mombojó vem aí
Sem formulazinha de sucesso, sem forçações de barra piegas, sem invencionices pedantes, sem rebuscamentos cabeçóides. O novo disco da Mombojó mostra um som mais maduro, coeso, com identidade e personalidade próprias. Uma mesma música tem "climas" ou passa sensações as mais diversas. São, a um só tempo, divertidas, tocantes, alegres, emocionantes, românticas. Atentos à música que se faz no mundo, não por isso renegam suas origens. Vemos aqui novamente a riqueza de influências musicais que marcou o primeiro disco, dessa vez melhor apresentado (tecnicamente falando). O disco é multidimensional, assim como o grupo, e rotulá-lo seria impossível, porque reducionista.
Resumindo a razão da qualidade - e decorrente reconhecimento de crítica e público - do trabalho da banda: ela é contemporânea, ligada à sua época. Isso em todos os aspectos.
Um diferencial da Mombojó é que sua contemporaneidade e originalidade não se restringem à música que fazem. Ao contrário, são uma continuidade, extensão - estão presentes tanto no estilo de vida dos seus integrantes, relaxados, alegres, intelectualmente autônomos, sem preocupação com padrões de qualquer ordem, quanto, sobretudo, na atitude profissional. São engajados politicamente - em 2002 participaram voluntariamente da campanha do partido político que apóiam (num tempo em que política ainda é visto por alguns como algo "careta"). E, agora, ao assinarem com a Trama, mantém a postura independente. As músicas da banda estarão sob o "copyleft" (em contraposição ao "copyright" tradicional), o que significa que baixar, copiar, utilizar as músicas de Mombojó não consistirá em crime (desde que se cite a fonte).
"Eu quero mudar o mundo, mesmo que não ganhe nada com isso", diz um refrão de umas das músicas novas. Em tempos de FSM, nada mais atual. E, se mudar a indústria musical, atualizando-a, ainda que não mude o mundo, já é um bom começo.
O disco será lançado em abril. Fiquem atentos: vai dar o que falar. O binômio música boa - atitude progressista continua sendo a marca da banda.
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Contextualizando, Mombojó faz parte de um movimento mais amplo, que começa lá atrá com CS&NZ e a mundo livre s/a. É um movimento cultural cuja atitude vai de encontro ao discurso do oprimido, do fraco. Diante de novas circunstâncias ("globalização", ou qualquer nome que se quiser chamar), há grupos que, frente ao novo, ao desconhecido, têm medo e, numa mentalidade conservadora, adotam discurso tradicionalista, de defesa contra a suposta ameaça externa (o discurso quasi-xenófobo de Ariano Suassuna é o arquétipo intelectualmente melhor acabado desse caso).
Esse movimento, do qual Mombojó é herdeiro, surgido nos anos 90, mostra que não tem que ser assim. Pernambuco, apesar de ser a "periferia da periferia" (econômica, cultural, política), tem sido um celeiro de criatividade artístico-cultural. Não estão preocupados em pregar valores, ao menos não os tradicionais. Não revindidicam representar, ou se apropriar de uma cultura, mas expressar várias, livre de amarras. Transcendem fronteiras culturais. Trata-se de cosmopolitanismo sadio, que, aberto ao mundo, não renega suas raízes, mas tampouco se fecha nelas, no que seria um provincianismo doentio e retrógrado - não estranho a alguns dentre nós.
Tomando emprestado conceitos da literatura, Mombojó, a um só tempo, evita o romantismo idílico da música regional, e foge a um parnasianismo estilístico artisticamente estéril, que se preocupa apenas com a forma em si (a música eletrônica pela música eletrônica, por exemplo). Sua música é um todo coeso - conteúdo e forma são uma síntese do amálgama do grupo, expressão autêntica e autóctone do septeto.
2 comentários:
Berna teu texto tá muito engraçado. Não vou dizer bairrista, mas engraçado... Seria preciso reler para entender as entrelinhas elogiogiasas e as críticas aos purismos sertano-ariano de Ariano.Mas vou deixar isso para depois, como tudo o mais... Abraços saudosos. Jampa.
Hmmm, vou procurar conhecer mombojó então
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