Não obstante as políticas neoliberalizantes implementadas pelos sucessivos governos na década de 90 e da retórica de cunho nacionalista da oposição, é forçoso reconhecer que ambas as correntes ideológicas têm fortes limitações. A explicação está no processo de formação do Estado e do sistema econômico brasileiros, que impôs restrições bastante arraigadas ao pleno desenvolvimento do liberalismo e do nacionalismo.
Quando a burguesia ascendeu na Europa, mormente após a Revolução Francesa, em fins do século XVIII, esta nova classe social tinha por objetivo organizar a sociedade sobre novas bases. Ademais, interessava-os constituir uma economia nacional integrada, e, portanto, a fidelidade do povo deveria ser à nação e não mais ao Rei. Nacionalismo e liberalismo são conseqüências diretas da necessidade de uma burguesia vigorosa, ligada ao desenvolvimento manufatureiro e industrial, e diante da aristocracia decadente, por um Estado liberal, nacional e laico.
Trazidas ao Brasil no século XIX, as duas linhas de pensamento enfrentaram alguns obstáculos. Os movimentos que as adotavam em seus discursos eram inorgânicos e ideologicamente pobres, em decorrência do atraso cultural e material da maioria da população brasileira. Acrescente-se a isso o analfabetismo do povo e a deficiência dos meios de comunicação, que dificultavam a livre circulação de idéias. A maior barreira, porém, foi a discrepância patente entre o contexto europeu, onde surgiram, e o brasileiro, para onde foram transpostos.
O Brasil, àquela época, tinha uma estrutura econômica agrária e escravista, voltada para o comércio externo, dominada pela aristocracia de origem portuguesa. A burguesia, formada majoritariamente por comerciantes portugueses, era pouco expressiva. Setores do clero, por sua vez, não hesitavam em fazer parte de movimentos revolucionários. Ademais, muitas províncias tinham mais ligações com a Europa do que entre si; os movimentos revolucionários ocorridos nos dois primeiros decênios do século XIX continham antes caráter local ou regional do que nacional. Dado este contexto, não poderia ter sido diferente: no Brasil, o liberalismo surgiu contra o sistema colonial, mas não contra a monarquia ou a Igreja; e estabeleceu-se em oposição à metrópole, ao invés de favorável à nação.
Em conseqüência, hoje, o nacionalismo é superficial, desprovido de conteúdo ou de qualquer projeto de longo prazo, baseado mais em "slogans" e símbolos - o caso mais emblemático talvez seja a campanha do petróleo nos anos 50, ou as campanhas "nacionalistas" durante a Ditadura Militar. O liberalismo econômico, por sua vez, é ambíguo, em decorrência do importante papel desempenhado, direta ou indiretamente, pelo Estado na economia brasileira - o fato de ser a estatal Petrobrás a maior empresa nacional ilustra bem o ponto. São essas bases históricas que explicam, em parte, a fluidez ideológica do confronto político no sistema partidário brasileiro até os dias de hoje e a falta de um projeto nacional por parte das elites.
terça-feira, 29 de novembro de 2005
Breve reflexão: gênese do capitalismo à brasileira
O primeiro modelo econômico adotado no Brasil foi a economia colonial, a partir de meados do século XVI, quando colonos portugueses dão início à produção canavieira em escala comercial. O modelo colonial tem a estrutura assentada na “plantation”, que implica quatro elementos constituintes – o grande latifúndio, a monocultura, a mão-de-obra escrava africana e é voltado para o comércio externo. Trata-se, em suma, da execução do Pacto Colonial, onde a colônia vende toda a sua produção de matéria-prima e consome tudo o mais exclusivamente da metrópole.
Com a chegada da corte ao Rio de Janeiro, primeiro decênio do século XIX, tem-se o fim do Pacto Colonial: dá-se a emergência de uma segunda etapa da economia, o modelo mercantil-escravista nacional. A estrutura sócio-econômica, no entanto, mantém-se inalterada.
Por fim, a partir da I República, adota-se o modelo liberal: estabelece-se a economia agroexportadora capitalista. Apesar de ser o Estado dito liberal, o governo intervém por meio da prática da valorização do café. Aqui, nesta fase, o modelo baseia-se na mão-de-obra livre, assalariada ou sub-assalariada, embora sasonal. A presença do Estado seria uma constante no capitalismo à brasileira.
O primeiro modelo econômico adotado no Brasil foi a economia colonial, a partir de meados do século XVI, quando colonos portugueses dão início à produção canavieira em escala comercial. O modelo colonial tem a estrutura assentada na “plantation”, que implica quatro elementos constituintes – o grande latifúndio, a monocultura, a mão-de-obra escrava africana e é voltado para o comércio externo. Trata-se, em suma, da execução do Pacto Colonial, onde a colônia vende toda a sua produção de matéria-prima e consome tudo o mais exclusivamente da metrópole.
Com a chegada da corte ao Rio de Janeiro, primeiro decênio do século XIX, tem-se o fim do Pacto Colonial: dá-se a emergência de uma segunda etapa da economia, o modelo mercantil-escravista nacional. A estrutura sócio-econômica, no entanto, mantém-se inalterada.
Por fim, a partir da I República, adota-se o modelo liberal: estabelece-se a economia agroexportadora capitalista. Apesar de ser o Estado dito liberal, o governo intervém por meio da prática da valorização do café. Aqui, nesta fase, o modelo baseia-se na mão-de-obra livre, assalariada ou sub-assalariada, embora sasonal. A presença do Estado seria uma constante no capitalismo à brasileira.
terça-feira, 22 de novembro de 2005
Greve nas Federais As universidades estão morrendo à mingua. E os greveiros de plantão anunciam a profecia que se auto-realiza: as paralizações sistemáticas apenas servem para acelerar esse processo. As greves, por inócuas, são insensatas sob qualquer perspectiva que se queira analisar. Ao interromper a produção científica e de conhecimento, a conseqüencia imediata é uma população menos educada. Um curso que tenha a duração de quatro anos é, desse modo, concluído em cinco, seis ou sete. Sem que os anos extras impliquem em maior conhecimento para o aluno. Disso decorrem custos individuais - a impossibilidade de planejar-se a carreira acadêmica a médio prazo, a desmotivação acadêmica, a formação interrompida e fragmentária -, e sociais - o ingresso tardio de contingente significativo de mão-de-obra no mercado de trabalho, a má formação intelectual de cidadãos, o descrédito das universidades públicas perante a sociedade, além do desperdício de recursos públicos escassos. As greves são contra-producentes. O mito de que elas sejam eficazes serve apenas para que os greveiros, por ingenuidade ou má-fé, a defendam. Mas, se fossem eficientes, não seria necessário uma atrás da outra, como tem sido o caso nos últimos anos. As paralizações alienam a comunidade universitária, dispersando-a. E respaldam o discurso daqueles setores sociais que se opõem à universidade pública de qualidade. Além de não sensibilizar aquelas pessoas que não têm vínculo com o ensino superior público - ou seja, quase toda a população brasileira. Tudo isso sem contar o anacronismo que significa a greve, sobretudo em se tratando do setor educacional. Greve no setor produtivo privado é bem diferente: o operário, ao interromper a produção, prejudica diretamente o patrão e todos os setores da sociedade ligados àquela cadeia produtiva. Além dos consumidores finais, que podem ser igualmente prejudicados. A empresa tem, portanto, incentivos para resolver o impasse rapidamente. No setor educacional público, não é o que ocorre: ao interromper a produção de conhecimento, no curto prazo apenas os integrantes da comunidade universitária são atingidos; no longo prazo, a sociedade paga custos dispersos, mencionados acima. E o "patrão", no caso o governo federal, não tem os mesmos incentivos para chegar a um acordo, pelo menos não por esses meios. As greves são, ademais, ilegítimas. Os sindicalistas profissionais são, via de regra, professores que não pesquisam e que não ensinam. São intolerantes, não aceitam idéias divergentes. As assembléias (de lagartixas, que aprovam tudo) que decretam as greves são pouco representativas. Os líderes sindicais são, todos, ligados a partidos políticos, misturando assim interesses político-eleitoreiros com interesses classistas sob um verniz de pseudo-interesse coletivo. A imprensa mal fala do assunto (educação não dá manchete). Não há previsão de fim da greve As universidades estão vazias, as bibliotecas fechadas. Os alunos, reféns do movimento, aguardam - isso nos cursos que aderem (ou que são impelidos a). Desigualdades já emergem aqui. Na UFPE, por exemplo, as Humanas sempre param (ai do professor que ousar pensar diferente). Outros departamentos, como o Cin, sempre funcionam. O movimento estudantil apóia a greve acriticamente, sem levar em conta os males causados aos estudantes. O corpo estudantil, em sua esmagadora maioria, mofa em casa, ou vai à praia, se desmotiva da vida acadêmica: afasta-se da universidade. O governo federal propôs reajustes acima da inflação a todas as categorias de professores. Foram feitas três propostas sucessivas. Nenhumas foi aceita. Onde querem chegar os greveiros? Se o objetivo dos profissionais da greve é tirar proveitos eleitoreiros da crise do ensino público, são irresponsáveis e oportunistas; se é, genuinamente, buscar soluções, são burros. Os professores contra a greve, no entanto, não se expressam, não se mobilizam. Onde estão? (Na iniciativa privada?). A maioria silenciosa - de alunos e professores insatisfeitos com o movimento anti-universidade - precisa urgentemente organizar-se. Aqueles, alunos e professores, que se preocupam de verdade com a qualidade do ensino superior público no país precisam refletir a questão. Precisamos pensar novos meios de mobilização e reivindicação, que sejam responsáveis e conseqüentes, que agregue e não disperse. Fortaceler a universidade é povoá-la, é instigar os alunos à reflexão, realizar pesquisas, produzir conhecimento. É isso. Na educação da era do conhecimento e da informação, o melhor protesto é mais, e não menos!, produção. |
sexta-feira, 18 de novembro de 2005
Crise social na América Hispânica como legado histórico
A administração colonial espanhola como origem da estratificação social dos países latino-americanos.
Um aspecto salta à vista quando observamos os atuais conflitos políticos no México, no Equador, na Venezuela, na Bolívia ou no Peru: há, latente ou patente, uma divisão de ordem étnica. A explicação está no legado histórico do modelo administrativo colonial espanhol.
Os territórios espanhóis nas Américas eram divididos em vice-reinos e capitanias gerais, governados sempre por alguém ligado à família real espanhola, e com autorização da Igreja. A política colonial era fortemente centralizada na Metrópole, sendo o Conselho das Índias, em Sevilha, o órgão responsável por defini-la e implantá-la.
Os espanhóis nascidos na Espanha, os “adelantados”, desfrutavam amplos privilégios políticos e econômicos nas colônias, inclusive em detrimento dos espanhóis nascidos fora da metrópole, os “criollos”.
O objetivo dessa forte centralização metropolitana era exercer forte controle contra o contrabando de metais preciosos advindos das colônias. Os principais postos políticos eram ocupados, apenas, pelos “adelantados”. Aos “criollos” restava a possibilidade de sucesso econômico. Estes dois grupos compunham a elite dominante.
A grande massa era composta pelos índios, mormente nos países andinos, onde foram base no trabalho sub-humano da extração de prata e ouro. Lá onde essas riquezas inexistiam predominava o sistema de “plantation” – latifúndio, mão-de-obra escrava, monocultura, voltado para o comércio internacional –, e o trabalho forçado indígena era substituído pelo africano arrancado de suas terras.
Os processos de independência das colônias espanholas se deram, via de regra, pela disputa pelo poder político entre “adelantados” e “criollos”. Os libertadores hispano-americanos, não à toa, advêm desse segundo grupo.
O resultado decorrente deste processo de formação sociológica foram sociedades extremamente desiguais, com um corte marcadamente étnico. O controle político e econômico permaneceram nas mãos de uma minoria branca, de origem européia, enquanto a grande maioria de indígenas e mestiços permanece marginalizada socialmente.
Não é por acaso, então, que as classes média e alta venezuelana se refiram de modo pejorativo ao Presidente Hugo Chávez, tratando-o de “cholo”, em relação ao fato de ele ser mestiço. No México, o movimento revolucionário zapatista, liderado pelo Comandante Marcos, é composto por indígenas. Na Bolívia, o maior líder da oposição, o “cocalero” Evo Morales, é indígena, assim como sua base social de apoio. Ao passo que as elites desses países são brancas ou ocidentalizadas. É emblemático o fato de o ex-presidente boliviano Sánchez de Lozada, derrubado pela pressão popular, Morales à frente, falar espanhol com sotaque inglês.
O modelo administrativo implantado pela Espanha em suas colônias americanas gerou uma estratificação social engessada e diretamente ligada à questão étnica. É em conseqüência desse legado histórico que a luta social esteja, ainda hoje, em boa parte das ex-colônias espanholas, intrinsecamente associada à luta étnica.
Um aspecto salta à vista quando observamos os atuais conflitos políticos no México, no Equador, na Venezuela, na Bolívia ou no Peru: há, latente ou patente, uma divisão de ordem étnica. A explicação está no legado histórico do modelo administrativo colonial espanhol.
Os territórios espanhóis nas Américas eram divididos em vice-reinos e capitanias gerais, governados sempre por alguém ligado à família real espanhola, e com autorização da Igreja. A política colonial era fortemente centralizada na Metrópole, sendo o Conselho das Índias, em Sevilha, o órgão responsável por defini-la e implantá-la.
Os espanhóis nascidos na Espanha, os “adelantados”, desfrutavam amplos privilégios políticos e econômicos nas colônias, inclusive em detrimento dos espanhóis nascidos fora da metrópole, os “criollos”.
O objetivo dessa forte centralização metropolitana era exercer forte controle contra o contrabando de metais preciosos advindos das colônias. Os principais postos políticos eram ocupados, apenas, pelos “adelantados”. Aos “criollos” restava a possibilidade de sucesso econômico. Estes dois grupos compunham a elite dominante.
A grande massa era composta pelos índios, mormente nos países andinos, onde foram base no trabalho sub-humano da extração de prata e ouro. Lá onde essas riquezas inexistiam predominava o sistema de “plantation” – latifúndio, mão-de-obra escrava, monocultura, voltado para o comércio internacional –, e o trabalho forçado indígena era substituído pelo africano arrancado de suas terras.
Os processos de independência das colônias espanholas se deram, via de regra, pela disputa pelo poder político entre “adelantados” e “criollos”. Os libertadores hispano-americanos, não à toa, advêm desse segundo grupo.
O resultado decorrente deste processo de formação sociológica foram sociedades extremamente desiguais, com um corte marcadamente étnico. O controle político e econômico permaneceram nas mãos de uma minoria branca, de origem européia, enquanto a grande maioria de indígenas e mestiços permanece marginalizada socialmente.
Não é por acaso, então, que as classes média e alta venezuelana se refiram de modo pejorativo ao Presidente Hugo Chávez, tratando-o de “cholo”, em relação ao fato de ele ser mestiço. No México, o movimento revolucionário zapatista, liderado pelo Comandante Marcos, é composto por indígenas. Na Bolívia, o maior líder da oposição, o “cocalero” Evo Morales, é indígena, assim como sua base social de apoio. Ao passo que as elites desses países são brancas ou ocidentalizadas. É emblemático o fato de o ex-presidente boliviano Sánchez de Lozada, derrubado pela pressão popular, Morales à frente, falar espanhol com sotaque inglês.
O modelo administrativo implantado pela Espanha em suas colônias americanas gerou uma estratificação social engessada e diretamente ligada à questão étnica. É em conseqüência desse legado histórico que a luta social esteja, ainda hoje, em boa parte das ex-colônias espanholas, intrinsecamente associada à luta étnica.
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quinta-feira, 17 de novembro de 2005
É Simples, Assim?
Eu sou totalmente a favor de políticas compensatórias para negros! Não posso ignorar a histórica exclusão e repressão sofrida pelos negros no Brasil até pouco mais de 100 anos atrás; não consigo aceitar a passividade de deixar que negros conquistem seu espaço pouco-a-pouco; não aceito o argumento de que isso promoverá discriminação, ou que as pessoas não terão condições de completar esse ou aquele curso!
Sinto que um dos grandes problemas do brasileiro é o medo de sair perdendo... "e se fosse eu?" Aconteceu na época das discussões da Reforma Previdenciária, quando ninguém queria abrir mão de benefícios em pró de um todo maior; e acontece com a idéia de cotas, onde ninguém quer abrir mão de sua vaga para um cidadão que vem ali para "roubar-lhe" o lugar.
Como medida isolada, de fato as cotas são prejudiciais à sociedade. No entanto, para reduzir a desigualdade de forma mais imediata e democratizar o ensino, vejo como uma ação especial. Especial porque não esqueceríamos dos jovens de hoje que não tiveram acesso a escolas de qualidade, e não deixaríamos de trabalhar a base para que o filho deste mesmo jovem, mais adiante, pudesse almejar, desde sua infância, um futuro digno para si. De forma isolada, eu digo Não às cotas. Como parte de um pacote de inserção social e redução da desigualde, eu digo Sim... devemos abrir esse espaço.
Para mim é simples. É uma questão de abrir espaços. É questão de democratizar o que, supostamente, é direito de todos. É oportunidade para quem sempre teve dificuldades de enxergá-la. É democracia. É tornar a presença do negro em sala de aula tão comum quanto a do branco. Enxergar o problema de desigualde no Brasil é coisa simples. Por que o combate não pode ser? Acho hipocrisia dizer que o problema é de base e, por isso, argumentar contra as cotas... Para mim é simples: tratamos a base, que é o futuro, e o topo, que é o presente e merece o mesmo respeito.
quarta-feira, 16 de novembro de 2005
Cotas?
Segue abaixo mais um curto texto sobre políticas compensatórias. E aí? Que continue os debates e comentários...
“É indubitável que a estrutura da sociedade brasileira é injusta. É indubitável que grande parte desta injustiça é fruto do secular preconceito e discriminação. É indubitável que a dívida social é imensa e que algo deve ser feito para resgatar esta dívida e que ações neste sentido são nobres e dignos de aplauso. É indubitável, porém, que essas ações devam ser calcadas em uma justificativa objetiva e razoável, de acordo com critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja existência deve aplicar-se em relação à finalidade e efeitos da medida considerada, devendo estar presente por isso uma razoável relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade perseguida, sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucionalmente protegidos.
A Lei 3.708/2001, juntamente com o Decreto 30.766, não se enquadram nessa justificativa objetiva e razoável, e mais, sua aplicação no caso concreto gerou distorções e mesmo injustiças, pois pessoas de mesmo nível social, que estudaram no mesmo colégio, tiveram a mesma formação e que concorreram ao mesmo curso, simplesmente por diferença da cor da pele foram tratadas de forma diferente, e nesse tratamento o mérito foi relegado a segundo plano. Não parece ser um bom sistema de aprovação no vestibular o critério da cor da pele.
Se o propósito das políticas compensatórias é resgatar uma dívida social, o caminho não é estipular cotas pela cor da pele, mas pela situação socioeconômica, baseado em critérios objetivos.
Obviamente que a solução para o problema social do Brasil não está em políticas compensatórias, mas em políticas que cumpram os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil listados no art. 3º da CF 1988: erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais e garantir um ensino público de qualidade. Estas sim, urgentes e necessárias ao País.
O ideal é não precisar de políticas compensatórias e as seleções sejam feitas através do mérito.”
Rubens Cartaxo Juniorbacharelando em Direito pela UFRN, licenciado em Letras
domingo, 13 de novembro de 2005
1a Manifestação
A maior importância das enquêtes, como mencionado anteriormente, é fazer com que pessoas tentem discutir o centro do problema em discussão. É algo muito mais além do que uma questão de posições. Para abrir, então, esta etapa de discussão sobre o tema de cotas, coloco abaixo um texto que reflete a posição desta pessoa. A idéia é que continuemos a abordar este tema sem fugir da idéia de que o principal é o problema que as cotas visam a combater. Para início dos debates, segue abaixo a primeira manifestação... e que venham as contestações e comentários.
COTAS, PRA QUE?
Bruno César Maciel Braga[1]
Permanece intensa a discussão sobre a plausibilidade e mesmo a legalidade da concessão de cotas para o ingresso de pessoas negras em instituições de ensino superior. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ e a Universidade de Brasília – UnB foram as primeiras instituições estadual e federal, respectivamente, a adotarem tal sistema. A primeira em 2001. A segunda em 2004.
Bruno César Maciel Braga[1]
Permanece intensa a discussão sobre a plausibilidade e mesmo a legalidade da concessão de cotas para o ingresso de pessoas negras em instituições de ensino superior. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ e a Universidade de Brasília – UnB foram as primeiras instituições estadual e federal, respectivamente, a adotarem tal sistema. A primeira em 2001. A segunda em 2004.
Inicialmente, é de se perguntar o que seria ser da raça negra, pois a grande maioria de nossos cidadãos tem descendência, mesmo que longínqua, de negros. Somos um povo de rica miscigenação. Temos uma pluralidade étnica impressionante, o que torna até dúbia a designação, em certos casos, de uma pessoa ser ou não negra. De qualquer forma, fica claro que dentre as mazelas sociais inseridas no seio da vida moderna brasileira, o preconceito, notadamente o racial, ainda possui ranços bastante perceptíveis. Mesmo assim, não enxergamos resposta para uma pergunta que costuma nos perturbar: Cotas, pra que?
O fato de ainda persistir uma nódoa racista na nossa sociedade, natural de seres pouco privilegiados mentalmente, não parece autorizar a transferência de vagas de brancos para negros. Em outras palavras, a cor necessariamente não representa possuir ou não meios de acesso à informação, boa educação e adequada formação, o que deveria ser, exatamente, a essência da “facilitação” do acesso ao ensino universitário. Isto porque, se o negro for pobre e vir de escola pública, encaixar-se-ia nas cotas específicas para as pessoas que tiveram ensino público. Se for rico, provavelmente estudou em instituições particulares e teve todas as condições de uma boa aprendizagem e, por conseqüência, não existiria o porquê de ser beneficiado. Ressalte-se que o processo seletivo de ingresso nas universidades é permeado por critérios objetivos, e não subjetivos.
Na verdade, na nossa percepção, o sistema de cotas é um retrocesso. Fere o principio da igualdade, garantido constitucionalmente. O notável jurista Ives Gandra Martins compartilha deste mesmo raciocínio, defendendo, por esta razão, a inconstitucionalidade do sistema de cotas. Para ele, a política afirmativa não deveria ser realizada em nível superior, e sim na educação de base. Exatamente este o ponto cerne da questão. Um problema estrutural não está sendo atacado em sua nascente. Estão querendo remedir suas conseqüências. Aí reside o grande equívoco.
De qualquer maneira, poder-se-ia antever alguma aceitabilidade nas cotas ligadas aos estudantes do ensino público, na medida em que estas representam de certo modo um paliativo, um contra-balanceamento à má educação dispensada aos alunos. Não um fim em si mesmas, mas uma forma do Estado (percebam a própria assunção do Estado pela inoperância da educação pública) remediar um aprendizado inadequado, concedendo maior espaço àqueles nas bancas universitárias.
Entretanto, no que diz respeito à exceção pela cor, entendemos que tal forma de excepcionar deveria ser expurgada pelo próprio negro, na medida em que representa um auto-preconceito, uma forma de se manter essa distinção, esse apartheid por gerações vindouras. Que o espaço do negro seja conquistado dia após dia, como o foi historicamente. A cor não representa absolutamente nada do ponto de vista do caráter, da ética, da cidadania, da capacidade e do saber. Que as cotas não sejam vistas como um ganho social, um benefício aceito de forma cômoda, mas que o fim delas possa ser a bandeira do negro, na medida em que as cotas apenas separam, desagregam, excepciona pelo conhecimento, critério este que não tem cor. Sejamos inteligentes o suficiente para percebemos as diferenças, mas sejamos ainda mais sábios para não aumentá-las.
[1] Advogado Coordenador da Siqueira Castro Advogados em João Pessoa/PB.
terça-feira, 8 de novembro de 2005
Revolutión dans la Banlieu
“O que pode esperar um jovem nascido num bairro sem alma, que vive num imóvel feio, cercado por outras feiúras, por muros cinzentos numa paisagem cinzenta para uma vida cinzenta, tendo em volta de si uma sociedade que prefere desviar seu olhar e só intervém quando é preciso punir, proibir”. (François Mitterand)
“O que pode esperar um jovem nascido num bairro sem alma, que vive num imóvel feio, cercado por outras feiúras, por muros cinzentos numa paisagem cinzenta para uma vida cinzenta, tendo em volta de si uma sociedade que prefere desviar seu olhar e só intervém quando é preciso punir, proibir”. (François Mitterand)
Uma das grandes violências que um cidadão pode sofrer é a psicológica; aquela cuja simples lembrança nos causa medo. Uma lembrança que, ela em si, é mais forte do que a razão, pois mesmo sabendo que nada pode acontecer, sentimos medo. Viver nessas condições, ameaçados por pessoas que não sabemos quem são, cujos valores são construídos na base do preconceito e descriminação transforma a comunidade num ambiente hostil, num campo de guerra. Sentimo-nos constantemente ameaçados por forças que desconhecemos e/ou por forças cujas ações são imprevisíveis.
Foi no subúrbio parisiense que, aos 17 anos, aprendi que, ali, eu não deveria olhar ninguém nos olhos. Foi lá onde mais temi polícia e civis. Somente o fato de estar sozinho, próximo a essas pessoas, me causava medo. Não precisava de maiores motivos para temê-los. Bastava estar só.
Isso é viver na banlieu parisiense. Um clima pesado, com habitantes carregados de complexos de inferioridade, de ressentimentos, de medo. O ódio domina; o medo é a conseqüência. São regiões compostas majoritariamente por minorias étnicas, desde africanos do norte a asiáticos. Grande parte desse grupo está desempregada. O local onde moram recebe pouco ou nenhum investimento público com o objetivo de integrar moradores e dar-lhes uma qualidade de vida mais digna e humana. Começam, assim, a guardar e alimentar esse ressentimento com relação ao país em que vivem e seus demais habitantes; sentem-se relegados a um sub-plano. Qualquer raça, excluindo a sua, é motivo para chacota. Todos, então, criam estereótipos e falsas-verdades nutrindo o tão difundido ódio às crianças que ali começam a formar-se.
A banlieu parisiense é carente. Carente de políticas públicas que visem a integrar as diferentes raças que formam o que hoje é a França. Carente de amor de seus governantes. Todos sentem-se perseguidos, sempre. Por isso que, no caso que inflamou a periferia de Paris, havia dois jovens “fugindo” da polícia. Podiam estar fugindo como eu fugiria: com medo do nada, apenas de uma idéia, de uma polícia que estava ali mas que, daquela vez, não buscava encurralar ninguém. O motivo real não saberemos, mas a população decidiu adotar a versão da perseguição porque é isso que eles sentem todo dia!
O Ministro do Interior francês, Sarkozy, companheiro do extremista Le Pen, apenas faz inflamar ainda mais esse grupo de pessoas com suas declarações nazistas de “acabar com essa doença” na banlieu de Paris e de tratar os grupos de “escória”. Qual, então, o poder dessas pessoas senão revoltar-se contra as autoridades? Eles não têm representatividade parlamentar, não têm suas necessidades devidamente atendidas pelo poder público e sentem-se marginalizados pela sociedade francesa de um modo geral. Eles são “diferentes” .
Como resolver o problema? Para começar, eu acredito que um pedido de desculpas da ala mais à extrema direita (Sarkozy) do governo possa acalmar os ânimos na periferia. Em seguida, uma injeção de políticas públicas no sentido de criar oportunidades para essa juventude de modo que se ocupem; políticas que agreguem as diversas etnias que hoje formam o que é a França. País este cuja foto do time campeão mundial em 1998 ilustra bem o melting-pot que se tornou: martinicanos, argelinos, romenos, surinamianos (?), costa do marfiniano (? hehe). Diferente da realidade do país, o time se abraçou e, juntos, todos brilhando, atingiram o topo do futebol mundial.
Integração, Respeito, Oportunidade... Fraternité, Egalité, Liberté.
Foi no subúrbio parisiense que, aos 17 anos, aprendi que, ali, eu não deveria olhar ninguém nos olhos. Foi lá onde mais temi polícia e civis. Somente o fato de estar sozinho, próximo a essas pessoas, me causava medo. Não precisava de maiores motivos para temê-los. Bastava estar só.
Isso é viver na banlieu parisiense. Um clima pesado, com habitantes carregados de complexos de inferioridade, de ressentimentos, de medo. O ódio domina; o medo é a conseqüência. São regiões compostas majoritariamente por minorias étnicas, desde africanos do norte a asiáticos. Grande parte desse grupo está desempregada. O local onde moram recebe pouco ou nenhum investimento público com o objetivo de integrar moradores e dar-lhes uma qualidade de vida mais digna e humana. Começam, assim, a guardar e alimentar esse ressentimento com relação ao país em que vivem e seus demais habitantes; sentem-se relegados a um sub-plano. Qualquer raça, excluindo a sua, é motivo para chacota. Todos, então, criam estereótipos e falsas-verdades nutrindo o tão difundido ódio às crianças que ali começam a formar-se.
A banlieu parisiense é carente. Carente de políticas públicas que visem a integrar as diferentes raças que formam o que hoje é a França. Carente de amor de seus governantes. Todos sentem-se perseguidos, sempre. Por isso que, no caso que inflamou a periferia de Paris, havia dois jovens “fugindo” da polícia. Podiam estar fugindo como eu fugiria: com medo do nada, apenas de uma idéia, de uma polícia que estava ali mas que, daquela vez, não buscava encurralar ninguém. O motivo real não saberemos, mas a população decidiu adotar a versão da perseguição porque é isso que eles sentem todo dia!
O Ministro do Interior francês, Sarkozy, companheiro do extremista Le Pen, apenas faz inflamar ainda mais esse grupo de pessoas com suas declarações nazistas de “acabar com essa doença” na banlieu de Paris e de tratar os grupos de “escória”. Qual, então, o poder dessas pessoas senão revoltar-se contra as autoridades? Eles não têm representatividade parlamentar, não têm suas necessidades devidamente atendidas pelo poder público e sentem-se marginalizados pela sociedade francesa de um modo geral. Eles são “diferentes” .
Como resolver o problema? Para começar, eu acredito que um pedido de desculpas da ala mais à extrema direita (Sarkozy) do governo possa acalmar os ânimos na periferia. Em seguida, uma injeção de políticas públicas no sentido de criar oportunidades para essa juventude de modo que se ocupem; políticas que agreguem as diversas etnias que hoje formam o que é a França. País este cuja foto do time campeão mundial em 1998 ilustra bem o melting-pot que se tornou: martinicanos, argelinos, romenos, surinamianos (?), costa do marfiniano (? hehe). Diferente da realidade do país, o time se abraçou e, juntos, todos brilhando, atingiram o topo do futebol mundial.
Integração, Respeito, Oportunidade... Fraternité, Egalité, Liberté.
Sugestão: assistam ao filme “La Haine”`(O Ódio) de
Mathieu Kassowitz. Retrata bem isso que vemos hoje. O filme é de 1995. podia ser
de hoje...
segunda-feira, 7 de novembro de 2005
"Crash"
"As pessoas batem os carros em L.A. porque de outro modo não encontram outras pessoas, não interagem". Com uma frase (mais ou menos) assim, logo no primeiro momento temos uma idéia dp qie esperar do resto do filme: um clima lúgubre, permeado por ironia discreta, histórias honestas - sem excessos. Ou seja, você sabe que verá um bom filme.
"Crash" é uma espécie de "Amarelo Manga" versão L.A.: é um retrato social da cidade. Personagens arquétipos, mas verossímeis, representam diversos grupos sociais, compõem os sub-núcleos temáticos do filme, no que se assimila a "Amarelo Manga" ou a "Traffic". Neste, o tema principal é o narco-tráfico. Em "Crash", é a cidade de Los Angeles, assim como em "Amarelo Manga" é o Recife, onde os personagens revelam os diferentes aspectos da cidade.
O resultado é a riqueza temática que é a principal característica do filme. O "melting pot" de L.A. fica bem em evidência, e também suas conseqüências. Sem ter a pretensão de aprofundar-se numa análise antropológica ou sociológica, várias questões, latentes ou patentes, vêm à tona: desigualdade sociail, violência urbana, racismo. A questão racial, aliás, é um sub-tema de destaque, revelador também da diversidade étnica da Califórnia contermporânea. Com o governador austríaco, prefeito mexicano, chefe de polícia negro - tudo compõe um fundo de tensão mais ou menos explícito. O policial racista porque acredita que o pai tenha sido prejudicado pelas leis de ação afirmativa; o chefe de polícia negro que nada faz contra o racismo porque "a instituição é racista"; o negro pobre tomado por bandido; o árabe (na verdade, persa, mas você sabe a diferença?) que não confia no "latino"; o negro que acha os hispânicos tudo igual.... vários pequenos ou grandes conflitos são mostrados, mas nunca se tenta passar uma lição de moral.
Outro mérito do filme é a atuação do elenco (Don Cheadle, Matt Dillon, Brendan Fraser). Até Sandra Bullock, em geral muito fraca, tem um desempenho convincente como dondoca solitária depressiva.
É bastante interessante ver a cidade do cinema, de Hollywood, Berverly Hills e Disneyland, a cidade da fantasia, "por trás das câmaras" - seus diversos aspectos, digamos, reais. Ao mesmo tempo, o filme é Hollywood puro - tecnicamente excelente, atuação competente, cenas de perseguição emocionantes, drama, thriller psicológico - todos os ingredientes de um bom filme. Sem esquecer o final, sem moralismos esquerdóides (seres humanos são lindos, apesar das diferenças) ou dramalhão "à la" filme europeu (todo mundo morre no final. porque afinal o mundo é duro, c'est la vie). Vale o ingresso.
***
Interessante ver o filme nos dias de hoje, ademais, quando testemunhamos pela imprensa os conflitos (étnicos?, sociais?) nas periferias francesas. Por que não ocorre o mesmo nas periferias americanas, por exemplo? O que explica o que está acontecendo na França? O filme em questão não traz - nem é esse seu propósito - respostas a essas indagações. Mas ele ajuda na reflexão. Los Angeles é uma cidade bastante cosmopolita, com clivagens étnicas e sociais. Seria por que a sociedade americana é mais democrática do que a francesa que o que vemos na França não ocorre nos Estados Unidos?
"As pessoas batem os carros em L.A. porque de outro modo não encontram outras pessoas, não interagem". Com uma frase (mais ou menos) assim, logo no primeiro momento temos uma idéia dp qie esperar do resto do filme: um clima lúgubre, permeado por ironia discreta, histórias honestas - sem excessos. Ou seja, você sabe que verá um bom filme.
"Crash" é uma espécie de "Amarelo Manga" versão L.A.: é um retrato social da cidade. Personagens arquétipos, mas verossímeis, representam diversos grupos sociais, compõem os sub-núcleos temáticos do filme, no que se assimila a "Amarelo Manga" ou a "Traffic". Neste, o tema principal é o narco-tráfico. Em "Crash", é a cidade de Los Angeles, assim como em "Amarelo Manga" é o Recife, onde os personagens revelam os diferentes aspectos da cidade.
O resultado é a riqueza temática que é a principal característica do filme. O "melting pot" de L.A. fica bem em evidência, e também suas conseqüências. Sem ter a pretensão de aprofundar-se numa análise antropológica ou sociológica, várias questões, latentes ou patentes, vêm à tona: desigualdade sociail, violência urbana, racismo. A questão racial, aliás, é um sub-tema de destaque, revelador também da diversidade étnica da Califórnia contermporânea. Com o governador austríaco, prefeito mexicano, chefe de polícia negro - tudo compõe um fundo de tensão mais ou menos explícito. O policial racista porque acredita que o pai tenha sido prejudicado pelas leis de ação afirmativa; o chefe de polícia negro que nada faz contra o racismo porque "a instituição é racista"; o negro pobre tomado por bandido; o árabe (na verdade, persa, mas você sabe a diferença?) que não confia no "latino"; o negro que acha os hispânicos tudo igual.... vários pequenos ou grandes conflitos são mostrados, mas nunca se tenta passar uma lição de moral.
Outro mérito do filme é a atuação do elenco (Don Cheadle, Matt Dillon, Brendan Fraser). Até Sandra Bullock, em geral muito fraca, tem um desempenho convincente como dondoca solitária depressiva.
É bastante interessante ver a cidade do cinema, de Hollywood, Berverly Hills e Disneyland, a cidade da fantasia, "por trás das câmaras" - seus diversos aspectos, digamos, reais. Ao mesmo tempo, o filme é Hollywood puro - tecnicamente excelente, atuação competente, cenas de perseguição emocionantes, drama, thriller psicológico - todos os ingredientes de um bom filme. Sem esquecer o final, sem moralismos esquerdóides (seres humanos são lindos, apesar das diferenças) ou dramalhão "à la" filme europeu (todo mundo morre no final. porque afinal o mundo é duro, c'est la vie). Vale o ingresso.
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Interessante ver o filme nos dias de hoje, ademais, quando testemunhamos pela imprensa os conflitos (étnicos?, sociais?) nas periferias francesas. Por que não ocorre o mesmo nas periferias americanas, por exemplo? O que explica o que está acontecendo na França? O filme em questão não traz - nem é esse seu propósito - respostas a essas indagações. Mas ele ajuda na reflexão. Los Angeles é uma cidade bastante cosmopolita, com clivagens étnicas e sociais. Seria por que a sociedade americana é mais democrática do que a francesa que o que vemos na França não ocorre nos Estados Unidos?
sexta-feira, 4 de novembro de 2005
Lula Government’s foreign policy
Comment on the following statement: “Over the last couple of years Brazil has accumulated a series of humiliating defeats. The foreign ministry is a disaster.”
There is a political struggle for power in Brazil today. Some conservative sectors of society, most of the big media companies, and opposition parties (led by right-wing PFL and center PSDB) cannot accept the fact that a left-wing grassroots party has democratically achieved the highest level of power in Brazil.
That is the basis of the current wave of unproven, sensationalistic accusations against President Lula’s government. It’s an orchestrated effort to demoralize the biggest and most organized party of the realistic and responsible left – the Workers’ Party (PT). In this negative campaign, nothing escapes – the main goal is to get across an idea to the population that the government is a total failure, that nothing works.
Incoherence and frailties stem from the opposition’s rhetoric, for a balanced and fair judgment is not its method. However, most of the press is all too willing to play the role of the opposition’s mouthpiece, and it’s shocking. Truth is the first victim of this process. Many honest politicians are being condemned out of hand as a consequence of this tactic of generalization. In the same way, many successful and innovative public policies are ignored – as the “Bolsa Família” and “Pró-Jovem” social programs – or condemned outright, as the cultural and foreign policies.
Let us take the latter one, for the sake of illustration. A lot of misinformed or biased “analysis” has been made, as a means of criticizing the Lula Government, about several subject areas – including the foreign policy. The opposition and conservatives in general claim that “the Foreign Ministry is a disaster” (as right-wing weekly newsmagazine “Veja” recently stated).
A basic mistake in such categorical affirmations is the lack of understanding of the dynamics of international politics. International relations is not a sports game, it is not a win-lose situation, where if one side wins, the other necessarily has to lose. In these days of multi-lateral negotiations, reality is a lot more complex than that.
The policies adopted under the Foreign Affairs minister Celso Amorim administration don’t follow the domestic politics electoral calendar – and perhaps that is what conservatives fail to realize. The foreign policy agenda is drawn up for the long term. Brazil is on the move towards the occupation of more space in the international public arena. What to layperson may seem as a defeat is, in fact, a step forward into a new level of engagement in international politics.
The G-20 proves the point. When Brazil, India, South Africa and others joined to form this coalition of developing countries that export and import farm products, they changed the way business is done at the World Trade Organization. The Cancun Round was declared by the world media to be a failure; but for the G-20 it was a huge victory. Up to that point, it was the G-7 that established and imposed the WTO agenda. That ended in 2003 with the G-20’s aggressive approach defending their interests (to reduce and eliminate agriculture subsidies in the rich countries). Now, the rich nations actually have to negotiate.
From August 2004 to July 2005, Brazilian sales to South America increased by US$ 6 billion, and to Africa by US$ 3 billion. Exports to other developing countries today represent 52% of the total Brazilian sales abroad. In 2002, exports totaled US$ 60 billion; this year they will be well over US$ 100 billion. Three factors explain these positive numbers: the crumbling and re-structuring of the Brazilian industry in the 1990’s, the increase of the price of commodities on the global market and a good foreign policy (trade agreements with new partners).
President Lula’s foreign policy’s basic interest is a pragmatic one: to put Brazil on a new level, by expanding foreign trade as much as possible. The preference for developing countries is due to the fact that these are the countries that want to buy our products with higher added-value.
Brazil’s exports agenda has more manufactured goods which are sold to more countries than ever before. Brazil’s role in international politics has never been greater. These are direct effects of the policies chosen since January 2003. It bothers some people who prefer to see Brazil selling more soybeans rather than TVs; and they are also not happy to see that Brazil is successfully represented abroad by a monoglot factory-worker.
What is at stake here is what kind of nation we want. Behind much of the criticism against Lula’s policies, there are hurt economic interests and ideological and political disputes.
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Comentários do professor –
A most interesting analysis of the topic.
I think paragraphs 1-3 are not really relevant to the issue. Maybe you could have treated the subject briefly.
But the overall treatment is very good, clear, coherent and well stated.
Very good English.
Celso Amorim would be proud of you!
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Escrevi esse texto como uma atividade para a aula de inglês há várias semanas. Nessa semana de denúncia vazia irresponsável de "Veja" (mais uma pra lista...) e do acirramento retórico da oposição, que já fala abertamente em impeachment e em "dar surra" no Presidente da República, o texto está ainda mais atual agora do que à época que foi escrito, além de comprovar aquilo que afirmo nos três primeiros parágrafos (que embora fujam ao que foi pedido na atividade de classe, se adequam bem à realidade).
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quarta-feira, 2 de novembro de 2005
Estréia
Letícia Jurema
Não sei o que dizer. Qualquer assunto aqui mencionado será pessoal, talvez em demasia. Não disponho de dados concretos, estatísticas de associações oficiais. Tudo que escreva terá como única fonte minha vivência; não pretendo ser dona da verdade. Em realidade nada pretendo. Considerarei esse texto uma espécie de diário. Ainda não sei como será esta história. Diogo me deu muita liberdade. Pois se equivocou, sou indecisa, preciso definir a natureza deste texto: será humorístico, filosófico, político (duvido), científico? Havia dito que nada pretenderia, pois seguirei esta linha. Espero que o texto se defina por si mesmo e assim acabará indefinido, inconstante e indeciso, acima de tudo disperso...como a autora. Vou me perder, comecei sem saber como começar, e agora? Completamente indefinido, não posso continuar.
Durante um ano morarei em Berlin. Há muito tempo sabia que tentaria a bolsa Erasmus, a qual me trouxe aqui, e sempre quis vir à Alemanha. Nunca pensei nas dificuldades que enfrentaria uma vez na cidade, na verdade acho que jamais considero os possíveis obstáculos antes de uma viagem, simplesmente sei o que quero e não me passa pela cabeça nada mais. Decidi aprender alemão porque queria saber uma língua completamente diferente da minha. Quero entender as pessoas, poder me comunicar no idioma nativo de todos. Infelizmente isso não será possível, por motivos biológicos, práticos, materiais... A principio queria aprender idiomas para poder desfrutar mais amplamente de filmes em versão original! No entanto, esta é uma das últimas razões que citaria hoje se alguém me perguntasse o por quê de tantas viagens. A ambição profissional de aprender um novo idioma, ao final se torna um motivo superficial, quando nos damos conta de tudo que está implícito ao conhecer uma nova língua.
Este tempo fora me permitiu ver a comunicação desde outra perspectiva. Encontrei tantas ramificações, inúmeras possibilidades. É óbvio que é a chave para a aprendizagem, a compreensão, evolução, união ou desunião... Isto me levou a pensar nos idiomas, no papel essencial que joga para a comunicação, nas relações entre pessoas. Estou me precipitando. Primeiramente quero mencionar o básico: Tato, olfato, visão, audição, paladar... como descrevê-los? Por meio das palavras, pôr um nome onde antes não havia; dar significado a algo que já o tinha, mas se não pode mencioná-lo é igual que inexistente. Saudade é um paradigma: como traduzi-la? Todos a sentimos em algum momento da nossa vida, mas por que é tão difícil encontrar uma palavra similar em outro idioma?
A comunicação é tudo, nossos pensamentos se convertem em palavras e esses em conceitos percebidos pelo receptor...ou algo assim, nunca estudei essas coisas! Como pensaríamos se não houvesse palavras? É algo inimaginável, verdade? Pois, então, passemos a algo mais tangível: como pensaríamos se fôssemos chineses? Ou franceses? Ou de uma tribo de índios? Ou, no meu caso, alemães? Temos pensamentos parecidos ainda que seja em idiomas completamente distintos. Um australiano segue uma mesma linha de pensamento a um boliviano, porque somos humanos, estamos presos a esta condição. Considerando, claro, as características básicas que nos diferencia uns aos outros; pois uma pessoa burra será burra em qualquer idioma! Um impulsivo, não pensará mais antes de atuar em francês do que em italiano! Mas dentro desta constante há variáveis, muito sutis, da linha de raciocínio que seguimos, o qual pode definir um grupo social, por exemplo.
A estrutura gramatical da língua alemã, por exemplo, é bastante diferente das línguas latinas. Sujeito, verbo transitivo/intransitivo, complemento direto/indireto, etc... a ordem é quase contrária. Não me arrisco em aprofundar nesse tema, pois não o domino. As expressões me interessam mais; alguns termos que são quase exclusivos de um idioma. Ás vezes não são nem termos. São sons! Em italiano quando se quer dizer “não sei”, se diz bôo. Na Espanha, quando alguém quer demonstrar espanto diz: Ala!!
O inglês continua sendo a língua que nos une a quase todos. Com o inglês me comunico com um tailandês, um groenlandês, um egípcio; por meio deste idioma posso descobrir novas pessoas, culturas...mas e se soubesse falar árabe com o egipcio, tailandes com o tailandes?...
Quando se aprende um idioma, obtém-se uma chave. Esta abre as portas de uma cultura, um povo, uma Nação. Teria a possibilidade de conhecer esse povo no campo deles, através da língua que mais lhes caracteriza, melhor lhes representa e na qual se expressam. Entenderia, assim, suas piadas, seus slangs, seu humor. Isso para mim é a beleza de aprender uma nova língua: é um instrumento importante para a integração.
Nunca pensei que a conclusão seria mais difícil que o início. Quando fazia provas de redação sempre passava meia hora na primeira frase e o resto fluía, pois desta vez está sucedendo exatamente o contrário, justo ao final estanquei! Com tudo que disse aqui, qual é minha conclusão? Ao mesmo tempo que considero o idioma como um instrumento essencial para a integração, sei que paradoxalmente ele é um motivo de separação. É um fator distintivo entre povos. Devemos nos dar conta que as semelhanças superam as diferenças. Constataremos que ao final somos farinha do mesmo saco. Babacas, por exemplo, é universal, mas a babaquice em sí se materializa de maneiras distintas, dependendendo em que país nos encontremos, sempre com um fundo em comum: o babaca, ou pringado se prefere espanhol, asshole, stronzo ou arschloch!
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