quarta-feira, 4 de julho de 2007

Tudo não está tão mal

A visão que prevalece na classe média brasileira em relação ao Brasil atual tende a ser pessimista. A crer na sua análise, a situação é grave, não há saída à vista. Digo classe média porque, como aliás já escrevi aqui, os setores mais pobres fazem uma leitura diferente da realidade brasileira. Essa interpretação negativa carece de perspectiva histórica (quando vemos o Brasil de hoje e o comparamos com 200, 100, 50 ou 20 anos atrás, escolha-se livremente o corte) e perspectiva global (quando comparamos com os nossos vizinhos ou com outros de renda semelhante – Venezuela, Argentina, Rússia, Índia, dentre outros). Trata-se de uma visão bem restrita no tempo e no espaço.

Nao acredito em mudança da noite pro dia, ao menos nao em mudança sólida. Mudança é processo. Ademais, a história brasileira indica que nossa sociedade é avessa a rupturas abruptas. O Presidente Lula, muito sabiamente, e a despeito da sua suposta ignorância propalada pelos opositores, percebeu isso e, ao invés de uma postura confrontacionista, optou por uma posição conciliatória, tal qual Mandela na África do Sul e ao contrário do que faz Chávez em seu país. Percebo, no Governo Lula, com todos os seus percalços, o aprofundamento de um processo que começou lá nos anos 80 com a redemocratização.


Lembro que, em 2003, um professor meu na faculdade – Jorge Zaverucha – lamentava que o Governo Lula não fosse tão “de esquerda” quanto o também recém-inaugurado Governo Kirstchner. Passados cinco anos, gostaria de saber o que acha agora (provavelmente continua achando tudo ruim porque pessimismo é uma coisa viciante, além de ser explicação fácil para tudo). Mas, hoje, lá a inflação é crescente, o controle de preços está causando desabastecimento de alimentos e energético e o Presidente vai lançar sua esposa para sucedê-lo...


Precisamos nos valorizar enquanto sociedade, e reconhecer o quanto temos avançado, até pra termos consciência do quão longe podemos ir. Por incrível que pareça, a Veja (cuspi no chão) quase (quase!) acertou na sua capa dessa semana... se falasse da auto-estima coletiva.


Alguém ainda aguenta o discurso do "nada presta"(cujo arauto-mor é Arnaldo Jabor)? Jabor não está com nada, eu sou muito mais Gilmar! Um contraste gritante entre o senso-comum das nossas classes-médias é a visão de outras pessoas, vendo de fora e de longe:


* De um amigo canadense, ex-Banco Mundial, atualmente segue carreira acadêmica:

Bernardo: Yes, Brazil is doing well. Below is what an investment newsletter I subscribe to says in its latest issue (o relatório recomenda investimento de longo prazo no Brasil, dada a solidez de seu crescimento). (I wonder how the prognosis will be affected by the on-going correction in bond and equity markets and whether that portends a fundamental economic slowdown.) By the way, I am back from Israel , the so-called Holy Land . It was a wonderful experience. I hope to go back again for a longer visit. Best regards, Dan



* De um tio meu, empresário em Recife com negócios em Angola:

(...)

Acredito que estamos avançando, esta sujeira sempre existiu e que não apareça ninguém pra dizer que a bronca está circunscrita ao que está aparecendo, para nós da elite empresarial esta é a regra que vem prevalecendo no Brasil há anos, continuo um otimista incorrigível, vindo à tona as coisas tendem a se equilibrar, um dia vamos ter corrupção de 1º mundo, na economia já estamos quase lá..



* De um amigo meu de La Paz, formado em Economia e História, mestrando em Economia, em Barcelona:

bernardo, q tal hombre, oye solo queria decirte q me gusta mucho q me mandes estos artículos de crecimieto económico y de economía en general sobre brsail. me da la impresion q a difrencia del resto de los países de América Latina, Brasil no está crecieno exclusivamente sobre la venta de sus materias primas, lo q le da mayor sostenibilidad y calidad a su crecimiento.

bueno, hermano, cuidate

5 comentários:

slavo disse...

o texto estaria perfeito não fosse a citação a dita revista que ela própria contradiz tudo que o seu texto diz, e o faz como diretriz editorial, com seus azevedos e mainardis da vida, todos aparentados da superioridade[?] jaborniana.
No mais, acho que a questão não é de ser otimista, mas de ser realista, de fazer um análise menos "pre-moldada" do cenário, sob um padrão ideal de sociedade, sempre teremos o que falar mal e achar as coisas ruins, a pergunta é, no que contribui para alguma [minima que seja] um falatório alla Datena. Conciliar de um lado esse visão "tipo ideal" do que deve ser a sociedade ao lado de uma leitura realista do momento e do processo [inclusive político, da problemática do mesmo] é que parece o difícil para boa parte da "ilustrada" classe média/rica brasileira. Ela começaria bem se parece para olhar para o próprio umbigo reconhecer o quanto ela é protagonista na parte ruim [principalmente] de tudo que está aí.

João disse...

berna, ver o copo meio cheio talvez seja uma sabedoria, não se resignar também é uma. o brasil e o mundo não vão lá muito bem, disso sabemos todos, ou não? sentido trágico não significa determinismo, pelo contrário. também acredito em processos de mudança, but i can´t get no satisfaction. e também posso te provocar de três maneiras:
1. é fácil ser otimista com todos os direitos básicos garantidos.
2. se a oposição estivesse no poder talvez vc também seria trágico neste momento... partidarismo é perigoso, meu amigo...
3.a violência no brasil nunca atingiu números tão assustadores.
no mais, também gosto de sorrir e de acreditar num mundo melhor, agindo a cada instante.
abraço enorme e desculpe a chateação

Bernardo Jurema disse...

João, acho que talvez você não tenha entendido meu ponto. Não se trata da dicotomia copo cheio vs copo vazio. Para usar a mesma imagem, é como se fosse o copo não está cheio, mas está enchendo, e tá mais cheio do que um tempo atrás, e com tendência de continuar enchendo...
e é fácil responder tuas provocações:
1. mais do que ser feliz pelo que tenho - e sou grato sim -, me angustia aquilo que falta aos outros (muitos), Nessa mesma linha, me alegro de ver que os outros muitos vêm, gradativamente, conquistando mais e mais direitos.
2. Eu não partidarizei o meu texto não. Algumas das conquistas de hoje, se devem a realizações do passado. O SUS, por exemplo, é algo que vem sendo aperfeiçoado desde os anos 80! Se hoje o SAMU atende as periferias, é porque lá atrás teve gente planejando o SUS... Fernando Hadad pode hoje propor um plano de longo prazo pra Educação porque, nos 90, o ensino foi universalizado. Hoje, podemos cuidar da corrupção, porque há mais de 10 anos, resolvemos o problema da inflação, que sugava todas as energias da Nação.
3. A segurança pública passa por grave crise, mas denovo. Bora contextualizar isso no tempo. Na história do Brasil, isso é o pior que já tivemos? Vai ver como viviam os escravos. E contextualizando no espaço... Ao menos não temos guerrilhas políticas (Peru) separacionistas (Colômbia), conflitos étnicos ou religiosos (a lista é longa), etc. E estamos tentando resolver isso.

slavo disse...

é engraçado o under Skin, ele não consegue esconder seu anti-esquerdismo, se fosse para partidarizar, então o item citado poderia ser 100% imputado a direita brasileira que viu o crime organizado ser gestado nas suas barbas, dentro das prisões, mas a ditadura tava mais preocupado em perseguir opositores políticos, seguindo-se os governos civis com a mesma indiferença - e não foi por falta de aviso. Isso sem falar que a atual oposição instalada no poder por séculos deixou que o país se tornasse o mais desigual do mundo, outro fonte inesgotável de violência. A leitura de Bernardo nesse sentido é correta, não porque otimista, mas porque enxerga em perspectiva um processo que se não interrompido bruscamente poderá ser o real legado deste governo - Combate a desigualdade como política DE ESTADO, combate a desigualdade RACIAL como política de ESTADO, combate as desigualdes REGIONAIS como política de ESTADO [pela primeira vez em décadas SP diminuiu sua participação no PIB nacional, tendo aumentado no NE], Combate a desigualdade de Oportunidades como Política de ESTADO [ProUni, por exemplo], Combate a corrupção como política de ESTADO [ a PF prendendo e investigando de juiz do supremo a irmão do presidente]
O governo não é perfeito [ falta, na minha visão, uma diretriz clara na saúde pública, o SAMU é bom, mas é pouco], mas o que leva a uma leitura digamos, positiva do atual momento é que mesmo o massacre midiático interno, o atual governo demonstra diretrizes básicas para que se continuadas gerem melhores condições e uma sociedade [ um pouquinho que seja] mais igualitária.

João disse...

antes-anti-qualquer-partidarismo.
não me parece que vocês estejam falando de brasil.