segunda-feira, 7 de novembro de 2005

"Crash"

"As pessoas batem os carros em L.A. porque de outro modo não encontram outras pessoas, não interagem". Com uma frase (mais ou menos) assim, logo no primeiro momento temos uma idéia dp qie esperar do resto do filme: um clima lúgubre, permeado por ironia discreta, histórias honestas - sem excessos. Ou seja, você sabe que verá um bom filme.

"Crash" é uma espécie de "Amarelo Manga" versão L.A.: é um retrato social da cidade. Personagens arquétipos, mas verossímeis, representam diversos grupos sociais, compõem os sub-núcleos temáticos do filme, no que se assimila a "Amarelo Manga" ou a "Traffic". Neste, o tema principal é o narco-tráfico. Em "Crash", é a cidade de Los Angeles, assim como em "Amarelo Manga" é o Recife, onde os personagens revelam os diferentes aspectos da cidade.

O resultado é a riqueza temática que é a principal característica do filme. O "melting pot" de L.A. fica bem em evidência, e também suas conseqüências. Sem ter a pretensão de aprofundar-se numa análise antropológica ou sociológica, várias questões, latentes ou patentes, vêm à tona: desigualdade sociail, violência urbana, racismo. A questão racial, aliás, é um sub-tema de destaque, revelador também da diversidade étnica da Califórnia contermporânea. Com o governador austríaco, prefeito mexicano, chefe de polícia negro - tudo compõe um fundo de tensão mais ou menos explícito. O policial racista porque acredita que o pai tenha sido prejudicado pelas leis de ação afirmativa; o chefe de polícia negro que nada faz contra o racismo porque "a instituição é racista"; o negro pobre tomado por bandido; o árabe (na verdade, persa, mas você sabe a diferença?) que não confia no "latino"; o negro que acha os hispânicos tudo igual.... vários pequenos ou grandes conflitos são mostrados, mas nunca se tenta passar uma lição de moral.

Outro mérito do filme é a atuação do elenco (Don Cheadle, Matt Dillon, Brendan Fraser). Até Sandra Bullock, em geral muito fraca, tem um desempenho convincente como dondoca solitária depressiva.

É bastante interessante ver a cidade do cinema, de Hollywood, Berverly Hills e Disneyland, a cidade da fantasia, "por trás das câmaras" - seus diversos aspectos, digamos, reais. Ao mesmo tempo, o filme é Hollywood puro - tecnicamente excelente, atuação competente, cenas de perseguição emocionantes, drama, thriller psicológico - todos os ingredientes de um bom filme. Sem esquecer o final, sem moralismos esquerdóides (seres humanos são lindos, apesar das diferenças) ou dramalhão "à la" filme europeu (todo mundo morre no final. porque afinal o mundo é duro, c'est la vie). Vale o ingresso.


***

Interessante ver o filme nos dias de hoje, ademais, quando testemunhamos pela imprensa os conflitos (étnicos?, sociais?) nas periferias francesas. Por que não ocorre o mesmo nas periferias americanas, por exemplo? O que explica o que está acontecendo na França? O filme em questão não traz - nem é esse seu propósito - respostas a essas indagações. Mas ele ajuda na reflexão. Los Angeles é uma cidade bastante cosmopolita, com clivagens étnicas e sociais. Seria por que a sociedade americana é mais democrática do que a francesa que o que vemos na França não ocorre nos Estados Unidos?

9 comentários:

julieet disse...

eu também acho horrivel diogo,já tentei tanto mudar cor. ou do fundo , ou da letra,mas o template é meio osso duro..e eu sou mobral em html.
mas vou tentar mais..qd tiver um tempinho.
:)

Anônimo disse...

esse filme é arretado demais!! trata a realidade exatamente como foi colocado, aí: sem fazer juízo de valor ou lições de moral. é a realidade, do jeito que ela é, na cabeça das pessoas. é a luta contra o racismo por pessoas que praticam no seus dia-a-dia. o preconceito, então, perpetua-se muitas vezes por causa da prática descriminatória de todos nós, independente de nossas origens.

Outra: acho que uma das grandes diferenças entre EEUU e França é o papel que desempenha a direita de cada país. nos EEUU a turma cala, enquanto que na França a direita fala, e essa fala revolta. as últimas declarações de Sarkozy inflamaram ainda mais aqueles que têm uma tendência a se sentirem oprimidos dentro de seu próprio país.

Anônimo disse...

berna, o filme é bom. mas não consigo compará-lo a "Amarelo Manga"... não dá. gosto de muita coisa, mas confesso que estou um pouco cansado de "lições de moral" e disto o filme não escapa.
abração!
johnny

Anônimo disse...

ah, johnny, eu não acho que o filme dá lição de moral. ele, simples e despretensiosamente mostra partes de realidades...

Bernardo Jurema disse...

quem é esse anônimo?

Bernardo Jurema disse...

quem é esse anônimo?

slavo disse...

O primeiro deve ser o Jampa! o segundo é anônimo, ora!! Vou ver o filme!!

Anônimo disse...

desculpa... mas é cheio de frases feitas... cheio de situações melodramáticas onde reina a lição da tolerância... e tal.
johnny

Bernardo Jurema disse...

joão! precisa pedir desculpas não! pode discordar e pode até botar pra fuder! hahaha!