domingo, 28 de junho de 2009

Relatos de Brasília - 2

Vou postar aqui, pra deixar registrado, os relatos dos meus primeiros meses em Brasília, enviados por e-mail para amigos e familiares antes da existência desse blogue.


III Semana

Sun Nov 21, 2004 7:59 am

Terceira semana no DF; primeira semana morando só.

Foi mais difícil do que eu imaginava.

Domingo fui com Lia, uma das minhas primas daqui, na kitchenette fazer
uma faxina. Minha primeira faxina foi um fiasco – o chão ficou todo
manchado de branco. No dia seguinte, segunda-feira, feriado, minha
primeira manhã lá. Antes de ir fazer um simulado de Resumo e Redação
lá no Curso João Batista, fiz mais uma faxina. Nada como a prática.
Essa segunda faxina já foi bem melhor que a primeira, e deixou o
ambiente com um aspecto mais agradável, habitável.

A kit não é grande coisa... Aliás, é espaço demais pras coisas que eu
NÃO tenho. Tem um birôzinho pra estudo, uma cadeira, uma cama, uma
mesinha onde ponho as roupas e uma mini-TV/rádio. Minimalista. A
localização é muito central e razão pela qual eu optei pelo lugar.
Estou a três minutos do curso. A cinco de um shopping com cinemas,
lanchonetes e Americanas (putz, a música natalina de lá dá vontade de
se matar!). Os vizinhos são tranqüilos. Só na segunda teve um babaca
escutando música brega nas alturas. E hoje quando abri a janela depois
de uma soneca à tarde, tinha uma placa de uma loja que abriu embaixo
de mim, bem na minha varanda. Arruinou minha vista do colégio em
frente. (Será que meu aluguel pode baixar por causa disso?).

O primeiro dia sozinho foi triste, o segundo menos. Conversei com
minha mãe. E do terceiro em diante, foi melhorando. Como mãe sabe
dizer as coisas certas, hein? Também recebi um e-mail de César que me
ajudou muito nessa adaptação. Como ele disse, além de ser um momento
difícil por eu estar só numa cidade desconhecida, o é também por ser
um momento de definição profissional. Identificar essa origem da minha
ansiedade foi essencial.

Minha rotina foi estabelecida por um processo de tentativa e erro.
Experimentando caminhos até a Biblioteca do Senado, lugares pra tomar
café da manhã ou almoçar, caminhos pra voltar pro curso... Fui
adaptando. Ficou mais ou menos assim: me acordo de manhã e, depois do
Bom Dia Brasil, ando até o Conjunto Nacional (um shopping que fica no
caminho até a Esplanada dos Ministérios). Tomo um sucão e ando até a
Biblioteca. No total, uns 50 minutos de caminhada. Descobri que no MEC
tem acesso à Internet grátis (só não posso checar E-mail... Ou tenho
que faze-lo escondido), então pretendo uma vez por semana passar por
lá no caminho ao Senado pra ver e-mails e ler a imprensa internacional
(grave falha lá do Senado!). Estudo e como lá pelo Congresso mesmo. É
bom estar lá porque além de a Biblioteca ter um ótimo acervo, ar-
condicionado e jornais, há eventos como na quinta-feira, quando teve
uma palestra de uma professora mexicana sobre o Nafta para a Comissão
do Mercosul no Senado! E você ainda corre o risco de cruzar com
Heloísa Helena (argh!) e seu rabo de cavalo indo pra lá e pra cá, ou
avistar Cristóvam Buarque (uau) entrando na Biblioteca.

Lá pelas 17-18h, tomo uma lotação (um real) até a rodoviária, e ando
uns 20 minutos até o curso, que começa às 19h. Às 22h termina, volto
pra casa e durmo. Certamente deixei muitos de vocês com inveja do meu
dia-a-dia...

Essas caminhadas são os meus momentos de lazer, exercício e
relaxamento durante a semana. Desisti de fazer qualquer esporte formal
até depois das provas, porque me ocuparia um tempo precioso que não
posso desperdiçar.

Descobri lá na Biblioteca um outro cara que também está estudando pro
concurso. Primeira reação (irracional) foi raiva... (“concorrente fdp,
vá pra casa ver TV!”). Depois pensei melhor e um dia, depois que ele
saiu, fui ver os livros que ele estudava e peguei umas idéias de
estudos legais!

Uma das coisas boas dessa minha experiência é que eu estou tendo a
oportunidade de conhecer familiares que eu não tinha tido muito
contato antes. Vanessa é prima do meu pai, lá de Maceió (de onde vem
Vovó Maidy) e era, na juventude, muito próxima à nossa família. Ela e
a família (meus novos tios e primos) têm me recebido de maneira
totalmente generosa. Aliás, todos os meus móveis na kit foram eles que
me emprestaram...

Minha visão de Brasília mudou um pouco (nada como a vida real). Já
tinha vindo outras vezes de férias. Sempre gostava. Mas é diferente.
Na primeira vez vim aos dez anos, passei um mês, passeei bastante com
meus tios que moravam aqui na época, e até subi a rampa com Collor e
tal. Inesquecível. Nas últimas duas vezes, mais recentes, fiquei na
casa de Guilherme e fui sempre MUITO bem recebido por ele e seus pais –
não tinha como não gostar. Mas tem sido diferente viver aqui. Claro,
tem o lado emocional: o fato de se estar só, longe de casa, da família
e de amigos próximos; e o fato de não se saber se irei ou não atingir
o meu objetivo. Mas o fato é que a cidade (aliás, como toda
arquitetura conceitual que eu já vi) é muito burramente planejada. Pra
começar, ela é feita pra quem tem carro. Comunismo de burguês.
Pedestre se fode. Tem que andar pra cacete. E a sinalização, nessa
cidade onde as ruas não têm nomes, é toda para os carros...

Coisas de Brasília... Hoje vi um carro com um adesivo pedindo a
liberalização das informações sobre UFOs. Taí uma causa de suma
importância para o bem-estar da Humanidade.

Até a próxima semana... Ou quando der.

Abraços.
BJ

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