E se fizermos nossa própria pauta de notícias?
A imprensa, ao basear-se em critérios deturpados ou deturpantes acerca de o que é notícia, dá muito mais ênfase às más notícias, em detrimento das boas. A "Carta Capital" (www.cartacapital.com.br) dessa semana nos traz um exemplo de que não tem que ser assim, dando destaque, em matéria de capa, à nova lei aprovada na Câmara (PL 4776/2005) que estabelece um novo modelo de exploração de florestas na região amazônica.
O projeto de lei (PL) é resultado de três anos de intensos debates públicos entre o Governo e os vários agentes sociais e econômicos com interesses na floresta, em todo o território nacional. É inovador, portanto, na forma como foi concebido: não foi imposto, de cima para baixo, mas sim exaustivamente negociado com os diferentes setores envolvidos.
A grande inovação, no entanto, é a concepção ecológica moderna, conseqüente e progressista que apresenta. Busca-se a preservação do meio-ambiente, levando em conta as necessidades de desenvolvimento econômico das populações nativas. O PL de Gestão de Florestas Públicas torna possível a concessão de áreas florestais (nunca maiores que 2500 hectares), por meio de licitações públicas e do pagamento de "royalties", para a exploração sustentável. Mais: a cada área concedida a uma empresa, ao Governo cabe oferecer o dobro de terras para uso comunitário ou familiar ou para unidades de conservação. Frise-se: não se trata de "concessão de terras" e sim de "concessão de usos de florestas".
O PL é ambicioso e abrangente (recomendo a leitura do artigo da revista). Prevê o engajamento de Estados e municípios, que ganharão verba com as "royalties" e passarão a ser agentes diretamente interessados na preservação da floresta - o que não ocorre atualmente. Há também o fortalecimento das instituições estatais da área ambiental, por meio de concursos públicos e maior responsabilização.
No ano passado, pela primeira vez em mais de dez anos, houve uma queda no desmatamento. O que mostra que o Ministério de Meio-Ambiente (MMA), da ministra Marina Silva, está no caminho certo.
Esse caso do MMA é emblemático deste governo, e desmente o discurso da oposição raivosa, composta pela direita oportunista e pela esquerda inconseqüente. Esta reclama que o Governo Lula não é de esquerda: engana-se, em sua cegueira ideológica. A história desse PL mostra que para que ações progressistas sejam alcançadas, num país plural, democrático e conservador, como o nosso, faz-se necessário muita negociação.
A direita oportunista-golpista acusa o Governo Lula de não ter projeto. É desmentida pelos fatos. O projeto de governo popular significa que os programas governamentais sejam construídos coletivamente. Este governo deu início às conferências temáticas, nas áreas de saúde, educação, meio-ambiente, mulheres, negros, entre outros, incluindo os movimentos sociais e populares e ONGs no processo de elaboração de políticas públicas - algo inédito no país. Ao mesmo tempo, a sociedade civil organizada torna-se mais fortalecida, e o governo, mais democrático.
O projeto tucano-pefelê, imposto goela abaixo da sociedade brasileira, nos anos 90, sem maiores debates públicos, consistia na alienação do parque industrial nacional e no esfacelamento do Estado brasileiro. Grande projeto.
O projeto ora em execução é construídos com a sociedade e passa pelo fortalecimento do Estado nacional. Muitos serviços públicos, quando não extintos ou precarizados, no governo anterior, passaram a ser prestados por terceirizados. O atual governo reverteu essa tendência.
A retomada da popularidade do Presidente Lula se deve a fatores de ordens as mais diversas. O fato de ser o seu governo o mais aberto à participação direta de movimentos sociais e populares é um deles, sem dúvida. O PL 4776/2005 é emblemático de um fenômeno que ocorre em outras áreas do Governo Lula. É importante que todos aqueles que se dizem de esquerda atentem para este fato, e não sigam, cegamente, a pauta determinada pela grande imprensa.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
domingo, 19 de fevereiro de 2006
Trabalho duro e sorte - ou, cinema e a vida
Engraçado como a experiência de ver um filme pode mudar consoante o momento de nossas vidas em que o vemos, o que pode nos levar a gostar mais ou menos do filme, ou a dar mais ênfase a algum aspecto em detrimento de outros. Tudo por conta das circunstâncias específicas em que estejamos vivendo. Somos condicionados pelo nosso contexto, como diria um certo sociólogo (que não sou eu).
Uma semana antes das provas das primeira e segunda fases do concurso, assisti o documentário "What the bleep are we?" (www.whatthebleep.com). Resumindo (e muito), o filme mostra como no passado paradigmas tidos como a verdade absoluta pela humanidade foram provados falsos pela ampliação do conhecimento científico (o mundo é plano, o Sol gira em torno da Terra...). Baseando-se em física quântica, o filme propõe reflexão sobre novos parâmetros para a realidade. A mensagem final é que nós somos co-autores do mundo, que não existe independentemente de nós. Nós somos capazes de fazer o nosso futuro, e a realidade é aquilo que nós escolhemos que ela seja. Claro, tudo isso fundamentado cientificamente.
Gostei muito do filme. Por um lado, porque é bom, informativo, inusitado. Feito de forma didática, não é restrito aos iniciados. É provocante, faz pensar em vários assuntos. Por outro lado, acho que gostei mais pelo momento em que vivo. Estava a uma semana das provas. Fazer concurso não é uma experiência divertida (não recomendo a ninguém... principalmente se for concorrer comigo! Até nossas piadas giram em torno disso, horrível.) Ao contrário, emocionalmente é complicado. Esse filme foi inspirador. Em outras circunstâncias, porém, teria ele me tocado tanto?
No dia antes das provas (na sexta-feira), assisti "Match Point", o novo de Woody Allen. Filmaço. Não tem nada a ver com o Allen a que estamos habituado - exceto pela certeza de que se vai ver um bom filme, característica que permanece. Trata-se de um thriller psicológico, passado em Londres. S. Johanson consagra-se como a atriz mais gostosa da atualidade. E, já que N. Kidman decidiu só fazer filme borocochô ultimamente, é a melhor atriz gostosa em atuação (perdendo, talvez, apenas para Naomi Watts). Não vou falar muito sobre o filme para não estragar as surpresas que ele apresenta para o espectador. Mas, em termos de valores, é complementar ao filme que eu havia visto anteriormente a este (o documentário). Sua mensagem é, ok, trabalho duro é fundamental... mas sorte é indispensável!
Depois de meses de preparação para o concurso (trabalho duro), caíram algumas perguntas sobre "Os sertões", que eu estava lendo (sorte). Se bem que tem aquele jogador de baseball que falou algo como - "incrível, quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho". Talvez, mas o incrível é o quanto eu gostei desses filmes, e me pergunto até que ponto isso se deu em decorrência do que eu estava passando. Em tempo, ficam as sugestões desses dois ótimos filmes - principalmente se você estiver trabalhando duro por um objetivo, e precisando de um pouquinho de sorte.
Engraçado como a experiência de ver um filme pode mudar consoante o momento de nossas vidas em que o vemos, o que pode nos levar a gostar mais ou menos do filme, ou a dar mais ênfase a algum aspecto em detrimento de outros. Tudo por conta das circunstâncias específicas em que estejamos vivendo. Somos condicionados pelo nosso contexto, como diria um certo sociólogo (que não sou eu).
Uma semana antes das provas das primeira e segunda fases do concurso, assisti o documentário "What the bleep are we?" (www.whatthebleep.com). Resumindo (e muito), o filme mostra como no passado paradigmas tidos como a verdade absoluta pela humanidade foram provados falsos pela ampliação do conhecimento científico (o mundo é plano, o Sol gira em torno da Terra...). Baseando-se em física quântica, o filme propõe reflexão sobre novos parâmetros para a realidade. A mensagem final é que nós somos co-autores do mundo, que não existe independentemente de nós. Nós somos capazes de fazer o nosso futuro, e a realidade é aquilo que nós escolhemos que ela seja. Claro, tudo isso fundamentado cientificamente.
Gostei muito do filme. Por um lado, porque é bom, informativo, inusitado. Feito de forma didática, não é restrito aos iniciados. É provocante, faz pensar em vários assuntos. Por outro lado, acho que gostei mais pelo momento em que vivo. Estava a uma semana das provas. Fazer concurso não é uma experiência divertida (não recomendo a ninguém... principalmente se for concorrer comigo! Até nossas piadas giram em torno disso, horrível.) Ao contrário, emocionalmente é complicado. Esse filme foi inspirador. Em outras circunstâncias, porém, teria ele me tocado tanto?
No dia antes das provas (na sexta-feira), assisti "Match Point", o novo de Woody Allen. Filmaço. Não tem nada a ver com o Allen a que estamos habituado - exceto pela certeza de que se vai ver um bom filme, característica que permanece. Trata-se de um thriller psicológico, passado em Londres. S. Johanson consagra-se como a atriz mais gostosa da atualidade. E, já que N. Kidman decidiu só fazer filme borocochô ultimamente, é a melhor atriz gostosa em atuação (perdendo, talvez, apenas para Naomi Watts). Não vou falar muito sobre o filme para não estragar as surpresas que ele apresenta para o espectador. Mas, em termos de valores, é complementar ao filme que eu havia visto anteriormente a este (o documentário). Sua mensagem é, ok, trabalho duro é fundamental... mas sorte é indispensável!
Depois de meses de preparação para o concurso (trabalho duro), caíram algumas perguntas sobre "Os sertões", que eu estava lendo (sorte). Se bem que tem aquele jogador de baseball que falou algo como - "incrível, quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho". Talvez, mas o incrível é o quanto eu gostei desses filmes, e me pergunto até que ponto isso se deu em decorrência do que eu estava passando. Em tempo, ficam as sugestões desses dois ótimos filmes - principalmente se você estiver trabalhando duro por um objetivo, e precisando de um pouquinho de sorte.
Diplomacia e sociedade civil
A relação entre diplomacia e sociedade civil passa, no mais das vezes, desapercebida em meio ao forte apelo midiático dos encontros de chefes de governo. Em países como o Brasil, de democratização recente, a organização da sociedade civil é ainda mais incipiente e desigual, o que torna sua participação em negociações internacionais ainda mais problemática.
A fraqueza da sociedade civil indica que o processo democrático se encontra ainda em vias de consolidação. Implica, ademais, menor grau de representatividade dos setores sociais, mormente aqueles com menor poder econômico. Em geral, esse é o caso dos países da terceira onda democrática, grupo ao qual pertencem quase todos os países da América Latina, o Brasil inclusive.
O processo de negociação internacional é complexo, entre outras, por dar-se em dois níveis: interna e internacionalmente. No nível doméstico, o governo busca o consenso. Concomitantemente, negocia-se no nível internacional. Ao fim, o acordo entre governos deve ser ratificado domesticamente, em geral pelo Poder Legislativo, em cada país. Todo governo negocia no plano externo condicionado pelas pressões advindas tanto na instância legitimadora como do eleitorado ou da base social de apoio.
Esse processo negociador complexo em dois níveis torna-se tanto menos flexível para o governo quanto mais democrática for a sociedade. A falta de participação da sociedade civil organizada leva, conseqüentemente, à elitização das negociações internacionais, favorecendo os grupos de maior poder econômico.
Quando países com graus de abertura democrática bastante diferentes negociam, o contraste põe em evidência o ponto em questão. O Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) foi assinado na primeira metade da década de 1990 por Canadá, Estados Unidos e México. Os dois primeiros já dispunham de relações comerciais especiais. Tratava-se de incluir o vizinho do sul. Neste, o projeto de liberalização comercial encontrou pouca resistência nas esperas poíticas concorrentes pela ratificação, a despeito de certos setores sociais mexicanos temerem os efeitos econômicos potencialmente distorcivos da iniciativa. Prevaleceu a vontade dos segmentos econômicos organicamente ligados aos detentores do poder político. Nos Estados Unidos, por outro lado, o Governo Clinton enfrentou acirrada disputa política. Diversos grupos sociais ligados a interesses ambientais ou trabalhistas, assim como vários setores econômicos, principalmente o agronegócio, receavam os efeitos da integração comercial com um país mais pobre e com legislação que não protegesse tanto o o meio-ambiente e os direitos trabalhistas quanto a americana. O Nafta foi aprovado no Congresso Nacional americano por pequena margem de votos.
Maior grau de influência popular sobre a elaboração e a execução da política externa brasileira é algo desejável porque, embora venha a tornar mais difícil o trabalho do Governo e do Itamaraty no âmbito das negociações internacionais, aproxima-la-á do verdadeiro interesse nacional. Apenas na medida em que a sociedade civil brasileira atinja níveis mais elevados de organização, o déficit democrático das negociações internacionais tenderá a diminuir.
A relação entre diplomacia e sociedade civil passa, no mais das vezes, desapercebida em meio ao forte apelo midiático dos encontros de chefes de governo. Em países como o Brasil, de democratização recente, a organização da sociedade civil é ainda mais incipiente e desigual, o que torna sua participação em negociações internacionais ainda mais problemática.
A fraqueza da sociedade civil indica que o processo democrático se encontra ainda em vias de consolidação. Implica, ademais, menor grau de representatividade dos setores sociais, mormente aqueles com menor poder econômico. Em geral, esse é o caso dos países da terceira onda democrática, grupo ao qual pertencem quase todos os países da América Latina, o Brasil inclusive.
O processo de negociação internacional é complexo, entre outras, por dar-se em dois níveis: interna e internacionalmente. No nível doméstico, o governo busca o consenso. Concomitantemente, negocia-se no nível internacional. Ao fim, o acordo entre governos deve ser ratificado domesticamente, em geral pelo Poder Legislativo, em cada país. Todo governo negocia no plano externo condicionado pelas pressões advindas tanto na instância legitimadora como do eleitorado ou da base social de apoio.
Esse processo negociador complexo em dois níveis torna-se tanto menos flexível para o governo quanto mais democrática for a sociedade. A falta de participação da sociedade civil organizada leva, conseqüentemente, à elitização das negociações internacionais, favorecendo os grupos de maior poder econômico.
Quando países com graus de abertura democrática bastante diferentes negociam, o contraste põe em evidência o ponto em questão. O Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) foi assinado na primeira metade da década de 1990 por Canadá, Estados Unidos e México. Os dois primeiros já dispunham de relações comerciais especiais. Tratava-se de incluir o vizinho do sul. Neste, o projeto de liberalização comercial encontrou pouca resistência nas esperas poíticas concorrentes pela ratificação, a despeito de certos setores sociais mexicanos temerem os efeitos econômicos potencialmente distorcivos da iniciativa. Prevaleceu a vontade dos segmentos econômicos organicamente ligados aos detentores do poder político. Nos Estados Unidos, por outro lado, o Governo Clinton enfrentou acirrada disputa política. Diversos grupos sociais ligados a interesses ambientais ou trabalhistas, assim como vários setores econômicos, principalmente o agronegócio, receavam os efeitos da integração comercial com um país mais pobre e com legislação que não protegesse tanto o o meio-ambiente e os direitos trabalhistas quanto a americana. O Nafta foi aprovado no Congresso Nacional americano por pequena margem de votos.
Maior grau de influência popular sobre a elaboração e a execução da política externa brasileira é algo desejável porque, embora venha a tornar mais difícil o trabalho do Governo e do Itamaraty no âmbito das negociações internacionais, aproxima-la-á do verdadeiro interesse nacional. Apenas na medida em que a sociedade civil brasileira atinja níveis mais elevados de organização, o déficit democrático das negociações internacionais tenderá a diminuir.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006
mombojó vem aí
Sem formulazinha de sucesso, sem forçações de barra piegas, sem invencionices pedantes, sem rebuscamentos cabeçóides. O novo disco da Mombojó mostra um som mais maduro, coeso, com identidade e personalidade próprias. Uma mesma música tem "climas" ou passa sensações as mais diversas. São, a um só tempo, divertidas, tocantes, alegres, emocionantes, românticas. Atentos à música que se faz no mundo, não por isso renegam suas origens. Vemos aqui novamente a riqueza de influências musicais que marcou o primeiro disco, dessa vez melhor apresentado (tecnicamente falando). O disco é multidimensional, assim como o grupo, e rotulá-lo seria impossível, porque reducionista.
Resumindo a razão da qualidade - e decorrente reconhecimento de crítica e público - do trabalho da banda: ela é contemporânea, ligada à sua época. Isso em todos os aspectos.
Um diferencial da Mombojó é que sua contemporaneidade e originalidade não se restringem à música que fazem. Ao contrário, são uma continuidade, extensão - estão presentes tanto no estilo de vida dos seus integrantes, relaxados, alegres, intelectualmente autônomos, sem preocupação com padrões de qualquer ordem, quanto, sobretudo, na atitude profissional. São engajados politicamente - em 2002 participaram voluntariamente da campanha do partido político que apóiam (num tempo em que política ainda é visto por alguns como algo "careta"). E, agora, ao assinarem com a Trama, mantém a postura independente. As músicas da banda estarão sob o "copyleft" (em contraposição ao "copyright" tradicional), o que significa que baixar, copiar, utilizar as músicas de Mombojó não consistirá em crime (desde que se cite a fonte).
"Eu quero mudar o mundo, mesmo que não ganhe nada com isso", diz um refrão de umas das músicas novas. Em tempos de FSM, nada mais atual. E, se mudar a indústria musical, atualizando-a, ainda que não mude o mundo, já é um bom começo.
O disco será lançado em abril. Fiquem atentos: vai dar o que falar. O binômio música boa - atitude progressista continua sendo a marca da banda.
---
Contextualizando, Mombojó faz parte de um movimento mais amplo, que começa lá atrá com CS&NZ e a mundo livre s/a. É um movimento cultural cuja atitude vai de encontro ao discurso do oprimido, do fraco. Diante de novas circunstâncias ("globalização", ou qualquer nome que se quiser chamar), há grupos que, frente ao novo, ao desconhecido, têm medo e, numa mentalidade conservadora, adotam discurso tradicionalista, de defesa contra a suposta ameaça externa (o discurso quasi-xenófobo de Ariano Suassuna é o arquétipo intelectualmente melhor acabado desse caso).
Esse movimento, do qual Mombojó é herdeiro, surgido nos anos 90, mostra que não tem que ser assim. Pernambuco, apesar de ser a "periferia da periferia" (econômica, cultural, política), tem sido um celeiro de criatividade artístico-cultural. Não estão preocupados em pregar valores, ao menos não os tradicionais. Não revindidicam representar, ou se apropriar de uma cultura, mas expressar várias, livre de amarras. Transcendem fronteiras culturais. Trata-se de cosmopolitanismo sadio, que, aberto ao mundo, não renega suas raízes, mas tampouco se fecha nelas, no que seria um provincianismo doentio e retrógrado - não estranho a alguns dentre nós.
Tomando emprestado conceitos da literatura, Mombojó, a um só tempo, evita o romantismo idílico da música regional, e foge a um parnasianismo estilístico artisticamente estéril, que se preocupa apenas com a forma em si (a música eletrônica pela música eletrônica, por exemplo). Sua música é um todo coeso - conteúdo e forma são uma síntese do amálgama do grupo, expressão autêntica e autóctone do septeto.
Sem formulazinha de sucesso, sem forçações de barra piegas, sem invencionices pedantes, sem rebuscamentos cabeçóides. O novo disco da Mombojó mostra um som mais maduro, coeso, com identidade e personalidade próprias. Uma mesma música tem "climas" ou passa sensações as mais diversas. São, a um só tempo, divertidas, tocantes, alegres, emocionantes, românticas. Atentos à música que se faz no mundo, não por isso renegam suas origens. Vemos aqui novamente a riqueza de influências musicais que marcou o primeiro disco, dessa vez melhor apresentado (tecnicamente falando). O disco é multidimensional, assim como o grupo, e rotulá-lo seria impossível, porque reducionista.
Resumindo a razão da qualidade - e decorrente reconhecimento de crítica e público - do trabalho da banda: ela é contemporânea, ligada à sua época. Isso em todos os aspectos.
Um diferencial da Mombojó é que sua contemporaneidade e originalidade não se restringem à música que fazem. Ao contrário, são uma continuidade, extensão - estão presentes tanto no estilo de vida dos seus integrantes, relaxados, alegres, intelectualmente autônomos, sem preocupação com padrões de qualquer ordem, quanto, sobretudo, na atitude profissional. São engajados politicamente - em 2002 participaram voluntariamente da campanha do partido político que apóiam (num tempo em que política ainda é visto por alguns como algo "careta"). E, agora, ao assinarem com a Trama, mantém a postura independente. As músicas da banda estarão sob o "copyleft" (em contraposição ao "copyright" tradicional), o que significa que baixar, copiar, utilizar as músicas de Mombojó não consistirá em crime (desde que se cite a fonte).
"Eu quero mudar o mundo, mesmo que não ganhe nada com isso", diz um refrão de umas das músicas novas. Em tempos de FSM, nada mais atual. E, se mudar a indústria musical, atualizando-a, ainda que não mude o mundo, já é um bom começo.
O disco será lançado em abril. Fiquem atentos: vai dar o que falar. O binômio música boa - atitude progressista continua sendo a marca da banda.
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Contextualizando, Mombojó faz parte de um movimento mais amplo, que começa lá atrá com CS&NZ e a mundo livre s/a. É um movimento cultural cuja atitude vai de encontro ao discurso do oprimido, do fraco. Diante de novas circunstâncias ("globalização", ou qualquer nome que se quiser chamar), há grupos que, frente ao novo, ao desconhecido, têm medo e, numa mentalidade conservadora, adotam discurso tradicionalista, de defesa contra a suposta ameaça externa (o discurso quasi-xenófobo de Ariano Suassuna é o arquétipo intelectualmente melhor acabado desse caso).
Esse movimento, do qual Mombojó é herdeiro, surgido nos anos 90, mostra que não tem que ser assim. Pernambuco, apesar de ser a "periferia da periferia" (econômica, cultural, política), tem sido um celeiro de criatividade artístico-cultural. Não estão preocupados em pregar valores, ao menos não os tradicionais. Não revindidicam representar, ou se apropriar de uma cultura, mas expressar várias, livre de amarras. Transcendem fronteiras culturais. Trata-se de cosmopolitanismo sadio, que, aberto ao mundo, não renega suas raízes, mas tampouco se fecha nelas, no que seria um provincianismo doentio e retrógrado - não estranho a alguns dentre nós.
Tomando emprestado conceitos da literatura, Mombojó, a um só tempo, evita o romantismo idílico da música regional, e foge a um parnasianismo estilístico artisticamente estéril, que se preocupa apenas com a forma em si (a música eletrônica pela música eletrônica, por exemplo). Sua música é um todo coeso - conteúdo e forma são uma síntese do amálgama do grupo, expressão autêntica e autóctone do septeto.
nós na rede
eu quero uma rede,
pra nos balançar.
mas não posso furar
essa parede.
o quarto é alugado,
e quando eu sair
(se tiver pra onde ir)
tenho que deixar tudo arrumado.
pra nos balançar.
mas não posso furar
essa parede.
o quarto é alugado,
e quando eu sair
(se tiver pra onde ir)
tenho que deixar tudo arrumado.
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006
canto nenhum
Não agüento mais esperar a morte
Vou sair por aí, tentar a sorte
Vou cantar o amor, escrever poesia
Qualquer coisa que me dê 3 minutos de alegria.
Vou sair por aí, tentar a sorte
Vou cantar o amor, escrever poesia
Qualquer coisa que me dê 3 minutos de alegria.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006
Internet Governance
The debate over Internet governance is rather recent and indicates its wide-ranging scope and economic, social and political implications. It is not surprising, therefore, that 175 countries met at the World Summit on the Information Society (WSIS), in Tunis, a couple of weeks ago, to discuss the issue, among others.
According to press reports, the meeting’s most relevant fact was the movement, led by several countries, that is pressing for some kind of international legislation over Internet governance. The group, formed by countries such as Brazil, China, Iran, India and Cuba, argues that no one country in particular should control the Internet; instead, they claim, there should be an international authority, under the United Nations umbrella, to rule it.
As it was reported by the media, it seemed yet another round of the struggle between developed and developing countries. In fact, it is the consequence of technical and historical misconceptions.
The reason why the infra-structure that makes the world wide web possible is located in U.S. territory is the fact that this technology was financed, created and mainly developed there. Furthermore, it was conceived with the very idea that it should be an autonomous system.
So, what are the real motivations behind this lobby group? For democratic countries, like Brazil, it is probably due to backward ideological reasons. But for authoritarian regimes, such as China, Iran or Cuba, it seems obvious that it’s political purposes. The free flow of information in the web goes against these (and others’) regimes’ political interests. And such countries exert great power with the U.N. bureaucracy.
It seems reasonable that there should be some sort of international accountability for Internet governance. The question is whether the U.N. is the solution. Perhaps a more appropriate institution to oversee it would be the World Trade Organization. First of all, its members are, in general, freer, more open societies. Secondly, the WTO has proven to be fair and effective to rule global commerce and disputes.
Given the decentralized, uncontrolled nature of the net, it is arguable, to say the least, whether Internet governance should be an issue at all in a U.N. summit. If countries really intend to find solutions and empower their citizens, there are other measures that can be taken, and which the U.N. could help.
On one hand, Internet access should be more democratic, more widespread around the world. Brazil’s “Digital inclusion” program, which offers computers at a low cost to poor families is a creative and simple idea that goes in the right direction.
On the other hand, the use of open-source software must be encouraged. First, because it requires much less of taxpayers’ money; secondly, because it makes information technology more readily available for the population; and thirdly, open-source software impends the appearance of scientists and knowledge-based inventiveness and development. Again, Brazil is a good example to the world, as the federal government, as several local governments as well, have done by opting out of the expensive copy-righted software and adopting open-source ones.
What must be clear is that any real attempt to make the web more democratic does not demand more or new bureaucracies to oversee it; instead, it requires that more people have the means (intellectual and material) to access the net.
The debate over Internet governance is rather recent and indicates its wide-ranging scope and economic, social and political implications. It is not surprising, therefore, that 175 countries met at the World Summit on the Information Society (WSIS), in Tunis, a couple of weeks ago, to discuss the issue, among others.
According to press reports, the meeting’s most relevant fact was the movement, led by several countries, that is pressing for some kind of international legislation over Internet governance. The group, formed by countries such as Brazil, China, Iran, India and Cuba, argues that no one country in particular should control the Internet; instead, they claim, there should be an international authority, under the United Nations umbrella, to rule it.
As it was reported by the media, it seemed yet another round of the struggle between developed and developing countries. In fact, it is the consequence of technical and historical misconceptions.
The reason why the infra-structure that makes the world wide web possible is located in U.S. territory is the fact that this technology was financed, created and mainly developed there. Furthermore, it was conceived with the very idea that it should be an autonomous system.
So, what are the real motivations behind this lobby group? For democratic countries, like Brazil, it is probably due to backward ideological reasons. But for authoritarian regimes, such as China, Iran or Cuba, it seems obvious that it’s political purposes. The free flow of information in the web goes against these (and others’) regimes’ political interests. And such countries exert great power with the U.N. bureaucracy.
It seems reasonable that there should be some sort of international accountability for Internet governance. The question is whether the U.N. is the solution. Perhaps a more appropriate institution to oversee it would be the World Trade Organization. First of all, its members are, in general, freer, more open societies. Secondly, the WTO has proven to be fair and effective to rule global commerce and disputes.
Given the decentralized, uncontrolled nature of the net, it is arguable, to say the least, whether Internet governance should be an issue at all in a U.N. summit. If countries really intend to find solutions and empower their citizens, there are other measures that can be taken, and which the U.N. could help.
On one hand, Internet access should be more democratic, more widespread around the world. Brazil’s “Digital inclusion” program, which offers computers at a low cost to poor families is a creative and simple idea that goes in the right direction.
On the other hand, the use of open-source software must be encouraged. First, because it requires much less of taxpayers’ money; secondly, because it makes information technology more readily available for the population; and thirdly, open-source software impends the appearance of scientists and knowledge-based inventiveness and development. Again, Brazil is a good example to the world, as the federal government, as several local governments as well, have done by opting out of the expensive copy-righted software and adopting open-source ones.
What must be clear is that any real attempt to make the web more democratic does not demand more or new bureaucracies to oversee it; instead, it requires that more people have the means (intellectual and material) to access the net.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006
2 sonhos
1. Disputa entre João Paulo (PT) e Marco Maciel (PFL) para o governo do Estado. Com JP ganhando, claro. Seria emocionante. Como em 2000. De quebra, Luciano Siqueira no Senado.
2. Filmagem da história da briga entre a família de Antônio Conselheiro, os Maciéis, e os Araújos, no interior do Ceará do século XIX, na qual aquela foi massacrada por esta. Sob a direção de Steven Spielberg. Roteiro: Euclides da Cunha. Seria um filmaço.
1. Disputa entre João Paulo (PT) e Marco Maciel (PFL) para o governo do Estado. Com JP ganhando, claro. Seria emocionante. Como em 2000. De quebra, Luciano Siqueira no Senado.
2. Filmagem da história da briga entre a família de Antônio Conselheiro, os Maciéis, e os Araújos, no interior do Ceará do século XIX, na qual aquela foi massacrada por esta. Sob a direção de Steven Spielberg. Roteiro: Euclides da Cunha. Seria um filmaço.
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