segunda-feira, 2 de março de 2009

A velha nova Europa?

Motivado por esse artigo do Nassif, um amigo francês me enviou a seguinte resposta, que publico abaixo. Eu concordo basicamente com as observações dele e acho interessante que ele toca em alguns pontos sob uma perspectiva fora do lugar comum. Como estrangeiro que vive no Brasil, também tende a ver pontos positivos no nosso país, quando nós sofremos daquela velha síndrome de vira-lata, que não aprecia nada de si mesmo. Segue o texto:


Cara, não concordo nem um pouco com o texto, acho que a Europa se afunda ano após ano.

O período pós guerra foi do meu ponto de vista o mais cruel em termos de globalização : 30 anos de crescimento nas costas do terceiro mundo explorando matéria prima baratissima e ficando com todos os processos agregando valor, mantendo no poder governos ditatoriais e ainda se gabando de modelo de humanismo !

Aos poucos, está acabando a submissão, agora econômica, do novo mundo e as conseqüências são terríveis para a Europa que, em nome do igualitarismo, se recusa a assumir uma lógica de mérito e competição.

Os USA vão ficar baleados, mas está no DNA deles reagirem, inovar, competir... basta ver sua historia e como eles reagiram a todo que os abalou. A Europa, já é outra coisa, coloca acima de tudo o bem estar e consequentemente poucos esforços : pense nos numerosos velhos europeus não dispostos a evoluírem com seu tempo e reverem seus hábitos ou aos jovens “rebeldes” querendo trabalhar pouco e ainda ganhar 10 vezes mais que um Brasileiro ou um Indiano, sem falar do Chinês.

Eu votei no Sarkosy, porque acho urgente que tenha reformas na França para que a queda não seja muito brutal, e vejo que não tem jeito, é preciso tanta cautela para reformar o país que seriam necessários 10 mandatos para chegarmos lá.

Quando passei a viver fora da França, fiquei enjoado do discurso populista da esquerda francesa que quer defender o encanador francês contra o polonês, o agricultor francês contra o brasileiro... quer dizer que a justiça social vale apenas para os sortudos que nasceram na França e que o resto do mundo pode morrer de fome, ou pelo menos ficar sem oportunidade de desenvolvimento, saúde, educação para efetivamente passar a ser um competidor ?

Não entendo como a justiça social pode enxergar fronteiras. Isto passa longe do meu entendimento.

Gordon Brown, Sarko ou Merkel não são grandes figuras políticas... bem que eu queria, mas até em sua terra respectiva, eles tem aprovação popular mínima e provavelmente vão rodar nas próximas eleições contra populistas que prometerão aumentar o salário mínimo para compensar o aumento dos preços consequente da limitação das importações de carne brasileira e de têxtil chinês. Aí vai o déficit publico pro espaço e a competitividade europea para o chão e aí sim, a França terá como única opçãp se tornar um museu-restaurante, graças a sua linda paisagem, seu clima simpático e seus monumentos cults. Agora, vamos ver se os franceses vão querer ser assistente do chef na cozinha ou garçom... Duvido.

Um pouco amargo, este meu depoimento ?!

Na verdade, foi bem espontâneo. Acordei de bom humor, mas li as noticias ontem a noite : sindicatos fechando uma estação de trem em Paris por 1 dia. Meio milhão de pessoas reféns de meia dúzia de funcionários públicos preguiçosos... Jovens dos liceus fazendo greve sem bem saber porque e muitas ações antisemitas em prol do conflito Israelo palestinens. A oposição esquerdista bitolada na liceça maternidade de uma ministra árabe que teve um filho solteira. Devo ter dado hazar, mas a situação me pareceu desanimadora, sem falar das perspectivas econômicas !

Até REcifilis não deve ser tão ruim ! ah ah

Abração e feliz 2009

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Bom dia Recifilis !
ta certo que foi um pouco entusiasta no meu pessimismo.

O equilibro entre humanismo e assistencialismo é tenuo, mas é uma busca que é preciso manter sempre, concordo.

Os rednecks americanos deixados por trás agora estão descobrindo nem o terço da miséria que eles espalharam pelo mundo afora com seu colonialismo econômico e protecionismo comercial. Mas, enfim, ninguém merece passar por isto...

Estou achando o governo do Lula com a proposta mais coerente hoje no mundo entre ideal de melhor redistribuição de renda e a pratica de um mundo competitivo.

O foda é que leva tempo e que neste intervalo, vão se algumas gerações sacrificadas.

Mas me parece o modelo mais robusto, menos populista, mais pragmático... quem diria nas direitas do mundo, neh ?!

Vc sempre é bem vindo em Sampa, inclusive para ganhar uns trocados de babá da Malu ! ah ah

Abraço e até logo

Um comentário:

João disse...

ponto de vista interessante, pertinente em alguns aspectos, em outros um pouco ou bastante resignado. Votar em Sarko e acreditar que isto é ser humanista, é piada? Nao que ser humanista seja grande coisa, mas o sarko, esse sim é o suprasumo da defesa do estado francês, do espírito de exclusao, da xenofobia, do racismo, da diferença de classes e porque nao dizer, do populismo?