quarta-feira, 6 de julho de 2005

Bang-bang no Rio.
A semana começou com tiroteio nas Linhas Vermelha e Amarela, no Rio de Janeiro. No final de semana, me senti no São João em Recife, ouvindo os fogos da Rocinha indicando a presença policial no morro. A semana começa e continua com troca de tiros na Rocinha, entre policiais e traficantes em plena luz do dia; tiroteios começando às 10h. Balanço na Rocinha: dois civis mortos e nenhum traficante apreendido. Ontem, em São Conrado, mais um seqüestro de ônibus às 17h! Resultado: um civil, de 20 anos, morto com um tiro na cabeça.
O clima é de medo.
A solução? O vice-governador fluminense já propôs erguer muros ao redor das favelas para conter sua expansão. Deve ter se inspirado nas ações nazistas do judeu Ariel Sharon, em Israel. Os muros não foram levantados como proposto por Luiz Paulo Conde. Eles vão ser erguidos na Linha Vermelha para proteger os cidadãos que andam de carro por ali.
Eu estou longe de ser especialista em segurança pública, mas eu vejo coisas erradas acontecendo e que eu atribuo toda essa violência aos equívocos que vêm sendo repetidos pelo poder público.
O que eu quero dizer é que a autoridade nos morros não é o governo. O Estado não atua nas favelas de outra forma que não seja por meio de ações policiais. Ou seja, a presença do Estado nos morros se dá, apenas, por meio da força. O Estado não está presente por meio de saneamento, educação, esporte e lazer, cultura, saúde.
Enquanto essa situação perdurar, enquanto o Estado só marcar presença nos morros por meio da força ignorando outros aspectos da vida dos cidadãos, enquanto o cordão de isolamento entre favela e “sociedade” persistir, situações de revolta, indignação e constrangimento continuarão a acontecer. E, normalmente, quem paga somos nós que pegamos o ônibus para voltar do trabalho no final da tarde... nós que não temos nada com a omissão com a qual o poder público trata comunidades pobres.
O secretário de segurança do Rio anunciou essa semana uma grande medida a ser tomada em breve: vão levantar uma torre policial de não sei quantos metros no Complexo da Maré (um conjunto de favelas) no sentido de observar as movimentações dos traficantes na área. Legal, né?! Será mais uma ação de segurança do governo Rosinha que, seguramente, não melhorará em nada a vida de ninguém, muito menos daqueles que moram na região. Para estes, o medo só vai aumentar...

2 comentários:

Jampa disse...

Oi Diogo,

Há coisas com que concordo e há coisas de que discordo. Eu concordo no que diz respeito ao absurdo propósito de construção de um muro de proteção. De fato não é necessário ser um "expert" em segurança pública para perceber as implicações nefastas futuras de uma tal medida. Mas tendo a discordar de ti e da forma com a qual te posicionas em relação ao problema. Tu dizes " nós que não temos nada com a omissão com a qual o poder público trata comunidades pobres". Essa frase é muito significativa pois revela que nossa maior omiissão é sermos omissos com relação à responsabilidade de sermos nós também responsáveis pelo estado de coisas que tendemos a criticar apenas de maneira "externa". Não seria difícil enumerar uma quatidade de coisas que fazemos para, mesmo sem querer, produzir e reproduzir o fosso social existente entre as classes sociais no Brasil. Omissão de omissão: mais um nome de nossa (minha, sua, dos da classe média, dos das elites-econômicas, intelectuais)irresponsabilidade social.

Anônimo disse...

Outro dia saiu uma foto no jornal O Globo de um policial chutando um "suspeito" caído no chão. No dia seguinte a quase totalidade das mensagens apoiavam a atitude do policial. A situação está chegando a um extremo tamanho que para grande parte da população, qualquer atitude de combate a violência que nã seja a repressão, é sinal de condecendencia, de tolerância com o crime. Quanto mais bárbaros são os crimes mais barbáros nos tornamos. Em pouco tempo já não será possível distinguir nada. Preocupante.