só não tem graça. O que o instiga é o desafio de contribuir para a construção da nossa sociedade, e é o que o Iteci vem fazendo há 20 anos. O crescimento e consolidação da economia brasileira, e da sua democracia, depende de empreendedores como o meu pai e empresas como o Iteci. É esse princípio que mantém o Iteci até hoje, é isso que estimula meu pai e é isso que o diferencia.

Obrigado.

Bernardo, Diogo e Letícia JUREMA

2 comentários:

Anônimo disse...

Vocês estão sabendo que os Guarani-Kaiowás foram despejados de sua terra tradicional ontem? A grande mídia não tocou muito no assunto, mas a situação é bem triste...

A terra foi homologada pelo presidente Lula, no incío de 2005. Após um longo processo de tramitação (6 anos), a terra já se encontra identificada, delimitada, declarada, demarcada e homologada como de posse permanente da comunidade indígena local, mas a desembargadora Diva Prestes Marcondes Marlebi expediu o mandado de reintegração de posse por pressão dos fazendeiros do local (a terra fica no Mato Grosso do Sul).

Agora os Guarani-Kaiowás estão acampados na beira da estrada sem ter para onde ir.

slavo disse...

A justiça brasileira tem mostrado ultimamente a quem ela realmente serve.