Nesse Papai Noel aí, eu acredito!
Eu nunca engoli bem esse negócio de Natal. Desde pequeno. Lembro-me de uma árvore que, na terceira série, eu e meus coleguinhas tivemos que decorar para a data festiva:
-- Tia Rejane, por que algodão?
-- É neve.
Como assim?! Que porra é neve? Como, se aqui está fazendo 30 graus! E pelo que aprendi no Catecismo, não havia neve nem pinheiros na terra de Jesus.
Muito provavelmente, eu não elaborei todos esses sofisticados questionamentos naquele momento, aos oito anos de idade. Mas o estranhamento, sim, já estava lá.
Todo esse espírito natalino, no Brasil em geral, e no Nordeste em particular, é totalmente descontextualizado, fora de lugar – é falso, artificial.
Neve, pinheiro, renas, trenós, chaminés, “jingle bells”... nada disso nos diz respeito, nada disso nos pertence, nada disso nos é original e por isso é tudo tão inadequado. Por que temos que macaquear o que vem de fora? Que vergonha é essa de nos assumirmos? Que tipo de colonização mental revela esse comportamento mimético acrítico? O mais lamentável é que não é por falta de matéria-prima. No Brasil-real, as classes populares têm os autos natalinos – como o cavalo marinho, o pastoril...
Tome Papai Noel. Ele não faz parte do imaginário popular (não fazia; agora, até faz); e, para que fizesse, seria necessário uma nova idumentária condizente com a nossa terra, para início de conversa! Uma crítica construtiva:
Aliás, todo o “clima natalino” precisaria passar por um banho de loja, para se adequar. Tudo isso para não mencionar que o significado real da festa – o nascimento de Jesus – se perde (embora isso não ocorra nos autos natalinos populares!) em detrimento do aspecto meramente comercial, consumista – apesar e a despeito de toda a retórica paz e amor tão comum.
Essa história toda apenas comprova um dos traços marcantes da sociedade brasileira – ou, pelo menos, daquele setor “que conta”, o Brasil-oficial: a hipocrisia. Como sempre, não se assume o discurso verdadeiro, escondendo-o por trás de uma retórica “bacana”. Nem nos assumimos como consumistas – como os americanos, por exemplo; nem nos reconhecemos como cristãos praticantes – a exemplo dos muçulmanos que realizam o Rajj, agora. Usamos a retórica cristã para vender...