quinta-feira, 12 de julho de 2007

Percorremos um longo caminho, mas...

Nunca é demais ressaltar o mal que a ditadura causou ao Brasil. E em tantos e tão variados aspectos. Até hoje pagamos o preço disso. Apesar dos significativos avanços que o Brasil tem vivenciado desde a redemocratização, em meados da década de 80, é evidente que ainda temos um longo caminho até atingirmos o patamar das democracias maduras. Apenas pra não ficar numa nota derrotista - aliás, tão ao gosto do brasileiro... o velho "complexo de vira-lata" -, registro que os países atualmente desenvolvidos chegaram aos atuais níveis de bem-estar social à expensa de um regime democrático totalmente consolidado - o qual foi-se desenvolvendo à medida em que novos setores da sociedade atingiam certo padrão de vida que os permitissem exigir demandas de inclusão política. O inusitado da experiência brasileira é justamente estarmos realizando os dois processos - o desenvolvimento político e o econômico - concomitantemente.

Tendo dito isso, voltemos ao ponto que eu queria chegar. Dada a nossa pouca (20 anos) experiência democrática, é compreensível (embora não desejável) os excessos da nossa grande imprensa corporativa. Somando-se ao papel desproporcional que a TV desempenha num país como o nosso, onde a população (lato sensu) não lê, temos uma cultura jornalística ainda viciada por maus hábitos do passado recente. O jornalista e atual ministro Franklin Martins faz umas das melhores análises do atual comportamento da imprensa brasileira (recomendo, a quem se interessar pelo tema, a leitura de sua entrevista à Caros Amigos no ano passado; tenho a íntegra e envio pelo correio pra quem quiser!). Em suma, ele diz que as grandes empresas jornalísticas editorializaram a notícia, ao tentar "puxar a opinião pública pelo nariz". A imagem é forte e eficiente. O fato de não ter funcionado diz muito a respeito da capacidade analítica e independência de pensamento de amplos setores da sociedade brasileira. Mas ilustra também o atraso relativo da nossa imprensa...

A conseqüência direta da banalização de acusações, da generalização inquisitiva, da culpabilização antes mesmo do devido processo legal, do denuncismo seletivo - é a perda da credibilidade da imprensa. A grande imprensa fez por onde, para que notórios crápulas como Renan Calheiros possam dizer-se vítima de perseguição.

Não vejo isso como algo irremediavelmente mal... De jeito nenhum! Nossa imprensa melhorou muito de 20 anos pra cá! Apenas quero constatar que ainda tem um longo caminho a seguir... E saliento, ainda, a importância da notícia não-editorializada, equilibrada, sóbria. Num contexto desses, quando a acusação vem, lastreada por uma cobertura ilibada, ela tem muito mais força, eficiência, credibilidade. Para ilustrar o meu ponto, um jornalista americano, Obermann, da MSNBC (canal de notícias), recentemente pediu que Bush e Cheney renunciassem. Olha a diferença da imprensa nossa com a deles... a nossa em 3 anos queria de todos os modos derrubar o presidente. A deles, ao fim do segundo mandato, e com elementos irrefutáveis, defende - abertamente, não veladamente - a renúncia do presidente. Democracia madura é isso aí. Vejamos como funciona:



Pra quem quiser ver outro exemplo, veja aqui um interessante debate sobre a cobertura da imprensa americana do sistema de saúde do país.

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