sábado, 20 de dezembro de 2008

E la nave va...


“Mi dicono: ‘fá la cronaca, raconta quello che succede!’

E chi lo sa quello che succede?”

 

(“Me disseram: ‘faça a crônica, conte o que aconteceu!’

E quem sabe o que aconteceu?”).

 

O jornalista, in “E la nave va”, F. Fellini


Tem sido interessantíssimo observar a desconstrução por que vem passando a narrativa oficiosa em relação aos supostos grampos do STF. A versão de Gilmar Mendes/Veja, endossada automaticamente pelas grandes empresas de comunicação, começa rapidamente a ir por terra. Boa parte desse desmonte se deve ao trabalho dos principais blogueiros do país (aqui, aqui ou aqui, por exemplo). Aos poucos, desmonta-se a farsa. A primeira narrativa era a de que a Abin teria grampeado o STF. Assim, a saída de cena de Paulo Lacerda, o então diretor-geral do órgão de serviço secreto brasileiro, seria imprescindível. A Veja divulgou o suposto grampo, a conversa teoricamente gravada entre Gilmar Mendes e o senador pefelista Demóstenes Torres. 

A gravação do suposto grampo nunca apareceu. A Veja nunca divulgou a fonte da transcrição. O novo relatório da Polícia Federal conclui que não houve grampo no STF - leia aqui. Ou a Veja e o presidente do STF foram ingênuos e caíram numa armação montada por alguém (quem seria? Aqui já há uma hipótese). Ou então a armação foi montada pela própria dupla GM-Veja (a dúvida, nesse caso, seria com que intuito o teriam feito). Uma coisa é certa: a narrativa mudou substancial e definitivamente.

O processo de construção de uma narrativa única que Veja/GM tentou montar agora é muito semelhante ao que ocorreu durante o caso do suposto "mensalão". Ali, como aqui, jogou-se uma teoria (narrativa), e toda a grande imprensa corporativa foi a reboque. A diferença, agora, são, basicamente, duas. Uma, é que, realmente, havia irregularidades no caso do suposto mensalão (embora não exatamente como a narrativa oficial queria nos fazer crer). Outra, é que hoje há uma imprensa mais independente (ou pelo menos mais plural) - em boa parte localizada na Internet - e que tem feito um trabalho fantástico de questionar e desmontar a narrativa oficial. Isso é uma mudança recente e incrível. 

Talvez, olhando para trás daqui a alguns anos, possamos identificar nesse período que vivemos agora como sendo o momento de inflexão, quando o pensamento único deixa de ser hegemônico. Apenas três anos atrás, provavelmente a Veja e Gilmar Mendes teriam conseguido passar incólumes. Enganar a patuléia, no Brasil, está destarte mais difícil. Aos trancos e barrancos, avançamos...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mexe, mexe, mexe, mexe

Mexe, mexe, mexe 
Mexe, mexe, mexe 
Por que a arte de mexer vem desde os tempos da pedra
lascada
Todo mundo mexia, todo mundo requebrava
Todo mundo sacudia, todo mundo balançava
E cantava

Mexe, mexe, mexe, mexe
mexe, mexe, mexe, mexe
("Mexe mexe", mundo livre s/a)


Parece até que essa música da mundo livre s/a é o melô do sistema partidário brasileiro... É uma piada de mau gosto esses nossos representantes... Hoje, amanhecemos com a notícia de que a Comissão de Constituição e Justiça aprovou mudanças no nosso sistema político - dentre as quais, as mais importantes são o fim da reeleição e a extensão dos mandatos de 4 para 5 anos.

Sem nem entrar no mérito da questão... pelo amor de Deus, vamos brincar de deixar alguma coisa se institucionalizar, hein? Que tal isso, pra variar? O que dá mais raiva é a motivação por trás dessas mudanças. Antes fosse aquele jeito brasileiro de ir resolvendo os problemas no improviso, por meio de tentativa e erro... O lance é que é tudo para atender interesses particulares! Em 1997, a reeleição foi votada a toque de caixa, para atender ao grupo político do momento - a coligação em torno de FHC. Agora, para atender a outros grupos, que não querem ficar esperando na fila da sucessão, vão acabar com algo que só agora os eleitores brasileiros estavam começando a se acostumar.

Francamente! E tudo isso a despeito dos mesmos eleitores que essa corja diz representar! Ora, se formos ver a percentagem de prefeitos reeleitos nesse ano (67%, segundo este site), é justo concluir que a sociedade brasileira aprova o instituto da reeleição. Entre os cientistas políticos, há bons argumentos a favor e contra tal mecanismo. O que fica claro é que mais essa mudança não vem com o intuito de aperfeiçoar o sistema político brasileiro, tornando-o mais claro e representativo... Vem, isso sim, apenas para fazer a fila andar. Afinal, Aécio é novo mas não quer esperar 8 anos até que possa suceder ao Serra... e por aí vai. Enquanto isso, a reforma política de verdade, substancial... jaz em alguma gaveta do Congresso...

Aproveito para fazer uma defesa enfática da reeleição. Em primeiro lugar, o povo aprova. Além disso, é um mecanismo eficiente de beneficiar o bom gestor e punir o mau, de modo democrático. Aquele gestor que, aos olhos do eleitorado, não fez um bom trabalho, vai para casa depois de apenas 4 anos de mandato. Aquele que tiver seu trabalho aprovado pela população, continua. O argumento de que a reeleição favorece quem está no poder é falha em mais de um sentido. Há o ônus de se estar no poder - todos os problemas da cidade podem ser atribuídos ao incumbente. Por outro lado, nada impede que a máquina (ou o "bônus" do poder) seja usado em favor de um aliado do mandatário incumbente. A história recente mostra que não há nada garantido. Aqui mesmo, em 2000, o candidato incumbente a reeleição, Roberto Magalhães, competiu com apoio dos governos estadual, federal, do poder judiciário local e da imprensa - e perdeu. Marta Suplicy, em 2004, também foi incapaz de se reeleger, assim como todos os governadores do Rio Grande Sul desde que a reeleição foi adotada.

Mas minha raiva nem é com o fato de que algo bom esteja em vias de se acabar... mas é a motivação que move os deputados federais. Como sempre, em nosso país, interesses particulares prevalecem em detrimento do interesse público. Lastimável. Triste do país que tem essa classe política. Galera, pelo menos disfarcem! Finjam algo remotamente parecido com um debate público! Pelo menos isso, pelo mínimo de respeito ao povo, façam um teatrinho! 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Notícia e contexto

Notícia não é só o fato. Notícia é o fato inserido num contexto. O fato, por si só, não tem significado. Para que tenha sentido, é preciso que faça parte de uma narrativa. A narrativa pode até estar errada, ser manipulada, mas só assim o fato isolado passa a ter sentido.

O incidente recente dos sapatos jogados contra o presidente W. Bush, no Iraque, proporcionam um exemplo bastante eloqüente de como um mesmo "fato" pode ser abordado de maneiras diferentes. A reportagem da CNN, embora mais longa, é menos informativa e menos contextualizada historicamente. A reportagem da Al Jazeera, por outro lado, vai até o começo da guerra, mostra outros casos que explicam a ofensa que o sapato representa na cultura árabe.

Pena que não tenhamos tanto material jornalístico disponível no YouTube brasileiro... Comparações desse tipo poderiam ser bastante pedagógicas. A investigação sobre Daniel Dantas, que envolve jornalistas, políticos e juízes - todos os quatro poderes da república - tem sido noticiada de formas divergentes por diferentes meios de comunicação. O mesmo "fato" oferece diferentes narrativas... Algo análogo ocorreu no caso do "mensalão" (entre aspas, mesmo). Nesse caso, deu-se uma única, exclusiva narrativa oficial. Até hoje, quem ousar narrar aqueles fatos de forma alternativa é tido como petista lunático.

Quem ousasse dizer que era preciso ir a fundo, às origens do problema, ou era xingado de petista (como eu sou até hoje), ou perdeu o emprego (como Franklin Martins, despedido pela Globo por repetir a pergunta proibida "De onde veio o dinheiro?"). A narrativa oficial era que a corrupção do "mensalão" seria algo restrito ao PT e ao Governo Lula. Passados três anos e meio desde as acusações de Roberto Jefferson, sabemos que a história é mais complexa. Hoje, no caso Daniel Dantas, graças ao trabalho sério do Juiz De Sanctis, do delegado Protógenes, de publicações como a Carta Capital e de jornalistas como Bob Fernandes e Luiz Nassif, temos uma pluralidade de narrativas mais amplamente aceitas.

Sem contar que os blogs vêm ganhando cada vez mais importância nessa construção de narrativas alternativas. Hoje, tem entrevista do presidente do STF, o ilustre Gilmar Mendes, no Roda Viva (na TV de Serra). Um dos melhores textos que você lerá a esse respeito não está em nenhum jornalão... está na blogosfera: aqui.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Carta ao Diário de Pernambuco

Pesquisando meu arquivo, encontrei uma carta que escrevi ao Diário de Pernambuco em Outubro de 2003. A carta, obviamente, nunca foi publicada... Posto aqui no blogue, porque aqui a ADEMI (ainda) não patrocina, então posso criticá-los abertamente, por enquanto (hahaha).



Prezado Editor,


O Diário de Pernambuco, que se diz um jornal sério, deveria ter
vergonha pelo encarte publicado nesta segunda-feira dedicado à
construção civil.


O encarte, que se queria “jornalístico”, mais parecia uma peça
publicitária das empresas do setor. As pseudo-matérias todas elas eram
congratulatórias, acríticas e totalmente parciais. Uma análise
superficial do encarte indica que as normas mais básicas de qualquer
manual de jornalismo foram solenemente ignoradas e desrespeitadas.


Só se registrou um lado da história – o do setor da construção civil.
Todas as fontes citadas são empresários ou “consultores” do setor. Não
se entrevistou nenhum urbanista, arquiteto, professor universitário,
sindicatos dos trabalhadores do setor, administrador público ou
representante da sociedade civil. Se pegou a opinião de um determinado
setor, e se tomou como a verdade geral.


As matérias – todas elas – ressaltam o “papel social”, os empregos
gerados, o crescimento do setor, a “luta contra o desperdício”,
a “busca pela qualidade” etc. Nada contra isso – são fatos importantes
e devem ser reportados. No entanto, é injustificável – e beira a falta
de ética – o fato de que nada, absolutamente nada, tenha sido dito a
respeito dos problemas sociais enfrentados pela cidade com a
verticalização desenfreada, os engarrafamentos cada vez mais
freqüentes, o sistema de esgoto sobrecarregado, os consumidores
prejudicados pelas construtoras incompetentes que quebram, a falta de
planejamento urbano do Recife etc. Talvez se outros segmentos da
sociedade tivessem sido lembrados pelos jornalistas que fizeram as
matérias, tais pontos tivessem sido abordados. Parcialidade em
jornalismo resulta nisso: a distorção da realidade. Também não ficamos
sabendo o que os nossos governantes estão planejando ou fazendo em
relação aos problemas apontados pelas construtoras.


Essa parcialidade escancarada seria normal se o encarte fosse um
informe publicitário. Choca e preocupa que um meio de comunicação
importante como o DP subestima a inteligência e capacidade crítica de
seus leitores e queiram vender isso como jornalismo. Ainda mais quando
a ADEMI vem fazendo uma pesada campanha publicitária multi-mídia
(rádio, TV, out-door...) a favor da verticalização do Recife.


Os jornalistas do DP foram usados como garotos-propaganda da entidade.
E os leitores foram enganados porque, ao lerem seu jornal se depararam
com uma propaganda revestida de jornalismo.


Os empresários querem lucro. É o interesse legítimo deles. Que não
venham, portanto, se passar por arautos da democracia, da justiça
social e do planejamento urbano. O trabalho de planejar a cidade cabe
ao poder público, e cabe a cada setor da sociedade pressionar por seus
interesses legítimos... Só que nenhum outro segmento tem o poder
econômico para veicular campanha multi-mídia... Ou pagar um encarte no
jornal.


Bernardo Jurema
Estudante de Ciências Sociais - UFPE

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Movimentos sociais, lá e cá

A analogia entre a eleição de Lula em 2002 e a de Obama agora é realmente muito rica. Nessa entrevista aqui, a jornalista/ativista, Naomi Klein (esposa de um dos melhores jornalistas da Al Jazeera, Avi Lewis) trata da relação ambígua entre o movimento social progressista americano e o quase-presidente Obama. Organizações como a Moveon que tinham uma agenda própria de demandas, se engajaram na campanha democrata. Como irá o movimento se comportar diante de um eventual Governo Obama?


domingo, 2 de novembro de 2008

E a esperança venceu o medo

O Lula deles.


Obama e Lula representam o melhor que os sistemas políticos de seus países são capazes de produzir, por meio de seus instrumentos, mecanismos, incentivos e barreiras, canalizando aquilo que há de mais progressista em suas respectivas sociedades.


Assim como Lula para o Brasil, Obama será o grande líder dessa época. Lá, como cá, tão cedo se verá outro líder com semelhante inteligência política e poder de comunicação. Ambos marcarão uma época não só pela carga simbólica intrínseca a suas eleições (precisamente no que se refere à questão sócio-econômica no Brasil e racial, nos Estados Unidos). Mas também porque encarnam o que há de mais novo e original em termos de políticas públicas em seus países. Ambos os casos denotam também a capacidade de renovar-se de cada sociedade. Entre a fundação do PT e a chegada de Lula ao poder, passaram-se 20 anos. Nos Estados Unidos, em 20 meses Obama saiu da condição de azarão à de franco favorito a dois dias do pleito, passando pela férrea maratona que são as primárias. Os críticos do sistema político americano deveriam parar para refletir um pouco sobre o significado dessa diferença. Também depõe a favor do projeto de reforma política empacado no Congresso. Um político como Obama jamais emergeria do nosso sistema partidário tal como ele é hoje, por exemplo.


A vitória de obama é a vitória de uma geração sobre a outra (olha aqui, por exemplo). É a contemporaneidade, com o que tem de melhor a oferecer - cosmopolitanismo, pragmatismo, tecnologia, tolerância, inteligência, racionalidade - sobre a mentalidade ultrapassada, bipolar, ideológica, arrogante dos últimos anos. Obama marcará esta época pelas suas políticas públicas imaginativas e inovadoras, colocando a favor do setor público americano o que os americanos têm de mais avançado em termos de tecnologia social. É a social-democracia à americana de volta e com força total.


Não é precoce antever o papel essencial que terá o presidente Obama em desencadear um processo de transformação em seu país e, conseqüentemente, no mundo. Sua campanha, que revolucionou nos meios assim como na mensagem, é a melhor evidência do que podemos esperar de sua presidência.


É sempre melhor acreditar na esperança a sucumbir diante do medo. Os americanos seguem o caminho brasileiro. Bem vindo ao clube.


(Embora eu prefira o Lula deles ao nosso Obama!)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Viva o progresso!

Um lugar aprazível, aberto, com plantas, pessoas interagindo do lado de fora...
e até dá pra ver o céu! Nem parece Recife.



Agora, logo após as votações do primeiro turno, ficamos sabendo que os armazéns lá no São José foram vendidos para a Moura Dubeux. Por ali, passa a segunda malha férrea mais antiga do Brasil. Mais um patrimônio arquitetônico da cidade vai ser demolido, aniquilado, apagado do mapa sem deixar rastro, e não tem um único grito, manifestação, protesto, choro, o que quer que seja, em defesa da memórial material da nossa comunidade. Viva o progresso? Morra a cidade.

Comunidade? Eis aí um conceito que se desconhece em Recife. Prevalece a lei do cada um por si. Essa é a grande questão da cidade, sobre a qual ninguém falou. Os principais problemas da cidade se devem à subordinação do público ao privado. A iniciativa privada é que dita o ritmo, a intensidade e a direção do crescimento de Recife. O poder público corre atrás desesperadamente, fazendo arremedos de intervenções e equipamentos urbanos. Que sempre ficam prontos quando é tarde demais. O bem coletivo não é levado em conta, em detrimento de interesses particulares. São uns poucos - donos de casarões antigos, especuladores imobiliários, construtoras... O resto, todo mundo, paga o preço muito caro do lucro deles. E então onde antes numa rua qualquer havia 5 casas, de repente elas somem e em seus lugares emergem 5 mondrongos de 27 andares, 4 apartamentos por andar, 2 ou 3 vagas de estacionamento. Faça aí a matemática. A infra-estrutura viária, a tubulação do esgoto, outros equipamentos urbanos como parques etc, permanecem os mesmos de antes!

Aí fica agora todo mundo falando de crise em Wall Street. E a crise das grandes cidades brasileiras? E a crise de Recife? Recife está seguindo um rumo que é inviável. Este estado de coisas não é fruto do acaso, não é um acidente da natureza. Quer entender o que está acontecendo em Wall Street? Olhe em sua volta: Recife materializou o que ocorreu lá virtualmente. Esse estado de coisas é resultado de escolhas que foram feitas, e que continuam sendo feitas, e de uma certa ideologia hegemônica que permeia a nossa sociedade e que o legitima. A mesma lógica que levou à crise financeira mundial está por trás do caos urbano em que está se transformando o Recife. É a ausência radical de regras, é o capitalismo selvagem, predador. Pode-se destruir e construir em Recife à vontade. É o Estado-mínimo em prática. Na verdade, está mais para Estado seletivo. Quem é vítima da violência policial sabe bem que o Estado, muitas vezes, de mínimo não tem nada: ele pode ser monstruosamente grande. É a privatização dos lucros, a partir do espaço público, e a socialização dos prejuízos, porque somos todos os contribuintes que pagamos pelas conseqüências da verticalização sem limites. Regras! Eu quero regras!

Aliás, regras... Isso é algo que vai além da capacidade cognitiva do cidadão recifense. Estamos a matarmos uns aos outros. As regras, quando existem, são solenemente desrespeitadas. Fica evidente por onde se passa na cidade. Aliás, transportar-se em Recife poderia ser considerado um esporte radical. Emoção pura. Dirigir por aqui , como disse um amigo, é como entrar num trem fantasma: surpresas e obstáculos surgem de todos os lados... isso na melhor das hipóteses, quando o trânsito de fato flui! Sem falar do assalto que as classes médias fazem às águas públicas, enquanto 2/3 da população da cidade padece de falta d'água crônica! A lista é infindável. Assalto a mão armada na frente de prédio é NADA comparado com todas as outras violências implícitas e explícitas que sofre a maioria dos recifenses em favor de uma minoria mesquinha.

Todos os nossos problemas temos resolvidos, nós "classes média e alta" (vista a carapuça quem quiser), os problemas coletivos de forma individual e privada. O prédio foi uma solução para a moradia. O carro, para o transporte. A cidade do Recife é (mal) feita pro morador de prédio usuário do carro. Priu. O resto são inconvenientes que enfeiam o Canal de Setúbal no Natal ou que envergonham os visitantes na Centro ou que roubam minha carteira na Agamenon. E tome grade e muro e câmeras de vigilâncias e guaritas e vidro fumê. Outro dia fui com uns amigos, andando, até o Plaza Shopping. Surgiu o questionamento - por que não resolvem a fedentina do canal que passa ali ao lado. Eu apontei pra passarela que liga o edifício garagem ao prédio do shopping e falei: olha ali, resolveram sim.

O modelo urbano recifense é intrinsecamente excludente. O recifense (das classes médias e altas) não anda a pé. Andar a pé em Recife é uma experiência sui-generis. Porque ou você vai se achar numa cidade fantasma ou então no Marrocos. Toda semana vou almoçar na casa de um tio que mora no Parnamirim. São 15 minutos a pé da minha casa até a dele. Uns 7 de bicicleta. Riem da minha cara: tá liso diga! Para eles, é incompreensível que alguém, por escolha, não use o carro. As classes abastada da cidade têm vergonha da cidade em que vivem. Nunca andam na rua da Imperatirz, jamais pisarão num mercado público. O negócio é Shopping Recife. O negócio, mesmo, seria Miami, ou pelo menos São Paulo. Mas o Shopping Recife já está de bom tamanho. E tome prédio. E tome carro. Vivemos numa sociedade desintegrada, e cada vez mais indo nessa direção.

Se tudo isso fosse só uma questão estética (prédio alto é feio, carro é feio), eu nem diria nada. Poderia-se dizer que se trata apenas de questão de gosto... Para a maioria das pessoas, não importa que a cidade fique toda igualzinha a Boa Viagem. As particularidades de cada bairro, reflexo de histórias específicas, pode ser considerada frescura babaca burguesa sentimentalóide nostálgica... Pode, pode, não nego isso não. Mas reflete um descaso total com o futuro. Agora mesmo, o mar está avançando sobre os prédios de Piedade e Candeias e sobre o calçadão de Boa Viagem. Se lá atrás, nos anos 70, houvesse uma preocupação com uma ocupação mais racional da orla os problemas mais graves que estão ocorrendo e que vai piorar poderiam ter sido evitados.

Tem gente preocupada em Recife com essas questões? Tem. Muita gente boa. Muita gente jovem. Mas essas pessoas estão por aí, soltas, desarticuladas. Não há uma voz política. Estamos perdendo a batalha ideológica em prol de um Recife mais humano onde o bem coletivo passe a sobrepor-se aos interesses particulares. Quem sabe em 2012 poderemos votar em algum candidato a vereador preocupado com essas coisas?

Ou então vamos oficializar logo essa parada: Moura Dubeux para prefeito do Recife!

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Já abordei esse assunto antes:

- Recife ruirá

- Privatizaram o horizonte!

- Utopia recifense

- A Terra Prometida da casta-média brasileira

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O "sushi nazi" de Recife

Tem um episódio de Seinfeld sobre o "soup nazi" (olha aqui). O personagem, um argentino, faz uma sopa divina, que ele trata como obra de arte. Ele tem regras bem rigorosas em seu estabelecimento. Mas a clientela se submete a esse tratamento autoritário porque a sopa é tão gostosa que justifica o martírio.

Pois bem, Recife tem também seu próprio "soup nazi". No nosso caso, trata-se do "sushi nazi" - Wadamon. Seu restaurante era no Espinheiro. Depois de uns 30 assaltos, ele fechou o local e voltou para Osaka. Agora, acabo de descobrir que Wadamon, o sushi nazi de Recife, está de volta. O local é bem simples, familiar. O atendimento é simpático, embora bastante demorado. É o próprio Wada, como os clientes mais fiés carinhosamente o chamam, quem prepara cuidadosamente cada prato. Alguns inclusive diferente do que estamos acostumados a ver nos restaurantes japoneses aqui. Segundo ele, porque seus pratos são mais autenticos. Prepare-se, quando for lá, para duas coisas - pratos maravilhosos e serviço demorado. O negócio familiar é refletido na lerdeza do atendimento. Que é perfeitamente compensado pela qualdiade do que se come. Além disso, Wada vai ensinar a maneira correta de se comer sushi. Daí o apodo que nós colocamos - o sushi nazi. Por exemplo, não se deve molhar o arroz no soyo em hipótese algum, só a carne e só um pedaço. E deve-se comer o sushi com a mão.

Mas não se preocupe. Se comer errado ele não vai expulsar vocë, como o soup nazi. Como sempre no Brasil, esses fenömenos chegam aqui sempre mais moderados! Mas fica a dica - aproveitemos antes que Wada tenha seu local assaltado novamente e retorne para sua natal Osaka! Ah, fica naquela rua por trás do Fiteiro, no Parnamirim. Buen provecho!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A oposição estilou

A oposição conservadora às forças progressistas que controlam os governos do Recife e de Pernambuco perdeu o embate na esfera política. Os representantes da direita que não aderiram às forças progressistas vêm sendo paulatinamente postos à margem do jogo partidário, pela escolha dos eleitores.

O último resquício da oposição de direita em Pernambuco é o Judiciário - não por acaso, o menos sujeito ao escrutínio popular. Sem opção, desprovidas de propostas e de um discurso que encontrem ressonância na sociedade, as forças reacionárias do estado apelaram para a judicialização da disputa política.

A acusação é frágil e não se sustenta. Difícil responsabilizar o então secretário municipal, João da Costa, pelo uso escuso de duas contas pessoais de e-mail. Algo análogo ocorreu em São Paulo reccentemente, quando funcionários do prefeito Kassab teriam repassado mensagens eletrônicas para servidores municipais. A sentença, ademais, é incoerente. Porque se o juiz Nilson Nery viu por bem responsabilizar o secretário pela ação de seus subalternos, por que não seguir subindo na hierarquia até o prefeito João Paulo? É altamente questionável que esse ato isolado de envio de e-mails por parte de dois indivíduos seja abusivo ou mesmo que represente um claro desequilíbrio político e econômico em prol do candidato da situação.

Margarida Cantarelli tinha um logotipo laranja e preto quando, em 1986, foi candidata a senadora pelo PFL. Agora, como desembargadora, ao tornar legal a divulgação de informação protegida sob sigilo de justiça, serve de laranja da oposição para obscurecer a disputa política na cidade e demonstra ser adepta da fidelidade partidária. Nilson Nery, que acatou a representação fajuta do MPPE, mostrou fidelidade canina àqueles que o colocaram nessa mamata. Acusem-no do que quiser, menos de ingrato!

A arbitrariedade do juiz não é sem propósito. A menos que se acredite que foi a primeira vez que algo do gênero tenha ocorrido na cidade... Até o blogue jarbista de Jamildo reconhece o tratamento, digamos, diferenciado dispensado aos adversários políticos daqueles que deveriam zelar pelo cumprimento da lei - basta ver aqui. Sem contar que a divulgação de dados sigilosos não é vista da mesma forma indignada... Dois pesos e duas medidas.

Em instâncias superiores, tal sentença, por precária, cairá. O intuito, no entanto, não é fazer justiça. Trata-se de fazer política por outros meios. O timing, a menos de duas semanas das eleições, não poderia ser mais conveniente. A oposição (partidária, é preciso lembrar) já tenta propagar a desinformação, divulgando por meio de carros de som e panfletos apócrifos a cassação da candidatura governista de João da Costa. Ora, o fato é que, enquanto couber recursos, a candidatura permanece. Mas, como já foi dito, não se trata, em absoluto, de se fazer justiça. A oposição estilou.

***

Resta saber como a população interpretará os acontecimentos. Vejo três cenários potenciais:

1 - Contingente significativo do eleitorado verá a decisão judicial como indicação de que o candidatao João da Costa é corrupto, não presta. Decide votar em outro candidato. Dependendo da intensidade desse movimento, isso pode apenas causar o advento do segundo turno ou, mais radicalmente, reverter as atuais tendências de intenção de votos.

2 - As intenções de votos se manterão inalteradas. A decisão do juiz de oposição apenas reforçará as posições já tomadas. Aqueles que se opõem ao candidato do PT, verão na decisão a confirmação de suas idéias, enquanto que os que o apoiam verão o fato como mais um episódio da luta política.

3 - Movimento em direção ao candidato perseguido pelo Judiciário. O episódio pode ser visto como perseguição política, jogo baixo, e atrair novos eleitores. Ademais, é possível que a radicalização da oposição funcione no sentido de trazer o Presidente Lula para participar de ato de campanha ainda no primeiro turno. Isso poderia trazer um importante impulso no sentido de definir de uma vez por todas a disputa.


***

E se você quiser saber quem é Nilson Nery, o que fazia antes de ser indicado para o TJPE, quem o indicou, em que ano foi aprovado na Assembléia Legislativa, etc... Desista. Não há em parte alguma da Internet qualquer informação sobre a história recente. Nem adianta entrar na página do TJPE. Pois se você conseguir passar adiante da feiúria e bagunça da página inicial, desejo boa sorte para quem se arriscar pelos meandros labirínticos de um site típico do poder menos transparente da república. O site reflete bem a realidade...

***

Vale lembrar que o Poder Judiciário não é a única esfera em que a oposição de direita mantém controle. Na imprensa, o quarto poder, também prevalecem. Basta ver o teor das manchetes dos jornais hoje. O destaque dos três jornais locais foi para a "cassação" - o que de fato não houve. Para que possa se consumar, precisaria que todos os recursos tivessem sido exauridos. E esta foi uma decisão em primeira instância. Meros detalhes?

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Maradona ou Pelé?

Quem foi melhor?
Eis aí um relevante debate interregional...

----- Mensagem encaminhada ----
De: Diogo Loureiro Jurema <diogojurema@
Para: Bernardo Jurema <bernajurema@>; Letícia Jurema <letijurema@>
Enviadas: Sexta-feira, 20 de Junho de 2008 15:01:32
Assunto: RE: Enc:

beloba, este debate é sem fim. tive vários deste tipo com amigos mexicanos. :)enfim, não dá para comparar, como você muito bem falou, spielberg com bergman, a não ser que a gente parta para o gosto particular de cada um. maradona era foda demais! realmente. e ganhou uma copa SOZINHO. o estilo de jogo dele, de dribles e privilegiando sempre sua individualidade permitiu isto. o cara era um mágico com a bola e mais habilidoso do que qualquer um.pelé foi campeão três vezes, mas nestas três vezes ele contou com jogadores como garrincha, vavá, didi, tostão, rivelino, gerson, carlos alberto torres, nilton santos e por aí vai. ou seja, pelé sempre teve um tive de qualidade por trás que se encaixava bem com seu estilo, muito mais coletivo de distribuição de bolas e sempre marcando gols.tem mais um grande diferencial entre estes dois personagens: construção de imagem. pelé foi muito mais profissional neste aspecto, muito político e sempre se preservando de escândalos. maradona, não... publicamente sempre foi brigado com havelange e a cúpula fifeana, era muito porra-louca (tanto em seus envolvimentos com drogas quanto com relação a posições políticas. ex: na copa de 1990, na itália, ele jogava pelo napoli; quando teve o jogo argentina x italia ele deu várias declarações incentivando os napolitanos a torcerem para a argentina com discursos carregados de preconceito de norte x sul que existe por lá), totalmente politicamente incorreto.essa discussão é sem fim. acho que maradona conseguiu não ter se tornado uma figura mais admirada. méritos dele c(porque parece que buscou isto). e pelé sempre trabalhou esta questão da imagem. mérito de cada um, pois aparentemente, cada um conseguiu o que queria.particularmente, acho que maradona foi foda demais! apesar de pelé também ter sido; e conseguiu manter-se no topo por muito mais tempo. ou seja, antes de partir para a opinião pessoal de cada um, os dois foram bons, cada um em sua especialidade, tinham papéis fundamentais nas equipes nas quais atuaram e foram revolucionários jogando futebol, cada um a seu estilo.respeito a opinião de que achar que maradona foi melhor ou que pelé foi melhor. não podia é ninguém aparecer dizendo que dunga foi o melhor de todos os tempos. aí seria muito absurdo!
Diogo Jurema

Date: Sat, 21 Jun 2008 13:49:56 -0300
Subject: Re: Enc:
CC: joche57@; rodri.cav@; joaolima80@
boa, diogo.
eu acho que o simples fato de pelé ter sido campeão mundial três vezes já o faz ser melhor. jogador bom, na minha opinião, é jogador campeão. quem pode ser melhor de um que foi campeão da copa do mundo três vezes?! o torneio mais importante do futebol. maradona criou muita fama com o bocão dele também, aquela língua sempre afiada. há quem diga, inclusive, que o grande craque argentino é di stefano - jogou pelo real madrid naquela época que ganharam umas 9238 copas dos campeões na década de 60. agora, pelo que eu lembro ele se naturalizou espanhol, parece, jogou tanto pela argentina como pela espanha, acho. pelé não fica muito atrás no quesito bocão, falando as merdas dele, mas pelo menos não insulta tanto ninguém como faz o argentino, só fala besteira mesmo.

quanto ao quesito bola no pé acho pelé incomparável, e não me venham dizer que na época dele era mais fácil e não sei o quê porque não era. pelé foi, com certeza, um dos jogadores mais marcados da história! é só ver os vídeos que você sempre vê um cara em cima e uns dois na sobra e tal, a coisa é que ele era tão foda que conseguia sair de todo mundo e ainda por cima fazer jogadas maravilhosas. sem contar que ela era craque no quesito provocação também - tem um vídeo de pelé jogando na la bombonera com o santos e tirando uma onda com a galera do boca, que tava puta com ele porque ele tava fazendo maravilhas. maradona era habilidoso sim, mas era limitado, não sabia cabecear (sabia fazer gol de mão), não tinha pé direito é drogado (hehe) etc. pelé, não precisa nem dizer, era perfeito em todos os fundamentos, um atleta exemplar, o atleta do século! quanto a essa coisa de maradona carregar time sozinho e pelé não aí já é outra discussão. acho que no futebol brasileiro nunca ninguém vai aparecer sozinho porque sempre vão ter outros craques ao redor, esse é justamente o diferencial do nosso futebol. pelé tinha garrincha, vavá etc em 58; garrincha, amarildo em 62; tostão, rivellino, gérson em 70; romário tinha bebeto, dunga (hehe) em 94; ronaldo tinha rivaldo, ronaldinho gaúcho em 2002... sempre vai ser assim no futebol brasileiro, que nunca pára de produzir craques.
acho que é isso. resumindo: pelé é o melhor jogador do mundo e da história e ponto final. só outro brasileiro pra barrar ele! heheh...

saudações rubro-negras.
2008/6/21 Mateus Alves <mateusalvessouza@gmail.com>:
só mais um ponto: futebol é um esporte coletivo, então não vejo sentido em classificar alguém como craque porque sabia ser individualista (não no sentido pejorativo). pra mim, inclusive, isso é mais um demonstrativo de como pelé era melhor: sabia de futebol o suficiente pra jogar pelo time também. claro que tinha suas jogadas individuais, mas nunca elas eram prioridade, diferentemente de maradona, que queria aparecer mais do que o papa...
ps. eu falei a coisa de pelé provocando a galera na la bombonera como exemplo de como ele era perseguido em campo - você vê isso no vídeo também - e ainda por cima conseguia se sair e tirar onda da galera...

ps2. o único defeito de pelé foi não ter jogado pelo glorioso sport club do recife. inclusive eke foi oferecido ao sport na década de 50 mas foi recusado, o que pode ser considerado o único erro administrativo da história do rubro-negro! parece que a galera achou ele era muito novo, hehe...


From: joche57@
To: mateusalvessouza@; bernajurema@; diogojurema@; ljurema@
CC: rodri.cav@; joaolima80@; borjademesa@; viejitastone@
Subject: RE: Enc:
Date: Sat, 21 Jun 2008 17:41:48 +0000

es cierto q puede parecer muy subjetivo decir que el futbol de antes no era tan competitivo como el de ahora. sin embargo, cuando uno ve la final del mundial de 1970 y ve la de 1986 o la de 1990 no se puede negar que la intensidad física es muy diferente y no creo que se trate de un problema de las gravaciones de la tv: la presión ejercida por la italia del 70 simplemente no tiene comparación con la presión ejercida por la alemania del 86. preicisamente este uno de los errores más graves para desacreditar a maradona, el hecho de que era un gordito no implica que no fuese un atleta que se la pasaba corriendo todo el partido y aguantando las marcas a lo largo de 90 minutos.

yo creo que el futbol se ha hecho más competitivo a lo largo del tiempo y también creo que hay ligas más competitivas que otras. una de las ventajas de maradona es que pudo ser el mejor tanto en argentina, una liga intensísima desde el punto de vista del marcaje, en españa, quizás más relajada en este aspecto -a pesar de que en los 80's se caracterizaba por la presencia de verdaderos gattusos- y en la italia del cattenaccio.

creo que mateus esta muy equivocado cuando dice que pelé jugaba más para el equipo que maradona. tal como dice Diogo, maradona ganó un mundial solito precisamente porque hacia que toda la atención estuviese en él para que sus amiguitos pudisen jugar. un claro ejemplo de esto es el gol de argentina a brasil, vean por favor como espera maradona a que cannigia -q era bueno, pero q basicamente corría- se desmarcase par darle ese pase que a larga les permite pasar.
esto es lo que digo por el momento...
bueno con este mail tb incorporó a la lista a dos amigos q saben de futbol para q comenten esat disputa que hizo q bernardo esuviese a punto de llorar de rabia en sus vaciones en barcelona

saludos gente

----- Mensagem encaminhada ----
De: João Costa Lima joaolima80@
Para: jose perez ; Mateus Alves ; Bernardo Jurema ; diogojurema@; leticia jurema Cc: Rodrigo Cavalcanti ; borja mesa ; Gonzalo Mengual viejitastone@
Enviadas: Terça-feira, 24 de Junho de 2008 12:18:26
Assunto:

saudações a todos,

bueno, muito já foi dito e não pretendo cair em repetições apenas quero destacar que comparações correm sempre o risco de serem redutoras, simplistas e excludentes. sobre que critérios comparamos? com que olhar vemos?

eu como alface e carne, banana e maçã, arroz com feijão, ouço tom waits e mozart, admiro duchamp e da vinci, leio cortázar e beckett, e sou capaz de desfrutar de cada um pelas suas idiossincrasias, qualidades, histórias. é claro que se tratando de esportes o sentido competitivo surge inevitavelmente, e aí seria preciso ver um jogo entre pelé e maradona para talvez ter esta questão ainda com mais dúvidas. quem era melhor? ni puta idea.
para terminar, sem querer tomar partido, apenas lembro que se os critérios forem versatilidade e a idéia de "jogador completo", lembro que pelé além de atacar, fazer suas jogadas maravilhosas e marcar gols era o goleiro reserva naqueles tempos onde não se podia substituir o guarda-redes, e nesta condição chegou a defender o santos e até a seleção brasileira.
um abraço,
j

----- Mensagem encaminhada ----
De: Ana Cristina Loureiro Jurema ajurema@
Para: Bernardo Jurema bernajurema@
Cc: Merval Jurema merval@
Enviadas: Quarta-feira, 2 de Julho de 2008 9:25:22
Assunto: RES: my two cents!

Entao, com licença.
Li com atenção todas as mensagens. Extraindo as paixonites para a ´defesa´ de um ou de outro lado, muitos dos argumentos procedem, outros não.

«yo creo que el futbol se ha hecho más competitivo a lo largo del tiempo y también creo que hay ligas más competitivas que otras....»

Não dá pra medir. São épocas distintas. Com condições distintas, não acho que estes sejam parâmetros para avaliarmos um e outro.
Ambos se destacaram, porque eram bons, realmente fenomenais, nas épocas que jogaram (diferentemente de alguns fenômenos mais recentes).
Mas como chegar a alguma conclusão?

O melhor vai ser aquele que se incrustar no imaginário da população mundial e assim, virar referência, sinônimo de perfeição no jogo—não só daqueles apaixonados por futebol, mas do público em geral:

Julho de 1971. Pittsford High School, joguei no time de futebol de mulheres, como me destacava, saiu uma reportagem no jornalzinho da escola. O título muito politicamente incorreto para os dias de hoje: «pelé branca...». Estou falando de um subúrbio de Rochester, no estado de nova iorque, nos EE.UU., país que até hoje desconhece futebol.

Agosto de 1978 (a argentina tinha acabado de ganhar sua primeira copa). fronteira entre itália e iugoslávia. Nessa época a iugoslávia era «um país comunista» e era raro brasileiros aparecerem por lá. Éramos 4. mandaram a gente sair do carro, pegaram os passaportes da gente, nos levaram para uma salinha. Estávamos tensos. Do outro lado do balcão um cara fardado, levou uns bons minutos em silêncio examinando os nossos documentos. Por fim, levantou a cabeça, nos olhou e disse em um só fôlego: edson arantes do nascimento – pelé.... Foi uma festa.

Junho de 2008. reportagem da folha de são paulo , comemorando os 50 anos da final brasil-suécia no mundial.
«Gustavsson, 50 anos depois, ri e aplaude o famoso chapéu que a vida e Pelé lhe deram. O defensor sueco, hoje com 80 anos, ainda impressiona pelo físico. Com cerca de 1,90 m e forte, tomou conta de um dos sofás de sua bela casa em Norrköping. Não parou de sorrir na entrevista para a Folha. Quando mais riu? Na hora de contar o mais belo gol da Copa-1958. "Foi a primeira vez que vi aquilo [chapéu]. Fenomenal", diz ele, fazendo com a cabeça o gesto de acompanhar a bola o encobrindo. ""Fiquei procurando a bola. Pelé é fenômeno." Gustavsson era um atleta experimentado, atuava no futebol italiano.
Simonsson, um jovem craque em 1958. O autor do segundo gol dos anfitriões quase pôs fogo no jogo. ""Tinha 22 anos na Copa. Era o "Pelé da Suécia". Quando fiz o gol, ficou 4 a 2, e havia algum tempo para reação [faltavam dez minutos]. Tivemos duas chances para fazer 4 a 3. Seria outro jogo", garante ele, que vive em Gotemburgo. Veio até o Brasil no início dos anos 80 e visitou Nilton Santos e Garrincha. ""Foi a melhor Suécia da história, mas o Brasil jogou um grande futebol. Garrincha jogou muito aquela Copa, mas acho o Pelé o maior de todos. O público sueco gostou do jogo, gostou do Brasil."»

Ele vem há 50 anos em evidência. Acho que nenhum de vocês era nascido quando ele parou de jogar a serio (a época do cosmos, não vale). E vocês ainda estão discutindo sobre ele.

Quem é o melhor? Independentemente do gosto de cada um, o melhor é aquele que ficar na memória coletiva da humanidade - na história.

Daqui há 50 anos, façam a pergunta aos netos de vocês, e vejam o que eles vão responder!
mandem um recado lá pro céu – eu vou estar tomando meu whisquinho e dizendo «eu sabía! Eu sabía!»

Hehehe!
Cheiro grande a todos, aninha


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Homenagem ao Prefeito João Paulo


Prefeito João Paulo versão South Park


Em 2004, viajei para a Europa em meados de Julho, onde passaria três meses. Iria perder, portanto, a eleição municipal daquele ano. Queria, no entanto, registrar o meu apoio à reeleição do prefeito João Paulo. Eu havia me envolvido intensamente na sua primeira eleição, quatro anos antes, e tinha muito orgulho disso, diante dos resultados obtidos por sua gestão. Escrevi um texto no qual expunha as razões pelas quais apoiava o prefeito-candidato. O texto, enviado apenas para os amigos e familiares da minha lista de contatos, aos poucos tomou proporções inesperadas. Transformou-se num fenômeno virtual, sendo passado e repassado para inúmeras pessoas. Eu não tinha noção disso, distante que estava no meu périplo europeu. Mas dois amigos me escreveram, àquela época, me contando o que estava ocorrendo.

Ao se concluir a vitoriosa gestão petista na cidade, relembro aqui aquele texto que virou uma corrente viral e que, em alguma medida, acredito ter contribuído para a reeleição tranqüila do prefeito João Paulo Lima e Silva.
Algumas coisas chamam a atenção no processo eleitoral desse ano, que talvez eu comente ao término da disputa. Um ponto é a forma como a internet ainda é subutilisada como meio de propaganda e transmissão de informação política. A TV ainda é o meio predominante e determinante. Outra coisa é como, de 2000 para 2008, as forças opositoras demonstram ter aprendido muito, muito pouco. Resta uma preocupação -- sobrará oposição de fato em Pernambuco, após 2008? Fico devendo essa análise.
Por agora, fica a homenagem aos oito anos do governo João Paulo. Parabéns, prefeito, pelo cumprimento dos compromissos assumidos em 2000.
***

De: E.C. (@hotmail.com)
Enviada:
sexta-feira, 13 de agosto de 2004 3:00:44
Para:
bjurema@hotmail.com


Berna,
Incrível! Chego a conclusão que eu ainda não tinha noção do poder da internet. Tudo bem q eu considerava q era uma grande inovação mas, daí a modificar os rumos da eleição.... Cara, o comentário é que seu artigo está rodando o mundo! Só D. já recebeu 5X, recebi de H., M. entre outros. Todos comentam q foi um texto super bem escrito (parabéns!), que vai repassar, que realmente estava sentindo falta de argumentos etc!!! Em resumo, o seu objetivo foi alcançado e ainda mais: já pensou q vc pode ser o responsável pelo crescimento nas pesquisas?!?!? (Alto poder de convencimento!) Mas estou só mandando este e-mail p dizer q vc esta fazendo falta aqui na campanha! Domingo vai ter a primeira carreata e kd vc??? Estava até pensando em ir de bike como o seu pai... Mas eu nem tenho bike e a da minha mae é daquelas q tem cestinha, hehehehe.
Mande noticias viu????Beijos, E.C.
***

Date: Fri, 3 Sep 2004 18:38:25 -0300
Subject: olá!

e ai, berna! lembrei de tu agora e resolvi mandar um email já que nunca mais nosconversamos, neh! lembrei pq teu texto tah rolando o recife de umaforma fudedora, tah ligado?! só pra dar um exemplo, meu pai e minhamãe já receberam, tiago (meu irmão) já recebeu e um amigo meu, fábio,tb recebeu. o que me dá a impressão de que nenhuma pessoa nessa cidadetenha deixou de recebê-lo. wohooooooo! o caba tá em lille e contribuindo com a campanha desse jeito! hahahahaha. n sei como tu tah informado sobre a campanha, mas tá meio ridículo.cadoca fazendo sua campanha totalmente voltada para a classe média eachando mesmo q tah botando pra fuder. hahahaha. ô mulé, dá uma pena!hehehehe. o massa é passar na rua e ver o limpadores de para-brisa, asbarraquinhas de caldo de cana, os ambulantes, cobradores, catadores delixo... todos exibindo com o maior orgulho um adesivo de joão paulo.fuderoso demais! parece q todo mundo tah fazendo questão de dizer'esse é o cara. a gente n quer trocar n, pq ele eh o cara!'. massademais!
(...)

mas o povo q eh povo tah com joão paulo, e periga de tu nem votar,do jeito que tá. 42% pra joão paulo, 30% pra cadoca e 12% prajoaquim... é, neh! hehehehe. vo nessa, berna. se cuida ai e continua na boa viagem. té mais, p.


***
Quando conceitos deixam de ser slogans eleitorais e se tornam diretrizes políticas de governo

Por: Bernardo Jurema

Na campanha de 2000, as grandes promessas do então candidato João Paulo Lima e Silva eram: a inversão de prioridades, a radicalização da democracia e a melhoria da qualidade de vida da maioria da população. As grandes ações da Prefeitura no decorrer desses últimos quatro anos foram inequivocamente voltadas para a periferia e setores historicamente marginalizados dos processos de desenvolvimento da nossa cidade.

Pela primeira vez, o grande beneficiário do poder público não foram as classes média e alta. As mortes por quedas de barreiras, drama que repetidamente assolava as periferias a cada inverno, foram praticamente extintas através do Programa Guarda-Chuva (http://www.recife.pe.gov.br/especiais/guardachuva/index.html), que institucionalizou a presença constante e sistemática do poder público nos morros durante todo o ano, e não apenas quando chove. A questão de moradia foi finalmente tratada de forma séria e humana, com a retirada da população de condições precárias, como as palafitas de Brasília Teimosa ou da beira do Capibaribe na Torre e na Madalena, assim como os moradores da Ponte do Limoeiro e os das barreiras dos morros. Essas pessoas receberam uma bolsa da PCR para alugar uma moradia provisória, aprenderam uma profissão, construíram a própria casa, recebendo um salário, e foram inclusos nos programas sociais dos governos municipal e federal. Os filhos passam a receber a Bolsa Escola, uma das maiores do Brasil graças ao complemento da administração local, além de receberem farda, sapatos, material escolar. Hoje, 500 mil famílias na cidade são atendidas pelo Programa Saúde da Família (em 2000 eram 93 mil pessoas apenas!). A merenda escolar passou a ser servida também nas férias. Isso se chama inclusão social.

Nunca esta cidade contou com tanta participação popular. Através do Orçamento Participativo (http://www.recife.pe.gov.br/op/), mais de R$ 55 milhões foram aplicados em obras que atendem a pleitos das comunidades, decididas e discutidas por elas mesmas. Esse mecanismo decisório fortalece a sociedade civil organizada, mune os oprimidos de mecanismos de influência na tomada de decisões do poder público, educa a população politicamente e acaba com o paternalismo.

Não significa que a cidade como um todo tenha deixado de ser beneficiada. O Serviço de Atendimento Médico de Urgência – SAMU atende com qualidade toda a população. Também existem agora as Academias da Cidade, que atendem milhares de cidadãos em vários bairros, valorizando o espaço público coletivo, e melhorando a saúde de todos com a orientação de profissionais de medicina, educação física e nutrição. A Praça de Boa Viagem foi revitalizada e organizada; a praça Euclydes da Cunha, projeto de Burle Marx, em frente ao Internacional, teve seu projeto original recuperado; a orla de Boa Viagem agora conta com banheiros públicos de qualidade; a Rua da Aurora vai ganhar uma área de lazer inédita no Centro.

Mas a grande marca dessa gestão é a coragem e a ousadia de se enfrentar interesses poderosos e bastantes arraigados no âmbito do poder público, acostumados a terem suas demandas atendidas. A retirada do Recifolia, acatando um anseio da população de Boa Viagem, apesar da forte pressão de setores da imprensa e do empresariado locais, é prova disso. O disciplinamento da construção civil dos bairros do Derby até Apipucos, impondo limites para conter a especulação imobiliária e o adensamento populacional e a conseqüente deterioração da qualidade de vida da população que vive nesses bairros, foi levado adiante apesar da pressão do setor imobiliário, que queria ver seus interesses privados prevalecerem sobre os interesses do bem-estar da coletividade. A regulamentação do transporte público – o transporte clandestino das kombis desrespeitava direitos elementares da população: idosos e deficientes não entravam gratuitamente, estudante não pagava meia, motoristas e cobradores não tinham direitos trabalhistas básicos, além de causarem transtornos e acidentes no trânsito e não pagarem impostos e multas. No entanto, era uma categoria mobilizada politicamente e nenhum administrador tinha tido a coragem de enfrentá-los. João Paulo teve, incorporando os ex-kombeiros ao transporte complementar, onde os direitos são respeitados e localidades que nunca antes tinham tido o transporte público agora passaram a ter, de forma organizada, planejada e respeitando os direitos dos trabalhadores e usuários do sistema. A inversão do trânsito de Boa Viagem foi uma solução simples, criativa e relativamente barata para o problema crônico e acumulado, e nunca antes enfrentado, dos engarrafamentos da Zona Sul. A administração enfrentou a pressão dos setores mais reacionários, negociou com representantes da sociedade civil, e levou adiante o projeto que hoje conta com amplo apoio, inclusive daqueles que se opuseram à idéia inicialmente.

Tudo isso nos mostra que inversão de prioridades, radicalização da democracia e melhoria da qualidade de vida da maioria da população não são, para essa gestão, meros slogans eleitorais; constituem a diretriz política da atuação dos nossos administradores. Reeleger o Prefeito João Paulo é imprescindível para que este trabalho sério, ousado e sem precedentes se consolide e gere mais frutos para toda a população da nossa cidade.

domingo, 27 de julho de 2008

Medo no Amazonas

O "tenebroso" Amazon Park, com a Roosevelt Middle School ao fundo


Em Recife, mais do que em outras metrópoles brasileiras, as pessoas andam com medo, literalmente. Evita-se ir a determinados lugares, ou em horas específicas. Medidas inócuas são tomadas. Fecha-se a janela do carro nos semáfaros. O medo condiciona, cega, nos torna irracionais. Desconfia-se de todos e de tudo. O medo é coletivo, generalizado. O pedestre, o usuário de ônibus, o ciclista e o motorista não se falam nem se comunicam, mau (com "u" mesmo) interagem, mas têm uma coisa em comum: o medo constante. Eis o elemento unificador da identidade brasileira, que atravessa nossas disparidades sociais e regionais. De norte a sul, do morro ao paliteiro, do barraco ao arranha-céu, o sentimento comum a todo brasileiro é o medo.

Eu sou considerado anormal no Brasil porque ando de bicicleta, a qualquer hora, para qualquer lugar, sem medo - de ser atropelado, assaltado ou assassinado. Não deixo de fazer minhas coisas e me recuso a me submeter ao regime da neurose coletiva. Ou assim eu pensava.

Em Eugene, fui jantar na casa de amigos. Depois do jantar natureba, de vinho californiano e de um bom papo, pedalei de volta para casa. Passavam das dez da noite. Era uma noite escura, as ruas pouco iluminadas, apenas a lua me indicando o caminho de volta. Pedalava eu tranqüilamente, até que me deparei com o Amazon Park (Parque Amazonas). Precisaria cruzá-lo para retomar o meu caminho do outro lado. Hesitei. Reduzi a velocidade. Parei. Analisei o entorno. Àquela hora, o parque estava deserto, tudo escuro. Sob a penumbra, distinguia a silhueta das árvores, do passeio, do canal que cruza o parque. Nenhum movimento. Silêncio profundo. Decidi, por fim, dar meia volta, retomar a rua adjacente ao parque. Escuridão, lugar deserto... de onde eu venho, pensei, são coisas a se evitar. Melhor ser prudente.

Já na faixa de bicicleta, na rua, me dei conta da besteira que cometi. Apliquei uma mentalidade que não se adequava com aquela realidade. A ação foi desconexa do contexto. A maior ameaça ali, reavaliei, era eu cair no Amazon Creek (Canal Amazonas) e ficar tremendo de frio. Graças a (ou deveria dizer "por causa de"?) minha condição de brasileiro, perdi uma parte das mais agradáveis do passeio. Mas, confirmei: sou mesmo um brasileiro típico, da gema. Também tenho medo.

***

Mais fotos da viagem, aqui.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Welcome to America!


Encontro meu tio americano, Bob, na cidade em que vivemos nos anos 90, Eugene. Depois dos abraços e cumprimentos, a pergunta que se viesse qualquer outro tio ou parente, causaria estranhamento: qual é a onda que ele quer tirar da minha cara? Mas, saída da boca de Bob, seria mais uma anedota do tio americano:

- Bernardo, você fez seguro internacional para vir pra cá?
- Não...
- Você é uma pessoa inteligente, sabe que não está sendo racional, não é? Se você quebrar UM braço, vai lhe custar 20 mil dólares...
- Ah, Bob... eu perguntei ao meu pai e ele disse que não precisava me preocupar com isso.
- Você sabe o risco que está correndo, então...
- O risco é do meu pai!

Risos. Meus. Bob, o tio americano, ficou sério. Nem pensei mais no assunto, minha mente submersa em lembranças, nessa viagem “down memory lane”, como diizem por aqui. Depois de me instalar em casa, a primeira coisa que fiz, 10 anos depois de sair de Eugene e dos Estados Unidos, foi pegar a bicicleta para dar uma volta na cidade, rever tudo... tomar o rumo down memory bike-lane! Afinal, esta é uma das cidades mais bike-friendly do país. Há toda uma infra-estrutura para o ciclista e toda uma cultura de bicicleta. Foi aqui, por exemplo, que aprendi que bicicleta não é só lazer, mas pode ser, também, um ótimo meio de transporte – saudável, econômico e limpo.

Dei uma breve olhada no mapa para me situar – são dez anos, afinal de contas! E lá me vou... Vou em frente, pega a direita, pega a esquerda, acho que me lembro disso aqui, é por ali que vou pra avenida principal, ah é só uma ladeirinha, oops é maior do que pensava, desce da bicicleta, empurra mais um pedaço, tudo que sobe desce, calma, é só mais um pouquinho, ufa, acabou a ladeira, agora é plano de novo, que bom, e agora é só ir nessa direção e já estarei novamente passando bem na frente da Charnelton St., nossa ex-rua...

E de repente... Uma ladeira medonha, uma descida bem íngreme. O guidon da bicicleta começa a tremer nas minhas mãos, fazendo com que os meus braços inteiros se estremeçam. Aparece na minha frente a imagem do tio americano, com aquela voz paternalista, como nos filmes quando o personagem tem uma lembrança: “você não está sendo racional” e “braço quebrado”, “20 mil dólares”. Aí me lembrei do filme mais recente de Michael Moore. Um americano tem um acidente e perde dois dedos e tem que escolher entre o indicador e o médio e opta pelo mais barato...

E o que começou como um agradabilíssimo passeio numa tarde ensolarada tão comum no verão do vale do Rio Willammette, num piscar de olhos se transformou numa pequena aventura que poderia terminar num baita de um prejuízo (pro meu pai!). Com a imagem de Bob de um lado, a do cara dos dedos do outro, eu fixei meu olhar na rua íngrime e cheia de curvas, freando com parcimônia para aproveitar o embalo sem no entanto me estribuchar no chão da Loraine Street. As casas de madeira com plaquinhas de Obama passam por mim, os pinheiros esverdejantes passam por mim, os esquilos me observam, os passarinhos cantam.De todo modo, acho que é isso que ocorre ao meu redor, pois tenho os meus olhos fixados nos pedregulhos da Loraine.

Por fim, chego, são e salvo, à West 29th Street, rua que é perpendicular á Charnelton... E, assim, retomo a rota down memory lane. E a partir daí, é só evitar subidas demasiadamente íngrimes: pois elas sempre vêm seguidas de descidas e eu não quero ter que optar entre se quero manter o dedo de dar dedada ou o de tirar catota!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Relatos de uma vitória





Date: Wed, 11 Jun 2008 20:17:58 -0700
From: bernajurema@
Subject: PST
To: gdspinto@; bfarache@; diogojurema@
CC: mateusalvessouza@; rodri.cav@; rcavaraujo@; leocm21@; cgmonte@


nao resisti
eu nao planejei. mas na hora... nao consegui dormir.
estou ateh agora, ja passam das 5 da matina.... tou vendo a volta olimpica.
foi emocinante. mesmo tendo que engolir os dois gritos de gol, pra nao acordar o povo do apto... mas nao tendo ninguem pra compartilhar a alegria.... mas ficava o tempo todo me imaginando ali, ao lado de vcs, vendo o jogo.
vi pela sportv, gracas ao justin.tv (muchas gracias). com uma cobertura muito equilibrada. gostei do comentarista miller.
fico so imaginando a festa de vcs ai. meu coracao ta ai, emocionado e vibrando com esse dia memoravel, historico mesmo, com essa vitoria sem precedentes. e dessa vez, sem o beneficio de regras bizantinas! uma vitoria inquestionavel, porque venceu o melhor!
e isso é que dar orgulho. porque o importante nao eh só ganhar. mas é ganhar assim. com raça, fazendo por onde. foi uma vitória sólida, e agora só vislumbro o que ainda está por vir.
e tem outra importancia essa vitoria. toda uma nova geraçao de rubro-negros, em estágio de formaçao, se lembrarà com carinho desse momento mágico de sua infancia. pra sempre. penso especificamente no meu primo afilhado, mas vale pra tantos pirralhas.

enfim, parabéns sport, parabéns milton, parabéns nelsinho, parabéns pra rodrigo, mateus e leonardo porque é de torcedores assim que se faz um grande clube.

que esse dia se repita com mais freqüencia e que nao tenhamos que esperar mais 20 anos pela proxima final nacional!!!!

abraços a todos vcs e aguardo notícias de como foi tudo aí!

--
Bernardo Jurema



----- Mensagem original ----
De: clara moreira
Para: Bernardo Jurema
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008 6:36:54
Assunto: Re: PST

foi lindo, bel!

olhe que eu nem sou chegada neste alvoroço grande por causa de futebol, me vi nervosíssima, mais que em copa, comendo as unhas, dedos, mãos, braços. gritei, aplaudi, pulei, abracei, fiz "uuhh", xinguei jogador e tudo.

o jogo foi bonito, o sport fez certo, fez direito, jogou bem, deu orgulho, deu nervoso, deu emoção.
no 2º tempo, entrou na defensiva mas sem deixar de fazer ataques poderosos, fez muito bem, comandou, conduziu o jogo! a cidade parou, engarrafamento, transtorno e desordem, desde cedo da tarde. os funcionários largando mais cedo, buzinaço, fogos. uma comoção, calamidade pública.

foi lindo e só pensei em tu, torcendo de longe com o coração bem pertinho, bem aqui na ilha! os meninos, neste momento, devem estar LOUCOS de alegria comemorando em algum canto, sentindo muito a tua falta. eu, que nem nos jogos fui, a senti tanto.

e os fogos continuam! amanhã estarão perdoados os faltosos no trabalho!

um beijooooooooooooooooooooooooooooooooooo
clara



2008/6/12 Diogo Loureiro Jurema :

foi um dos jogos mais horrorosos que já vi! o que me prendeu foi o fato de ser torcedor. estava nervoso pra cacete! no final, valeu a torcida do brasil inteiro, afinal, não conheço um carioca que não torceu pelo título do sport.
mas beleza, agora temos que esperar muita coisa de nossa diretoria.
1- capitalizar o título conquistando maior número de associados;
2- conquistar novos jovens torcedores, futuros consumidores do sport;
3- planejar, com antecedência, a temporada 2009, para garantir que o sport não será apenas coadjuvante da libertadores;
4- exigir que seus fornecedores não deixem os pontos de venda desabastecidos de camisas do sport e que criem camisas comemorativas do título;
5- lançar um uniforme que será usado exclusivamente na copa libertadores;
6- rever para cima os valores pagos por seus patrocinadores e parceiros;

enfim, são apenas alguns pontos que pensei agora, no momento. mas é importante garantir que o título gere dividendos (de longo prazo) para o clube.
não conheço todo mundo para quem bernardo mandou este email; mas como torcedores, temos que cobrar esse tipo de iniciativa e apoiá-las.
valeu, galera.
abraço a todos.


Diogo Jurema
21 - 9368 0530
http://diogojurema.iteci.com.br

----- Mensagem original ----
De: Mateus Alves
Para: Diogo Loureiro Jurema
Cc:
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008 16:05:30
Assunto: Re: PST

eu achei o jogo mais lindo que já vi, o sport foi campeão nacional! a gente já tá reservando a passagem pra dubai, vai rolar sport x chelsea, heheh. nunca vi um negócio daquele na ilha como foi ontem, todo mundo apoiando sem parar um segundo sequer. o timinho pegava na bola e parecia que o mundo ia abaixo, foi demais. a ficha tá caindo agora só, tenho que ler todos os jornais e ver na tv pra acreditar 100%. dá uma vontade de rir e chorar ao mermo tempo, não sei como é isso. sei que é SPORT CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL NESSE CARALHO!! título incontestável. cairam palmerda, interbarbi, vascu e timinho na ilha! quatro dos "maiores" times dessa merda. agora o maior é o sport! como diria o célebre renatão: "A GENTE VAI BRINCAR NESSE BRASILEIRO AGORA!!!", hehe. saudações rubro-negras, porra!!

bernardo, tu foi pé-quente aí na europa! ehhe.

SAUDAÇÕES RUBRO-NEGRAS!


----- Mensagem original ----
De: rodrigo cavalcanti
Para: Diogo Loureiro Jurema
Cc:
Enviadas: Quinta-feira, 12 de Junho de 2008 16:15:05
Assunto: Re: PST

ontem eu acordei de 6h. quer dizer, acordei não, porque sequer dormi direito. passei a noite quase toda pensando no jogo... qual seria o time titular, de quanto o sport ia ganhar, quem ia fazer os gols do título, essas coisas. fui trabalhar e se eu fosse meu chefe, me demetia na hora.. fiquei a manhã toda conversando sobre o sport, acessando sites pra saber novidades sobre a final, enfim, entrando no clima da partida. logo quando cheguei em casa, fui tentar me acalmar (...), mas aconteceu o efeito inverso.. comecei a ficar mais nervoso ainda. o pessoal foi chegando lá em casa pra famosa prévia do sport e a gente não conseguia conversar sobre outra coisa que não fosse o sport club do recife, claro. deu a hora de ir pra ilha - 18h - e claro que fomos andando pra sentir a energia positiva da cidade, mais rubro-negra do que nunca. quando chegamos perto do estádio, em torno de 18h30, faltando mais de 3 horas pra partida, a massa rubro-negra já tomava conta de tudo. a ilha tava mais linda do que nunca.. claro que a gente foi logo tomar a breja da sorte, pra garantir o título mais ainda. quando deu 20h, nós entramos. daí em diante eu assisti a partida de futebol mais bonita que eu já vi na minha vida, simplesmente por que o sport ganhou de 2 x 0 e foi campeão da copa do brasil. quando o juiz apitou o final da partida, puta que pariu, só fiz gritar, cantar e beber mais ainda. agora to aqui no trabalho morrendo de dor de cabeça, rouco, com sono, passando mal, mas nunca gostei tanto de uma ressaca na minha vida!
SPORT porrraaaa!!!!!!111

quarta-feira, 16 de abril de 2008

A narrativa não sobrevive aos fatos

escrevi isso em março mas só agora posto aqui...

Como disse certa vez um jornalista americano, os fatos são subversivos. E são eles, os fatos, que estão, enfim, se encarregando de desmentir a falácia construída pela oposição conservadora e propagada pelos seus porta-vozes do oligopólio midiático.

A mentira repetida dizia que a política macro-econômica do Governo Lula seria mera continuação daquela implantada por seu antecessor.

Não sou economista, mas me considero um cara pragmático e lógico. E portanto sempre tive dificuldade em aceitar a versão oficial: como pode uma política ser igual se os resultados são diametralmente opostos?

Não pode. Houve continuidade, sim. Continuação, de jeito nenhum. A continuidade se percebe na prioridade da manutenção da estabilidade econômica: o combate à inflação, algo perverso que impedia os agentes econômicos de planejarem no longo prazo e punia severamente os mais pobres que não tinham dinheiro em banco.

Mas houve uma mudança fundamental. A base da estabilidade malanista eram as taxas de juros estratosféricas que inibiam drasticamente a demanda agregada (o consumo das pessoas e os investimentos) ao mesmo tempo em que atraía o capital especulativo, necessário para fechar a Conta do Balanço de Pagamentos. Sob Lula, as taxas de juros, embora em termos absolutos ainda bastante altas, sofreram queda constante e sistemática. A política macro-econômica conjugou-se com outras políticas como a transferência de renda e o micro-crédito. Hoje, o crescimento brasileiro está baseado no crescimento do mercado interno. É o consumo das famílias que vem dando sustentação à nossa economia. A ortodoxia do Banco Central com seus altos juros (embora decrescentes) é contrabalançada pelo viés keynesiano (intervencionista) das políticas que visam estimular a demanda agregada.

Todos os dados macro-econômicos melhoraram desde 2003. A relação dívida/PIB, quando FHC assumiu o poder, era de 35%. Lula herdou uma relação de quase 60%! Hoje, ela se encontra em torno de 44%. A inflação em 2002 já ultrapassava a casa dos dois dígitos. Desde então, tem se mantido em patamar estável. As reservas internacionais do país, em 2003, somavam algo como 35 bilhões de dólares – sem contar o empréstimo do FMI, esse valor caía para 16 bi. Hoje, beira os 200 bilhões: suficiente para quitarmos as dívidas externas pública e privada e ainda sobraria. O salário mínimo passou de 56 dólares em 2002 para 245 dólares em 2008 – 4,3 vezes maior.

Muita gente da oposição (à direita e à esquerda) costumava dizer que o Presidente Lula tinha muita sorte pois não havia passado por uma crise internacional. Esse discurso está indo por água abaixo. Tudo indica – como o acordo da Vale do Rio Doce com clientes japoneses, chineses e coreanos, ajustando o preço do minério brasileiro em mais de 60% - que o Brasil não sofrerá graves danos. O Investimento Externo Direto, que em Janeiro teve uma queda, continua chegando em ritmo saudável. E o que é mais importante: trata-se de investimentos de risco, de longo prazo, produtivo: os empresários internacionais estão apostando no crescimento do mercado interno.

Isso para não falar em termos qualitativos: os mais pobres e as regiões mais pobres vêm se desenvolvendo mais intensamente do que os setores e regiões mais ricos.

Enquanto isso, a oposição fazem contorção verbal no lugar de tentar articular um discurso alternativo, com o apoio sempre incondicional da imprensa oposicionista. Preferem lutar contra os fatos, construindo uma narrativa desfavorável ao governo. Resta saber até quando seguirão nessa trilha.

sábado, 15 de março de 2008

Mesa redonda virtual

Tudo começou quando eu pedi notícias do Leão da Ilha a Rodrigo. A partir daí, com Mateus e Diogo incluídos na troca de E-mails, desenvolveu-se uma verdadeira mesa redonda virtual do mais alto nível, malgrado a torcida explícita dos particiapntes, na qual fiquei só de observador privilegiado. Guardei tudo e compartilho aqui com os amantes de futebol leitores desse blogue e também pra que fique registrado pra eternidade. Daqui a alguns anos a gente relê isso para comparar com o caminho que terá sido traçado pelo futebol pernambucano... Enjoy:


Rodrigo:


berna, o campeonato tá muito fácil, pra variar. faz mais de um ano e meio que o sport não sabe o que é não liderar o pernambucano. em 2006 o sport liderou todo o segundo turno. em 2007, o sport liderou todo o campeonato. agora, em 2008, o sport é líder desde a primeira rodada.
hoje a ilha tava bonita.. luciano henrique reestreou e jogou bem. era o jogador que tava faltando no meio de campo do sport. acho que agora só falta entrosamento mesmo. o time tá muito bom, po. a gente só tá com medo de que aconteça a mesma coisa do ano passado, quando o sport foi bem no pernambucano e os jogadores acabaram sendo vendidos durante o brasileiro.

outra coisa que tá bonita no sport é a administração. tá totalmente mais profissional. em 2006, quando anunciaram o nome do presidente atual (milton bivar, irmão de luciano bivar, ex-presidente) , todo mundo achava que não ia mudar nada. mas, po, tudo tá começando a mudar.. boa parte da ilha já foi reformada (ampliação das cadeiras), muita coisa já tá sendo construída (por exemplo, a nova loja do sport, que dizem que vai ser tipo as lojas dos clubes europeus e deve gerar uma boa renda), o novo centro de treinamento já tem terreno certo (finalmente o sport vai ter divisão de base de novo), o mastro que vai ostentar a bandeira do sport tá sendo finalizado (a lenda é que vai poder ser visto de todos os pontos da cidade haha), novos patrocínios tão sendo fechados (a lotto, empresa italiana, eu acho, fechou um contrato pra produzir a nova camisa do sport. finalmente nos livramos da topper haha) e, o mais importante, o sport tá voltando a ser aquele time que todo jogador quer jogar.. paga o salário em dia, tem uma boa estrutura, tem tradição, etc. po, com isso tudo, a torcida tá voltando a lotar o estádio em qualquer jogo.

hoje foi 2x0.. agora vamos pra segunda fase do segundo turno como líderes (grande novidade!), mas nem me peça pra explicar o regulamento do campeonato, porque até agora eu não entendi. só sei que o sport tá ganhando tudo e vai ser campeão de novo (tri).
PST!


Diogo:

mas rapaz... minha rubro-negrice foi colocada em dúvidas?
o email abaixo de rodrigo mostra o que está ocorrendo no futebol brasileiro: os clubes estão buscando um investimento maior no marketing para obter maiores receitas e financiar seu departamento de futebol. de fato, a atual gestão tem se diferenciado das passadas nesse sentido, mas uma coisa terá que ser posta a prova, ainda. e é nesse ponto que o náutico encontra-se mais a frente do que o sport.
quando a atual gestão passar o bastão, quanto dessas inovações serão abraçadas pelos novos dirigentes? haverá continuidade daquilo que provadamente funcionou? no náutico, passaram-se alguns presidentes e a política de investimento na base continua; o projeto de profissionalização do futebol, contratando profissionais para tocar o departamento de futebol, por exemplo, também continua. ou seja, quero dizer que no sentido profissional da coisa o náutico está um pouco mais avançado que nosso leão. mesmo tendo uma realidade financeira mais apertada o que impede a diretoria alvi-rubra de executar outras idéias que o sport teria maior facilidade.
pelo sport, tudo!
abraços.


Mateus:

diogo, sinceramente, não consigo enxergar esse profissionalismo todo da barbi. pra mim futebol é resultado, então, vendo por aí, onde estão os resultados delas? ficar na primeira divisão?! isso não é título... pra mim, que sou rubro-negro, é obrigação, e quem não enxerga assim é porque torce prum time pequeno, caso das barbis. dá uma sacada nos fóruns delas, algo que faço de vez em quando pra me divertir, e tu não vai ver ninguém dando esse apoio total à diretoria etc. o que mais vejo é a galera pedindo a cabeça de todo mundo. de que adianta, então, esse suposto profissionalismo, esse investimento todo de base? lembrando que o náutico tinha um time misto na copa pernambuco do ano passado e perdeu pro time de juniores do sport. bom, posso não entender as nuances da parada, mas pra mim, como já disse, o que importa são os resultados, e acho que isso sim é consequência do profissionalismo profissional que rola no sport, que é um time que conquista coisas, heheh...

sacasse o basquete feminino? quase chega na final do brasileiro com uma folha salarial que é menor do que o salário de uma jogadora do ourinhos, time que desclassificou o sport. então, não ter dinheiro não é desculpa, tem que ter raça, determiniação, gana de vencer! conceitos que nem fazem sentido para as rosadas...

saudações rubro-negras!


Diogo:

mateus, falaste algo que vale, mesmo, ressaltar. é o investimento da atual gestão nos esportes amadores. tu mencionaste o basquete, mas o vôlei, apesar de perder todas, está disputando a superliga nacional. é é realmente do caralho!
temos que considerar que o sport não só tem uma estrutura muito superior à do náutico e ainda conta com o apoio do C-13. isso faz uma diferença enorme! e vamos lembrar que náutico e sport conquistaram a mesma coisa do brasileirão do ano passado: nada. ambos ficaram ali, no limbo. um time tem uma estrutura superior, mais dinheiro, mas no final ficou numa posição igual a um time pequeno, sem dinheiro, etc. a diferença disso é a gestão.
mas eu concordo contigo. a atual gestão mostra uma evolução significativa com relação às anteriores. mesmo de longe, percebo um pouco isso.
saudações!


Mateus:

no brasileiro o sport teve o time desmontado umas três vezes por causa do olho grande da galera em cima da gente, por isso a campanha frustrante. mas, vale lembrar, que ano passado o sport teve pelo menos dois títulos: o bicampeonato e a copa pernambuco. e a barbi?

PST!


Rodrigo:

acho que também vale lembrar que o sport é o único time grande de pernambuco que paga o salário dos funcionários do clube (incluindo jogadores, comissão técnica, etc) em dia. pelo que me lembro, o náutico, no ano passado, teve até greve dos jogadores do elenco profissional de futebol. claro que o náutico tem uma receita muito inferior a do sport, mas uma gestão responsável não se compromete com valores que não consegue pagar. lembrando que o elenco do náutico tinha uns 40 jogadores, ou seja, praticamente saia contratando jogador na doida. o sport fez isso em 2000, quando apostou que ia conseguir uma vaga na libertadores (e quase conseguiu duas vezes) pra pagar as dívidas que tinha feito durante o ano e acabou se fudendo. claro que a campanha de 2000 foi linda, mas foi meio irresponsável. em 2001, quando todo mundo pensava que o sport ia conseguir o hexa e tal, o clube teve que fazer um elenco fraco pra não gastar demais. acabou entrando numa crise que durou quase 5 anos.
em relação aos esportes amadores, não tem nem comparação, e isso desde há muito tempo. eu me lembro que na época que eu jogava os campeonatos pernambucanos de basquete (mirim, infantil, sub-18, essas coisas), o sport era um time muito superior aos outros, só brigava com o clube português, que na época tinha uma certa estrutura pra basquete e hóquei, hoje é só uma casa de shows. a superioridade do sport não era só no nível técnico dos jogadores, era no padrão que o time utilizava, as bolas que eles usavam no treino, existia uma comissão técnica, um médico em quadra, etc. e isso é um exemplo de divisão de base de esporte amador. bem, perdi minha linha de raciocínio, mas é isso aí, vou trabalhar haha

Diogo:

isso de excesso de jogador é foda. o sport, mesmo, ano passado teve umas trocas de técnico (gallo, giba, geninho) que compromete qualquer planejamento. o náutico não chega a ser nenhum santa cruz, mas é um time fudido, sem dinheiro para investir. por isso que termina não tendo um programa mais abrangente e eficiente de formação de jogador. o sport, não. é quase uma obrigação investir na base e em esportes amadores. é outro nível. e outra: o sport só é grande em Pernambuco, mesmo. não gosto de celso roth... acho que ele faltou com respeito ao sport quando declarou que o sport é time mediano. mexe com o orgulho, né? mas o sport é isso. mediano. tem um potencial do caralho, mas precisa de verba, precisa de profissionais pensando o dia-a-dia e o longo-prazo do clube, precisa fazer mais parcerias, ampliar o mercado... isso é que vai torná-lo grande. o sport tem uma base muito pequena de torcedor diante das possibilidades. era para termos torcedor na paraíba, em alagoas, no rio grande do norte... isso ficando nas redondezas, sem ir até o maranhão, piauí. isso é pensar grande. não achar que ganhar uma competição desgastada como o pernambucano é alguma coisa. aí, em seguida, perde os melhores jogadores e briga para não cair no brasileirão. porque ilude-se aquele que o sport brigou por vaga na sulamericana... afinal, o time livrou-se do rebaixamente definitivamente nas últimas rodadas do campeonato.
mas eu acho que o sport está em ascensão no sentido de que tem aplicado melhor seus recursos (base, esportes amadores, ações promocionais, parceiros interessantes como a Lotto...). e aí está em vantagem em cima do náutico justamente porque tem mais estrutura para isso.
mas vamos que vamos... que a profecia de vocês, de que 2008 será um excelente ano, se concretize.
abraços!


Mateus:

realmente, diogo, o sport é um time mediano sim. é fanatismo demais achar que é grande, apesar de algumas conquistas que o colocam no hall dos grandes , como o brasileiro de 87. mas, enfim, é como tu tás dizendo, as coisas tão mudando, o raciocínio é sim a longo prazo, os investimentos são melhor planejados agora, mesmo que alguns não dêem resultados. mas acho que tudo na vida é assim, tentativa e erro. hoje em dia pode-se dizer que o sport erra menos, vide os resultados que já citamos nos outros emails. quanto ao fator torcerdor rolou uma pesquisa que deu resultados engraçados, o sport inclusive fez um outdoor pra tirar onda. em pernambuco, por exemplo, a segunda maior torcida não é nem do santinha nem da barbi, é a do corinthians, em terceiro lugar parece que vem a do flamengo e só depois as duas coitadas. acho que isso já é um demonstrativo da "grandeza" do sport nesse aspecto, já que a gente sabe que quem acaba definindo quem torce pra quem é a globo, transmitindo pro interior os jogos de rio e são paulo. isso tá mudando também. é... acho que é isso. ah! só lembrando que o sport lutou sim pela sul-americana no brasileirão passado: na última rodada bastava uma vitória simples em cima do juventude, o que não ocorreu. do rebaixamento o sport acho que já tinha se livrado muito antes, já que a luta entre corinthians e goiás pra ver quem caía começou cedo, tipo umas cinco, seis rodadas antes de acabar o campeonato, isso com a barbi ali, de olho também no rebaixamento, algo que desse ano elas não escapam!

PST!

domingo, 2 de março de 2008

O maior escândalo dos últimos tempos da última semana

No mundo bizarro da visão daqueles que tentam fabricar a narrativa oficial – a despeito da insistência dos fatos em boicotá-la – o que era para ser uma notícia positiva – o aumento da transparência do poder público – se transforma, incrivelmente, no maior escândalo dos últimos tempos da última semana – o caso dos cartões corporativos. Alguns ministérios e governos estaduais passaram incólumes da recente sanha midiática: os que ainda usam formas arcaicas de pagamentos. Outras instituições, como o Congresso, nem se dão ao trabalho de destrinchar e expor ao escrutínio público os seus gastos. Esse, sim, é o verdadeiro escândalo, não? Seria, no mundo real. No mundo bizarro em que habitam a oposição e seus trombones da imprensa, parace que moralidade pública mesmo é o uso das insondáveis verbas de suprimento... Ah, mas não nos iludamos. Esse é o pior escândalo de que se tem notícia... até o próximo – a fabriqueta sensacionalista não pára nunca! A própria efemeridade dos assim chamados “escândalos” indica a fragilidade e o oportunismo. Mas isso, no mundo real, claro.


A tática da oposição parece bizarra, mas só à primeira vista, sob uma ótica lógica (do mundo real). Sob a ótica bizarra que lhe é característica, faz sentido. A oposição conservadora não foi capaz de praticar um oposicionismo inteligente, construtivo, propositivo. Não soube como responder e reagir às políticas acertadas, exitosas do governo petista. Talvez isso tenha sido resultado do fato de que esse cenário de sucesso não fazia parte do horizonte de possibilidades oferecido pela ideologia elitista e preconceituosa, que não via como capaz um homem do povo à frente de um governo popular. Diante da total falta de idéia de como se comportar em face de um bom governo de esquerda, a oposição recorre ao único expediente que lhes parece possível de provocar algum efeito: impedir que o governo leve adiante suas políticas públicas eficientes. Só desse modo a professia se realizará, por fim: o Governo Lula se torna incompetente... tudo bem que por ação explícita da própria oposição! Mas aí a imprensa engajada se encarrega de construir uma narrativa conveniente!


Nesse sentido, os iluminados do quilate de Míriam Leitão têm em 2008 o argumento perfeito, irrefutável: é um ano eleitoral. Logo, toda e qualquer ação será eleitoreira. Qualquer ação do governo, frise-se. E do governo federal. Porque dos governos estaduais de SP e MG e da oposição, não: todas as suas ações são em cristalina e genuina defesa do interesse comum e da moralidade pública, bem entendido! Só o governo, e ninguém mais, é movido por interesses eleitoreiros! Quando Lula lança um programa, é eleitoreiro. Quando a oposição o questiona, não. Quando Lula critica o Judiciário, é antidemocrático. Quando o presidente do TSE critica o Executivo e instiga a oposição, faz parte do jogo. Tudo muito justo, tudo muito equilibrado!


Aliás, o Youtube é uma coisa fantástica por tantas razões. Uma delas é que, num país em que a classe média (mal) instruída e pretensamente culta, e irritantemente arrogante, tão avessa ao debate de idéias e tão intolerante em relação à opinião divergente, abre-se um espaço de vazão que revela de forma clara e inequívoca, desnudada, a visão de mundo de certos setores da sociedade. Veja por exemplo esse comentário do usário de YouTube diogodimambro:


“Quem defende o lula devia calar a boca e pensar mais, ele foi eleito a 1 vez em 2002 por um povo q ja sabia q ele era analfabeto mas confiando nas mintiras q ele prometia o elegeu msm assim! Ele comanda a maioria pobre no brasil dando comida e isso é bom, mas ele fode os pequenos empresários por exemplo que estão constantimente quebrando...ele só quer beneficiar a maioria para se manter na presidência, só quem é otário q num ve, ele fode os autônomos que são uma imensa porcentagem do brasil”


Muito revelador de um determinado modo de ver as coisas. Veja bem, o “problema” do Governo Lula é que por meio da montagem e institucionalização de uma rede de segurança social, esse princípio de Estado do Bem-Estar Social, algo civilizador portanto, ele estaria atendendo aos interesses da maioria da população, o que está na essência da democracia, por mero interesse eleitoreiro! Lendo algo assim, entendo melhor do que se lesse mil análises de algum fodão no Aliás! do Estadão de domingo sobre o porquê de a oposição fazer essa política tão pequena, tão mesquinha: ela representa fielmente a visão de mundo de um setor minoritário, porém expressivo e socialmente mais importante, da sociedade brasileira.


Pena que o debate se dê em nível tão raso. E tão desinformado. Outra coisa que a Internet expõe: como o brasileiro classe-média (que tem acesso à Internet...) é pouco curioso. A internet brasileira não é uma boa fonte de informação, de reflexão e debate. É um ponto de entretenimento, em primeiríssimo lugar. Nem falo do fato de sermos o país emergente de maior gasto per capta com pornografia virtual. Seria normal, se não se restringisse a isso. Pegue, por exemplo, o YouTube. Facilmente você encontrará a abertura do primeiro Jornal Nacional, de 1969. Ou trechos da melhor versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, aquela da Globo lá dos fins dos anos 70, princípios dos 80. Ou Alceu cantando no Cassino do Chacrinha, em 1983. Ou o debate Lula-Collor de 89. Ou, mais recentemente, as maiores gafes e os erros gramaticais cometidos pelo Presidente Lula. Ou uma montagem muito ischperrrta tirando um sarro maneiro da cara do Presidente Lula. Mas... a matéria do Jornal Nacional sobre a discussão entre Lula e Marco Aurélio, por exemplo, eu não consegui encontrar de jeito nenhum! A entrevista com o Embaixador Abdenur na GloboNews, eu nem me dei ao trabalho de procurar no YouTube.


Isso não é um problema intrínseco ao YouTube. O canal público espanhol, assim como a Aljazeera, O NY Times, a CBS... todos têm seus canais no site. Para não mencioanr os posts informais colocados on-line espontaneamente. Os 20 debates das primárias democratas estão todos na íntegra, disponíveis no YouTube. Com um debate plural e heterogêneo – às vezes tosco e raso, outras rico e profícuo – que sempre acompanha os vídeos nos comentários. Trata-se de um reflexo da preguiça mental da classe-média brasileira, que não gosta de ler: folheia a Veja, assiste ao JN e se dar por satisfeita. Não gosta de ler, nem muito menos de pensar (como dizia um professor meu: "pensar dói"). Aceita tudo facilmente: quantos E-mails que vão salvar a vida da menina morrendo de câncer em um hospital longíquo você já recebeu, com aquele indefectível apelo emocionado? É uma caricatura? Talvez. Mas a classe-média é muito caricaturável. Ou como você me explica que ainda tenha quem ache Jô Soares engraçado e sofisticado? (Só porque ele fala francês, cacete!)