domingo, 28 de maio de 2006

Tendência de alta

A cúpula da campanha do candidato oposicionista Geraldo Alckmin assume discurso de que a campanha ainda não começou, e que, a partir da exibição da propaganda eleitoral, será possível "desconstruir" o Presidente Lula.

O grande problema dessa perspectiva é que ela não leva em conta um fator essencial. O Governo Lula sofreu, nos últimos 12 meses, a maior campanha difamatória - e sem entrar aqui no mérito da questão - jamais enfrentada por um governo na história recente do país. Tratou-se, ademais, do primeiro escândalo na era da internet. Ou seja, a suposta "desconstrução" vai retomar uma mensagem que já foi bombardeada pelos meios de comunicação insistente e incessantemente. Não será nenhuma novidade para o eleitorado, que a essa altura já tem conhecimento de todas as denúncias.

O PT e o Presidente Lula, por seu turno, terão a ocasião de passar a sua versão dos fatos, algo que não tiveram no decorrer da "crise". Alkmin, ao não adotar um discurso novo, vai atingir a fatia do eleitorado que já está disposta a votar nele - os pouco menos de 20% dos eleitores. Lula, por outro lado, terá a possibilidade de convencer os céticos e os decepcionados, ao mostrar o que o seu governo tem feito. E o eleitor de Lula, os cerca de 45% do eleitorado, tende a ser sólido. Lula tem margem para crescer mais, porque seu discurso não foi o predominante durante a campanha difamatória. Alkmin vai repisar uma estratégia que já se mostrou falha, ao atacar o Presidente Lula. E vai perder por conta disso.
Cobertura deturpada

A cobertura política da imprensa brasileira em geral é muito ruim. Restringe-se a Política à política eleitoral-partidária. Há uma miríade de blogues noticiosos e as páginas políticas dos jornais diários são numerosas. Quantidade não é qualidade. E, então, fica-se só na política como campeonato de futebol. Parece agora a cobertura de Copa do Mundo, inventando-se notícia, achando chifre em cabeça de cavalo. A briga interna na aliança PSDB-PFL, as eternas disputas entre as diversas facções peemedebistas, o fato de o Presidente se declarar ou não candidato à reeleição são todos temas de menor importância. Mas não a julgar pelo espaço que têm na mídia.

A que se deve isso? Provavelmente, à inexperiência da sociedade brasileira com o sistema democrático-representativo. No debate público, não há questões mais substantivas, não se discute políticas públicas, ou se as discute perifericamente, superficialmente. As armações partidárias prevalecem sobre as disputas de interesse nas articulações políticas para a implementação ou não de políticas públicas. A grande imprensa empresarial assume o discurso de que a popularidade do Governo Federal se baseia no Bolsa Família (o que é uma simplificação grotesca da realidade), mas não discute a fundo em que consiste tal política, seus efeitos concretos para a população atendida, suas falhas.

Trata-se de algo bastante danoso, porque reduz política à mera disputa pelo poder político e, assim, dá razão aos céticos, contribuindo para o descrédito do sistema político-partidário e da democracia representativa. Enquanto a imprensa não amadurece e fica nessa cobertura à la Caras, é importante que busquemos fontes alternativas de informação.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

De pesos e medidas

Algo de muito, muito grave, sem precedentes, acaba de acontecer no Estado de São Paulo. Uma organização clandestina, cuja renda advem de tráfico de drogas e roubos, submeteu a população de uma Unidade da Federação a um estado de guerra, de ataque terrorista. O maior, o mais rico Estado brasileiro. O local onde se concentram as bases industrial e financeira da nação. As autoridades públicas perderam o controle da situação, que perdurou enquanto assim o desejaram os líderes do grupo criminoso semi-mafioso. E o Governador Lembo (PFL) garante, em entrevista, visivelmente incomodado diante dos questionamentos insistentes e do estarrecimento geral, que tudo "está sob controle" e que "não se preocupa com o futuro".

As populações ficaram alarmadas. Quer dizer, alguns mais que outros. O terror, finalmente, chegou aos grandes centros urbanos onde se concentra a riqueza nacional. Saiu da periferia. Chegou ao centro. Ao centro da cidade, e ao topo da agenda pública. O descontrole da segurança pública saiu da favela e, inopinadamente, invadiu os lares dos cidadãos das classes média e alta. O terror saiu da esfera do tolerável - dos pobres - e foi cruamente exposto entre a "opinião pública", ou os "formadores de opinião". Aqueles que ganham acima de 20 salários mínimos, e, em geral, são brancos. (E não é mais aquele roubo de trânsito, seqüestro relâmpago, essas coisas quotidianas, normais). Enfim, atingiu diretamente aqueles que, de fato, importam.

Os ataques terroristas terminaram apenas quando a advogada do líder do "movimento", Maroca, foi até o presídio, em avião da Polícia Militar de São Paulo, acompanhada de altas autoridades do Governo do Estado de São Paulo. Após a conversa entre a adovagada e seu cliente, as rebeliões nos presídios e o terror generalizado cessaram. Tudo volta ao normal, após o acordo. Em seguida, o Governo paulista "dá o troco", e a Folha de São Paulo nos informa na manchete do dia que "Polícia prende 24 e mata 33 em 12h". São 24 e 33 "suspeitos". A punição coletiva oficial prende e mata pretos e pobres, em geral inocentes, sempre anônimos, sempre da periferia - os suspeitos usuais. Tudo volta ao normal. E a Polícia Militar do Estado de São informa a população que não pode revelar a lista com os nomes dos "suspeitos" sumariamente executados. Os defensores de direitos humanos não têm voz nos meios de comunicação, afinal, a Polícia Militar de São Paulo tem uma reputação ilibada em relação aos direitos humanos dos mais pobres.

A imprensa brasileira, por sua vez, diante de tal contexto de caos, trata o assunto de forma muito responsável. Cheia de cuidados e zelo no tratar dessa "tragédia". A grande preocupação é "não politizar o debate". No congresso, os líderes do PSDB se exaltam com indignação pelo fato de o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro (PT-RS), ter constatado o óbvio, ao afirmar que "o governo Alckmin, o governo paulista, preferiu negociar com criminosos a aceitar a ajuda do governo". Na imprensa, ao contrário, ouvimos vários comentaristas e “pré-candidatos” afirmarem que "o problema é nacional" - ainda que nem na cidade do Rio de Janeiro, a cidade do tráfico de drogas, algo mesmo parecido com isso tenha acontecido. O problema é da “sociedade brasileira”. É de todos nós, tentam convencer-nos.

Esse cenário desolador, de falência total do Estado, ocorre num estado que é governado pelo mesmo partido – o PSDB – há não menos que 12 anos. Oito dos quais sob a liderança de um mesmo governador – Geraldo Alkmin – cujos principais subordinados da área de segurança pública continuam servindo sob o governo-tampão da coalizão PSDB-PFL.

Mas a imprensa não vai, não quer politizar algo que é, por natureza, político. O que ocorre é conseqüência direta de políticas públicas que foram adotadas, ou deixaram de ser, pelos administradores públicos nos últimos anos... na última década. É o grande legado da gestão tucano-pefelê ao Estado de São Paulo, é a grande obra, o grande projeto social – a privatização radical da segurança pública.

É a mesma imprensa que responsabilizou exclusivamente e antes de qualquer processo legal que seja, que não hesitou em responsabilizar sumariamente, que não abriu mão de fazer ilações para encriminar o maior partido de esquerda do Brasil, o único com ligações orgânicas aos movimentos sociais, o PT, por tudo, sozinho - nos "informam", unânime e inequivocamente, que se tratou do "maior escandâlo de corrupção do país". Ainda que o crime cometido tenha sido, pasmem, lançar mão da mesma tática de arrecadação de fundos para eleições que os demais partidos. Apesar de os fatos virem à tona justamente porque as instituições estão funcionando melhor - a Polícia Federal investiga e prende criminosos, inclusive políticos; a Controladoria-Geral da União passou a funcionar de forma autônoma; há CPIs instaladas no Congresso Nacional.

O desrespeito para com o Presidente da República, Lula, fundador do PT, e oriundo, ele próprio, dos movimentos sociais, não vê limites. A capa da maior revista em circulação – e a que mais, segundo os acadêmicos da área de comunicação, desrespeita os mais elementares princípios do bom jornalismo – no país, estampa-o com um chute no traseiro por ter se portado de maneira serena e responsável numa delicada negociação internacional. Essa mesma empresa de publicações faz denúncia gravíssima contra o Presidente Lula e seus mais próximos assessores, e ela mesma reconhece que suas fontes são duvidosas (isso depois de mais de um ano de ferrenha oposição numa sistemática campanha denuncista, como "os dólares de Cuba", cuja apuração nunca foi levada adiante).

O que ocorre em São Paulo é um escândalo jamas visto no país. E ocorre não porque as instituições estejam funcionando - mas por seu extremo oposto, a sua inépcia crassa. Mas a responsabilidade, nesse caso, é do partido dos donos dos principais meios de comunicação, cujo candidato à presidência é o ex-governador do Estado de São Paulo, o qual governou durante oito anos, e que no ano passado foi escolhido o candidato favorito dos empresários, segundo a capa de revista voltada à categoria e de propriedade da mesma semanal acima citada. Mas supor que as holdings proprietárias dos meios de comunicação atuem de modo a defender o grupo político que representa seus interesses é coisa de chavista desvairado que quer "desunir" o país, nos dizem, repetidas vezes, esses mesmos meios de comunicação.

E agora entendemos porquê a "opinião publicada" ficou tão assustada com a proposta de um Conselho Nacional de Jornalismo – assim como há o Conselho Nacional de Justiça, que acabou de pôr fim à prática do nepotismo no Judiciário. Não – o Quarto Poder não aceita contra-pesos ("checks and balances", como ensinou Montesquieu). "É anti-democrático", "é stalinista" (seja lá o que isso signifique!). E agora entendemos a razão da discrepância gritante do tratamento dispensado, pela imprensa empresarial, a uma crise e à outra.

terça-feira, 16 de maio de 2006

Se lembrem do que eu escrevi II

Em texto sobre o referendo do desarmamento que escrevi no ano passado, concluí com os dois tipos de sociedade representados por cada uma das opções oferecidas. Os recentes acontecimentos no estado de São Paulo, tragicamente, são uma prova contundente da idéia. Passado o horror, é importante que saibamos que o que está ocorrendo não é fruto do acaso, mas conseqüência direta de políticas públicas equivocadas adotas.

Eis o que escrevi em Outubro:

"Trata-se, enfim, de decidirmos, no próximo dia 23, que tipo de sociedade queremos legar aos nossos filhos, sobrinhos, netos e bisnetos. De um lado, o do Não, uma sociedade individualista, regida pela mentalidade do “cada um por si”, que está se matando progressivamente, e cuja violência começa cada vez mais a transbordar das periferias pobres em direção aos centros urbanos abastados. De outro lado, o do SIM, uma sociedade que, apesar de todos os problemas, tenta dar um primeiro passo, ainda que incipiente, na direção de uma solução coletiva – para todos –, e não privada – para poucos."


O que estamos vivenciando em São Paulo é resultado do modelo de sociedade que as pessoas, conscientemente ou não, legitimaram no referendo. Não deveriam se surpreender.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

Se lembrem do que eu escrevi

Todo esse debate público em torno da questão boliviana me fez lembrar de um texto que postei aqui no blogue em Novembro/2005 sobre a política externa de Lula. Muito interessante relê-lo e constatar como ele continua atual:Link

"The policies adopted under the Foreign Affairs minister Celso Amorim administration don’t follow the domestic politics electoral calendar – and perhaps that is what conservatives fail to realize. The foreign policy agenda is drawn up for the long term. Brazil is on the move towards the occupation of more space in the international public arena. What to layperson may seem as a defeat is, in fact, a step forward into a new level of engagement in international politics."

Se alguém se interessar, é só pedir que eu traduzo o texto para disponibilizá-lo em português. Quem quiser ler ou reler o texto, escrito em inglês, é só clicar sobre o parágrafo acima.

sábado, 13 de maio de 2006

Você não lerá essa notícia no seu jornal diário

Em mais uma atitude que atesta o caráter democrático do Governo Lula, o ministro Celso Amorim foi ao Senado para esclarecer a questão boliviana.

Eis o relato de uma amiga minha, jornalista lá no Congresso Nacional, que esteve lá e viu a audiência:

"Você deveria ter visto a audiência pública do Ministro Celso Amorim no
Senado. Ele dizia justamente tudo isso que o jornalista diz nessa
matéria
...mas ainda falou da história da Bolívia e traçou um histórico dos
contratos de gás entre Brasil e Bolívia. Ele falou que de R$ 1 bilhão
investidos pelo Brasil na Bolívia 95 % foi feito entre 1996 e 2002. De 2003
pra cá a Pretrobrás investiu apenas R$ 100 milhões no país. Enfim, ainda
disse que a cordialidade de Lula com Morales nada tem a ver com doutrina e
sentimentalismo, mas sim de diplomacia comercial com um país da América
Latina. Pois, hoje, a exportação do Brasil para América Latina e Caribe
supera o que é feito para Europa.

Os sendaores da oposição (Arthur Virgilio , por exemplo) só faltaram babar!"

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Honestidade tucana

"Tribunal de Justiça nega liminar para abertura de CPI da Nossa Caixa
da Folha Online

O desembargador Reis Kuntz, do Tribunal de Justiça de São Paulo, negou hoje liminar pedida pelo PT pela abertura da CPI da Nossa Caixa na Assembléia Legislativa. O partido entrou com um mandado de segurança com pedido de liminar questionando o regimento da Casa para abertura de comissões de inquérito. O mandado ainda deve ser julgado pelo tribunal nos próximos dias."

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u78514.shtml

Os tucanos enchem a boca sempre para afirmar que a gestão do Chuchumbo em São Paulo é honesta, pois nunca se provou nada contra ela...

Claro!!!! Nunca se investiga porra nenhuma. A PM de SP é partidária - só vai atrás do PT. A Justiça é conivente - sempre o tucano tem razão, parece ser a legislação do Estado de SP. E a Assembléia Legislativa de SP é apêndice do executivo (melhorou um pouco depois da briga PFL-PSDB).

Assim, até Maluf seria "honesto"!

Aliás, é a mesmíssima tática que garante a "honestidade" de Roriz aqui em Brasília, ou a de Jarbas lá em Pernambuco... ou ACM, na Bahia; Jereissati no Ceará; os Sarney, no Maranhão; os Cunha Lima, na Paraíba...

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Veja bem

Duas coisas ficaram claras se analisarmos a cobertura midiática sobre a suposta crise boliviana. De uma lado, a grande imprensa lança mão de uma pauta ideologizada, passando por cima dos fatos. Dá-se a editorialização da notí­cia sem maiores constragimentos. Por outro lado, afora cí­rculos restritos da sociedade, a grande maioria da população, que não consome gás natural (e aliás nem sabe o que diabo é isso) e que não lê jornal e não faz a menor idéia de onde fica a Bolí­via, não está nem aí­ para essa "crise". O que indica uma discrepância gritante entre a imprensa (porta-voz da elite?) e os reais problemas da população. Seria isso sinal de irrelevância, até certo ponto, da imprensa no Brasil?
Uma dúvida... que se auto-responde

Como é que a Globo demite o competente e equilibrado Franklin Martins e mantém o imbecil e propagador dos preconceitos da classe-média, profeta do senso-comum do Arnaldo Jabor??

ahh... talvez minha resposta esteja na minha pergunta.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Uma crise forjada - a notícia é outra

Eu não ia escrever aqui até depois das provas. Mas não consigo ficar calado - estou impressionado com a maneira como a grande imprensa está repercutindo a entrevista do ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira. Fica parecendo que as pessoas não leram a entrevista. Deram destaque ao fato de que Marcos Valério tinha como objetivo arrecadar R$ 1 bi e que o presidente Lula fazia parte da cúpula do PT. O primeiro ponto diz respeito a algo que teoricamente iria ser feito, mas não foi. O segundo, é a constatação do óbvio. É o império da não-notícia.

Outros pontos muito mais substanciais da entrevista simplesmente têm passado batido. Acho natural que a oposição tente propagar uma versão que lhe seja favorável - está apenas cumprindo seu papel. Mas à imprensa caberia destrinchar a entrevista e identificar o que é mais significativo, e não jogar o jogo da oposição, que, com água na boca, já volta a falar em "impeachment", único meio de que dispõem para tomar a Presidência do PT. A sanha da oposição e a parcialidade da imprensa ficam claras na maneira sensacionalista e desinformativa como essa entrevista tem sido repercutida, e explicam o fato de que, um ano após a "a maior crise política do país" (como querem nos fazer crer), não se tenha aprovado no Congresso Nacional uma reforma político-eleitoral que sane as falhas sistêmicas que tornaram possível os problemas de que tomamos conhecimento.

Ao repercutir a entrevista de forma truncada e tendenciosa, a Imprensa ajuda a oposição na sua tentativa de forjar uma crise artificial, porque fundada em dados falsos ou deturpados, para que atinjam seus objetivos eleitorais ou golpistas. Este, sim, é o verdadeiro escândalo.

Por que a Imprensa não dá ênfase a outras questões mais relevantes levantadas na entrevista? Não sei. Mas, para que a crítica seja construtiva, seguem algumas sugestões de pontos que deveriam ter mais destaque.

- Afirma-se que Marcos Valério planejava arrecadar R$ 1bi, por meio de esquema no Banco Central, de onde é ex-funcionário. O esquema furou, deixando o PT refém (termos do Silvio) de MV, pois precisava pagar as dívidas (irresponsavelmente contraídas).Ou seja, MV não alcançou seus objetivos porque o BC agiu de forma correta. Como o presidente da Controladoria Geral da União, Jorge Rachid, disse em entrevista à imprensa, isso aí não é novidade. Sempre se fez esse tipo de corrupção por meio de licitações viciadas. A verdadeira notícia, por trás da pseudo-notícia, é que agora essas coisas estão vindo à tona, sendo apuradas, investigadas, divulgadas. As instituições estão funcionando, e a CGU, o Ministério Público e a Polícia Federal estão investigando e a imprensa, divulgando.

- MV agiu sozinho, por conta própria, para enriquecimento próprio, e não para "pagar mensalão".

- "não há santo nessa história toda, nem na direção do PT, que pagou o pato todo", diz Pereira, na entrevista.

-"MV se tornou tão grande que o próprio tesoureiro, Delúbio Soares, perdeu o controle da situação". "MV estabeleceu canais próprios com petistas e não-petistas. Tem muita gente, muitos partidos (estão envolvidos). Só que tudo caiu na nossa conta". "Ele só sabia de três ou quatro deputados do PT. O resto, que recebeu no Banco Rural, não era esquema do Delúbio. Tudo que foi sacado não tinha a ver com o Delúbio. Quem mais sacou? Há muita hipocrisa".

- Quando estorou o escândalo, MV disse à cúpula do partido que tinha três opções: entregar todo mundo, e derrubar a República (porque envolveria gente graúda de TODOS os partidos), ficar quieto e acabar como PC, ou o meio-termo". Ele optou pela última.

- Pereira diz, ainda, que o MV não tinha acesso ao Planalto. E exime o Presidente Lula de responsabilidade sobre os fatos. Uma vez que MV agia autonomamente.

- "Quando o PMDB veio, em abril, e já estava tudo ocupado no governo, fiquei com o abacaxi. E muitos da base aliada de fato não entraram por questão ética, os ministros do PT são sérios. Não me conformo de o PT pagar todo o pato". "Se investigassem a fundo realmente, veriam isso. E o Governo nada fez de errado. Mas não há interesse porque quase todo mundo está envolvido. Foi uma grande mística (a distribuição dos cargos). De 7.900 pessoas que se inscreveram no sistema que eu montei para toda a base aliada, com cargos e perfis técnicos, ficaram mais de 90% de fora".

- "A verdade do PT não tem como ser digerida pela mídia. Como Delúbio consegue, com assinatura dele mesmo, R$ 50 milhões? (...) Ele não é corrupto. Não é. Quem decidia tudo isso? (...) Atrás do Marco Valério deve haver cem Marcos Valérios. É um mecanismo, e que agora continua no país". Somente o Observatório da Imprensa deu ênfase a esse aspecto, até aqui totalmente negligenciado, mas crucial. Afinal, a corrupção não é possível apenas com agentes públicos. Mas pela cobertura da crise, parece que até que foi o caso. A corrupção só acontece porque existem (muitos) agentes da iniciativa privada envolvidos. A entrevista lança luz sobre este fato. A Imprensa, fora os meios alternativos, convenientemente trata esse aspecto de forma, digamos, discreta. Talvez não queira melindrar seus patrocinadores.

* * * *

Ao fim da matéria, a repórter d'O Globo descreve a situação financeira de Sílvio Pereira, considerado um dos "corruptos" envolvidos na "quadrilha" dos 40... Cada um que tire suas conclusões.

"No ano passado, foi revelado o caso que ele chama de seu único “grande erro”, o Land Rover que ganhou de presente e devolveu depois de descoberto.

Desde 1994, tem um apartamento de dois quartos no bairro Bela Vista, de classe média, que vale cerca de R$200 mil, uma casa em Ilhabela, de R$400 mil, um carro e dois terrenos. As declarações de imposto de renda mostradas por ele à repórter não revelam evolução patrimonial. Sonha agora em montar um restaurante e uma pousada em Ilhabela, mas acha que não terá freguesia enquanto o escândalo não for esquecido. Segundo ele, tem vivido de uma pequena poupança, e da ajuda dos irmãos:

- Tenho cortado gastos. "