quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Estréia
Letícia Jurema
Não sei o que dizer. Qualquer assunto aqui mencionado será pessoal, talvez em demasia. Não disponho de dados concretos, estatísticas de associações oficiais. Tudo que escreva terá como única fonte minha vivência; não pretendo ser dona da verdade. Em realidade nada pretendo. Considerarei esse texto uma espécie de diário. Ainda não sei como será esta história. Diogo me deu muita liberdade. Pois se equivocou, sou indecisa, preciso definir a natureza deste texto: será humorístico, filosófico, político (duvido), científico? Havia dito que nada pretenderia, pois seguirei esta linha. Espero que o texto se defina por si mesmo e assim acabará indefinido, inconstante e indeciso, acima de tudo disperso...como a autora. Vou me perder, comecei sem saber como começar, e agora? Completamente indefinido, não posso continuar.
Durante um ano morarei em Berlin. Há muito tempo sabia que tentaria a bolsa Erasmus, a qual me trouxe aqui, e sempre quis vir à Alemanha. Nunca pensei nas dificuldades que enfrentaria uma vez na cidade, na verdade acho que jamais considero os possíveis obstáculos antes de uma viagem, simplesmente sei o que quero e não me passa pela cabeça nada mais. Decidi aprender alemão porque queria saber uma língua completamente diferente da minha. Quero entender as pessoas, poder me comunicar no idioma nativo de todos. Infelizmente isso não será possível, por motivos biológicos, práticos, materiais... A principio queria aprender idiomas para poder desfrutar mais amplamente de filmes em versão original! No entanto, esta é uma das últimas razões que citaria hoje se alguém me perguntasse o por quê de tantas viagens. A ambição profissional de aprender um novo idioma, ao final se torna um motivo superficial, quando nos damos conta de tudo que está implícito ao conhecer uma nova língua.
Este tempo fora me permitiu ver a comunicação desde outra perspectiva. Encontrei tantas ramificações, inúmeras possibilidades. É óbvio que é a chave para a aprendizagem, a compreensão, evolução, união ou desunião... Isto me levou a pensar nos idiomas, no papel essencial que joga para a comunicação, nas relações entre pessoas. Estou me precipitando. Primeiramente quero mencionar o básico: Tato, olfato, visão, audição, paladar... como descrevê-los? Por meio das palavras, pôr um nome onde antes não havia; dar significado a algo que já o tinha, mas se não pode mencioná-lo é igual que inexistente. Saudade é um paradigma: como traduzi-la? Todos a sentimos em algum momento da nossa vida, mas por que é tão difícil encontrar uma palavra similar em outro idioma?
A comunicação é tudo, nossos pensamentos se convertem em palavras e esses em conceitos percebidos pelo receptor...ou algo assim, nunca estudei essas coisas! Como pensaríamos se não houvesse palavras? É algo inimaginável, verdade? Pois, então, passemos a algo mais tangível: como pensaríamos se fôssemos chineses? Ou franceses? Ou de uma tribo de índios? Ou, no meu caso, alemães? Temos pensamentos parecidos ainda que seja em idiomas completamente distintos. Um australiano segue uma mesma linha de pensamento a um boliviano, porque somos humanos, estamos presos a esta condição. Considerando, claro, as características básicas que nos diferencia uns aos outros; pois uma pessoa burra será burra em qualquer idioma! Um impulsivo, não pensará mais antes de atuar em francês do que em italiano! Mas dentro desta constante há variáveis, muito sutis, da linha de raciocínio que seguimos, o qual pode definir um grupo social, por exemplo.
A estrutura gramatical da língua alemã, por exemplo, é bastante diferente das línguas latinas. Sujeito, verbo transitivo/intransitivo, complemento direto/indireto, etc... a ordem é quase contrária. Não me arrisco em aprofundar nesse tema, pois não o domino. As expressões me interessam mais; alguns termos que são quase exclusivos de um idioma. Ás vezes não são nem termos. São sons! Em italiano quando se quer dizer “não sei”, se diz bôo. Na Espanha, quando alguém quer demonstrar espanto diz: Ala!!
O inglês continua sendo a língua que nos une a quase todos. Com o inglês me comunico com um tailandês, um groenlandês, um egípcio; por meio deste idioma posso descobrir novas pessoas, culturas...mas e se soubesse falar árabe com o egipcio, tailandes com o tailandes?...
Quando se aprende um idioma, obtém-se uma chave. Esta abre as portas de uma cultura, um povo, uma Nação. Teria a possibilidade de conhecer esse povo no campo deles, através da língua que mais lhes caracteriza, melhor lhes representa e na qual se expressam. Entenderia, assim, suas piadas, seus slangs, seu humor. Isso para mim é a beleza de aprender uma nova língua: é um instrumento importante para a integração.
Nunca pensei que a conclusão seria mais difícil que o início. Quando fazia provas de redação sempre passava meia hora na primeira frase e o resto fluía, pois desta vez está sucedendo exatamente o contrário, justo ao final estanquei! Com tudo que disse aqui, qual é minha conclusão? Ao mesmo tempo que considero o idioma como um instrumento essencial para a integração, sei que paradoxalmente ele é um motivo de separação. É um fator distintivo entre povos. Devemos nos dar conta que as semelhanças superam as diferenças. Constataremos que ao final somos farinha do mesmo saco. Babacas, por exemplo, é universal, mas a babaquice em sí se materializa de maneiras distintas, dependendendo em que país nos encontremos, sempre com um fundo em comum: o babaca, ou pringado se prefere espanhol, asshole, stronzo ou arschloch!

4 comentários:

Bernardo Jurema disse...

ótima estréia! agora esse é o blog dos irmãos Jurema! haha!
parabéns e bem-vinda, letícia!

julieet disse...

imagina se escrevesse heim?
;)

Anônimo disse...

MUITO BOM!

Também gostei muito! Inclusive, me identifiquei bastante com o texto, pois sempre tive muito interesse por idiomas... Estudei alemao por 12 anos!

O que acho mais interessante me aprender novos idiomas é que, junto com o vocabulario, a gramatica, a ortografia, etc, vem toda uma cultura! Assim, ao aprendermos um novo idioma, aprendemos outra experiencia, outra "evolucao" outra logica, o que, sem duvidas, amplia nossos horizontes...

Alem, é claro, de abrirmos todo um novo leque de possiveis amizades, principalmente quando vamos para o país do nosso "novo" idioma!

Deutsch zu lernen ist gar nich leicht! Es kann aber sehr interessant sein...

slavo disse...

Bom ver que a crítica é uma qualidade de todos os irmãos Jurema. Espero ve-la sempre a escrever por aqui.