quarta-feira, 19 de abril de 2006

Tá ruim? Deixa assim!

Em post recente, Diogo toca em questão relevante - a questão das drogas. Ele contextualiza bem o problema, ao demonstrar que a sociedade brasileira trata-o assim como trata todos os outros desafios que assolam o país - de forma superficial. Faltou acrescentar hipócrita.

Atualmente, o uso de drogas é tido como ilegal e dá cadeia. O usuário é criminoso. A ilegalidade da droga acarreta, por sua vez, uma série de conseqüências nefastas. Aumenta o preço da droga, ao interferir na oferta, tornando-a uma atividade economicamente atrativa. Força o usuário a se colocar em situações de risco para obtê-la. E marginalisa o viciado, negando-lhe o direito a atendimento médico adequado, impelindo-o ao roubo para manter o vício. Dá margem, ademais, para a cultura paternalista, onde o pobre preto vai preso, enquanto o branco classe-média fica solto mediante o pagamento de suborno ao guardinha.

A política repressora é um desastre. Essa mentalidade prevalece nos Estados Unidos, o maior defensor dessa abordagem retrógrada. Aí está a maior população carcerária do mundo, a maioria por consumo e tráfico de drogas, e, não obstante, é o maior consumidor de drogas do mundo. É nessa política ineficiente que a legislação brasileira se inspira.

Existe alternativa. A política liberalizante, adotada no Canadá, em muitos países europeus e, inclusive, em alguns estados americanos, tem mostrado resultados interessantes.

No Canadá, o médico pode recomendar o uso medicinal da cannabis sativa para o paciente. Alguém diagnosticado com, digamos, infecção intestinal, pode fumar maconha. Ela abre o apetite e afina o sangue, resolvendo dois problemas, sem químicos ou efeitos colaterais. O Governo canadense envia ao paciente um guia de como instalar o aparato necessário para o cultivo da maconha.

Na Suíça, existem narcossalas onde o viciado pode ir drogar-se de forma segura. Lá, o Governo disponibiliza assistência médica e oferece tratamento, caso desejado. Senão, apenas podem injetar drogas (pesadas), com seringas novas e limpas. Assim, não têm que lidar com traficantes, não precisam marginalizar-se socialmente para manter o vício, não correm o risco de contrair doenças graves. É bom para os viciados, que têm sua qualidade de vida melhorada; para suas famílias, que não passam pelo drama da marginalização do parente querido; e para a sociedade, que vê a criminalidade relacionada ao tráfico reduzida.

E no Brasil? Nem se discute essas coisas. O conservadorismo hipócrita que prevalece por aqui faz com que lança-perfume, cigarro e bebidas alcóolicas, drogas que dispõem de fortes lobbies que as defendem, sejam socialmente aceitos (às vezes até incentivados). Mas outras drogas ditas ilícitas, não pode. Por que? Pelo mero fato de ser ilegal. Ora, que sejam legalizadas! Nada mais natural do que a atualização das normas jurídicas aos novos tempos.

A abordagem liberalizante é não só filosficamente mais correta, ao propiciar maior liberdade aos indivíduos, ela é mais eficiente, ao reduzir os danos sociais causados pelas drogas. A única coisa que nos mantém distante dela é o debate truncado, gerado pelo atraso cultural do Brasil, onde medidas compensatórias são vistas como racistas, gays como aberração, aborto como assassinato, assassinato como "direito de defesa"... E, assim, continuamos a perceber que o Brasil tem problemas, e como solução propomos manter tudo do mesmo jeito!

3 comentários:

slavo disse...

a tendencia conservadora eh sempre predominante, de certa maneira seria estranho esperar q os individuos tivessem uma postura "progressista", mas em todos esse assuntos, o grande problema reside naqueles q assumem o discurso conservador e conseguem vender esse discurso como legitimo a todos, o caso das armas foi sintomatico, as pessoas compraram uma causa que nao era delas, um interesse absolutamente privado. No Brasil a hipocrisia, a incoerencia parece uma especie de caracteristica da cultura geral, o sujeito usa os "servicos" de uma prostituta mas eh contra qualquer legalizacao que beneficie este grupo, o cara procura os travestis, mas eh contra a legalizacao do casamento homossexual, o sujeito reclama da violencia mas eh a favor do comercio de armas, eh um pouco aquela mentalidade do Sr. da Casa Grande que usa sexualmente a escrava, ou servical, mas quer mante-la sempre "no lugar dela" . Como no Brasil os discursos sao sempre muito difusos e a honestidade intelectual, que eh a unica coisa que permite duas pessoas discordandes debaterem de maneira produtiva, sempre deixada de lado, a comecar pelo nosso Oraculo contemporaneo: a midia.

Anônimo disse...

Yep!
Soon Richard Stallman will give away Free Software. Free like "Free Speech", not like "Free Ganja".

Bernardo Jurema disse...

a conlcusão desse artigo, não ficou explícito, é uma resposta à pergunta de diogo num post precedente. "Medo é o problema do Brasil?". A resposta é - não. O problema é a caretice reinante no país.

Quem é R. Stallman? Não faco idéia.