Escrito por Noé Sérgio, arquiteto, em resposta a artigo assinado por João da Costa (aqui, para assinantes UOL).
A condução que vem sendo dada à questão do parque de Boa Viagem mostra mais uma vez a dificuldade de se conduzir de forma clara e objetiva questões que dizem respeito ao urbanismo.Há cerca de oito anos, apenas para ficar em fato mais recente, a Praça Rio Branco no Bairro do Recife foi modificada ao gosto oficial de então, ignorando práticas mais contemporâneas de gestão urbana aqui mesmo no Brasil. Embora considerando toda a evolução política e social que temos vivenciado ao longo destes primeiros anos do século XXI e até por isso, é exasperante constatar a eterna pertinência da frase do Príncipe de Salina refletindo sobre o seu tempo nas páginas de “O Leopardo”: “As coisas têm de mudar, para permanecerem do jeito que estão”.
O primeiro engano com relação à questão do Parque de Boa Viagem é a de que “os moradores de Boa Viagem entregaram um abaixo-assinado com 17 mil assinaturas ao
Presidente”. Na realidade o abaixo assinado foi colhido por uma população, não necessariamente de Boa Viagem, mobilizada em torno de um ideal comum. Assinaturas foram colhidas em toda a cidade: universidades, escolas, bares e locais de trabalho bem além dos limites do bairro.. O raio de influência imediata de um equipamento deste porte é de 1,5km. A semelhança do que acontece com espaço equivalente na cidade: o da Jaqueira, tal equipamento diz respeito a uma população que transcende em muito aquele raio. É fundamental que fique bastante claro: o pleito é de uma parcela dos cidadãos recifenses e não apenas dos moradores de Boa Viagem, Setúbal, Imbiribeira e arredores.
Assim chegamos ao segundo engano: conforme foi colocado acima não se trata de caprichos de comunidades particulares, como parece estar sendo a compreensão da gestão.Ao se mobilizar para demandar à Presidência da República uma área para a implantação de um parque, esta parcela da população tinha em mente o significado da palavra na forma como a explica o Houaiss: “terreno relativamente extenso, cercado e arborizado, destinado à recreação ou um jardim público arborizado para lazer e ornamentação”.
Ora...No dizer do próprio Niemeyer o projeto entregue é: "uma grande área ajardinada onde serão situados o teatro, o prédio de apoio com escritórios, lojas, etc. o salão de exposições, e um mirante, que, a 20 metros de altura, dará aos visitantes uma visão panorâmica extraordinária...”. Um espaço de diversão (skate, parque de diversão para crianças) e de entretenimento (shows e espetáculos culturais).Não era bem isso, o que os cidadãos que apuseram a sua assinatura naquele pedido ao presidente tinham em mente. O espaço desejado era aquele da definição de Houaiss
Um terceiro (e grave!!!) engano é aquele que vem dando uma dimensão indevida e usando o batismo do espaço de eventos ora em questão. O debate deve ser conduzido com o foco no equipamento urbano em si e como ele atende as políticas ambientais, como ele responde a questões urbanísticas e paisagísticas. A questão aqui não reside na pessoa da homenageada ou no que ela significa. Não acho que este aspecto mereça nem mesmo considerações neste momento. Não apenas pela sua pequenez, mas principalmente para que não se perca o real sentido do debate.
A questão substantiva é a imagem construída pela população em torno da palavra “parque” e o desejo decorrente e a capacidade de cognição da gestão para conseguir interpreta-la dentro de um vocabulário o mais simples e corriqueiro possível e antenar-se com os princípios mais básicos das práticas ambientalistas de grupos políticos mais evoluídos.
Se a atitude do prefeito foi antidemocrática ou não, isso só é assunto para as próximas eleições; até lá, vamos praticando democracia .
3 comentários:
Não to entendendo direito. O JP é favorável ao projeto do Niemayer ou não? De todo jeito, qual o problema de ter um parque possa vir a ser multifuncional, com teatro gerenciado pela prefeitura que tenha sessões de cinema a preços populares, música clássica e popular que estão fora do circuitão. E com relação ao mirante? não tenho idéia do impacto paisagístico disso, mas não seria uma má idéia um mirante como o mirante do Leblon, principalmente para os turistas que não tem quase nada o que ver ou fazer de dia no Recife, aliás no centro poderia ter um lugar onde pudessemos ver do alto todo aquele conjunto de pontes e ilhas que formam o centro do Recife
o nome do parque eu achei constrangedor. tanto nome bonito de gente daqui pra homenagear...
Uma obra com tal nome só servirá para constranger nosso povo, que será lembrado como berço dessa corja que tomou o poder.
Não posso falar mal da administração da prefeitura, realmente muita coisa tem sido feita. Apesar de sempre achar as obras CARAS e feitas sem nenhuma preocupação com os pedestres o transito tem melhorado. Coisa que o PT não costuma fazer.
O que não vejo de possitivo é investimento em educação.
Você já levou seu filhinho para brincar na jaqueira?
Pois bem, espero que ele seja bom de braço, pois os pequenos lá são chegados a bater nos mais "ricos".
Adoro a diversidade, a liberdade e a democracia, mas bons administradores não estão muito preocupados com popularidade... O melhor é fazer o correto.
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