sábado, 21 de julho de 2007

Querem "venezuelizar" o Brasil, de novo


Essa tragédia da TAM deixou patente, mais ou vez, o duplo padrão praticado pelas grandes empresas de comunicação. Chama a atenção a rapidez com que os jornalões e as emissoras atribuíram a culpa ao Governo Federal. Por outro lado, o populismo barato da oposição em geral, e de José Serra em particular, tentando obter dividendos políticos às custas de 200 vidas perdidas, foi visto pelos colunistas e comentaristas como absolutamente normal...


Que a oposição busque fazer esse tipo de associação, é normal. Faz parte do jogo político, numa democracia, a disputa das versões. O problema é que a imprensa adote, tão facilmente, o discurso oposicionista. Não deixa margem a dúvida, agindo assim, de que sirva como porta-voz da oposição.


Não é preciso um exercício de imaginação para saber como seria caso fosse esse um governo tucano... Basta um exercício de memória. No ano passado, quando dos ataques do PCC, essas mesmas empresas que tão prontamente apontaram o dedão acusador para Lula, daquela vez foram extremamente cautelosos. É preciso não politizar o assunto, era o mantra repetido por todos... (exceto por mim, como se pode ver no que escrevi em maio de 2006).


Incrível o comportamente de dois pesos e duas medidas. Como explica Keith Olbermann, (que inveja! uma imprensa que se auto-critica!) jornalismo justo é aquele que tem padrões e os aplica indistintamente a todas as partes envolvidas. Infelizmente, estamos longe desse tipo de jornalismo.


Há, porém, como fugir a isso. O Valor Econômico tem tido uma cobertura sóbria, objetiva, equilibrada. Na blogosfera, o blog de Nassif é obrigatório para quem não suporta mais o sensacionalismo reinante. Lá, ele tem levantado questões pertinentes (por exemplo, aqui e aqui). O blog de Paulo Henrique Amorim é bem extremado, mas ao contrapor-se-lhe à grande imprensa, encontra-se o ponto de equilíbrio.


O fato é que esse acidente da TAM, ao que tudo indica, não tem nada a ver com o que provocou o da GOL ou com a questão dos atrasos – muito embora nossa imprensa tendenciosa e nossa classe-média semi-leitora intelectualmente preguiçosa, prefiram pôr tudo no mesmo balaio. Não está claro para mim que efeito tudo isso terá sobre o apoio popular ao Presidente Lula. A impressão que eu tenho é que se repetirá o que ocorreu nas outras ocasiões em que as grandes empresas jornalísticas se comportaram dessa forma, abertamente manipuladora e maniqueísta, como na "crise política" de 2005 ou nas eleições de 2006 – ou seja, reforçará as opiniões já existentes. Quem apóia Lula, continuará apoiando-o – talvez até mais enfaticamente, se constatar nova tentativa desestabilizadora. Por outro lado, quem se opõe ao governo, seguirá se opondo, só que mais fortemente. Ou seja, a nossa imprensa empresarial, irresponsável, ao enveredar pelo sensacionalismo partidário, contribui para acirrar os ânimos e polarizar o país – tudo o que Lula vem tentando evitar, com sua postura conciliatória. A nossa imprensa corporativa quer “venezualizar” o Brasil. Só que Lula não é Chávez. Sorte a nossa.

4 comentários:

Bernardo Jurema disse...

"Concordo 100% com vc. É exactamente o assunto de minha discussao com uma amiga austriaca ontem a noite. Tem muito mais informaçao sobre o acidente em si na imprensa alema por exemplo que na imprensa brasileira... É assim mesmo...

Beijos,

Julie"

(e-mail de uma amiga canadense comentando esse texto)

Anônimo disse...

É lamentável a politização da tragédia. Isso não impede que o governo federal tenha sua parcela de responsabilidade no acidente. Aliás, creio que o pronunciamento de Lula foi nessa linha, o que é um grande passo de civilidade política. Ele não fugiu das suas responsabilidades (embora seja legítimo discutir se ele não devia ter feito isso bem mais cedo).
Não creio que a popularidade de Lula vá sofrer qualquer alteração (talvez haja alguma modificação contigencial, mas sem se constituir numa tendência de queda). Ao meu ver o erro principal de Lula não foi tanto a questão do acidente aéreo, mas a reação um pouco atrasada. Ele poderia ter se solidarizado com as famílias, ou ter ido ao lugar do acidente, ter comprimentado os bombeiros, falado com as famílias. Ter tomado a iniciativa, ter feito o seu próprio "spinning" do fato. Aos que disserem que isso seria politização da tragédia, pode-se responder com o 11 de Março espanhol (atentado terrorista em Madri), quando o rei Juan Carlos I esteve em todos os momentos do luto pela tragédia, chorando com os espanhóis. No Brasil, os presidentes sabem muito bem ser chefes de governo, e às vezes se esquecem de ser chefes de estado. Lula, como poucos presidentes na história do país, tem tudo para ser um grande - talvez o maior - chefe de estado (pelo que ele tem de simbólico na sua ascensão e pelo tom conciliatório de seu discurso). Por isso, é que eu acho que o erro principal de Lula foi o seu silêncio num momento em que a nação precisava mais de seu chefe de Estado do que seu chefe de governo.

Bernardo Jurema disse...

muito bem colocado, césar. por outro lado, parece sensato que tenha esperado certos indícios, até pra orientar o tipo de resposta... o ponto principal, acho que é isso que vc falou, o fato de ele ter chamado para si a sua parcela de responsabilidade.

além disso, bem vindo de volta à blogosfera!

slavo disse...

essa imprensa não cansa de seguir na velha campanha de desestabilização do governo, hoje o JN mostrou um sem números de entrevistas com pilotos [inclusive da TAM] afirmando em tom de quase pavor que a pista esta muito perigosa, que não pousaria mais na pista 1 de congonhas, enfim, dava pra ver claramente que os pilotos foram orientados a "responder", "defender" o patrão atacando o aeroporto. Essa mídia que vive de fofoca e disse-me-disse, que capitaliza em cima do sofrimento alheio continua dando show de má qualidade, oportunismo e partidarismo.