quarta-feira, 24 de setembro de 2008
A oposição estilou
O último resquício da oposição de direita em Pernambuco é o Judiciário - não por acaso, o menos sujeito ao escrutínio popular. Sem opção, desprovidas de propostas e de um discurso que encontrem ressonância na sociedade, as forças reacionárias do estado apelaram para a judicialização da disputa política.
A acusação é frágil e não se sustenta. Difícil responsabilizar o então secretário municipal, João da Costa, pelo uso escuso de duas contas pessoais de e-mail. Algo análogo ocorreu em São Paulo reccentemente, quando funcionários do prefeito Kassab teriam repassado mensagens eletrônicas para servidores municipais. A sentença, ademais, é incoerente. Porque se o juiz Nilson Nery viu por bem responsabilizar o secretário pela ação de seus subalternos, por que não seguir subindo na hierarquia até o prefeito João Paulo? É altamente questionável que esse ato isolado de envio de e-mails por parte de dois indivíduos seja abusivo ou mesmo que represente um claro desequilíbrio político e econômico em prol do candidato da situação.
Margarida Cantarelli tinha um logotipo laranja e preto quando, em 1986, foi candidata a senadora pelo PFL. Agora, como desembargadora, ao tornar legal a divulgação de informação protegida sob sigilo de justiça, serve de laranja da oposição para obscurecer a disputa política na cidade e demonstra ser adepta da fidelidade partidária. Nilson Nery, que acatou a representação fajuta do MPPE, mostrou fidelidade canina àqueles que o colocaram nessa mamata. Acusem-no do que quiser, menos de ingrato!
A arbitrariedade do juiz não é sem propósito. A menos que se acredite que foi a primeira vez que algo do gênero tenha ocorrido na cidade... Até o blogue jarbista de Jamildo reconhece o tratamento, digamos, diferenciado dispensado aos adversários políticos daqueles que deveriam zelar pelo cumprimento da lei - basta ver aqui. Sem contar que a divulgação de dados sigilosos não é vista da mesma forma indignada... Dois pesos e duas medidas.
Em instâncias superiores, tal sentença, por precária, cairá. O intuito, no entanto, não é fazer justiça. Trata-se de fazer política por outros meios. O timing, a menos de duas semanas das eleições, não poderia ser mais conveniente. A oposição (partidária, é preciso lembrar) já tenta propagar a desinformação, divulgando por meio de carros de som e panfletos apócrifos a cassação da candidatura governista de João da Costa. Ora, o fato é que, enquanto couber recursos, a candidatura permanece. Mas, como já foi dito, não se trata, em absoluto, de se fazer justiça. A oposição estilou.
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Resta saber como a população interpretará os acontecimentos. Vejo três cenários potenciais:
1 - Contingente significativo do eleitorado verá a decisão judicial como indicação de que o candidatao João da Costa é corrupto, não presta. Decide votar em outro candidato. Dependendo da intensidade desse movimento, isso pode apenas causar o advento do segundo turno ou, mais radicalmente, reverter as atuais tendências de intenção de votos.
2 - As intenções de votos se manterão inalteradas. A decisão do juiz de oposição apenas reforçará as posições já tomadas. Aqueles que se opõem ao candidato do PT, verão na decisão a confirmação de suas idéias, enquanto que os que o apoiam verão o fato como mais um episódio da luta política.
3 - Movimento em direção ao candidato perseguido pelo Judiciário. O episódio pode ser visto como perseguição política, jogo baixo, e atrair novos eleitores. Ademais, é possível que a radicalização da oposição funcione no sentido de trazer o Presidente Lula para participar de ato de campanha ainda no primeiro turno. Isso poderia trazer um importante impulso no sentido de definir de uma vez por todas a disputa.
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E se você quiser saber quem é Nilson Nery, o que fazia antes de ser indicado para o TJPE, quem o indicou, em que ano foi aprovado na Assembléia Legislativa, etc... Desista. Não há em parte alguma da Internet qualquer informação sobre a história recente. Nem adianta entrar na página do TJPE. Pois se você conseguir passar adiante da feiúria e bagunça da página inicial, desejo boa sorte para quem se arriscar pelos meandros labirínticos de um site típico do poder menos transparente da república. O site reflete bem a realidade...
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Vale lembrar que o Poder Judiciário não é a única esfera em que a oposição de direita mantém controle. Na imprensa, o quarto poder, também prevalecem. Basta ver o teor das manchetes dos jornais hoje. O destaque dos três jornais locais foi para a "cassação" - o que de fato não houve. Para que possa se consumar, precisaria que todos os recursos tivessem sido exauridos. E esta foi uma decisão em primeira instância. Meros detalhes?
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Maradona ou Pelé?
Diogo Jurema
Enviadas: Terça-feira, 24 de Junho de 2008 12:18:26
Assunto: RES: my two cents!
Entao, com licença.
Li com atenção todas as mensagens. Extraindo as paixonites para a ´defesa´ de um ou de outro lado, muitos dos argumentos procedem, outros não.
«yo creo que el futbol se ha hecho más competitivo a lo largo del tiempo y también creo que hay ligas más competitivas que otras....»
Não dá pra medir. São épocas distintas. Com condições distintas, não acho que estes sejam parâmetros para avaliarmos um e outro.
Ambos se destacaram, porque eram bons, realmente fenomenais, nas épocas que jogaram (diferentemente de alguns fenômenos mais recentes).
Mas como chegar a alguma conclusão?
O melhor vai ser aquele que se incrustar no imaginário da população mundial e assim, virar referência, sinônimo de perfeição no jogo—não só daqueles apaixonados por futebol, mas do público em geral:
Julho de 1971. Pittsford High School, joguei no time de futebol de mulheres, como me destacava, saiu uma reportagem no jornalzinho da escola. O título muito politicamente incorreto para os dias de hoje: «pelé branca...». Estou falando de um subúrbio de Rochester, no estado de nova iorque, nos EE.UU., país que até hoje desconhece futebol.
Agosto de 1978 (a argentina tinha acabado de ganhar sua primeira copa). fronteira entre itália e iugoslávia. Nessa época a iugoslávia era «um país comunista» e era raro brasileiros aparecerem por lá. Éramos 4. mandaram a gente sair do carro, pegaram os passaportes da gente, nos levaram para uma salinha. Estávamos tensos. Do outro lado do balcão um cara fardado, levou uns bons minutos em silêncio examinando os nossos documentos. Por fim, levantou a cabeça, nos olhou e disse em um só fôlego: edson arantes do nascimento – pelé.... Foi uma festa.
Junho de 2008. reportagem da folha de são paulo , comemorando os 50 anos da final brasil-suécia no mundial.
«Gustavsson, 50 anos depois, ri e aplaude o famoso chapéu que a vida e Pelé lhe deram. O defensor sueco, hoje com 80 anos, ainda impressiona pelo físico. Com cerca de 1,90 m e forte, tomou conta de um dos sofás de sua bela casa em Norrköping. Não parou de sorrir na entrevista para a Folha. Quando mais riu? Na hora de contar o mais belo gol da Copa-1958. "Foi a primeira vez que vi aquilo [chapéu]. Fenomenal", diz ele, fazendo com a cabeça o gesto de acompanhar a bola o encobrindo. ""Fiquei procurando a bola. Pelé é fenômeno." Gustavsson era um atleta experimentado, atuava no futebol italiano.
Simonsson, um jovem craque em 1958. O autor do segundo gol dos anfitriões quase pôs fogo no jogo. ""Tinha 22 anos na Copa. Era o "Pelé da Suécia". Quando fiz o gol, ficou 4 a 2, e havia algum tempo para reação [faltavam dez minutos]. Tivemos duas chances para fazer 4 a 3. Seria outro jogo", garante ele, que vive em Gotemburgo. Veio até o Brasil no início dos anos 80 e visitou Nilton Santos e Garrincha. ""Foi a melhor Suécia da história, mas o Brasil jogou um grande futebol. Garrincha jogou muito aquela Copa, mas acho o Pelé o maior de todos. O público sueco gostou do jogo, gostou do Brasil."»
Ele vem há 50 anos em evidência. Acho que nenhum de vocês era nascido quando ele parou de jogar a serio (a época do cosmos, não vale). E vocês ainda estão discutindo sobre ele.
Quem é o melhor? Independentemente do gosto de cada um, o melhor é aquele que ficar na memória coletiva da humanidade - na história.
Daqui há 50 anos, façam a pergunta aos netos de vocês, e vejam o que eles vão responder!
mandem um recado lá pro céu – eu vou estar tomando meu whisquinho e dizendo «eu sabía! Eu sabía!»
Hehehe!
Cheiro grande a todos, aninha

sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Homenagem ao Prefeito João Paulo

Berna,
Incrível! Chego a conclusão que eu ainda não tinha noção do poder da internet. Tudo bem q eu considerava q era uma grande inovação mas, daí a modificar os rumos da eleição.... Cara, o comentário é que seu artigo está rodando o mundo! Só D. já recebeu 5X, recebi de H., M. entre outros. Todos comentam q foi um texto super bem escrito (parabéns!), que vai repassar, que realmente estava sentindo falta de argumentos etc!!! Em resumo, o seu objetivo foi alcançado e ainda mais: já pensou q vc pode ser o responsável pelo crescimento nas pesquisas?!?!? (Alto poder de convencimento!) Mas estou só mandando este e-mail p dizer q vc esta fazendo falta aqui na campanha! Domingo vai ter a primeira carreata e kd vc??? Estava até pensando em ir de bike como o seu pai... Mas eu nem tenho bike e a da minha mae é daquelas q tem cestinha, hehehehe.
Mande noticias viu????Beijos, E.C.
Por: Bernardo Jurema
Na campanha de 2000, as grandes promessas do então candidato João Paulo Lima e Silva eram: a inversão de prioridades, a radicalização da democracia e a melhoria da qualidade de vida da maioria da população. As grandes ações da Prefeitura no decorrer desses últimos quatro anos foram inequivocamente voltadas para a periferia e setores historicamente marginalizados dos processos de desenvolvimento da nossa cidade.
Pela primeira vez, o grande beneficiário do poder público não foram as classes média e alta. As mortes por quedas de barreiras, drama que repetidamente assolava as periferias a cada inverno, foram praticamente extintas através do Programa Guarda-Chuva (http://www.recife.pe.gov.br/especiais/guardachuva/index.html), que institucionalizou a presença constante e sistemática do poder público nos morros durante todo o ano, e não apenas quando chove. A questão de moradia foi finalmente tratada de forma séria e humana, com a retirada da população de condições precárias, como as palafitas de Brasília Teimosa ou da beira do Capibaribe na Torre e na Madalena, assim como os moradores da Ponte do Limoeiro e os das barreiras dos morros. Essas pessoas receberam uma bolsa da PCR para alugar uma moradia provisória, aprenderam uma profissão, construíram a própria casa, recebendo um salário, e foram inclusos nos programas sociais dos governos municipal e federal. Os filhos passam a receber a Bolsa Escola, uma das maiores do Brasil graças ao complemento da administração local, além de receberem farda, sapatos, material escolar. Hoje, 500 mil famílias na cidade são atendidas pelo Programa Saúde da Família (em 2000 eram 93 mil pessoas apenas!). A merenda escolar passou a ser servida também nas férias. Isso se chama inclusão social.
Nunca esta cidade contou com tanta participação popular. Através do Orçamento Participativo (http://www.recife.pe.gov.br/op/), mais de R$ 55 milhões foram aplicados em obras que atendem a pleitos das comunidades, decididas e discutidas por elas mesmas. Esse mecanismo decisório fortalece a sociedade civil organizada, mune os oprimidos de mecanismos de influência na tomada de decisões do poder público, educa a população politicamente e acaba com o paternalismo.
Não significa que a cidade como um todo tenha deixado de ser beneficiada. O Serviço de Atendimento Médico de Urgência – SAMU atende com qualidade toda a população. Também existem agora as Academias da Cidade, que atendem milhares de cidadãos em vários bairros, valorizando o espaço público coletivo, e melhorando a saúde de todos com a orientação de profissionais de medicina, educação física e nutrição. A Praça de Boa Viagem foi revitalizada e organizada; a praça Euclydes da Cunha, projeto de Burle Marx, em frente ao Internacional, teve seu projeto original recuperado; a orla de Boa Viagem agora conta com banheiros públicos de qualidade; a Rua da Aurora vai ganhar uma área de lazer inédita no Centro.
Mas a grande marca dessa gestão é a coragem e a ousadia de se enfrentar interesses poderosos e bastantes arraigados no âmbito do poder público, acostumados a terem suas demandas atendidas. A retirada do Recifolia, acatando um anseio da população de Boa Viagem, apesar da forte pressão de setores da imprensa e do empresariado locais, é prova disso. O disciplinamento da construção civil dos bairros do Derby até Apipucos, impondo limites para conter a especulação imobiliária e o adensamento populacional e a conseqüente deterioração da qualidade de vida da população que vive nesses bairros, foi levado adiante apesar da pressão do setor imobiliário, que queria ver seus interesses privados prevalecerem sobre os interesses do bem-estar da coletividade. A regulamentação do transporte público – o transporte clandestino das kombis desrespeitava direitos elementares da população: idosos e deficientes não entravam gratuitamente, estudante não pagava meia, motoristas e cobradores não tinham direitos trabalhistas básicos, além de causarem transtornos e acidentes no trânsito e não pagarem impostos e multas. No entanto, era uma categoria mobilizada politicamente e nenhum administrador tinha tido a coragem de enfrentá-los. João Paulo teve, incorporando os ex-kombeiros ao transporte complementar, onde os direitos são respeitados e localidades que nunca antes tinham tido o transporte público agora passaram a ter, de forma organizada, planejada e respeitando os direitos dos trabalhadores e usuários do sistema. A inversão do trânsito de Boa Viagem foi uma solução simples, criativa e relativamente barata para o problema crônico e acumulado, e nunca antes enfrentado, dos engarrafamentos da Zona Sul. A administração enfrentou a pressão dos setores mais reacionários, negociou com representantes da sociedade civil, e levou adiante o projeto que hoje conta com amplo apoio, inclusive daqueles que se opuseram à idéia inicialmente.
Tudo isso nos mostra que inversão de prioridades, radicalização da democracia e melhoria da qualidade de vida da maioria da população não são, para essa gestão, meros slogans eleitorais; constituem a diretriz política da atuação dos nossos administradores. Reeleger o Prefeito João Paulo é imprescindível para que este trabalho sério, ousado e sem precedentes se consolide e gere mais frutos para toda a população da nossa cidade.
domingo, 27 de julho de 2008
Medo no Amazonas
Em Recife, mais do que em outras metrópoles brasileiras, as pessoas andam com medo, literalmente. Evita-se ir a determinados lugares, ou em horas específicas. Medidas inócuas são tomadas. Fecha-se a janela do carro nos semáfaros. O medo condiciona, cega, nos torna irracionais. Desconfia-se de todos e de tudo. O medo é coletivo, generalizado. O pedestre, o usuário de ônibus, o ciclista e o motorista não se falam nem se comunicam, mau (com "u" mesmo) interagem, mas têm uma coisa em comum: o medo constante. Eis o elemento unificador da identidade brasileira, que atravessa nossas disparidades sociais e regionais. De norte a sul, do morro ao paliteiro, do barraco ao arranha-céu, o sentimento comum a todo brasileiro é o medo.
Eu sou considerado anormal no Brasil porque ando de bicicleta, a qualquer hora, para qualquer lugar, sem medo - de ser atropelado, assaltado ou assassinado. Não deixo de fazer minhas coisas e me recuso a me submeter ao regime da neurose coletiva. Ou assim eu pensava.
Em Eugene, fui jantar na casa de amigos. Depois do jantar natureba, de vinho californiano e de um bom papo, pedalei de volta para casa. Passavam das dez da noite. Era uma noite escura, as ruas pouco iluminadas, apenas a lua me indicando o caminho de volta. Pedalava eu tranqüilamente, até que me deparei com o Amazon Park (Parque Amazonas). Precisaria cruzá-lo para retomar o meu caminho do outro lado. Hesitei. Reduzi a velocidade. Parei. Analisei o entorno. Àquela hora, o parque estava deserto, tudo escuro. Sob a penumbra, distinguia a silhueta das árvores, do passeio, do canal que cruza o parque. Nenhum movimento. Silêncio profundo. Decidi, por fim, dar meia volta, retomar a rua adjacente ao parque. Escuridão, lugar deserto... de onde eu venho, pensei, são coisas a se evitar. Melhor ser prudente.
Já na faixa de bicicleta, na rua, me dei conta da besteira que cometi. Apliquei uma mentalidade que não se adequava com aquela realidade. A ação foi desconexa do contexto. A maior ameaça ali, reavaliei, era eu cair no Amazon Creek (Canal Amazonas) e ficar tremendo de frio. Graças a (ou deveria dizer "por causa de"?) minha condição de brasileiro, perdi uma parte das mais agradáveis do passeio. Mas, confirmei: sou mesmo um brasileiro típico, da gema. Também tenho medo.
***
Mais fotos da viagem, aqui.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Welcome to America!
Encontro meu tio americano, Bob, na cidade em que vivemos nos anos 90, Eugene. Depois dos abraços e cumprimentos, a pergunta que se viesse qualquer outro tio ou parente, causaria estranhamento: qual é a onda que ele quer tirar da minha cara? Mas, saída da boca de Bob, seria mais uma anedota do tio americano:
- Bernardo, você fez seguro internacional para vir pra cá?
- Não...
- Você é uma pessoa inteligente, sabe que não está sendo racional, não é? Se você quebrar UM braço, vai lhe custar 20 mil dólares...
- Ah, Bob... eu perguntei ao meu pai e ele disse que não precisava me preocupar com isso.
- Você sabe o risco que está correndo, então...
- O risco é do meu pai!
Risos. Meus. Bob, o tio americano, ficou sério. Nem pensei mais no assunto, minha mente submersa em lembranças, nessa viagem “down memory lane”, como diizem por aqui. Depois de me instalar em casa, a primeira coisa que fiz, 10 anos depois de sair de Eugene e dos Estados Unidos, foi pegar a bicicleta para dar uma volta na cidade, rever tudo... tomar o rumo down memory bike-lane! Afinal, esta é uma das cidades mais bike-friendly do país. Há toda uma infra-estrutura para o ciclista e toda uma cultura de bicicleta. Foi aqui, por exemplo, que aprendi que bicicleta não é só lazer, mas pode ser, também, um ótimo meio de transporte – saudável, econômico e limpo.
Dei uma breve olhada no mapa para me situar – são dez anos, afinal de contas! E lá me vou... Vou em frente, pega a direita, pega a esquerda, acho que me lembro disso aqui, é por ali que vou pra avenida principal, ah é só uma ladeirinha, oops é maior do que pensava, desce da bicicleta, empurra mais um pedaço, tudo que sobe desce, calma, é só mais um pouquinho, ufa, acabou a ladeira, agora é plano de novo, que bom, e agora é só ir nessa direção e já estarei novamente passando bem na frente da Charnelton St., nossa ex-rua...
E de repente... Uma ladeira medonha, uma descida bem íngreme. O guidon da bicicleta começa a tremer nas minhas mãos, fazendo com que os meus braços inteiros se estremeçam. Aparece na minha frente a imagem do tio americano, com aquela voz paternalista, como nos filmes quando o personagem tem uma lembrança: “você não está sendo racional” e “braço quebrado”, “20 mil dólares”. Aí me lembrei do filme mais recente de Michael Moore. Um americano tem um acidente e perde dois dedos e tem que escolher entre o indicador e o médio e opta pelo mais barato...
E o que começou como um agradabilíssimo passeio numa tarde ensolarada tão comum no verão do vale do Rio Willammette, num piscar de olhos se transformou numa pequena aventura que poderia terminar num baita de um prejuízo (pro meu pai!). Com a imagem de Bob de um lado, a do cara dos dedos do outro, eu fixei meu olhar na rua íngrime e cheia de curvas, freando com parcimônia para aproveitar o embalo sem no entanto me estribuchar no chão da Loraine Street. As casas de madeira com plaquinhas de Obama passam por mim, os pinheiros esverdejantes passam por mim, os esquilos me observam, os passarinhos cantam.De todo modo, acho que é isso que ocorre ao meu redor, pois tenho os meus olhos fixados nos pedregulhos da Loraine.
Por fim, chego, são e salvo, à West 29th Street, rua que é perpendicular á Charnelton... E, assim, retomo a rota down memory lane. E a partir daí, é só evitar subidas demasiadamente íngrimes: pois elas sempre vêm seguidas de descidas e eu não quero ter que optar entre se quero manter o dedo de dar dedada ou o de tirar catota!
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Relatos de uma vitória
Date: Wed, 11 Jun 2008 20:17:58 -0700
From: bernajurema@
Subject: PST
To: gdspinto@; bfarache@; diogojurema@
CC: mateusalvessouza@; rodri.cav@; rcavaraujo@; leocm21@; cgmonte@
nao resisti
eu nao planejei. mas na hora... nao consegui dormir.
estou ateh agora, ja passam das 5 da matina.... tou vendo a volta olimpica.
foi emocinante. mesmo tendo que engolir os dois gritos de gol, pra nao acordar o povo do apto... mas nao tendo ninguem pra compartilhar a alegria.... mas ficava o tempo todo me imaginando ali, ao lado de vcs, vendo o jogo.
vi pela sportv, gracas ao justin.tv (muchas gracias). com uma cobertura muito equilibrada. gostei do comentarista miller.
fico so imaginando a festa de vcs ai. meu coracao ta ai, emocionado e vibrando com esse dia memoravel, historico mesmo, com essa vitoria sem precedentes. e dessa vez, sem o beneficio de regras bizantinas! uma vitoria inquestionavel, porque venceu o melhor!
e isso é que dar orgulho. porque o importante nao eh só ganhar. mas é ganhar assim. com raça, fazendo por onde. foi uma vitória sólida, e agora só vislumbro o que ainda está por vir.
e tem outra importancia essa vitoria. toda uma nova geraçao de rubro-negros, em estágio de formaçao, se lembrarà com carinho desse momento mágico de sua infancia. pra sempre. penso especificamente no meu primo afilhado, mas vale pra tantos pirralhas.
enfim, parabéns sport, parabéns milton, parabéns nelsinho, parabéns pra rodrigo, mateus e leonardo porque é de torcedores assim que se faz um grande clube.
que esse dia se repita com mais freqüencia e que nao tenhamos que esperar mais 20 anos pela proxima final nacional!!!!
abraços a todos vcs e aguardo notícias de como foi tudo aí!
--
Bernardo Jurema
----- Mensagem original ----
De: clara moreira
Para: Bernardo Jurema
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008 6:36:54
Assunto: Re: PST
foi lindo, bel!
olhe que eu nem sou chegada neste alvoroço grande por causa de futebol, me vi nervosíssima, mais que em copa, comendo as unhas, dedos, mãos, braços. gritei, aplaudi, pulei, abracei, fiz "uuhh", xinguei jogador e tudo.
o jogo foi bonito, o sport fez certo, fez direito, jogou bem, deu orgulho, deu nervoso, deu emoção.
no 2º tempo, entrou na defensiva mas sem deixar de fazer ataques poderosos, fez muito bem, comandou, conduziu o jogo! a cidade parou, engarrafamento, transtorno e desordem, desde cedo da tarde. os funcionários largando mais cedo, buzinaço, fogos. uma comoção, calamidade pública.
foi lindo e só pensei em tu, torcendo de longe com o coração bem pertinho, bem aqui na ilha! os meninos, neste momento, devem estar LOUCOS de alegria comemorando em algum canto, sentindo muito a tua falta. eu, que nem nos jogos fui, a senti tanto.
e os fogos continuam! amanhã estarão perdoados os faltosos no trabalho!
um beijooooooooooooooooooooooooooooooooooo
clara
2008/6/12 Diogo Loureiro Jurema
foi um dos jogos mais horrorosos que já vi! o que me prendeu foi o fato de ser torcedor. estava nervoso pra cacete! no final, valeu a torcida do brasil inteiro, afinal, não conheço um carioca que não torceu pelo título do sport.
mas beleza, agora temos que esperar muita coisa de nossa diretoria.
1- capitalizar o título conquistando maior número de associados;
2- conquistar novos jovens torcedores, futuros consumidores do sport;
3- planejar, com antecedência, a temporada 2009, para garantir que o sport não será apenas coadjuvante da libertadores;
4- exigir que seus fornecedores não deixem os pontos de venda desabastecidos de camisas do sport e que criem camisas comemorativas do título;
5- lançar um uniforme que será usado exclusivamente na copa libertadores;
6- rever para cima os valores pagos por seus patrocinadores e parceiros;
enfim, são apenas alguns pontos que pensei agora, no momento. mas é importante garantir que o título gere dividendos (de longo prazo) para o clube.
não conheço todo mundo para quem bernardo mandou este email; mas como torcedores, temos que cobrar esse tipo de iniciativa e apoiá-las.
valeu, galera.
abraço a todos.
Diogo Jurema
21 - 9368 0530
http://diogojurema.iteci.com.br
----- Mensagem original ----
De: Mateus Alves
Para: Diogo Loureiro Jurema
Cc:
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008 16:05:30
Assunto: Re: PST
eu achei o jogo mais lindo que já vi, o sport foi campeão nacional! a gente já tá reservando a passagem pra dubai, vai rolar sport x chelsea, heheh. nunca vi um negócio daquele na ilha como foi ontem, todo mundo apoiando sem parar um segundo sequer. o timinho pegava na bola e parecia que o mundo ia abaixo, foi demais. a ficha tá caindo agora só, tenho que ler todos os jornais e ver na tv pra acreditar 100%. dá uma vontade de rir e chorar ao mermo tempo, não sei como é isso. sei que é SPORT CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL NESSE CARALHO!! título incontestável. cairam palmerda, interbarbi, vascu e timinho na ilha! quatro dos "maiores" times dessa merda. agora o maior é o sport! como diria o célebre renatão: "A GENTE VAI BRINCAR NESSE BRASILEIRO AGORA!!!", hehe. saudações rubro-negras, porra!!
bernardo, tu foi pé-quente aí na europa! ehhe.
SAUDAÇÕES RUBRO-NEGRAS!
----- Mensagem original ----
De: rodrigo cavalcanti
Para: Diogo Loureiro Jurema
Cc:
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008 16:15:05
Assunto: Re: PST
ontem eu acordei de 6h. quer dizer, acordei não, porque sequer dormi direito. passei a noite quase toda pensando no jogo... qual seria o time titular, de quanto o sport ia ganhar, quem ia fazer os gols do título, essas coisas. fui trabalhar e se eu fosse meu chefe, me demetia na hora.. fiquei a manhã toda conversando sobre o sport, acessando sites pra saber novidades sobre a final, enfim, entrando no clima da partida. logo quando cheguei em casa, fui tentar me acalmar (...), mas aconteceu o efeito inverso.. comecei a ficar mais nervoso ainda. o pessoal foi chegando lá em casa pra famosa prévia do sport e a gente não conseguia conversar sobre outra coisa que não fosse o sport club do recife, claro. deu a hora de ir pra ilha - 18h - e claro que fomos andando pra sentir a energia positiva da cidade, mais rubro-negra do que nunca. quando chegamos perto do estádio, em torno de 18h30, faltando mais de 3 horas pra partida, a massa rubro-negra já tomava conta de tudo. a ilha tava mais linda do que nunca.. claro que a gente foi logo tomar a breja da sorte, pra garantir o título mais ainda. quando deu 20h, nós entramos. daí em diante eu assisti a partida de futebol mais bonita que eu já vi na minha vida, simplesmente por que o sport ganhou de 2 x 0 e foi campeão da copa do brasil. quando o juiz apitou o final da partida, puta que pariu, só fiz gritar, cantar e beber mais ainda. agora to aqui no trabalho morrendo de dor de cabeça, rouco, com sono, passando mal, mas nunca gostei tanto de uma ressaca na minha vida!
SPORT porrraaaa!!!!!!111
quarta-feira, 16 de abril de 2008
A narrativa não sobrevive aos fatos
Como disse certa vez um jornalista americano, os fatos são subversivos. E são eles, os fatos, que estão, enfim, se encarregando de desmentir a falácia construída pela oposição conservadora e propagada pelos seus porta-vozes do oligopólio midiático.
A mentira repetida dizia que a política macro-econômica do Governo Lula seria mera continuação daquela implantada por seu antecessor.
Não sou economista, mas me considero um cara pragmático e lógico. E portanto sempre tive dificuldade em aceitar a versão oficial: como pode uma política ser igual se os resultados são diametralmente opostos?
Não pode. Houve continuidade, sim. Continuação, de jeito nenhum. A continuidade se percebe na prioridade da manutenção da estabilidade econômica: o combate à inflação, algo perverso que impedia os agentes econômicos de planejarem no longo prazo e punia severamente os mais pobres que não tinham dinheiro em banco.
Mas houve uma mudança fundamental. A base da estabilidade malanista eram as taxas de juros estratosféricas que inibiam drasticamente a demanda agregada (o consumo das pessoas e os investimentos) ao mesmo tempo em que atraía o capital especulativo, necessário para fechar a Conta do Balanço de Pagamentos. Sob Lula, as taxas de juros, embora em termos absolutos ainda bastante altas, sofreram queda constante e sistemática. A política macro-econômica conjugou-se com outras políticas como a transferência de renda e o micro-crédito. Hoje, o crescimento brasileiro está baseado no crescimento do mercado interno. É o consumo das famílias que vem dando sustentação à nossa economia. A ortodoxia do Banco Central com seus altos juros (embora decrescentes) é contrabalançada pelo viés keynesiano (intervencionista) das políticas que visam estimular a demanda agregada.
Todos os dados macro-econômicos melhoraram desde 2003. A relação dívida/PIB, quando FHC assumiu o poder, era de 35%. Lula herdou uma relação de quase 60%! Hoje, ela se encontra em torno de 44%. A inflação em 2002 já ultrapassava a casa dos dois dígitos. Desde então, tem se mantido em patamar estável. As reservas internacionais do país, em 2003, somavam algo como 35 bilhões de dólares – sem contar o empréstimo do FMI, esse valor caía para 16 bi. Hoje, beira os 200 bilhões: suficiente para quitarmos as dívidas externas pública e privada e ainda sobraria. O salário mínimo passou de 56 dólares em 2002 para 245 dólares em 2008 – 4,3 vezes maior.
Muita gente da oposição (à direita e à esquerda) costumava dizer que o Presidente Lula tinha muita sorte pois não havia passado por uma crise internacional. Esse discurso está indo por água abaixo. Tudo indica – como o acordo da Vale do Rio Doce com clientes japoneses, chineses e coreanos, ajustando o preço do minério brasileiro em mais de 60% - que o Brasil não sofrerá graves danos. O Investimento Externo Direto, que em Janeiro teve uma queda, continua chegando em ritmo saudável. E o que é mais importante: trata-se de investimentos de risco, de longo prazo, produtivo: os empresários internacionais estão apostando no crescimento do mercado interno.
Isso para não falar em termos qualitativos: os mais pobres e as regiões mais pobres vêm se desenvolvendo mais intensamente do que os setores e regiões mais ricos.
Enquanto isso, a oposição fazem contorção verbal no lugar de tentar articular um discurso alternativo, com o apoio sempre incondicional da imprensa oposicionista. Preferem lutar contra os fatos, construindo uma narrativa desfavorável ao governo. Resta saber até quando seguirão nessa trilha.
sábado, 15 de março de 2008
Mesa redonda virtual
Rodrigo:
berna, o campeonato tá muito fácil, pra variar. faz mais de um ano e meio que o sport não sabe o que é não liderar o pernambucano. em 2006 o sport liderou todo o segundo turno. em 2007, o sport liderou todo o campeonato. agora, em 2008, o sport é líder desde a primeira rodada.
hoje a ilha tava bonita.. luciano henrique reestreou e jogou bem. era o jogador que tava faltando no meio de campo do sport. acho que agora só falta entrosamento mesmo. o time tá muito bom, po. a gente só tá com medo de que aconteça a mesma coisa do ano passado, quando o sport foi bem no pernambucano e os jogadores acabaram sendo vendidos durante o brasileiro.
outra coisa que tá bonita no sport é a administração. tá totalmente mais profissional. em 2006, quando anunciaram o nome do presidente atual (milton bivar, irmão de luciano bivar, ex-presidente) , todo mundo achava que não ia mudar nada. mas, po, tudo tá começando a mudar.. boa parte da ilha já foi reformada (ampliação das cadeiras), muita coisa já tá sendo construída (por exemplo, a nova loja do sport, que dizem que vai ser tipo as lojas dos clubes europeus e deve gerar uma boa renda), o novo centro de treinamento já tem terreno certo (finalmente o sport vai ter divisão de base de novo), o mastro que vai ostentar a bandeira do sport tá sendo finalizado (a lenda é que vai poder ser visto de todos os pontos da cidade haha), novos patrocínios tão sendo fechados (a lotto, empresa italiana, eu acho, fechou um contrato pra produzir a nova camisa do sport. finalmente nos livramos da topper haha) e, o mais importante, o sport tá voltando a ser aquele time que todo jogador quer jogar.. paga o salário em dia, tem uma boa estrutura, tem tradição, etc. po, com isso tudo, a torcida tá voltando a lotar o estádio em qualquer jogo.
hoje foi 2x0.. agora vamos pra segunda fase do segundo turno como líderes (grande novidade!), mas nem me peça pra explicar o regulamento do campeonato, porque até agora eu não entendi. só sei que o sport tá ganhando tudo e vai ser campeão de novo (tri).
PST!
Diogo:
mas rapaz... minha rubro-negrice foi colocada em dúvidas?
o email abaixo de rodrigo mostra o que está ocorrendo no futebol brasileiro: os clubes estão buscando um investimento maior no marketing para obter maiores receitas e financiar seu departamento de futebol. de fato, a atual gestão tem se diferenciado das passadas nesse sentido, mas uma coisa terá que ser posta a prova, ainda. e é nesse ponto que o náutico encontra-se mais a frente do que o sport.
quando a atual gestão passar o bastão, quanto dessas inovações serão abraçadas pelos novos dirigentes? haverá continuidade daquilo que provadamente funcionou? no náutico, passaram-se alguns presidentes e a política de investimento na base continua; o projeto de profissionalização do futebol, contratando profissionais para tocar o departamento de futebol, por exemplo, também continua. ou seja, quero dizer que no sentido profissional da coisa o náutico está um pouco mais avançado que nosso leão. mesmo tendo uma realidade financeira mais apertada o que impede a diretoria alvi-rubra de executar outras idéias que o sport teria maior facilidade.
pelo sport, tudo!
abraços.
Mateus:
diogo, sinceramente, não consigo enxergar esse profissionalismo todo da barbi. pra mim futebol é resultado, então, vendo por aí, onde estão os resultados delas? ficar na primeira divisão?! isso não é título... pra mim, que sou rubro-negro, é obrigação, e quem não enxerga assim é porque torce prum time pequeno, caso das barbis. dá uma sacada nos fóruns delas, algo que faço de vez em quando pra me divertir, e tu não vai ver ninguém dando esse apoio total à diretoria etc. o que mais vejo é a galera pedindo a cabeça de todo mundo. de que adianta, então, esse suposto profissionalismo, esse investimento todo de base? lembrando que o náutico tinha um time misto na copa pernambuco do ano passado e perdeu pro time de juniores do sport. bom, posso não entender as nuances da parada, mas pra mim, como já disse, o que importa são os resultados, e acho que isso sim é consequência do profissionalismo profissional que rola no sport, que é um time que conquista coisas, heheh...
sacasse o basquete feminino? quase chega na final do brasileiro com uma folha salarial que é menor do que o salário de uma jogadora do ourinhos, time que desclassificou o sport. então, não ter dinheiro não é desculpa, tem que ter raça, determiniação, gana de vencer! conceitos que nem fazem sentido para as rosadas...
saudações rubro-negras!
Diogo:
mateus, falaste algo que vale, mesmo, ressaltar. é o investimento da atual gestão nos esportes amadores. tu mencionaste o basquete, mas o vôlei, apesar de perder todas, está disputando a superliga nacional. é é realmente do caralho!
temos que considerar que o sport não só tem uma estrutura muito superior à do náutico e ainda conta com o apoio do C-13. isso faz uma diferença enorme! e vamos lembrar que náutico e sport conquistaram a mesma coisa do brasileirão do ano passado: nada. ambos ficaram ali, no limbo. um time tem uma estrutura superior, mais dinheiro, mas no final ficou numa posição igual a um time pequeno, sem dinheiro, etc. a diferença disso é a gestão.
mas eu concordo contigo. a atual gestão mostra uma evolução significativa com relação às anteriores. mesmo de longe, percebo um pouco isso.
saudações!
Mateus:
no brasileiro o sport teve o time desmontado umas três vezes por causa do olho grande da galera em cima da gente, por isso a campanha frustrante. mas, vale lembrar, que ano passado o sport teve pelo menos dois títulos: o bicampeonato e a copa pernambuco. e a barbi?
PST!
Rodrigo:
acho que também vale lembrar que o sport é o único time grande de pernambuco que paga o salário dos funcionários do clube (incluindo jogadores, comissão técnica, etc) em dia. pelo que me lembro, o náutico, no ano passado, teve até greve dos jogadores do elenco profissional de futebol. claro que o náutico tem uma receita muito inferior a do sport, mas uma gestão responsável não se compromete com valores que não consegue pagar. lembrando que o elenco do náutico tinha uns 40 jogadores, ou seja, praticamente saia contratando jogador na doida. o sport fez isso em 2000, quando apostou que ia conseguir uma vaga na libertadores (e quase conseguiu duas vezes) pra pagar as dívidas que tinha feito durante o ano e acabou se fudendo. claro que a campanha de 2000 foi linda, mas foi meio irresponsável. em 2001, quando todo mundo pensava que o sport ia conseguir o hexa e tal, o clube teve que fazer um elenco fraco pra não gastar demais. acabou entrando numa crise que durou quase 5 anos.
em relação aos esportes amadores, não tem nem comparação, e isso desde há muito tempo. eu me lembro que na época que eu jogava os campeonatos pernambucanos de basquete (mirim, infantil, sub-18, essas coisas), o sport era um time muito superior aos outros, só brigava com o clube português, que na época tinha uma certa estrutura pra basquete e hóquei, hoje é só uma casa de shows. a superioridade do sport não era só no nível técnico dos jogadores, era no padrão que o time utilizava, as bolas que eles usavam no treino, existia uma comissão técnica, um médico em quadra, etc. e isso é um exemplo de divisão de base de esporte amador. bem, perdi minha linha de raciocínio, mas é isso aí, vou trabalhar haha
Diogo:
isso de excesso de jogador é foda. o sport, mesmo, ano passado teve umas trocas de técnico (gallo, giba, geninho) que compromete qualquer planejamento. o náutico não chega a ser nenhum santa cruz, mas é um time fudido, sem dinheiro para investir. por isso que termina não tendo um programa mais abrangente e eficiente de formação de jogador. o sport, não. é quase uma obrigação investir na base e em esportes amadores. é outro nível. e outra: o sport só é grande em Pernambuco, mesmo. não gosto de celso roth... acho que ele faltou com respeito ao sport quando declarou que o sport é time mediano. mexe com o orgulho, né? mas o sport é isso. mediano. tem um potencial do caralho, mas precisa de verba, precisa de profissionais pensando o dia-a-dia e o longo-prazo do clube, precisa fazer mais parcerias, ampliar o mercado... isso é que vai torná-lo grande. o sport tem uma base muito pequena de torcedor diante das possibilidades. era para termos torcedor na paraíba, em alagoas, no rio grande do norte... isso ficando nas redondezas, sem ir até o maranhão, piauí. isso é pensar grande. não achar que ganhar uma competição desgastada como o pernambucano é alguma coisa. aí, em seguida, perde os melhores jogadores e briga para não cair no brasileirão. porque ilude-se aquele que o sport brigou por vaga na sulamericana... afinal, o time livrou-se do rebaixamente definitivamente nas últimas rodadas do campeonato.
mas eu acho que o sport está em ascensão no sentido de que tem aplicado melhor seus recursos (base, esportes amadores, ações promocionais, parceiros interessantes como a Lotto...). e aí está em vantagem em cima do náutico justamente porque tem mais estrutura para isso.
mas vamos que vamos... que a profecia de vocês, de que 2008 será um excelente ano, se concretize.
abraços!
Mateus:
realmente, diogo, o sport é um time mediano sim. é fanatismo demais achar que é grande, apesar de algumas conquistas que o colocam no hall dos grandes , como o brasileiro de 87. mas, enfim, é como tu tás dizendo, as coisas tão mudando, o raciocínio é sim a longo prazo, os investimentos são melhor planejados agora, mesmo que alguns não dêem resultados. mas acho que tudo na vida é assim, tentativa e erro. hoje em dia pode-se dizer que o sport erra menos, vide os resultados que já citamos nos outros emails. quanto ao fator torcerdor rolou uma pesquisa que deu resultados engraçados, o sport inclusive fez um outdoor pra tirar onda. em pernambuco, por exemplo, a segunda maior torcida não é nem do santinha nem da barbi, é a do corinthians, em terceiro lugar parece que vem a do flamengo e só depois as duas coitadas. acho que isso já é um demonstrativo da "grandeza" do sport nesse aspecto, já que a gente sabe que quem acaba definindo quem torce pra quem é a globo, transmitindo pro interior os jogos de rio e são paulo. isso tá mudando também. é... acho que é isso. ah! só lembrando que o sport lutou sim pela sul-americana no brasileirão passado: na última rodada bastava uma vitória simples em cima do juventude, o que não ocorreu. do rebaixamento o sport acho que já tinha se livrado muito antes, já que a luta entre corinthians e goiás pra ver quem caía começou cedo, tipo umas cinco, seis rodadas antes de acabar o campeonato, isso com a barbi ali, de olho também no rebaixamento, algo que desse ano elas não escapam!
PST!
domingo, 2 de março de 2008
O maior escândalo dos últimos tempos da última semana
No mundo bizarro da visão daqueles que tentam fabricar a narrativa oficial – a despeito da insistência dos fatos em boicotá-la – o que era para ser uma notícia positiva – o aumento da transparência do poder público – se transforma, incrivelmente, no maior escândalo dos últimos tempos da última semana – o caso dos cartões corporativos. Alguns ministérios e governos estaduais passaram incólumes da recente sanha midiática: os que ainda usam formas arcaicas de pagamentos. Outras instituições, como o Congresso, nem se dão ao trabalho de destrinchar e expor ao escrutínio público os seus gastos. Esse, sim, é o verdadeiro escândalo, não? Seria, no mundo real. No mundo bizarro em que habitam a oposição e seus trombones da imprensa, parace que moralidade pública mesmo é o uso das insondáveis verbas de suprimento... Ah, mas não nos iludamos. Esse é o pior escândalo de que se tem notícia... até o próximo – a fabriqueta sensacionalista não pára nunca! A própria efemeridade dos assim chamados “escândalos” indica a fragilidade e o oportunismo. Mas isso, no mundo real, claro.
A tática da oposição parece bizarra, mas só à primeira vista, sob uma ótica lógica (do mundo real). Sob a ótica bizarra que lhe é característica, faz sentido. A oposição conservadora não foi capaz de praticar um oposicionismo inteligente, construtivo, propositivo. Não soube como responder e reagir às políticas acertadas, exitosas do governo petista. Talvez isso tenha sido resultado do fato de que esse cenário de sucesso não fazia parte do horizonte de possibilidades oferecido pela ideologia elitista e preconceituosa, que não via como capaz um homem do povo à frente de um governo popular. Diante da total falta de idéia de como se comportar em face de um bom governo de esquerda, a oposição recorre ao único expediente que lhes parece possível de provocar algum efeito: impedir que o governo leve adiante suas políticas públicas eficientes. Só desse modo a professia se realizará, por fim: o Governo Lula se torna incompetente... tudo bem que por ação explícita da própria oposição! Mas aí a imprensa engajada se encarrega de construir uma narrativa conveniente!
Nesse sentido, os iluminados do quilate de Míriam Leitão têm em 2008 o argumento perfeito, irrefutável: é um ano eleitoral. Logo, toda e qualquer ação será eleitoreira. Qualquer ação do governo, frise-se. E do governo federal. Porque dos governos estaduais de SP e MG e da oposição, não: todas as suas ações são em cristalina e genuina defesa do interesse comum e da moralidade pública, bem entendido! Só o governo, e ninguém mais, é movido por interesses eleitoreiros! Quando Lula lança um programa, é eleitoreiro. Quando a oposição o questiona, não. Quando Lula critica o Judiciário, é antidemocrático. Quando o presidente do TSE critica o Executivo e instiga a oposição, faz parte do jogo. Tudo muito justo, tudo muito equilibrado!
Aliás, o Youtube é uma coisa fantástica por tantas razões. Uma delas é que, num país em que a classe média (mal) instruída e pretensamente culta, e irritantemente arrogante, tão avessa ao debate de idéias e tão intolerante em relação à opinião divergente, abre-se um espaço de vazão que revela de forma clara e inequívoca, desnudada, a visão de mundo de certos setores da sociedade. Veja por exemplo esse comentário do usário de YouTube diogodimambro:
“Quem defende o lula devia calar a boca e pensar mais, ele foi eleito a 1 vez em 2002 por um povo q ja sabia q ele era analfabeto mas confiando nas mintiras q ele prometia o elegeu msm assim! Ele comanda a maioria pobre no brasil dando comida e isso é bom, mas ele fode os pequenos empresários por exemplo que estão constantimente quebrando...ele só quer beneficiar a maioria para se manter na presidência, só quem é otário q num ve, ele fode os autônomos que são uma imensa porcentagem do brasil”
Muito revelador de um determinado modo de ver as coisas. Veja bem, o “problema” do Governo Lula é que por meio da montagem e institucionalização de uma rede de segurança social, esse princípio de Estado do Bem-Estar Social, algo civilizador portanto, ele estaria atendendo aos interesses da maioria da população, o que está na essência da democracia, por mero interesse eleitoreiro! Lendo algo assim, entendo melhor do que se lesse mil análises de algum fodão no Aliás! do Estadão de domingo sobre o porquê de a oposição fazer essa política tão pequena, tão mesquinha: ela representa fielmente a visão de mundo de um setor minoritário, porém expressivo e socialmente mais importante, da sociedade brasileira.
Pena que o debate se dê em nível tão raso. E tão desinformado. Outra coisa que a Internet expõe: como o brasileiro classe-média (que tem acesso à Internet...) é pouco curioso. A internet brasileira não é uma boa fonte de informação, de reflexão e debate. É um ponto de entretenimento, em primeiríssimo lugar. Nem falo do fato de sermos o país emergente de maior gasto per capta com pornografia virtual. Seria normal, se não se restringisse a isso. Pegue, por exemplo, o YouTube. Facilmente você encontrará a abertura do primeiro Jornal Nacional, de 1969. Ou trechos da melhor versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, aquela da Globo lá dos fins dos anos 70, princípios dos 80. Ou Alceu cantando no Cassino do Chacrinha, em 1983. Ou o debate Lula-Collor de 89. Ou, mais recentemente, as maiores gafes e os erros gramaticais cometidos pelo Presidente Lula. Ou uma montagem muito ischperrrta tirando um sarro maneiro da cara do Presidente Lula. Mas... a matéria do Jornal Nacional sobre a discussão entre Lula e Marco Aurélio, por exemplo, eu não consegui encontrar de jeito nenhum! A entrevista com o Embaixador Abdenur na GloboNews, eu nem me dei ao trabalho de procurar no YouTube.
Isso não é um problema intrínseco ao YouTube. O canal público espanhol, assim como a Aljazeera, O NY Times, a CBS... todos têm seus canais no site. Para não mencioanr os posts informais colocados on-line espontaneamente. Os 20 debates das primárias democratas estão todos na íntegra, disponíveis no YouTube. Com um debate plural e heterogêneo – às vezes tosco e raso, outras rico e profícuo – que sempre acompanha os vídeos nos comentários. Trata-se de um reflexo da preguiça mental da classe-média brasileira, que não gosta de ler: folheia a Veja, assiste ao JN e se dar por satisfeita. Não gosta de ler, nem muito menos de pensar (como dizia um professor meu: "pensar dói"). Aceita tudo facilmente: quantos E-mails que vão salvar a vida da menina morrendo de câncer em um hospital longíquo você já recebeu, com aquele indefectível apelo emocionado? É uma caricatura? Talvez. Mas a classe-média é muito caricaturável. Ou como você me explica que ainda tenha quem ache Jô Soares engraçado e sofisticado? (Só porque ele fala francês, cacete!)
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Pingo nos is
Auditoria da dívida externa – principalmente quando ela já se encontra praticamente paga, sobretudo aquela de pior qualidade – e diminuição da carga horária são bandeiras, justamente, da esquerda antiga, fossilizada. As esquerdas modernas, como a inglesa ou a dinamarquesa ou a espanhola, são aquelas justamente que aceitam a flexibilidade. Lá onde insistem numa visão do mundo do trabalho do tempo das máquinas, e não da era da informação, é onde a esquerda vai se ostracilizando – como na França e na Alemanha. A reforma da máquina pública, por aqui, sofre resistência exatamente da velha esquerda, que mistura interesses corporativos com coletivos, representada no Psol (aliás, a dissidência que levou à sua criação foi a votação da... Reforma da Previdência!). Já a Reforma Agrária, o PT não abandonou a bandeira. Apenas trata-se de tema para o qual a correlação de forças na sociedade não se encontra favorável. Os ruralistas têm talvez a mais forte e atuante bancada no Congresso Nacional...
Na verdade, o governo Lula é mais progressista precisamente naqueles setores onde o PT detém o poder – as políticas social, cultural, setoriais (da mulher, do negro, GTBLS ...), ambiental, externa, educacional, da justiça...
Dizer que o PT não seria de esquerda por acusações de roubo é uma visão estranha, que eu não entendo, do que é ser esquerdista. Acho que se trata de uma confusão entre senso ético e visão de mundo. Tem muito direitista honesto e muito esquerdista escroto, oras! Agora, o que distingue o governo do PT é que houve, de fato, um aumento inequívoco da transparência (como testemunham o caso dos cartões de crédito e a autonomia do Procurador-Geral da República, por exemplo) e da fiscalização (PF).
O questionamento do Juros, como se fosse algo necessariamente escuso, é uma visão ideologicamente enviesada. O fato é que existem argumentos técnicos para que a taxa esteja nesse nível alto, embora numa linha decrescente. E os dados macro-econômicos e a relativa imunidade brasileira à crise internacional de algum modo atestam o êxito da política monetária. A qual, aliás, é uma das áreas que nunca esteve sob os auspícios do PT...
O PT e o PSDB são muito diferentes em aspectos essenciais. Trata-se de uma narrativa possível a suposta semelhança entre os dois, embora eu ainda esteja para ser convencido. Para começar, a composição sociológica dos dois não poderia ser mais diferentes. A origem, tampouco. A organização partidária, nem se fala. A abertura aos movimentos sociais, evidenciada em várias áreas do governo federal, é outro sinal distintivo...
Enfim, a visão de certos setores da esquerda brasileira ainda não entenderam as mudanças por que vem passando o mundo nos últimos 20 anos e ficam presos a expectativas e visões há tempos ultrapassadas...
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Falando de cinema
Já que os Oscars ocorrem agora, posto aqui uma compilação de uma troca de e-mails com Noé sobre o cinema americano... São as colocações dele, muito interessantes:
Acredito que a maior contribuição dos Estados Unidos da América ao mundo tenha sido a indústria do cinema.
Através dela, toda uma visão de mundo e uma "way of life" foram repassadas, num primeiro momento ao seu próprio mercado consumidor e em seguida ao resto do mundo. Só para exemplificar: o filme de caubói foi um gênero criado por esta indústria que recriou a própria história do país e os seus valores. Se por um lado filmes como "matar ou morrer" ou "os imperdoáveis" abordam questões universais como a solidariedade humana, "rastros de ódio" e "no tempo das diligências" repassou para uma massa ignara o lado preconceituoso desta civilização para com sua população nativa. (Estou citando aqui apenas Grandes Clássicos). E o filme de guerra, que criou a persona coletiva de "emissário da justiça e da liberdade"?
Well... ao longo do século XX esta indústria evoluiu para o que hoje chama-se "entertainment", onde se insere a mídia... responsável, ali, pelo segundo maior ingresso de divisas, se não me engano. Este produto assim como um copo de leite quente, tem uma nata e o resto do leite. A grande maioria joga fora a nata e bebe o leite. Alguns bebem tudo, indiferentemente. Alguns poucos separam a nata e vão juntando até poder batê-la com sal e fazer um creme delicioso para passar no pão, fazer biscoitos ou preparar um bacalhau.
A maior parte da produção do "entertainment"/ mídia, você há de concordar, é um lixo ( talk shows, reality shows, sem falar na imprensa e filmes de tv), responsável pela formação de corações e mentes do seu mercado interno. Ali, se vêm refletidos e, ato contínuo, mimetizam, os Dicks, Harrys e Toms das profundas do Kansas, Tallahassee e Wyoming. Uma população coletivamente jeca, sim ! E, conservadora, se vê como o umbigo do mundo. E tome tiros em Columbine.
Quanto à "primeira democracia do mundo", temo que você esteja sendo envenenado pelo leite daquele copo do "entertainment", e aí reside o meu temor acerca da sua jovem cabecinha !!! e daí esta diatribe (crítica acerba rs rs rs).
Primeira, numeral ordinal ? ... essa forma de governo vem sendo aperfeiçoada neste mundo de meu deus através dos tempos desde os gregos, que cunharam o termo, "n'est-ce pas"? depois outras sociedades, de uma forma ou de outra foram dando forma, trabalhando esta idéia, das reduções guaranís do Paraguai aos teóricos franceses que deram a Thomas Jefferson o caminho das pedras para o dever de casa que foi a sua constituição.
Primeira como atributo de qualidade? ... "je m'en doute". Alguns países europeus estão bem mais avançados neste processo, você deve saber melhor do que eu. E para uma nação que enquanto vendia este rótulo, via mídia, promovia McCarthy, o preconceito racial, a guerra do Vietnã, a desestabilização de governos ( o nosso inclusive !). Isso sem falar das suas próprias mazelas internas como a socal security e coisa e tal.
Há estadistas como FDR, ok. Mas lembre que o contexto histórico da sua chegada ao poder exigia um negociador,"um dealer" que batesse forte e defendesse os interesses de um movimento sindical histórico ( de pelo menos 40 anos e tido como "subversivo") que quando , no início dos anos 30, fez uma marcha a Washington, foi recebida a bala na frente da Casa Branca.
Já Eisenhower... não foi com ele que a ponta do prego da indústria armamentista foi virada? Naquele contexto de guerra fria? (Coréia...)
E hoje, enquanto nós temos Lula... eles têm George W.
"the world is a circle
without a beginning
and nobody knows where it really ends
ev'rything depends on where you
are in the circle
that's spinning around
half of the time
we are upside down "
De resto, como já havia dito, concordo que Obama pode ser o Lula do segundo decênio, depois que uma mulher, branca, avance no grosso da faxina que aqui em casa foi feita por um doutor sociólogo e seus companheiros. E assim outro ciclo se inicia, para a maior glória da História.
We've got to the point. Nada é essencialmente branco nem absolutamente preto. Por isso me assombrou a hiperbólica expressão "primeira democracia do mundo". Foi isso que me empurrou à provocação.
Primeiro: a maior contribuição ( talvez hiperbolicamente também) não foi o cinema... mas a indústria do cinema e o que daí decorre, com a conseqüente formação de uma rede econômica, de uma cadeia produtiva.
A criação de algumas das maiores obras-primas do cinema americano “didn't really meant to...” passaram para a eternidade pela competência de diretores e produtores que deram à massa o valor do ingresso que pagavam: alimento para a auto-estima e para escapar da realidade. (Vide “Casablanca” e “Cantando na chuva”). Uma indústria que tinha mais que agradar ao mercado e atender à demanda. Mostrar que a vida poderia ser bela e não aquela merda cotidiana (“A rosa púrpura do Cairo”), para recolher as divisas e remunerar os acionistas.
Já te disse pra ler "the day of the locust", de Nathaniel West, cuja ação decorre em LA, nos arounds de Hollywood, justamente naquele período pré-FDR. A periferia sempre vai existir e interagir com o centro e se fuder. Pelo menos a curto prazo... é da natureza. Mas Hollywood fez todo jeca acreditar que era lindo e poderoso... até eu... nas matinês do Coliseu.
Westerns, assim como os filmes de guerra, foi uma invenção e uma contribuição...(vide “As cartas de Iwo Jima") que é um sinal do amadurecimento de elementos diferenciados dentro daquele sistema. ( Fico imaginando quem Clint vai apoiar...)
Musicais, contribuição inestimável e intangível à humanidade.
Por que surgiu blues... sapateado...? Vide "Cotton club" de Copolla... foram os crioulos, brother !!! Que se fuderam muito tempo e não podiam nem ver o que os irmãos do palco estavam inventando... niggers were not welcome.... pensa que Billie Holiday tinha lá o respeito que a sua contemporânea "la môme" tinha, "chez elle"? Pas du tout !!!
O pioneirismo, não só não nego, como louvo! Agora o que não engulo é a "primeira democracia do mundo".
E viva Frank Lloyd Wright, Louis Kahn, Scott Fitzgerald, Hemingway, Faulkner, Steinbeck, Tenessee Williams, Busby Berkeley, Gene Kelly, Cole Porter, Gershwin, Ella Fitzgerald, Louis, e um mundo de americanos que só fizeram acrescentar à minha felicidade nesta passagem pela materialidade.
Quanto a sua derradeira frase: "se o cara for bom..." perdoe-me... está mais pra "new york, new york" :" if I can make it there I'll make it anywhere"
A abertura que você fala não é tão escancarada assim... e não apenas lá. Lá, como aqui, como anywhere, a coisa está mais pra o esquema: ajoelhou tem que rezar.
Com todo respeito, tenho dito, Noé.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
O PT e a esquerda moderna mundial




O Partido dos Trabalhadores é o maior partido de esquerda da América Latina porque fez governos locais populares, democráticos, criativos – exitosos, em suma. E porque soube adaptar-se através do tempo, reconhecendo a economia de mercado e procurando mitigar seus efeitos sociais "colaterais", bem como fazer a transição de partido de oposição para governista. Ao invés de estancar, evoluiu e incorporou as mudanças por que passou o mundo nas últimas duas décadas. Espontaneamente, traçou o caminho da social-democracia européia. Seguiu, assim, os passos da esquerda moderna do mundo inteiro (sendo modelo inclusive nas democracias desenvolvidas, veja aqui).
O Partido Socialista Espanhol (PSOE) de González que reformou a economia nos anos 1980 – lançando as bases para o atual estágio econômico do país – é o mesmo PSOE de Zapatero que, nos anos 2000, faz as reformas sociais.
O new Labour de Blair, ao renovar sua visão de mundo, aceitando a economia de mercado, ascendeu ao poder depois de décadas de ostracismo, e promoveu importantes avanços na saúde e educação pública da Inglaterra. Corrigiu, assim, o liberalismo econômico exacerbado do tchaterismo - não sem antes tê-lo aceito.
O Partido Trabalhista australiano tirou o premiê incubente – feito inédito desde 1929! - depois de 11 anos de domínio conservador, saindo, assim, do ostracismo, graças não só às promessas progressistas (retirada das tropas do Iraque, adesão ao Protocolo de Quioto), mas também à visão moderna e “market-friendly” de seu líder, o novo premiê Kevin Rudd.
Onde a esquerda engessou-se, não se renovou, tornou-se retrógrada, ela encontra-se à margem – como na França – ou no extremo – como na Venezuela. É um índice de maturidade política do nosso povo o fato de que uma e outra esquerda – a retrógrada e a radical – estarem restritas a pequenos setores residuais. Não significa, frise-se, que o partido de esquerda moderna se deixe ser cooptado. Não se trata disso, mas sim de reconhcer uma dada realidade – e prevalência da economia de mercado – e fazer melhor do que a direita. O Bolsa-família, como destacado em recente matéria na Economist (veja aqui), é claro exemplo desse avanço. A esquerda moderna aperfeiçoa o capitalismo. Onde ela não o faz, a direita termina por se tornar a força progressista, como é o caso de Sarkozy na França.
À medida que saiu do gueto, movimentando-se em direção ao centro do espectro político, o PT foi paulatinamente deixando de ser um partido de setores organizados específicos, corporativo, para transformar-se num partido de massas. Foi desse contato com o eleitorado que, inconscientemente quiçá, o partido moderou-se, tornou-se social-democrata. Isso porque, ao seguir a vontade do eleitorado – ao mesmo tempo em que o influenciava, incluindo temas novos na agenda política nacional -, cuja índole é essencialmente moderada, avessa a extremismos e conflitos, mais tendente à acomodação dos interesses, o partido moldou-se adequadamente. Foram vinte anos de aprendizado que levaram-no a chegar ao poder maduro, evitando os erros da esquerda fossilizada (Jospin na França) ou radical (Chávez na Venezuela). Essa é a beleza do regime democrático: o seu poder moderador.
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Aljazeera
Quase todo mundo já ouviu falar da Aljazeera, mas quase ninguém assistiu. No Brasil é impossível ter acesso ao canal, pois ele não está disponível no cardápio oferecido pelo monopólio de TV por assinatura (SKY e DirecTV pertencem ambas ao mesmo grupo... o NewsCorp, do ultra-consevador australiano-americano Rupert Murdoch, à qual também pertence a famigerada FoxNews). Melhor dizendo: era impossível. Graças ao glorioso YouTube, a rede árabe de notícias, em sua versão de língua inglesa, está disponível para qualquer pessoa que tenha acesso à Internet. Foi mal, Murdoch. Quem quiser seguir a programação da rede, vá aqui.
Vale realmente a pena. Não há nada semelhante, em qualidade e em variedade. A abordagem é plural, há espaço para os diferentes pontos de vista, sob uma perspectiva de fato global. Um caso exemplar é o programa "Listening Post", sobre a cobertura da imprensa internacional na semana antecedente: veja aqui - parte 1 e parte 2.
Não surpreende, e ilustra bem as diferenças da visão empresarial de cada uma, que toda a programação de todas as redes de TV sob o guarda-chuva das empresas de Murdoch sejam proibidas de ser veiculadas no YouTube... E nem vale a pena comparar o jornalismo nativo com o da Aljazeera... não dá.
sábado, 12 de janeiro de 2008
O documentário “Midnight movies: from the margin to the mainstream” é antes de tudo um registro histórico de uma época – final dos anos 60, decorrer dos 70 – e as transformações da indústria cultural em função do contexto sócio-econômico, dos conflitos políticos e do avanço tecnológico nela ocorridos.
É o fim de um período em que um moviemnto de vanguarda, independete, seja formal, seja substancialmente, tinha que ralar muito até ser incorporado ou aceito no “sistema”. Não havia youtube, MP3 ou I-Pod – ao contrário, prevalecia forte centralização social, econômica, política, cultural. Velhos tempos não tão distantes.
Os paralelos possíveis com o Brasil contemporâneo atestam a riqueza desse filme. Me fez pensar, particularmente, em como o fosso social brasileiro reflete-se em nossa produção áudio-visual em geral, e em nosso cinema em particular.
O típico cinesasta tupiniquim é de classe-média ou alta, faz filmes para os seus pares, bancados pelo dinheiro público (o meu, o seu... o deles). As classes pobres não têm acesso a cultura cinematográfica (“capital cultural”, bagagem cultural), o que os impede tanto de apreciar esse tipo de expressão, quanto, sobretudo, de tornarem-se realizadores eles próprios. Ou seja, não temos cineastas de origem popular ou que tenha desenvolvido/dominado uma linguagem cinematográfica popular tipicamente brasileira (assim como as novelas têm sido historicamente). Não há diálogo. Quando isso ocorre, como MV Bill, é na forma da denúncia social. Falta diálogo intersocial, ou o há de modo assimétrico.
Os poucos casos exitosos tratam justamente, de alguma forma, da fratura social: “Cidade de Deus”, “Dois filhos de Francisco”, “Carandiru”, “Tropa de Elite”, a série “Cidade dos Homens”, a novela “Vidas opostas” da Record. Conflitos sociais – eis a característica básica que define o país, e, igualmente, a nossa restrita produção áudio-visual reakmente popular. Talvez seja esse tipo de cinema que fazemos melhor porque é o mais original, o mais ligado ao Brasil real – e não é à tôa que funcionam inclusive comercialmente. Filmes de violência (sendo esta sempre ligada às desigualdades sociais) está para a cinematografia nacional assim como o biquini na moda, as havaianas nos calçados e a bossa nova na música: legitimamente brasileiro, é o que nos distingue no mundo, é nossa contribuição original para a humanidade.
Ao invés de lamentar-se por mais verbas do Estado – sempre ele, essa puta velha de quem todos querem se aproveitar – precisamos refletir mais a fundo o porquê da falta de público – e conseqüentemente de autonomia – do cinema nacional. Distribuir grana é a melhor solução? Uma avaliação seria necessária, mas a julgar pelo fraco desempenho das bilheterias, não estamos na direção correta. A história das “midnight movie sessions” mostra uma solução de mercado para o problema da falta de distribuição. Mas isso numa sociedade com cultura de cinema e dinheiro para gastar. Que tipo de política seria mais eficaz aqui?
Os setores que pensam cultura no país tendem a espelhar-se no caso francês, defendendo a intervenção estatal na defesa da cultura nacional. O modelo brasileiro de incentivos fiscais ao cinema fracassou em torná-lo popular e auto-sustentável. Uma alternativa deve ser pensada. Na Índia, um país cuja realidade social é muito mais próxima da nossa do que a francesa, a indústria do cinema floresceu. “Bollywood” é um fenômeno de massa. Lá, os filmes são de fato populares (veja o trecho de um típico filme indiano, ao final do texto). No entanto, nos debates sobre o tema, falamos da França mas ignoramos por completo o exemplo indiano. Eu também desconheço como se desenvolveu o cinema indiano até chegar ao que é hoje, mas sei que, lá, há salas de exibição inclusive nos bairros pobres. Para o Brasil, penso em algo que mexa nas duas pontas – na distribuição, com mais salas de bairros, de um lado, e na formação de público, com a descentralização de “cinemas da Fundaj”, do outro.
Cinema popular indiano, um exemplo pro Brasil:
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Nesse Papai Noel aí, eu acredito!
Eu nunca engoli bem esse negócio de Natal. Desde pequeno. Lembro-me de uma árvore que, na terceira série, eu e meus coleguinhas tivemos que decorar para a data festiva:
-- Tia Rejane, por que algodão?
-- É neve.
Como assim?! Que porra é neve? Como, se aqui está fazendo 30 graus! E pelo que aprendi no Catecismo, não havia neve nem pinheiros na terra de Jesus.
Muito provavelmente, eu não elaborei todos esses sofisticados questionamentos naquele momento, aos oito anos de idade. Mas o estranhamento, sim, já estava lá.
Todo esse espírito natalino, no Brasil em geral, e no Nordeste em particular, é totalmente descontextualizado, fora de lugar – é falso, artificial.
Neve, pinheiro, renas, trenós, chaminés, “jingle bells”... nada disso nos diz respeito, nada disso nos pertence, nada disso nos é original e por isso é tudo tão inadequado. Por que temos que macaquear o que vem de fora? Que vergonha é essa de nos assumirmos? Que tipo de colonização mental revela esse comportamento mimético acrítico? O mais lamentável é que não é por falta de matéria-prima. No Brasil-real, as classes populares têm os autos natalinos – como o cavalo marinho, o pastoril...
Tome Papai Noel. Ele não faz parte do imaginário popular (não fazia; agora, até faz); e, para que fizesse, seria necessário uma nova idumentária condizente com a nossa terra, para início de conversa! Uma crítica construtiva:
Aliás, todo o “clima natalino” precisaria passar por um banho de loja, para se adequar. Tudo isso para não mencionar que o significado real da festa – o nascimento de Jesus – se perde (embora isso não ocorra nos autos natalinos populares!) em detrimento do aspecto meramente comercial, consumista – apesar e a despeito de toda a retórica paz e amor tão comum.
Essa história toda apenas comprova um dos traços marcantes da sociedade brasileira – ou, pelo menos, daquele setor “que conta”, o Brasil-oficial: a hipocrisia. Como sempre, não se assume o discurso verdadeiro, escondendo-o por trás de uma retórica “bacana”. Nem nos assumimos como consumistas – como os americanos, por exemplo; nem nos reconhecemos como cristãos praticantes – a exemplo dos muçulmanos que realizam o Rajj, agora. Usamos a retórica cristã para vender...