A força da força nas relações internacionais
A idéia de que a base das relações internacionais seja a força é muito tentadora para regimes autoritários e intelectuais de raciocínio simplório. Trata-se, no entanto, de uma má interpretação do Realismo por parte daqueles que pensam a política externa e contraproducente para aqueles que têm que executá-la.
O pensamento realista tem suas raízes no "Estado de Natureza" hobbesiano, qual seja, a crença de que o Homem é essencialmente egoísta e, conseqüentemente, vive em um estado permanente de guerra. Baseando-se nessa premissa, realistas estendem essa lógica para as relações entre Estados nacionais, uma vez que são compostos de indivíduos.
Esse raciocínio está ultrapassado, pois tem se mostrado equivocado ou insuficiente no decorrer da história. Hoje, Realismo é menos ideológico e mais pé no chão. Segundo K. Waltz, é o "sistema anárquico" que define o comportamento estratégico do Estado, seguindo a lógica do equilíbrio de poder entre as nações; as regras que regem os humanos, considerados individualmente, são irrelevantes, pois eles não vivem em um sistema anárquico.
O modo como é organizada as Nações Unidas comprova essa questão. Não existindo um governo central sobre todas as nações, a ONU institucionalizou a ordem existente: a nível global, uma vez que não há o monopolista da força, tem-se a tendência à anarquia; é no melhor interesse de todos os Estados-nação que prevaleça o equilíbrio de poder, no qual pólos de poder devem coexistir. Este é o sistema multipolar, que se realiza no Conselho de Segurança da ONU - constituído de cinco potências nucleares.
Algumas pessoas, ao tentarem questionar o pensamento realista contemporâneo, defendem a idéia fora de moda de que a força seja o principal fator nas relações internacionais. Citam, como exemplo, a atual guerra no Iraque. Afinal, dizem eles, os Estados Unidos foram à guerra contra as decisões do CS, apenas porque era poderoso o suficiente para fazê-lo. São incapazes de perceber que, para isso, o Governo americano montou sua própria "coalizão dos voluntariosos" (não consegui pensar uma melhor tradução para "of the willing"... alguém aí tem alguma idéia?), numa tentativa, frágil, de prover de legitimidade as suas ações.
Isso é importante: os atos realizados pelos Estados precisam ser sentidos, em alguma medida, como legítimos diante tanto dos agentes políticos e sociais domésticos como da comunidade internacional. Por si só, força não basta para garantir essa legitimidade, essencial para a sobrevivência do Estado, que é seu objetivo último.
(traduzido do inglês)
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